Alexander
O carro mal havia percorrido um quilômetro quando Evelyn adormeceu. No meio do caminho, sua cabeça deslizou para o meu colo. No início, considerei afastá-la, mas, por alguma razão que não quis questionar, acabei deixando-a ali.
Pelo retrovisor, percebi Jackson me observando.
— Quer me perguntar alguma coisa, Reynolds?
Questionei, sem desviar os olhos dele.
Ele se endireitou ao volante.
— Não, chefe. Na verdade…
Hesitou por um segundo e levantei uma sobrancelha.
— Ainda acha que Evie sabe de alguma coisa?
Meu olhar baixou para a mulher adormecida em meu colo. Em menos de 24 horas, era a segunda vez que ela dormia nos meus braços. Seu rosto estava relaxado, os lábios entreabertos, ainda avermelhados. As sombras sob seus olhos continuavam ali—ela realmente precisava descansar.
Meu olhar percorreu suas feições, parando no nariz levemente arrebitado, na respiração calma que fazia seu peito subir e descer suavemente. Assim, entregue ao sono, ela parecia tão inofensiva… Nada lembrava a mulher que, desperta, era um verdadeiro furacão: respondona, teimosa, sempre pronta para me desafiar. Era estranho vê-la assim. Estranho... e perturbador.
Jackson pigarreou, trazendo-me de volta.
— Não.
Minha voz saiu firme. Olhei para ele pelo retrovisor.
— Não acredito que ela saiba de nada.
Afastei uma mecha de cabelo do rosto dela, e ela se remexeu suavemente.
— Ela é só mais uma vítima dessa merda toda… assim como nós. Mas agora, queira ou não, vai ter que lidar com o que Anderson deixou para trás.
Chegamos a Houston e seguimos direto para minha cobertura. Assim que Jackson estacionou, ele veio em minha direção para pegar Evie, mas não permiti. Eu a carregaria. Ela estava completamente entregue ao sono, e eu não queria acordá-la.
Seguimos para o elevador, e, assim que entramos na cobertura, Amélia, minha governanta, apareceu para nos receber.
— Senhor, não sabia que voltaria hoje.
Ela olhou para o relógio. Eram exatamente três da manhã.
— Poderia ter me avisado. E quem é a moça?
Por um momento, fiquei sem saber o que responder, mas Jackson foi mais rápido.
— Essa é Evie, noiva de Brandon.
Algo cintilou em seus olhos , parecia pena. Todos aqui sabiam quem era Brandon. Não consegui decifrar se Amélia sentia dó de Evelyn pela morte dele ou por saber quem ele realmente era.
— Vou ajeitar os quartos.
Ela anunciou, virando-se para o corredor.
— Ela ficará comigo.
Me arrependi dessas palavras assim que saíram da minha boca. Por que eu disse isso? Eu nunca trago ninguém para casa, muito menos para o meu quarto. O choque nos rostos de Amélia e Jackson era visível, mas eu não voltaria atrás. Ignorei-os e caminhei até meu quarto. Assim que entrei, fui direto para a cama, ajeitando Evelyn e cobrindo-a.
— Obrigado, amor...
Ela sussurrou.
Aquilo me irritou. Ela pensava que eu era Brandon.
Saí do quarto e retornei para a sala, onde Jackson me aguardava.
— Tem certeza de que quer que ela fique aqui? No seu quarto?
Ignorei sua pergunta e caminhei até o aparador. Precisava de uma bebida para clarear minhas ideias. O líquido desceu quente pela minha garganta, acalmando meus pensamentos. Caminhei até as grandes janelas da cobertura. Eu morava no lugar mais privilegiado, bem no centro da cidade.
— Quero que contate Benjamin. Preciso saber o que exatamente uma Snake fazia na casa de Evelyn.
Me virei para ele.
— E mande uma equipe para lá. Traga as coisas dela e vasculhem a casa. Quero saber o que aqueles malditos estavam procurando.
Dei mais um gole na bebida.
— O que te faz pensar que eles não encontraram o que queriam?
Um sorriso brincou em meus lábios.
— Porque eles não foram treinados por mim. Mas Brandon foi.
Jackson assentiu. Ele sabia o que eu queria dizer. Minha equipe era a melhor. Eu era o melhor! Se Brandon escondeu algo, foi para que ninguém além de um de nós o encontrasse. O que quer que aqueles homens estivessem procurando, não estava lá. Apenas pistas de onde poderia estar.
Dei as últimas instruções a Jackson e o mandei descansar em um dos quartos. Amanhã ele resolveria tudo.
Quando retornei ao meu quarto, Evelyn continuava dormindo do mesmo jeito em que a deixei. Peguei minhas roupas e segui para o banheiro. Entrei no chuveiro e deixei a água cair, levando com ela as lembranças dos últimos acontecimentos.
Assim que saí, deitei-me na cama, ao lado dela. Eu realmente precisava dormir um pouco, nem que fossem algumas horas.
No instante em que me ajeitei, ela se virou para mim, jogando os braços sobre meu abdômen. A pele dela encostou na minha, quente e macia. Pequenas mãos deslizaram sobre meu abdômen nu, e um arrepio disparou pela minha espinha.
Que diabos...? Minha respiração ficou mais lenta. Eu não deveria estar reagindo assim.Eu nunca durmo com ninguém. Nem sequer trago mulheres para minha cama. Faço o que tenho que fazer por aí, mas meu quarto é sagrado.
O que ela tem?
Havia algo nela... Algo que, de certa forma, me atraía. Mas ela não era meu tipo. Era uma mulher bonita, sim, não podia negar. Mas não fazia meu estilo.
Comecei a avaliá-la. Seu corpo era perfeito, cheia nos lugares certos. Suas curvas se destacavam sob aquele pijama ousado. Sua pele era tão macia ao toque...
Controle-se, Alexander!
Eu precisava me recompor. Não podia me perder por qualquer mulher, ainda mais por uma que era o resto de Anderson.
Uma raiva me dominou. Eu tinha que sair dali. Trazer Evelyn para minha casa já tinha sido um erro. Para minha cama, então? Pior ainda.
No momento em que fui afastá-la, ela sussurrou:
— Fique... por favor.
Suspirei. Droga. Ela ainda achava que eu era Brandon.
Mas então ela abriu os olhos. E me viu.
Seus lábios se entreabriram, a respiração um pouco mais rápida. Nenhuma confusão, nenhum engano.
— Por favor, Alexander. Não quero dormir sozinha.Ela sabia.
Sabia que era eu o tempo todo
Assenti, deitando-me novamente. Ela jogou o braço sobre minha cintura e repousou a cabeça sobre meu peito.
— Obrigado.
Sua voz trêmula entregava seu nervosismo.
— Prometo ir embora pela manhã.
Senti seu suspiro quente contra minha pele. Logo depois, ela dormiu outra vez.
Passei a mão pelo rosto, exausto.
— Boa noite, Evie.
Toquei de leve seus cabelos, e logo em seguida fiz o mesmo que ela. Me entreguei ao sono.
EvelynAcordei sentindo meu corpo relaxado como não sentia há dias. Quando abri os olhos, percebi que ainda estava deitada sobre Alexander, seus braços firmes ao meu redor, como se quisesse me impedir de fugir. Levantei a cabeça para olhar seu rosto e o encontrei sereno, em paz.Ele era um brutamontes. Mandão, arrogante e presunçoso. Mas precisava admitir: depois de Brandon, estar nos braços dele me trouxe a tranquilidade que eu precisava para finalmente dormir.Senti seu corpo se remexer sob o meu. Por um instante, quis fingir que ainda dormia, prolongando aquela sensação de segurança por mais alguns minutos. Mas então, a realidade da noite passada me atingiu como um choque. O que eu estava fazendo? Como pude dormir nos braços de outro homem logo após enterrar o amor da minha vida?Eu amava Brandon. Iria me casar com ele. O que as pessoas pensariam se soubessem que passei a noite na cama de Alexander?Minha respiração acelerou. Eu precisava sair dali. Precisava me afastar dele.Droga
EvelynA frustração ainda ardia em mim, mas não era só isso. Um turbilhão de sentimentos me consumia. Em menos de 24 horas, minha vida virou de ponta-cabeça. Enterrei meu noivo, acordei nos braços de um estranho, minha casa foi invadida, atirei em alguém e fui trazida para cá contra minha vontade. Quando tudo o que eu queria era... viver meu luto.Ainda encostada na porta, deslizei até o chão. Abracei meus joelhos e me permiti chorar. Sim... chorar! Todas as lágrimas por Brandon ainda não haviam sido derramadas. Será que Sterling não tinha coração? Não conseguia ver que eu estava sofrendo?Não sei quanto tempo se passou, minutos, talvez uma hora, até que batidas suaves na porta chamaram minha atenção.— Senhorita Parker.Uma voz feminina me chamou. Levantei-me, sequei o rosto e abri a porta. Diante de mim, havia uma mulher que aparentava ter seus cinquenta anos, talvez um pouco mais. O coque impecável e as roupas elegantes contrastavam com o sorriso acolhedor que ela me lançou.— Bom
AlexanderMinha paciência sempre fora zero, mas hoje estava abaixo de qualquer nível aceitável. Todos ao meu redor sentiam isso, principalmente Benjamin e Jackson. Como eu imaginava, os intrusos de ontem destruíram a casa de Evelyn e, para piorar, deixaram um corpo para trás. A bagunça estava feita. Agora, todos a procuravam. A amiga dela chegou antes da minha equipe, o que atrapalhou meu plano de encontrar as pistas de que precisávamos. Mas eu sabia que estavam lá.Brandon era um cretino, mas um cretino bom no que fazia. Eu sentia que ele havia deixado as pistas certas.Lembrei da minha breve interação com Evelyn pela manhã, o modo como dormiu nos meus braços, sua ajuda com a gravata e, claro, sua petulância ao me enfrentar. Meus pensamentos foram interrompidos por Jackson e Benjamin entrando afobados no meu escritório. Virei-me na cadeira para encará-los.— Temos um problema.Jackson foi o primeiro a falar.— Mais um?— É a Evelyn.Benjamin me entregou o tablet, mostrando imagens da
EvelynPassei a noite inteira chorando depois que Alexander me trouxe de volta. Quando amanheceu, uma parte de mim insistia que nada daquilo era real. Brandon ainda estava vivo... não estava? Depois de descobrir que ele não era quem eu pensava, que me escondeu segredos que nem sequer tive tempo de desvendar, essa ideia já não parecia tão absurda.Mas Alexander me convenceu de que era só minha mente criando uma realidade paralela para amortecer a dor. E, depois de alguns dias, fui obrigada a aceitar: Brandon estava morto. Ele não voltaria. Nunca.As coisas em Boerne tinham se acalmado. Eu ainda não voltara, mas sabia que o pessoal do Sterling tinha resolvido tudo. Falei com os Anderson e com Abby. Sentia falta deles. Meu carrasco prometeu me deixar visitá-los em breve. Sim… carrasco. Era assim que eu chamava Alexander Sterling agora.Estava deitada na cama, encarando o teto e perdida em meus pensamentos quando batidas na porta me tiraram dos devaneios. A porta se abriu, e um rosto fami
AlexanderQuando Benjamin me contou a brilhante ideia de Emily de levar Evelyn para uma entrevista de emprego, fiquei irado. Ela não precisa disso. Eu sou responsável por suas despesas. Sou responsável por ela.Mas foi quando ela começou a ignorar minhas ligações que algo dentro de mim explodiu. Eu queria sair dali correr até essa tal galeria, jogá-la sobre meu ombro e levá-la para casa.Um sorriso brincou em meus lábios.— Não seria má ideiaMurmurei para mim mesmo.Enviei algumas mensagens, cancelei compromissos e peguei minhas chaves. Assim que abri a porta do escritório, lá estava ela.Linda.Os cabelos soltos, a maquiagem sutil… Mas o que realmente chamou minha atenção foi seu vestido. De alças finas, o decote evidenciava seu busto volumoso. O tecido descia colado ao corpo, destacando cada curva. Evelyn era cheia nos lugares certos.Não era o meu tipo de mulher.Mas, droga, ela estava linda. E isso me irritou. Não deveria, mas irritou.— Boa tarde, senhor Sterling.Senti o medo e
EvelynEstava feliz por Alexander ter me trazido até aqui. Isso mostra que talvez ele se importe. Mas assim que entrei, tudo neste lugar me atingiu. Achei que estava pronta para dizer adeus. Pensei que, depois de duas semanas...— Com licença — disse a todos, já segurando as lágrimas, e corri escada acima.Quando cheguei ao andar de cima, entrei no antigo quarto de Brandon, fechei a porta atrás de mim e deslizei as costas por ela, abraçando os joelhos.Me enganei... Acreditei que poderia enfrentar essas lembranças sem desmoronar. Mas quando, o cheiro dele me envolveu, como se Brandon ainda estivesse ali. Os porta-retratos me encaravam, testemunhas silenciosas do que foi e nunca mais será. O peso desse lugar caiu sobre mim como uma onda implacável, me puxando para o fundo.Como pude achar que estava pronta? A verdade veio como uma lâmina fria cortando minha pele. A dor ainda está aqui, crua e latejante, pulsando como um ferimento aberto que se recusa a cicatrizar....Comecei a sentir m
AlexanderEu não sabia que merda eu estava fazendo. O que exatamente foi aquilo? Ela sair me incomoda, um vestido me irrita, um choro dela me dilacera. Saber que ela ainda ama Brandon, então… me faz querer abrir a caixa preta da vida dele, só para que esse amor se transforme em ódio! Mas por quê? Esse não sou eu.Mulheres, para mim, sempre foram apenas prazer. Casuais, descartáveis. E, de preferência… modelos ou garotas ricas e mimadas, que se satisfazem com uma joia, uma bolsa ou um vestido de marca e nunca esperam por um telefonema depois.Não sou o tipo que leva para jantares, compra flores ou vai ao cinema. Nem na adolescência fui assim. Entrei no exército aos 17 anos, enquanto outros caras buscavam um ‘amor’. Eu buscava diversão. E, quando saí de lá, busquei poder. Consegui. Porque nunca me permiti distrações. Relacionamentos nos tiram do foco, limitam nossos objetivos. Tenho 29 anos e sou um dos homens mais bem-sucedidos de Houston. Conhecido no país inteiro. No mundo.Evelyn é
EvelynAcordei emaranhada em Alexander. No começo, isso me atormentava, fazia-me sentir uma traíra. Hoje... o sentimento mudou. Depois do que aconteceu ontem, pude ver que talvez, lá no fundo, mesmo que por uma pequena fração, Alexander se importe comigo. Comigo, Evelyn, e não apenas com o que represento em relação a Brandon. E entre nós... poderia estar surgindo uma... amizade?Com cuidado, me desvencilhei de seu aperto, desci da cama e segui para o banheiro. Assim que entrei, deparei-me com o box quebrado e me lembrei da resposta dele ontem: "Picos de estresse". Eu sabia que seu trabalho era perigoso e realmente estressante, mas... havia algo mais ali. Algo que ele não quis me contar.A Evelyn de Brandon não insistia. Ela aceitava respostas prontas e fingia que tudo estava bem. E foi o que fiz ontem. Mas agora... uma nova Evelyn despertava dentro de mim. Uma que se importa, que insiste, que não aceita segredos. Muito menos de um amigo.Terminei minha higiene e senti a determinação c