— Você é muito engraçadinha, sabia? — Christofer riu um pouco.
— É você que ri de tudo. Se eu falo "a" você rola no chão. — Falei.
— Não exagere. — Ele me cercou com os braços e eu fiquei presa entre ele e o parapeito, sem saída. A garrafa de vinho ainda estava segura na mão dele. Nossos rostos ficaram a milímetros. Acho que ele estava tentando sacar qual era a minha, pois me analisava com perspicácia. A minha vergonha (ou burrice) não me deixou entender nada e nem dizer algo digno. Meu rosto queimava e eu só desviava o olhar. — Luci, você está bem? Parece que está com febre.
— É que... — Murmurei. — Você meio que está me enquadrando aqui.
Esclareci, caso ele não tenha percebido. Mas, algo me diz que essa era a intenção dele.
— Está com vergonha? — Aqueles grandes olhos azuis me deixavam completamente sem ar. Ele sabia que deixava as pessoas sem graça com seu jeito sedutor e simplesmente fazia. Chegou a minha vez de ser currada, meu Deus. Dai-me livramento.
— Você é investigador criminal? — Murmurei até ele segurar meu queixo com a mão livre e me fazer olhá-lo.
— Por que está desviando o olhar? — Ele disse.
— Ora, para escapar do seu poder de sedução. E está difícil.
— Está desviando o olhar de mim desde que eu te beijei. Você se arrependeu? — Ele concluiu após analisar friamente.
— Não... ou sim? Não sei. Vai ser inútil, nunca vou aprender a beijar, mesmo.
Ele não parava de me olhar. Meu Deus, que terror psicológico ficar sob a mira daqueles olhos azuis investigativos.
— Para com isso! Quer me matar de nervosismo? — Gritei, ansiosa. A sensação era a mesma de estar na semana de provas.
— Quero saber qual é a sua. — Ele murmurou, ainda me estudando enquanto segurava meu queixo. — Você tem alguma coisa de diferente, não sei o que é.
— Devem ser meus olhos azul-piscina. — Comentei, revirando os olhos.
— Você sempre fala alguma gracinha quando está nervosa. Eu te deixo nervosa? — Ele passou os braços pelas minhas costas. Estávamos nos abraçando?
— Se me deixa nervosa? Pra caralho. — Eu e minha sinceridade.
— Desisto! — Ele disse. — Eu não sei o que é. Talvez seja o formato das suas sobrancelhas ou... não sei, seu perfume, talvez.
— Que me tornam exótica?
— Não. Que me fizeram ficar pensando em você. — Ele concluiu.
LucianaMais um fim de tarde solitário saindo da minha aula na faculdade. O sol poente tem uma tonalidade alaranjada que só enfeita a visão mais perfeita do mundo: o homem que eu amo. Paro e sinto meu coração palpitar. Aquele homem lindo está caminhando em direção ao estacionamento do prédio onde dá aulas.Sim, ele é minha paixonite desde que o vi pela primeira vez, alguns meses atrás. Desde então, sempre venho aqui para vê-lo sair do trabalho em direção ao estacionamento depois da minha aula.Otávio.Esse homem é o meu número. Alto, viril, forte. Ele tem uma aura misteriosa, sempre elegante e bem vestido. Aqueles cabelos clarinhos me deixam muito eufórica, o olhar dele me deixa sem chão.Pronto, meu peito disparou como se eu tivesse corrido os 400 metros rasos
Despertei cuspindo uma lufada involuntária de água com gosto de cloro. Uma boca tinha acabado de tocar a minha, mandando ar para meus pulmões com toda a força, mas eu não identifiquei quem era, minha visão era o menos importante dos meus sentidos nesse momento.Pensando bem, foi o primeiro beijo que eu recebi em toda a vida.Fiquei alguns segundos entre a consciência e a inconsciência e senti meu corpo sendo carregado. Quando me forcei a abrir os olhos de vez, pensei que iria desmaiar. O amor da minha vida me carregava nos braços: Otávio Prescott.Deus existe. Segurei meu rosário, em louvor. Eu sempre o manuseava, até inconscientemente, um hábito que adquiri
LucianaGritei. Esfreguei minha cabeça com as mãos, bagunçando as mechas lisas, numa tentativa inútil de embaralhar os pensamentos.— Eu não queria que meu primeiro beijo fosse nele! Tinha que ser com Otávio! — Eu sequei minhas lágrimas direto no travesseiro. Toda a felicidade que eu tinha sentido até então foi vã.— Luciana García Benelli, não foi beijo, sua louca! — Alê queria torcer meu pescocinho nessa hora. — O Chris estava tentando salvar sua vida!— Meu primeiro beijo foi num desconhecido! — Cobri o meu rosto com o travesseiro, de modo a me esconder do mundo. Ria de mim, universo, pode rir. Sou uma piada cósmica.Minha mãe meteu a cabeça no vão da porta entreaberta, depois de ouvir meus gritos, e disse:— Você est&aacu
LucianaCorri da festa, abandonando as risadas debochadas para trás. Eu queria cavar um buraco e meter a minha cabeça dentro. Quase acabei fazendo isso sem querer quando tropecei nos meus próprios pés no fim da escada.Eu caí no chão, ralando minhas extremidades. Do meu joelho direito começou a escorrer um fino fio de sangue, mas não consegui sentir dor por causa da pressa. Levantei-me como se não tivesse acontecido nada, e continuei correndo.Parei antes de atravessar a rua somente por causa do sinal fechado, e acabei perdendo um pouco da adrenalina que me levou até ali. A força nas minhas pernas se esvaiu, por fim. Fiquei sentada no meio-fio, cobrindo o rosto para amenizar o choro público.Comecei a sentir os sinais da ardência no joelho. Meu peito estava disparado, a vergonha e humilhação que aquela universidade t
LucianaA que ponto cheguei na vida?Pedir ajuda para o irmão do cara que eu gosto a fim de conquistar o cara que eu gosto? Eu não preciso disso.A quem eu quero enganar? Preciso, sim. Preciso muito.Virou uma obsessão.Acho que depositei na conquista de Otávio todas as minha expectativas de ser feliz algum dia.Isso era extremamente perigoso. E se desse errado?Tinha tudo para dar errado. A grande pergunta era: o que eu faria se desse errado?Bem, quando desse errado, eu ia descobrir. Eu não conseguia evitar aquela sensação de pagar para ver.Alessandra já torceu o nariz quando soube que eu teria outra ajuda para conquistar Otávio. Afinal, ela estava decidida que Otávio era o maior babaca da face da Terra e que eu devia me amar mais. Mesmo assim, ficou curiosa em relação a Christofer.Com "curiosa" e
LucianaFiquei pensando no meu primeiro beijo.Foi gostoso.O beijo dele era bom? Ou beijar era bom?Será que Otávio também beija assim? Será que a língua dele é assim quente e gostosa?Será que faz aquelas coisas no pescoço?Que vergonha, que situação embaraçosa. Apalpei meu rosário no pescoço.Pensando bem, estou com vergonha de olhar na cara de Christofer de novo. Ele deve estar me julgando por beijar mal.E eu estou me julgando por ficar mordendo os lábios e pensando nas coisas que ele fez.Fiquei reflexiva.Acho que quero de novo.Bem, eu não devo nada a Christofer. Não preciso me importar com o que ele pensa. Ele está com meu celular, então tem que me dar pelo menos mais mil beijos.Meu chip agora estava em um celular antigo s
LucianaDessa vez, fomos para o meu apartamento. Fiz questão de ficar parada esperando-o ligar para o irmão na minha frente e colocar no viva-voz.— Otávio… — Christofer já revirava os olhos.— O que é, garoto ingrato? Já se arrependeu de largar seu irmão por causa de mulher? — Otávio falou, do outro lado da linha.— É sobre isso que eu queria falar. — Ele ficou com os olhos fixos em mim. — Eu não estava saindo com aquela garota, era só uma amiga.— E eu com isso? — Otávio murmurou.— Eu disse que ele falaria isso. — Christofer tapou a entrada de som do celular e ralhou comigo, sussurrando.— Problema seu, ninguém mandou me beijar na faculdade. — Reclamei. Christofer revirou os olhos de novo e ouvimos Otávio fa
LucianaEu senti aquele momento. Christofer não estava brincando, e eu tive que engolir em seco. Acho que ele é do tipo egocêntrico que tem ciúme da atenção dos outros, quer todos os olhos para si.Comecei a sacar tudo. Christofer era um cafajeste. Ele viu uma menina bobinha apaixonada pelo irmão dele, que ele odeia, e propôs essa situação para me fazer apaixonar por ele e esquecer Otávio.Muito cruel. Ele não podia brincar comigo assim. Mordi o lábio, eu não podia perder minha única chance com Otávio, mas entrei numa fria.Christofer nunca ia me ajudar de verdade.Mesmo assim, eu precisava ser mais esperta que ele e fingir que nada aconteceu. Não ia deixar que ele tirasse o foco de Otávio.— Palhaço. — Murmurei, soltando uma risada. Eu percebi que devia