Evelyn
Meu pai sempre me preparou para algo assim. Desde cedo, me ensinou a atirar e a manusear qualquer tipo de arma.
“Vivemos no Texas.”Era o que ele sempre dizia. Mas quando comecei a namorar Brandon, as coisas ficaram mais intensas. Ele tinha uma necessidade absurda de proteção, como se sempre esperasse que algo como hoje fosse acontecer. Eu apenas assentia, não queria discutir. Afinal, estávamos em Boerne. Na minha cabeça, algo assim jamais aconteceria.— Aaah...
A mulher no chão gemeu. Eu ainda apontava a arma para ela, mas ela não se mexia. A poça de sangue ao redor dela aumentava.
Ouvi um barulho vindo de baixo, passos apressados subindo as escadas. Então, ali estava ele: Alexander Sterling. Ao seu lado, Jack.
— Me dê a arma.
A voz de Sterling era firme, autoritária. Deus, eu estava começando a odiar esse homem de verdade.
— Você está bem, Evie?
A pergunta veio de Jack. Assenti com a cabeça, mas meus olhos continuavam fixos na mulher caída no chão do meu quarto. Uma mão veio até o cano da arma, abaixando-a lentamente.
— Ela não pode te ferir. Me dê a arma.
Virei a cabeça e encontrei seus olhos. Eles pareciam penetrar minha alma. Um arrepio subiu pela minha espinha, e eu não sabia dizer se era medo... ou outra coisa. Abaixei a mão, travei a arma e a entreguei para ele. Sterling pareceu surpreso com minha atitude, mas não disse nada.
— Seu tiro foi certeiro.
Comentou Jack, abaixando-se ao lado da mulher, que agora parecia ter desmaiado. Talvez de dor, talvez pela perda de sangue.
— Se ela ainda estiver respirando, então não foi tão certeiro assim.
Me virei tão rápido para encarar Sterling após suas palavras que quase quebrei o pescoço.
— Se eu a quisesse morta, eu a teria matado!
Rebati, a irritação evidente na minha voz.
— Mas não sou uma assassina
Acrescentei.
— Quero respostas.
Caminhei até a mulher e, ao observá-la mais de perto, tive a estranha sensação de já tê-la visto em algum lugar.
— Mas antes de conseguir respostas da nossa colega aqui...
Apontei para a mulher.
— Espero as suas respostas, senhor Sterling. O que faz em minha casa a essa hora?
Cruzei os braços e o encarei. Percebi seus olhos caírem sobre meus seios. Claro, eu estava de pijama, que por acaso, era decotado e transparente. Para piorar, estava sem sutiã.
Ele percebeu que eu o peguei olhando e, no mesmo instante, voltou a vestir aquela máscara fria e sem expressão.
— Escutamos o barulho do tiro, por isso entramos.
Percebi sua postura enrijecer. Havia mais por trás disso, mas ele não queria me contar. Decidi deixar passar por ora. Agora, meu foco era descobrir quem era essa mulher e o que exatamente ela estava procurando.
— Chefe, é uma Snake!
Jack chamou a atenção de Sterling para a tatuagem no pescoço da mulher.
A expressão de Sterling se fechou instantaneamente.
— Ok, precisamos sair daqui.
Sua voz soou urgente.
— Arrume suas coisas, uma mala pequena, nada difícil de carregar.
Fiquei parada, os braços cruzados, encarando-o.
— Você entendeu o que eu disse? Ou precisa que eu desenhe?
Seu tom de deboche fez meu sangue ferver. Eu ia arrancar os olhos desse homem com as minhas unhas.
— Não vou a lugar nenhum com você!
Coloquei as mãos na cintura, desafiadora.
— Se não percebeu, tem uma mulher baleada no chão do meu quarto. E fui eu quem atirou!
Segui até o criado-mudo ao lado da cama para pegar meu celular. Assim que o alcancei, comecei a discar o número da delegacia.
— Vou ligar para o xerife e contar o que aconteceu.
Dei as costas para aquele homem arrogante, mas antes que concluísse a ligação, senti um braço firme em meu ombro. Quando me virei, Sterling já estava agachado e, sem aviso, me jogou sobre seu ombro como se eu não pesasse nada.
Um choque me percorreu o corpo, e comecei a socá-lo nas costas. Do que esse homem é feito? Pedra?
— Alexander Sterling, me coloque no chão agora!
Me debatia, mas era inútil.
— Alex, isso é realmente necessário?
Jack perguntou enquanto descia as escadas atrás de nós.
— Não temos tempo. Se eles chegarem aqui…
Sterling virou-se para encará-lo.
— Você sabe bem o que vai acontecer.
Jack apenas assentiu.
— Olha, eu já estou cansada de você, Alexander. E só te conheço há algumas horas!
Jack abriu a porta do carro, e Alexander simplesmente me jogou dentro dele como se eu fosse um saco de batatas.
— Droga!
Mas antes que eu pudesse reagir ou xingá-lo até o inferno, vimos algumas motos se aproximando. Tanto Alexander quanto Jack se abaixaram dentro do carro, ocultando-se. Por sorte, não estavam parados bem em frente à minha casa, o que nos deu uma vantagem para observar os motoqueiros à distância.
Olhei para Alexander. Aquele brutamontes tentando se esconder… Chegava a ser ridículo. Ou talvez engraçado.
— Quem é você?
Minha voz saiu num sussurro, mas ele ouviu.
Ele desviou os olhos da cena à frente e me encarou, os lábios curvando-se ligeiramente.
— A pergunta certa seria, senhorita Parker… Quem era seu noivo?
A pergunta me atingiu em cheio. O que ele estava insinuando? Estava tentando manchar a imagem de Brandon logo após eu enterrá-lo?
Antes que pudesse verbalizar meus questionamentos, meus olhos voltaram para minha casa. Quatro motos. Oito homens. Eles entraram sem hesitar.
Segundos depois, tiros ecoaram. Com o susto, levei as mãos à boca.
— Parece que alguém finalizou seu serviço.
Sterling disse, o sarcasmo impregnado em cada palavra.
Olhei para ele, pasma. Ainda estava em choque. Minutos atrás, eu estava em minha casa, assistindo a um filme, lamentando a morte do amor da minha vida. Agora… estava ao lado de um homem frio e enigmático, cuja presença era perturbadora.
— O que fazemos?
Jack perguntou a Sterling.
— Provavelmente vão revirar a casa em busca da mesma coisa que a Snake. Vamos embora. Se sairmos daqui agora, antes do amanhecer estaremos em Houston.
Olhei de Jack para Sterling, sem acreditar no que estava ouvindo.
— Gostaria de lembrá-los que ainda estou aqui. E não tenho intenção nenhuma de ir para Houston.
Jack suspirou e voltou-se para mim.
— Sinto muito, Evie, mas acho que você não tem opção. Se ficar aqui, estará em perigo.
Uma confusão me tomou. Perigo? Como assim?
Virei-me para Sterling. Seu rosto era uma máscara de controle absoluto, mas havia algo nos lábios… Um vestígio de deboche, como se estivesse se divertindo com a minha confusão.
Ele não era apenas um homem acostumado ao perigo, ele era o próprio perigo. E, de alguma forma, eu sabia que minha vida nunca mais voltaria a ser a mesma.
Abaixei a cabeça, sentindo a realidade me sufocar. Jack tinha razão.
— Ok, vamos para Houston.
Minha voz saiu mais baixa do que eu esperava.
Alexander não disse nada, apenas observou. Mas seus olhos me estudavam de um jeito que me irritava. Ele já sabia que eu não tinha opção antes mesmo de eu admitir para mim mesma.
Jack se acomodou no volante, e Alexander pegou uma arma debaixo do banco. O carro deslizou silenciosamente pela rua, como se estivéssemos atravessando uma linha invisível entre a minha vida antiga e essa nova realidade desconhecida.
Passamos devagar em frente à minha casa. Encostei a testa na janela, meus olhos ardendo.
— Brandon, meu amor… No que foi que você se meteu? No que você me meteu?
AlexanderO carro mal havia percorrido um quilômetro quando Evelyn adormeceu. No meio do caminho, sua cabeça deslizou para o meu colo. No início, considerei afastá-la, mas, por alguma razão que não quis questionar, acabei deixando-a ali.Pelo retrovisor, percebi Jackson me observando.— Quer me perguntar alguma coisa, Reynolds?Questionei, sem desviar os olhos dele.Ele se endireitou ao volante.— Não, chefe. Na verdade…Hesitou por um segundo e levantei uma sobrancelha.— Ainda acha que Evie sabe de alguma coisa?Meu olhar baixou para a mulher adormecida em meu colo. Em menos de 24 horas, era a segunda vez que ela dormia nos meus braços. Seu rosto estava relaxado, os lábios entreabertos, ainda avermelhados. As sombras sob seus olhos continuavam ali—ela realmente precisava descansar.Meu olhar percorreu suas feições, parando no nariz levemente arrebitado, na respiração calma que fazia seu peito subir e descer suavemente. Assim, entregue ao sono, ela parecia tão inofensiva… Nada lembra
EvelynAcordei sentindo meu corpo relaxado como não sentia há dias. Quando abri os olhos, percebi que ainda estava deitada sobre Alexander, seus braços firmes ao meu redor, como se quisesse me impedir de fugir. Levantei a cabeça para olhar seu rosto e o encontrei sereno, em paz.Ele era um brutamontes. Mandão, arrogante e presunçoso. Mas precisava admitir: depois de Brandon, estar nos braços dele me trouxe a tranquilidade que eu precisava para finalmente dormir.Senti seu corpo se remexer sob o meu. Por um instante, quis fingir que ainda dormia, prolongando aquela sensação de segurança por mais alguns minutos. Mas então, a realidade da noite passada me atingiu como um choque. O que eu estava fazendo? Como pude dormir nos braços de outro homem logo após enterrar o amor da minha vida?Eu amava Brandon. Iria me casar com ele. O que as pessoas pensariam se soubessem que passei a noite na cama de Alexander?Minha respiração acelerou. Eu precisava sair dali. Precisava me afastar dele.Droga
EvelynA frustração ainda ardia em mim, mas não era só isso. Um turbilhão de sentimentos me consumia. Em menos de 24 horas, minha vida virou de ponta-cabeça. Enterrei meu noivo, acordei nos braços de um estranho, minha casa foi invadida, atirei em alguém e fui trazida para cá contra minha vontade. Quando tudo o que eu queria era... viver meu luto.Ainda encostada na porta, deslizei até o chão. Abracei meus joelhos e me permiti chorar. Sim... chorar! Todas as lágrimas por Brandon ainda não haviam sido derramadas. Será que Sterling não tinha coração? Não conseguia ver que eu estava sofrendo?Não sei quanto tempo se passou, minutos, talvez uma hora, até que batidas suaves na porta chamaram minha atenção.— Senhorita Parker.Uma voz feminina me chamou. Levantei-me, sequei o rosto e abri a porta. Diante de mim, havia uma mulher que aparentava ter seus cinquenta anos, talvez um pouco mais. O coque impecável e as roupas elegantes contrastavam com o sorriso acolhedor que ela me lançou.— Bom
AlexanderMinha paciência sempre fora zero, mas hoje estava abaixo de qualquer nível aceitável. Todos ao meu redor sentiam isso, principalmente Benjamin e Jackson. Como eu imaginava, os intrusos de ontem destruíram a casa de Evelyn e, para piorar, deixaram um corpo para trás. A bagunça estava feita. Agora, todos a procuravam. A amiga dela chegou antes da minha equipe, o que atrapalhou meu plano de encontrar as pistas de que precisávamos. Mas eu sabia que estavam lá.Brandon era um cretino, mas um cretino bom no que fazia. Eu sentia que ele havia deixado as pistas certas.Lembrei da minha breve interação com Evelyn pela manhã, o modo como dormiu nos meus braços, sua ajuda com a gravata e, claro, sua petulância ao me enfrentar. Meus pensamentos foram interrompidos por Jackson e Benjamin entrando afobados no meu escritório. Virei-me na cadeira para encará-los.— Temos um problema.Jackson foi o primeiro a falar.— Mais um?— É a Evelyn.Benjamin me entregou o tablet, mostrando imagens da
EvelynPassei a noite inteira chorando depois que Alexander me trouxe de volta. Quando amanheceu, uma parte de mim insistia que nada daquilo era real. Brandon ainda estava vivo... não estava? Depois de descobrir que ele não era quem eu pensava, que me escondeu segredos que nem sequer tive tempo de desvendar, essa ideia já não parecia tão absurda.Mas Alexander me convenceu de que era só minha mente criando uma realidade paralela para amortecer a dor. E, depois de alguns dias, fui obrigada a aceitar: Brandon estava morto. Ele não voltaria. Nunca.As coisas em Boerne tinham se acalmado. Eu ainda não voltara, mas sabia que o pessoal do Sterling tinha resolvido tudo. Falei com os Anderson e com Abby. Sentia falta deles. Meu carrasco prometeu me deixar visitá-los em breve. Sim… carrasco. Era assim que eu chamava Alexander Sterling agora.Estava deitada na cama, encarando o teto e perdida em meus pensamentos quando batidas na porta me tiraram dos devaneios. A porta se abriu, e um rosto fami
AlexanderQuando Benjamin me contou a brilhante ideia de Emily de levar Evelyn para uma entrevista de emprego, fiquei irado. Ela não precisa disso. Eu sou responsável por suas despesas. Sou responsável por ela.Mas foi quando ela começou a ignorar minhas ligações que algo dentro de mim explodiu. Eu queria sair dali correr até essa tal galeria, jogá-la sobre meu ombro e levá-la para casa.Um sorriso brincou em meus lábios.— Não seria má ideiaMurmurei para mim mesmo.Enviei algumas mensagens, cancelei compromissos e peguei minhas chaves. Assim que abri a porta do escritório, lá estava ela.Linda.Os cabelos soltos, a maquiagem sutil… Mas o que realmente chamou minha atenção foi seu vestido. De alças finas, o decote evidenciava seu busto volumoso. O tecido descia colado ao corpo, destacando cada curva. Evelyn era cheia nos lugares certos.Não era o meu tipo de mulher.Mas, droga, ela estava linda. E isso me irritou. Não deveria, mas irritou.— Boa tarde, senhor Sterling.Senti o medo e
EvelynEstava feliz por Alexander ter me trazido até aqui. Isso mostra que talvez ele se importe. Mas assim que entrei, tudo neste lugar me atingiu. Achei que estava pronta para dizer adeus. Pensei que, depois de duas semanas...— Com licença — disse a todos, já segurando as lágrimas, e corri escada acima.Quando cheguei ao andar de cima, entrei no antigo quarto de Brandon, fechei a porta atrás de mim e deslizei as costas por ela, abraçando os joelhos.Me enganei... Acreditei que poderia enfrentar essas lembranças sem desmoronar. Mas quando, o cheiro dele me envolveu, como se Brandon ainda estivesse ali. Os porta-retratos me encaravam, testemunhas silenciosas do que foi e nunca mais será. O peso desse lugar caiu sobre mim como uma onda implacável, me puxando para o fundo.Como pude achar que estava pronta? A verdade veio como uma lâmina fria cortando minha pele. A dor ainda está aqui, crua e latejante, pulsando como um ferimento aberto que se recusa a cicatrizar....Comecei a sentir m
AlexanderEu não sabia que merda eu estava fazendo. O que exatamente foi aquilo? Ela sair me incomoda, um vestido me irrita, um choro dela me dilacera. Saber que ela ainda ama Brandon, então… me faz querer abrir a caixa preta da vida dele, só para que esse amor se transforme em ódio! Mas por quê? Esse não sou eu.Mulheres, para mim, sempre foram apenas prazer. Casuais, descartáveis. E, de preferência… modelos ou garotas ricas e mimadas, que se satisfazem com uma joia, uma bolsa ou um vestido de marca e nunca esperam por um telefonema depois.Não sou o tipo que leva para jantares, compra flores ou vai ao cinema. Nem na adolescência fui assim. Entrei no exército aos 17 anos, enquanto outros caras buscavam um ‘amor’. Eu buscava diversão. E, quando saí de lá, busquei poder. Consegui. Porque nunca me permiti distrações. Relacionamentos nos tiram do foco, limitam nossos objetivos. Tenho 29 anos e sou um dos homens mais bem-sucedidos de Houston. Conhecido no país inteiro. No mundo.Evelyn é