Capítulo 4 – Quem é você?

Evelyn

Meu pai sempre me preparou para algo assim. Desde cedo, me ensinou a atirar e a manusear qualquer tipo de arma.

“Vivemos no Texas.”

Era o que ele sempre dizia. Mas quando comecei a namorar Brandon, as coisas ficaram mais intensas. Ele tinha uma necessidade absurda de proteção, como se sempre esperasse que algo como hoje fosse acontecer. Eu apenas assentia, não queria discutir. Afinal, estávamos em Boerne. Na minha cabeça, algo assim jamais aconteceria.

— Aaah...

A mulher no chão gemeu. Eu ainda apontava a arma para ela, mas ela não se mexia. A poça de sangue ao redor dela aumentava.

Ouvi um barulho vindo de baixo, passos apressados subindo as escadas. Então, ali estava ele: Alexander Sterling. Ao seu lado, Jack.

— Me dê a arma.

A voz de Sterling era firme, autoritária. Deus, eu estava começando a odiar esse homem de verdade.

— Você está bem, Evie?

A pergunta veio de Jack. Assenti com a cabeça, mas meus olhos continuavam fixos na mulher caída no chão do meu quarto. Uma mão veio até o cano da arma, abaixando-a lentamente.

— Ela não pode te ferir. Me dê a arma.

Virei a cabeça e encontrei seus olhos. Eles pareciam penetrar minha alma. Um arrepio subiu pela minha espinha, e eu não sabia dizer se era medo... ou outra coisa. Abaixei a mão, travei a arma e a entreguei para ele. Sterling pareceu surpreso com minha atitude, mas não disse nada.

— Seu tiro foi certeiro.

Comentou Jack, abaixando-se ao lado da mulher, que agora parecia ter desmaiado. Talvez de dor, talvez pela perda de sangue.

— Se ela ainda estiver respirando, então não foi tão certeiro assim.

Me virei tão rápido para encarar Sterling após suas palavras que quase quebrei o pescoço.

— Se eu a quisesse morta, eu a teria matado! 

Rebati, a irritação evidente na minha voz.

— Mas não sou uma assassina

Acrescentei.

— Quero respostas.

Caminhei até a mulher e, ao observá-la mais de perto, tive a estranha sensação de já tê-la visto em algum lugar.

— Mas antes de conseguir respostas da nossa colega aqui... 

Apontei para a mulher.

— Espero as suas respostas, senhor Sterling. O que faz em minha casa a essa hora?

Cruzei os braços e o encarei. Percebi seus olhos caírem sobre meus seios. Claro, eu estava de pijama, que por acaso, era decotado e transparente. Para piorar, estava sem sutiã.

Ele percebeu que eu o peguei olhando e, no mesmo instante, voltou a vestir aquela máscara fria e sem expressão.

— Escutamos o barulho do tiro, por isso entramos.

Percebi sua postura enrijecer. Havia mais por trás disso, mas ele não queria me contar. Decidi deixar passar por ora. Agora, meu foco era descobrir quem era essa mulher e o que exatamente ela estava procurando.

— Chefe, é uma Snake!

Jack chamou a atenção de Sterling para a tatuagem no pescoço da mulher.

A expressão de Sterling se fechou instantaneamente.

— Ok, precisamos sair daqui.

Sua voz soou urgente.

— Arrume suas coisas, uma mala pequena, nada difícil de carregar.

Fiquei parada, os braços cruzados, encarando-o.

— Você entendeu o que eu disse? Ou precisa que eu desenhe?

Seu tom de deboche fez meu sangue ferver. Eu ia arrancar os olhos desse homem com as minhas unhas.

— Não vou a lugar nenhum com você!

Coloquei as mãos na cintura, desafiadora.

— Se não percebeu, tem uma mulher baleada no chão do meu quarto. E fui eu quem atirou!

Segui até o criado-mudo ao lado da cama para pegar meu celular. Assim que o alcancei, comecei a discar o número da delegacia.

— Vou ligar para o xerife e contar o que aconteceu.

Dei as costas para aquele homem arrogante, mas antes que concluísse a ligação, senti um braço firme em meu ombro. Quando me virei, Sterling já estava agachado e, sem aviso, me jogou sobre seu ombro como se eu não pesasse nada.

Um choque me percorreu o corpo, e comecei a socá-lo nas costas. Do que esse homem é feito? Pedra?

— Alexander Sterling, me coloque no chão agora!

Me debatia, mas era inútil.

— Alex, isso é realmente necessário?

Jack perguntou enquanto descia as escadas atrás de nós.

— Não temos tempo. Se eles chegarem aqui…

Sterling virou-se para encará-lo.

— Você sabe bem o que vai acontecer.

Jack apenas assentiu.

— Olha, eu já estou cansada de você, Alexander. E só te conheço há algumas horas!

Jack abriu a porta do carro, e Alexander simplesmente me jogou dentro dele como se eu fosse um saco de batatas.

— Droga!

Mas antes que eu pudesse reagir ou xingá-lo até o inferno, vimos algumas motos se aproximando. Tanto Alexander quanto Jack se abaixaram dentro do carro, ocultando-se. Por sorte, não estavam parados bem em frente à minha casa, o que nos deu uma vantagem para observar os motoqueiros à distância.

Olhei para Alexander. Aquele brutamontes tentando se esconder… Chegava a ser ridículo. Ou talvez engraçado.

— Quem é você?

Minha voz saiu num sussurro, mas ele ouviu.

Ele desviou os olhos da cena à frente e me encarou, os lábios curvando-se ligeiramente.

— A pergunta certa seria, senhorita Parker… Quem era seu noivo?

A pergunta me atingiu em cheio. O que ele estava insinuando? Estava tentando manchar a imagem de Brandon logo após eu enterrá-lo?

Antes que pudesse verbalizar meus questionamentos, meus olhos voltaram para minha casa. Quatro motos. Oito homens. Eles entraram sem hesitar.

Segundos depois, tiros ecoaram. Com o susto, levei as mãos à boca.

— Parece que alguém finalizou seu serviço.

Sterling disse, o sarcasmo impregnado em cada palavra.

Olhei para ele, pasma. Ainda estava em choque. Minutos atrás, eu estava em minha casa, assistindo a um filme, lamentando a morte do amor da minha vida. Agora… estava ao lado de um homem frio e enigmático, cuja presença era perturbadora.

— O que fazemos?

Jack perguntou a Sterling.

— Provavelmente vão revirar a casa em busca da mesma coisa que a Snake. Vamos embora. Se sairmos daqui agora, antes do amanhecer estaremos em Houston.

Olhei de Jack para Sterling, sem acreditar no que estava ouvindo.

— Gostaria de lembrá-los que ainda estou aqui. E não tenho intenção nenhuma de ir para Houston.

Jack suspirou e voltou-se para mim.

— Sinto muito, Evie, mas acho que você não tem opção. Se ficar aqui, estará em perigo.

Uma confusão me tomou. Perigo? Como assim?

Virei-me para Sterling. Seu rosto era uma máscara de controle absoluto, mas havia algo nos lábios… Um vestígio de deboche, como se estivesse se divertindo com a minha confusão.

Ele não era apenas um homem acostumado ao perigo, ele era o próprio perigo. E, de alguma forma, eu sabia que minha vida nunca mais voltaria a ser a mesma.

Abaixei a cabeça, sentindo a realidade me sufocar. Jack tinha razão.

— Ok, vamos para Houston.

Minha voz saiu mais baixa do que eu esperava.

Alexander não disse nada, apenas observou. Mas seus olhos me estudavam de um jeito que me irritava. Ele já sabia que eu não tinha opção antes mesmo de eu admitir para mim mesma.

Jack se acomodou no volante, e Alexander pegou uma arma debaixo do banco. O carro deslizou silenciosamente pela rua, como se estivéssemos atravessando uma linha invisível entre a minha vida antiga e essa nova realidade desconhecida.

Passamos devagar em frente à minha casa. Encostei a testa na janela, meus olhos ardendo.

Brandon, meu amor… No que foi que você se meteu? No que você me meteu?

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