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Encontros e Reflexões: Noite de Autonomia e Descobertas

Cheguei em casa e tomei um banho relaxante. Liguei para Rafa para convidá-la para passar a noite comigo, mas minha amiga estava ocupada com o seu ficante número três, que é um homem trans. Ele é muito legal e está tentando ter um relacionamento sério com a minha amiga, coitado. Rafa sempre será um espírito livre.

Com Pedro trabalhando hoje, resolvi sair para beber sozinha mesmo. Tomei um banho, me arrumei, peguei um táxi e pedi para que o motorista me deixasse em um bar qualquer. O taxista olhou para mim com um sorrisinho, e não achei graça. O cara tentou puxar assunto, mas quando viu que eu não daria trela, se calou.

"Por favor, pode me deixar nesse bar mesmo. Obrigada", eu disse ao motorista. Paguei o valor da corrida e entrei. Eu até poderia ir para o bar onde Pedro trabalha, mas não queria que ele me observasse ou achasse que eu estava sentindo sua falta.

"Boa noite, linda. O que vai querer?", o barman perguntou assim que me viu.

"Um gin tônica, por favor", eu respondi. Ele me entregou a taça, e eu, com a minha mania, verifiquei o fundo do copo antes de beber.

"Gostei da sua prudência", disse Saulo, e tomei um susto quando ouvi sua voz atrás de mim. "Perdão tê-la assustado".

"Não tem problema, o que faz aqui?", perguntei. Com tantos bares no Rio de Janeiro, tínhamos que nos encontrar.

"Esse é o meu bar favorito. Como o mundo é pequeno, eu havia te convidado para tomar um drink e você rejeitou. E por ironia do destino, olha você aqui".

"Realmente, o mundo é pequeno", ou filho da puta pensei para mim mesma. Saulo sentou ao meu lado e pediu sua bebida.

Tomei a minha e logo pedi outra gin tônica, enquanto Saulo ainda estava no primeiro copo.

"Espero que não tenha vindo de carro", comentei enquanto pedia uma tequila.

"Vim de táxi", respondeu ele, esvaziando o copo e pedindo outra dose.

Já estava bem alterada quando os acordes da música "Crazy in Love" começaram a tocar, mas a versão original, não a que fizeram para o filme "Cinquenta Tons". Me entreguei à dança e, quando terminei, os caras batiam palmas e pediam para eu dançar mais uma vez. Eu disse a eles que dançaria mais depois. Ao voltar para me sentar, o barman olhou para mim e sorriu.

"Arrasou, gata!", ele disse, me dando uma piscadela. "O que vai querer, gostosa?", perguntou.

"Vou querer uma água, por favor", respondi.

"Aqui, linda. Por conta da casa", disse o barman, piscando para mim, e foi atender outras pessoas.

Peguei a garrafa e confirmei se não estava vazando. Podem me chamar de paranóica, mas não ligo, pois minha segurança vem em primeiro lugar. Depois de verificar tudo, dei um gole na garrafa.

"Você sempre faz isso?", perguntou ele, e eu afirmei. "Não querendo parecer curioso, mas me explica o motivo pelo qual você faz isso".

Todos sempre ficam curiosos a esse respeito. Respiro fundo e acesso minha caixa de memórias, aquela que eu gostaria de esquecer. Se fosse outra pessoa, eu simplesmente desconversaria, mas não sei por qual motivo, Saulo me faz querer me abrir.

"Na fase de adolescente, minhas amigas e eu começamos a sair para festas de conhecidos", disse eu. "Um dia fomos convidadas para irmos à festa de um amigo do primo da minha amiga, mas nesse dia a minha irmã sentiu algo de estranho e não me deixou ir. Então Rafa e Jéssica foram à tal festa, elas ficaram de me mandar mensagem para eu saber se tudo estava bem".

"Um tempo depois, eu não soube mais notícias delas. No dia seguinte veio a triste notícia de que Jéssica havia acordado em uma rua deserta, nua e violada. Minha amiga foi rechaçada por todos, inclusive por sua família, quando descobriram os nomes dos meninos que fizeram mal a ela. Eles foram presos e julgados, mas quando chegou o maldito julgamento, ao invés dos caras serem julgados, eles inverteram tudo e a vítima, que era minha amiga, passou a ser a culpada. Resultado: os indivíduos saíram de lá apenas com uma advertência e pagamento de fiança. Minha amiga não aguentou levar a culpa e acabou cometendo suicídio".

"Meu sonho era ser advogada cível, mas depois disso eu resolvi que seria advogada criminal. Sempre que uma mulher precisasse de mim para colocar um abusador na cadeia, eu estaria lá para ajudá-la e garantir que o filho da puta não saia mais".

Minhas lágrimas rolaram e eu as enxuguei. Saulo olhava para mim e eu sabia que ele estava sem palavras.

"Eu sinto muito por você, Sammya. Não sabia que você tinha passado por tanta coisa", disse ele. Dei de ombros e sorri.

"São todas as coisas que me fizeram ser o que sou hoje. Não vou dizer que agradeço por todas as perdas que tive ao longo do caminho, pois seria mentira".

O silêncio se tornou constrangedor", disse eu, "e acabei pedindo alguns shots. Depois de perceber que precisava comer algo salgado, paguei a minha conta. Saulo fez a mesma coisa e me perguntou se eu não gostaria de comer algo com ele. Avistamos um restaurante perto de onde estávamos e resolvemos entrar. Fizemos os nossos pedidos e ficamos quietos até que ele começou a me fazer algumas perguntas sobre os caras que fizeram mal à minha amiga, mas eu disse a ele que, depois do escândalo, a família dos três babacas se mudaram e nunca mais soube notícias deles.

Mais uma vez, o silêncio tomou conta da mesa e agradeci quando a nossa refeição chegou. Assim que terminamos de comer, pedimos um carro de aplicativo. Estava prestes a pedir um carro só para mim, mas Saulo teve a ideia de irmos no mesmo carro e eu acabei aceitando, mesmo sabendo que talvez isso não seja prudente da minha parte. Afinal, ele é o meu chefe e ainda por cima casado. Nosso carro chegou e entramos. Começamos a conversar sobre o trabalho e nossa conversa rendeu. Tem uma coisa que acho muito estranha em Saulo: ele não fala nada sobre a sua esposa. Tenho vários amigos que apenas namoram ou são noivos e falam delas o tempo todo. Estava muito curiosa para saber a respeito da relação deles, mas estou com medo de perguntar e acabar sendo invasiva. Se bem que ele perguntou várias coisas sobre a minha vida, então o que me faz ter o direito de perguntar.

"Não querendo ser invasiva, mas já sendo", disse eu, “me conta um pouco mais sobre você, sobre o seu casamento?” Ele olhou para mim e ponderou um pouco".

"Bom, conheci Marina na faculdade, nos apaixonamos e nos casamos", disse ele. Ele diz isso de uma maneira tão seca que faz o deserto parecer molhado’’.

"Não quer falar a respeito, eu entendo. Então me conta, foi o senhor Rogério que te fez querer se tornar advogado?’’Como percebi que ele estava desconfortável, mudei de assunto, o que o fez sorrir".

"Meu pai é um homem maravilhoso, mas eu me tornei advogado por mim mesmo. Desde os meus três anos, eu nem sabia falar a palavra, mas quando minha mãe perguntou o que eu queria ser quando crescesse, eu dizia".

"Abogado", dissemos em uníssono e rimos.

"Somos mais parecidos do que pensei", Saulo sorriu.

"Sim, porque não fomos influenciados por ninguém, pois amamos a nossa profissão", Saulo iria abrir a boca, meu celular tocou e quando vi o visor revirei os olhos.

"O que houve, Rogério?", digo preparando os meus ouvidos para o que viria a seguir.

"Sua irmã e eu estamos preocupados. Onde você está mocinha?", Rogério gritou a última parte.

"Hey, vai com calma papai. Não se preocupe, estou muito bem e não se esqueça que sou bem grandinha e sei me cuidar", o ouvi bufar do outro lado e sorri.

"Assim que estiver na segurança da sua casa, nos ligue", ele pediu e eu desliguei.

"Pensei que seus pais haviam falecido", Saulo olhou para mim confuso.

"Sim, Rogério é o meu cunhado ele é casado com a minha 'irmãe' ", mais uma vez ele olhou para mim confuso.

"'Irmãe'?", Acho que já contei isso a ele, não é?

"Sim, minha irmã é minha amiga, minha mãe, a melhor coisa que aconteceu na minha vida", as lágrimas rolaram pelos meus olhos e Saulo pegou um lenço e as enxugou. "Obrigada".

Após a refeição resolvemos dividir um táxi, assim que chegamos em meu apartamento me despedi de Saulo, peguei minha carteira, mas ele recusou dizendo que pagaria, agradeci e subi para o meu apartamento, assim que cheguei avisei a minha 'irmãe' que estava em casa segura e ela suspirou aliviada e disse que depois conversaria comigo e sei que o sermão virá, ela me mandou dormir, pois amanhã acordaria cedo e desligou. Estava cansada, então resolvi me jogar na cama sem banho mesmo.

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