Pego a chave e, para minha surpresa, a fechadura estava realmente difícil de abrir. Quase fiquei estressada tentando forçá-la, mas depois de algumas sacudidas na porta, finalmente consegui abri-la. Devagar, abri a porta, e mal podia acreditar que aquele lugar seria minha nova casa.
Da entrada, consegui ver a pequena varanda que estava conectada à cozinha. Na sala, havia dois sofás e uma pequena mesa de centro. Uma prateleira de madeira aparentemente antiga ficava ao lado da porta. Entrei e fechei a porta atrás de mim, colocando minhas mochilas no chão antes de correr para a varanda e contemplar a vista.Não era a vista mais espetacular, mas era incrível poder observar tudo dali. Havia uma praça próxima ao prédio, o que tornava ótimo para observar a movimentação. Porém, ao olhar para baixo, pude ver a varanda do Sr. Lúcio e da Dona Elizabeth.Eles não estavam em casa, mas me senti meio exposta. Já que eu podia ver a varanda deles, o morador do andar superior também poderia ver a minha. Olhei rapidamente para cima ao perceber isso, mas não consegui ver nada além da parte de baixo do chão da varanda dele.— Credo! Seria perfeito... se não fosse por isso.— comentei comigo mesma, uma mania que tinha desde pequena. Na minha varanda, havia uma mesa de madeira com duas cadeiras, que achei um ótimo lugar para tomar café ao amanhecer. Sorri enquanto imaginava a cena. Ainda não acreditava que estava em um lugar diferente, começando do zero e criando ótimas lembranças.Fui para a cozinha e, embora fosse pequena, era muito aconchegante. Claro que não se parecia em nada com as fotos que a dona do lugar havia enviado, mas não era ruim. Tinha uma geladeira, fogão e um armário acoplado na parede com algumas panelas e talheres.O gás era encanado, então não precisaria me preocupar com a comida, o que era ótimo, já que o gás era caro na região. Eu adorava cozinhar, uma habilidade que aprendi na casa do meu avô, e sentia saudades dele, pois ele era como um pai para mim.Depois de dar uma olhada na sala, cozinha e varanda, fui para o quarto, que ficava logo à esquerda da sala. Lá, havia um guarda-roupas e uma cama de casal. Embora geralmente as pessoas morassem com um parceiro, estava empolgada em ter todo aquele espaço só para mim.Ao lado da cama, havia uma pequena mesa com um abajur, o que achei fofo. A janela do quarto dava para um prédio, então não dava para ver quase nada, mas pelo menos ventilava bem.Era tudo muito simples, mas pelo preço, acredito que era o melhor que poderia encontrar. Precisava arranjar um emprego logo e organizar as coisas para a faculdade, mal podia esperar para conhecê-la.Peguei minhas coisas e as levei para o quarto, começando a arrumar o guarda-roupas. Troquei os lençóis da cama por novos que havia comprado e limpei tudo da melhor forma que pude. Precisaria comprar produtos de limpeza amanhã, além de alguns utensílios.Fiquei animada ao imaginar a casa mobiliada, com quadros e decorações, e comecei a sorrir sozinha.O banheiro era pequeno, mas bonito. Tinha uma pequena banheira retangular, algo que sempre quis experimentar, embora tivesse que limpá-la bem antes de usá-la, afinal, não sabia quem estava ali antes de mim. Por enquanto, tomaria banho normalmente como de costume.Após limpar tudo o que consegui com o que tinha, decidi tomar um banho e jantar. Havia comprado algumas croquetas para beliscar enquanto arrumava tudo.— Amanhã farei uma compra e começarei a cozinhar em casa. — disse a mim mesma com entusiasmo.Após terminar de beliscar os petiscos, corri para a cama, deitei e fiquei olhando para o teto, relembrando tudo o que aconteceu no dia. Fiquei aliviada por ter corrido tudo bem e esperava que o dia seguinte fosse igualmente positivo. Mal podia esperar para começar a estudar e trabalhar. Acabei adormecendo enquanto relembrava todos os eventos do dia.Acordo no meio da noite com um estrondo vindo do andar de cima...— Parece que o vizinho famoso finalmente chegou...Digo baixinho para mim mesma. Escuto risos e passos pesados, eles parecem desajeitados, derrubando coisas pelo caminho.— Devem estar completamente bêbados, sério?Parece que não conseguem evitar de fazer um alvoroço, e é justamente no quarto bem em cima do meu.De repente, ouço um estrondo que parece alguém pulando em uma cama, seguido de sussurros e risadas, e o som da cama ranger.— O quê? Isso não pode ser...Meus olhos se arregalaram, e qualquer resquício de sono que eu tinha desaparece. Parece que estão fazendo isso de propósito, só para me irritar.Com o passar do tempo, o barulho da cama continua, mas agora ouço gemidos e até mesmo palmadas, muito alto. Fico vermelha de constrangimento e perco completamente o foco. Não acredito que eles estão agindo assim, como se estivessem em um motel. Será que eles não percebem que tem gente morando no andar de baixo? A dona do prédio havia dito que todos seriam informados para evitar esse tipo de situação.Só pode significar uma coisa... Esse tal inquilino sem vergonha que o Sr. Lúcio mencionou, está realmente querendo me provocar. Não vou deixar barato. Resolvo gritar mais alto que os gemidos.— TEM GENTE TENTANDO DORMIR AQUI!Sinto vergonha por ter que gritar, mas não vou deixar que ele faça o que quer, ainda mais obrigando-me a ouvir tudo isso.Por um momento, o quarto fica em silêncio, mas logo ouço risadas e uma resposta provocadora.— SE QUISER, PODE VIR PARTICIPAR...Ele grita e ri, com a voz rouca e embriagada, como eu suspeitava. Os barulhos recomeçam, agora ainda mais altos, como se quisessem me incomodar. Ele continua com as palmadas na mulher e fazendo comentários inapropriados enquanto ela geme e encoraja.Maldito! Agora entendo por que os inquilinos do andar de baixo estão tão incomodados com esse cara e suas companhias noturnas. Que situação desagradável!Sei que é inútil discutir com alguém tão bêbado, mas amanhã vou resolver isso de alguma forma. Cubro meus ouvidos com o travesseiro, envergonhada, tentando bloquear os sons sugestivos que ecoam. Não tem como evitar o que estão fazendo, e essa é uma péssima maneira de começar o meu primeiro dia aqui.Estou dividida entre a raiva e a vergonha, só espero que isso acabe logo. Tento voltar a dormir, mas o sono foi embora. Cada grito deles tira a minha paciência, e minha raiva só aumenta por causa desse vizinho desrespeitoso.Maldito vizinho safado! Ele vai se arrepender, porque não sabe com quem está lidando. Vai ter consequências.EDGAR.Foi uma bela hora para aquela mulher me ligar, a dona da kitnet, aquela senhora irritante. Droga, agora uma garota vai se mudar para o andar de baixo, eu moro no terceiro, e a inquilina ficará no segundo. Já não suporto aqueles velhos do primeiro andar perturbando a minha paz, e agora mais uma para estragar a diversão. Puta merda! Desligo o celular com raiva e o jogo na cama. Puxo os cabelos com frustração, mas assim que me acalmo, o celular toca de novo. Pego o aparelho com irritação e vejo que é meu amigo Felipe. Trabalhamos juntos na mesma máfia há alguns anos, então decidi atender.– E aí, meu camarada. - saúdo meu amigo. Do outro lado, Felipe parece estranhamente alegre para tão cedo de manhã, algo atípico para ele. Cerro os olhos curioso para saber o que ele tem para me contar no começo do dia. – Oi, cara. Como está indo?Tento não pensar na nova inquilina que vai se mudar hoje, e respondo, tentando ignorar essa preocupação.– Estou indo bem, e você, meu chapa? Tenho q
Nicole.Acordei cedo no outro dia, mal consegui dormir na noite anterior... Tenho certeza de que dormi apenas duas ou três horas, meu corpo está um caco, me sinto ainda mais cansada, tudo por causa daquele sem vergonha.Não acredito que aquele maldito vizinho fez aquilo na noite passada, e ainda por cima daquela altura. Fico com raiva só de lembrar...— É melhor eu me levantar, tenho muitas coisas para resolver hoje... — Pensei alto comigo mesma, dei um pulo da cama e a arrumei, deixando tudo dobrado.Fui até o banheiro, lavei meu rosto e escovei os dentes. Ao olhar no espelho, pude ver que estou com olheiras e o rosto bem cansado.— Maldito! — Eu dei um grito baixinho. — Eu vou matar esse idiota! Fico com raiva só de pensar nele. Deve ser um babaca, certeza. Respiro fundo e tento me acalmar. Tenho que focar em organizar minhas coisas hoje.Após lavar meu rosto, vou até a cozinha para arrumar algo para comer. Tudo que tenho no momento é café! Não comprei nada para comer hoje...Suspi
Estou fazendo de novo! Céus….— Tenho que focar!Falo pra mim mesma balançando a cabeça tentando mudar de pensamentos.Abro as batatinhas e o refri, o som da lata de refrigerante faz o garoto notar minha presença.Eu tento não fazer contato visual com ele, mas ele olha diretamente pra mim.Começo a ficar vermelha de vergonha, ainda mais depois de ter pensado nessas coisas.Por um momento quase me engasgo.Dou umas tossidinhas e me levanto.— É melhor eu sair daqui, está muito quente!Penso alto enquanto me abano com a mão.Acho que irei ao banheiro, e depois quando tocar o sinal irei embora, tenho coisas para resolver em casa…Aparentemente a aula de hoje acaba no horário do almoço, então irei embora junto dos outros estudantes.Vou ao banheiro, limpo meu rosto com água, estou vermelha… melhor me acalmar um pouco antes de sair..Após alguns minutos, sai e posso ouvir o sinal tocar, todos estão saindo de suas salas.É melhor eu sair antes, não quero ser atropelada por eles…Fico na ent
Respiro profundamente, buscando acalmar-me. Dou tapinhas no meu rosto, aguardando minha consciência retornar. Todos observam minhas reações, e é melhor eu me levantar.— Tudo bem, Nicole… apenas relaxe... — Digo a mim mesma enquanto me ergo lentamente, minhas pernas ainda trêmulas.É preferível voltar para casa agora, onde posso refletir sobre o que fazer. Olho nervosamente em todas as direções, preocupada com a possibilidade de alguém ter me seguido. Tenho que ser cautelosa, evitando qualquer encrenca. Seguro minha bolsa junto ao peito, fecho os olhos, conto até três e começo a caminhar. Preciso chegar em casa rapidamente e opto por percorrer trajetos mais movimentados, acreditando que isso reduzirá as chances de perigo.Verifico o relógio e percebo que já são cerca de 14:30. Ainda é cedo, mas após o incidente, acho melhor seguir diretamente para casa, deixando as compras para um momento mais tranquilo.Após alguns minutos, chego ao prédio do kit-net e vejo o senhor Lúcio tentando co
NicoleIsso está passando dos limites! Juro que assim que resolver a questão da escola amanhã, vou lá em cima pedir satisfação. Ele não pode fazer esse tipo de coisa!Respiro fundo e sinto meu rosto secar. Começo a me sentir melhor, mas a ira do vizinho toma conta de mim. Após algum tempo, quase explodindo de estresse, percebo que estou apenas de blusa longa e calcinha. Eu congelo e sinto uma vergonha intensa. — E... ele me viu assim? - Fico paralisada, pensando no que ele poderia ter visto. Eu com as pernas expostas — Se ele tivesse visto algo, teria falado, certo? Ou talvez não.Talvez só tenha sido imaginação minha e o cheiro de cigarro também! De qualquer forma, é bom eu tomar mais cuidado. Não quero um tarado doido igual ele enchendo meu saco. Arrepio de medo só de imaginar. Volto para dentro de casa novamente e coloco um short. O dia foi bem quente, a noite parece que não vai ser tão diferente.Por um momento, havia esquecido que estava chorando. De qualquer forma, tenho que
NICOLEComeço a comer, e está simplesmente delicioso. Não sei se é a fome ou se eles estão bem feitos. Preciso voltar lá depois e comprar mais...Enquanto como, vejo que algumas garotas se aproximam, parecem estudar aqui há bastante tempo. Elas se sentam em um banco um pouco distante e acendem cigarros.— Todo mundo fuma? — pergunto a mim mesma enquanto como. Não acredito que todo mundo aqui fuma!Eram três garotas. Vejo que elas olham para mim e começam a cochichar e rir. Não sei o que estão falando, mas com certeza devem estar me zoando. Tento não olhar para elas. Já tenho problemas demais para resolver.Uma delas então vem até mim enquanto as outras ainda cochicham sentadas no banco. Ela chega com o cigarro entre os dedos, parece meio nervosa. Ela para na minha frente e fica me encarando.— Oi? — pergunto confusa, sem entender o que ela quer comigo.— É melhor você entender seu lugar. Sei que você é nova, mas quero você longe de mim e das minhas amigas, entendeu?Quê? Ela é louca?
Nicole Mesmo após o sinal tocar, havia pessoas entrando na sala, e elas não pareciam se importar muito com o horário. Por coincidência ou não, o garoto com quem me encontrei na lanchonete perto da universidade estava ali. Ele passou pela porta e rapidamente me viu, mesmo estando longe. Foi estranho, mas tentei ignorar.Ele veio na minha direção com um sorriso no rosto.— Posso me sentar aqui? — Ele pergunta, olhando para as cadeiras vagas.— Sim — respondi, tentando não fazer muito contato visual com ele. Tudo o que eu queria era estudar e sair logo dali. Estava impaciente com todos esses acontecimentos.— Que coincidência, quem diria que seríamos colegas de classe! — Ele fala enquanto se sentava ao meu lado, apesar de haver outros lugares vagos. Que droga! — Pois é... — Respondi sem muito entusiasmo, esperando que ele entendesse que não estava com vontade de conversar.O professor então entrou na sala, um homem já de idade com cabelos brancos e quase calvo. Ele usava roupa social e
Nicole Entro diretamente no banheiro, onde lavo o meu rosto diante do espelho. Tento acalmar-me e organizar as ideias. Certo! O que devo fazer agora? Devo voltar para a sala de aula ou esperar até o próximo horário?Olho para o espelho por um momento e ouço passos do lado de fora do banheiro. Só eu estava no corredor, será que é alguma aluna? De qualquer forma, é melhor entrar em um dos compartimentos dos sanitários e esperar até que ela saia. Entro e fecho a porta, lamentavelmente não há tranca onde estou. Droga! Seguro a porta com as mãos, esperando que a pessoa que estava entrando, saia rapidamente.Ouço os passos caminhando lentamente no banheiro. Tento fazer o mínimo de barulho possível, quanto menos contato eu tiver com as pessoas, melhor! Os passos então param, e ouço a voz de alguém. — Está fugindo de mim? - Espera… essa voz? É a voz do Edgar?Ele está no banheiro feminino atrás de mim? Qual é o problema dele? Ouço então o som dele abrindo a primeira porta dos compartimento