4. Quatro

O caso mais importante da cidade jogado para ela como se não fosse nada. Uma tremenda sorte para consolidar sua carreira, ou, se Lenna falhasse, para enterrá-la de vez. E ela não pensara duas vezes ao ficar com ele.

Abriu a porta de casa carregando a pilha de pastas que Walt havia largado em sua mesa. Relatórios da perícia, foto das vítimas, depoimento dos familiares e tudo mais que pudesse somar trezentas páginas. Desde que o sistema virtual fora invadido no começo do mês passado, o departamento voltou a utilizar o bom e velho papel e caneta, para os casos com prioridade máxima ou segredo de justiça.

Lenna tirou os sapatos e os deixou perto da porta, colocou as pastas em cima da mesa de centro e caminhou até o banheiro. Fora um dia exaustivo e tudo que ela desejava era um banho quente, um pijama confortável e alguns episódios da sua série favorita.

Depois do banho ela tirou uma embalagem de comida congelada da geladeira e a colocou no micro-ondas. Ligou a TV que imediatamente começou a reproduzir a última playlist que ela ouvira, na semana passada, um mix de jazz e blues.

Era o estilo musical preferido de sua mãe. A única lembrança que Lenna ainda conseguia se lembrar que não fosse a visão de vê-la imóvel em um caixão, era de uma viagem de carro onda a viu mudar de estação até encontrar uma que estivesse tocando jazz.

A comida como sempre estava horrível, mas era fácil de fazer e poupava tempo, duas coisas que para Lenna era como um luxo. Ela pegou a garrafa de vinho que nunca saia do balcão e limpou o paladar bebendo um copo, depois sentou-se no sofá e alcançou o controle que estava ao lado das pastas.

Mediou por um momento o que deveria fazer, bem quando a música chegou ao fim e a sensação de dever voltou a subir em sua cabeça. Iria ser uma longa noite, ela sabia, porque continuaria a dar tudo de si, para que evitar que mais inocentes morressem, como a sua mãe havia morrido.

Ela pegou a primeira pasta e começou a ler, continuando uma após a outra, ignorando seu sono e bem-estar.

Quando o relógio da sala marcou duas da manhã Lenna fechou a última pasta. Fotos estavam espalhadas pela mesa de centro e sofá, organizando os fatos de uma maneira lógica.

Haviam cinco vítimas no total, quatro registradas, a última e mais recente ainda precisava ser identificada.

Todas as mulheres entre vinte e trinta anos, pegas em locais isolados, mortas com golpes de um objeto cortante, os cadáveres retalhados a ponto de não ser possível a mera identificação visual. Com exceção da faixa etária, sem mais relações entre si que pudessem identificar o padrão que o assassino em série estava usando.

Um monstro em pele humana, pensou Lenna, segurando a foto do cadáver da última vítima.

***

Max inspirou o ar noturno, sentindo a essência da cidade preencher seu nariz. Andava a pé, deslocando-se em meio as pessoas comuns na madrugada, jovens bêbados, homens procurando sexo fácil, mulheres vulgares acenando para ele.

Prazeres mundanos que não despertavam mais sua luxúria a alguns séculos.

Uma mulher mais ousada saiu de um beco e entrou na sua frente, parando-o com uma mão estendida que teria tocado seu peito, se ele não tivesse se movido com maestria para fora do alcance dela.

"Que foi bonitão, é bom demais para ter um pouco de diversão comigo?" Perguntou a mulher, fazendo um biquinho, ela usava uma jaqueta cor rosa, saia de couro e botas vermelhas.

"Não estou interessado." Respondeu Max, ríspido.

"Meu nome é Candy e eu..."

"Não perguntei." Cortou Max, voltando a caminhar.

Candy correu para entrar novamente no campo de visão de Max, o salto de suas botas fazendo barulho.

"Olha, eu posso fazer coisas inesquecíveis, você não vai se arrepender." Falou, tentando soar sexy.

Max a encarou por um segundo, deixando seu olhar ameaçador cair sobre ela. Ele não costumava ser abordado com frequência, tinha uma postura intimidadora e o rosto fechado. Percebeu que a mulher estava engolindo em seco, enxugando as mãos na saia e trocando o peso de pé. Ele pode concentrar a sua audição e ouvir que o coração dela estava num ritmo fora do comum.

"Do que está com medo?" Perguntou.

A mulher arregalou os olhos, sendo pega pela percepção dele.

"Faço um desconto para você se formos rápidos." Sugeriu dando um sorriso nervoso. Com medo de perder a oportunidade, ela agarrou a mão dele e o levou de volta ao beco de onde tinha saído.

Assim que entraram, Candy soltou a mão de Max e mudou de postura, relaxando visivelmente, ela se escorou a uma parede com o desenho de uma pomba.

"Me desculpa cara, o meu cafetão é um pau no cu. Ele surta se ver que estamos paradas por muito tempo, principalmente agora que uma das garotas sumiu." Confessou tirando um cigarro da bolsa.

Max não falou nada, apenas ficou parado.

"Eu sei que isso não é da sua conta e se não tiver afim, não faço nada com você, não precisa me dar dinheiro nem nada." Continuou, acendendo o cigarro, ela parou antes de tocar nos lábios e ofereceu para ele.

"Me fale sobre a garota que sumiu." Pediu, cruzando os braços.

"Ah, caralho, eu sabia que você parecia certinho de mais, é da polícia?" Perguntou, jogando o cigarro no chão.

"Não sou."

"Então é parente?"

"Não."

"Namorado? Eu sei que é difícil, mas tem caras que curtem, alguns até deixam as mulheres trabalharem aqui para pegarem o dinheiro das coitadas."

Max bufou, lançando um olhar mortal sobre Candy. Ele não tinha vindo até Okland para bater papo com uma prostituta, mas para investigar o desaparecimento de outra.

"A garota, quando ela sumiu, quem estava com ela?" Perguntou incisivo.

"Eu não sei." Disse Candy.

"Sabe de alguém que possa responder minhas perguntas?" Questionou.

"Não, mas olha, eu posso descobrir, você me ajudou agora, então vou retribuir o favor. Lembre-se disso, caso a polícia venha fazer uma batida, senhor-não-policial-mas-que-haje-como-um."

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