5. Cinco

Lenna não sabia ao certo quando teve a ideia de ir para Okland, o bairro de classe baixa onde a última vítima havia sido encontrada e nem o porquê escolhera fazer isso durante a madrugada.

Três equipes da perícia tinham sido enviadas ao local no momento que o corpo foi descoberto, os resquícios de fitas amarelas e marcadores estavam espalhados pelo projeto do que viria a ser um parque, mas que por ora, era apenas um terreno com armações de concreto e uma placa do prefeito Jerome Hilmes sorrindo com algumas crianças.

Haviam fotos da cena do crime na pasta que Lenna recebera, tiradas durante o sol do entardecer, um delas capturando não só o projeto da construção do parque como a linha de árvores de um dos vários bosques da cidade.

Ela não teria notado na imagem o elemento que a fez sair de casa, se não tivesse visto o padrão antes, no mesmo dia que recebeu o caso do posto em Road Villagi. Cinco linhas encravadas no chão, agora, cinco linhas encravadas na árvore.

Lenna apontou a lanterna iluminando a marca. Como garras, pensou novamente

A perícia não tinha catalogado como prova e mesmo que tivesse, ataque animal estava descartado pelo legista, pela questão da curvatura dos golpes não pertencer a pata de nenhum animal conhecido.

A teoria vigente era de que estripador usava um instrumento especial, fabricado por ele mesmo ou com alguma modificação.

Usando o celular, Lenna tirou uma foto da marca na árvore.  E se dando por satisfeita, ela se virou para ir embora, foi quando viu alguém parado sob a luz do poste na rua.

Seu coração disparou e o seu corpo ficou paralisado diante de uma necessidade estanha, que não era exatamente medo. Estava sozinha no local de um crime recente, investigando um assassino em série, que poderia retornar ao local do crime em uma madrugada para reviver a emoção de não ter sido pego e então dar de cara com ela.

Mais de uma vez fora acusada de ser imprudente e com alguma razão. Ela deixara a arma e o coldre no porta luvas do carro, carregando apenas sua lanterna tática.

Respirando fundo e sem conseguir tirar os olhos do estranho, ela tentou raciocinar com probabilidades. A primeira um morador com insónia que decidiu caminhar para refrescar a mente, a segunda, um policial colocado a paisana para ficar de olho no local do crime, a terceira...Lenna não conseguiu pensar em uma terceira.

Com passos lentos o homem começou a andar em sua direção

***

Houve uma época em que Max pensou que sua maldição podia ser transformada em um recurso para ajudar as pessoas, era notoriamente mais forte que os humanos comuns, com sentidos apurados e certeiros. Por muitos anos tinha servido a uma causa na caça as bruxas, se juntar a outra com um pretexto mais grandioso, como defender um país, pareceu uma oportunidade sem igual.

Até Max perceber que batalhas grandiosas muitas vezes eram infundadas, um desperdício de vidas alheias. Quando era um caçador o mal era erradicado com um golpe, quando foi um soldado, o mal sempre pareceu estar distante, não importando quantas vezes ele golpeasse ou atirasse.

Ele largou a vida de soldado e as armas, mas sempre manteve consigo sua espada, guardada em um fundo falso no porta malas do carro. Um recurso útil quando a última batalha com os bruxos no coven, para onde a companheira de Niklai fora raptada, estourou.

Ele já estivera desiludido quanto a encontrar sua legítima companheira, mas no passado, pensara muito a respeito disso, em como seria ter alguém ao seu lado, corajosa o suficiente para aceitar a monstruosidade dentro dele, misericordiosa o suficiente para perdoar o sangue que ele tinha nas mãos. E ceús, Max sabia que tinha muito e nem todos eram de pessoas más.

Agora que Niklai havia encontrado Kristen, Max não conseguia mais bloquear os pensamentos que reverberavam em sua mente, ter uma companheira para chamar de sua.

"Pensamentos estúpidos, Maximiliam." Sussurrou para si mesmo, caminhando em uma rua escura, em direção a cena da última vítima do assassino em série.

Ele tinha um objetivo para focar sua mente, pegar o assassino e depois disso...bom, ele voltaria para a estrada, dando cabo de um ou outro lixo humano em sua jornada para o seu desconhecido e solitário fim. O que definitivamente era o que merecia pelas coisas que havia feito, pelas pessoas que tinha matado, sem misericórdia com seus princípios ultrapassados.

Sua mente vagou de novo, dessa vez para uma visão com a qual ele sonhou mais de uma vez. Uma casa com telhas vermelhas na beirada de um lago com um belo píer, grama verde e um céu azul sem nuvens. Ele podia sentir o cheiro da brisa suave, que as árvores produziam em contato com o frescor do lago, tocar a ponta do seu nariz. Um perfume que lhe dizia uma única coisa: casa.

Mas não uma casa fria e solitária, mesmo que no inverno, ele cortaria madeira para acender uma lareira e teria cobertas felpudas para um sofá com dois lugares. Onde ele estenderia o braço e envolveria sua companheira para dividirem o calor de seus corpos, tomariam chocolate quente vendo o fogo crepitar e mais tarde fariam amor.

Ele a amaria com todo seu coração, porque decerto, era o que ela merecia, merecia muito mais que Max pudesse dar.

Ele bufou, uma mulher assim que pudesse o amar ignorando seus pecados, não existiria, afinal eram quase quinhentos anos desde que fora amaldiçoado e ele não encontrara nenhuma.

A fragrância que sua mente havia produzido continuou até que ele visse uma luz no fim da rua e sentisse o inconfundível cheiro de sangue, tinha chegado ao local da cena do crime, se pudesse captar o cheiro do assassino entre todos os outros, ele não poderia escapar de Max nem que fosse para outro lado do mundo.

Mas tudo que Max encontrou foi a visão da mulher mais bonita que já vira e a confirmação, com seu coração batendo tão forte como ele nunca tinha sentido, de que aquela mulher, com cabelo bagunçado, calças de pijama e tênis para corrida, era sua legítima companheira.

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