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7. Estamos Flertando

Luciana

Dessa vez, fomos para o meu apartamento. Fiz questão de ficar parada esperando-o ligar para o irmão na minha frente e colocar no viva-voz.

— Otávio… — Christofer já revirava os olhos.

— O que é, garoto ingrato? Já se arrependeu de largar seu irmão por causa de mulher? — Otávio falou, do outro lado da linha.

— É sobre isso que eu queria falar. — Ele ficou com os olhos fixos em mim. — Eu não estava saindo com aquela garota, era só uma amiga.

— E eu com isso? — Otávio murmurou.

— Eu disse que ele falaria isso. — Christofer tapou a entrada de som do celular e ralhou comigo, sussurrando.

— Problema seu, ninguém mandou me beijar na faculdade. — Reclamei. Christofer revirou os olhos de novo e ouvimos Otávio falar:

— Qual é o seu problema?

— Nada, Otávio. Só queria dizer que não dei carona porque não quis, mesmo. — Christofer falou e desligou o telefone, olhando para mim. — Satisfeita?

— Ele não lembrou, mesmo, de mim, não é? — Suspirei, triste.

— E quem se importa? — Ele falou, me puxando pelo pulso e jogando meus braços sobre seus ombros. Instintivamente, segurou minha cintura e a puxou para si.

Engoli em seco, quando senti nossos narizes tocando. Os olhos dele se fecharam. Os lábios dele tocaram os meus.

Virei o rosto, envergonhada.

— Como assim quem se importa? — Indaguei. O que Otávio pensava ou deixava de pensar era o mais importante nessa história toda, era o motivo pelo qual estávamos nos encontrando. Eu até esqueci o que estava tentando reivindicar, pois ele já estava segurando minha nuca para mordiscar meu pescoço. — Espere, não faça assim tão rápido.

— Não pode ficar envergonhada com esse tipo de coisa. — Christofer virou meu rosto de volta para si, ansioso para continuar beijando alguma coisa, ele era muito desesperado.

E é extremamente difícil recusá-lo.

Não culpo "as namoradas" dele.

— Mas, calma aí. — Respirei fundo. Eu nunca ia deixar de ficar nervosa com esse tipo de coisa. Rompi todo o nosso contato e respirei fundo. Esse ar inebriante era como toxina para meus pulmões, me deixava muito nervosa.

— Quer uma água? — Ele perguntou, vendo que eu coloquei as mãos nos joelhos para me apoiar.

— Quero. — Pedi, me sentando no sofá dele. Christofer era quente demais para meu pobre coração, eu precisava de um cilindro de oxigênio perto dele. Estávamos na minha casa, mas foi ele quem trouxe um copo de água para mim e se sentou do meu lado. Bebi com bastante dificuldade e coloquei o copo sobre a mesinha. — Acho que deu por hoje.

— Já? — Ele perguntou. — Acabamos de chegar.

— Você também não ajuda. — Falei, olhando para meu pulso, que ele segurava sem nenhuma ressalva. Ele gostava de contato físico.

— O que quer dizer? Você está me pagando para isso. — Ele disse.

— Você me beijou em frente à escola.

— E daí? — Christofer me puxou indiscriminadamente em direção a si. E eu caí sentada…

… Em seu colo.

Fiquei muda, olhando no rosto dele, que parecia achar muito comum. Isso, por si só, não lhe bastava. Ele queria que eu achasse comum também.

Acho que ele ficou pensando o que eu ia dizer. Por muito menos, qualquer outra garota já estaria sem roupa na frente dele. Acho que cada reação minha é muito curiosa para ele, que não estava acostumado com esse nível de dificuldade. Isso me preocupava, pois talvez Otávio não tivesse a paciência que Christofer tem comigo.

Eu não consegui falar nada, estava muito ocupada respirando.

Ficamos em um silêncio longo. Eu arfava. E ele me olhava, curioso para ver minha reação.

— Tá, o que espera que eu faça? — Falei, ofegante.

— Nada. — Ele tirou uma mecha de cabelo do meu rosto, observando-a.

— Eu nunca vou me acostumar com isso. — Me levantei e ele me puxou de novo. Cai sentada de novo nas coxas duras dele. — Olha, eu nunca pensei que ia falar isso, mas essa matéria está muito mais difícil do que a faculdade. E, não estou com vontade de pagar para ser humilhada e currada.

Fiz menção de me levantar pela terceira vez, mas ele me abraçou. Acho que foi uma tentativa desesperada de me fazer parar quieta.

— Christofer? — Murmurei. Não entendi nada. — Por que está me abraçando?

Ele ficou quieto.

— Fala, homem! — Insisti.

— Eu só quero que você se acalme. — Ele murmurou, no meu ouvido.

— Estou calmíssima. — Revirei os olhos.

Ele riu e disse:

— Você está tremendo.

— É só sair de perto de mim que eu me acalmo. — Respondi, ligeiramente arrepiada pela voz dele em meu pescoço.

— Então você está me pagando para quê?

— Para você me colocar em contato com Otávio, não para ficar se amancebando comigo.

Ele riu de novo.

— Se ficar assim apavorada perto dele, ele vai achar que não o quer. — Christofer falou.

— O que tenho que fazer? — Perguntei, aflita.

— Primeiro de tudo, se acalmar.

— É caso perdido. Me peça qualquer outra coisa, menos isso. — Deixei claro e ele disse:

— Bem, então me beije.

Levantei na mesma hora e sentei na outra ponta do sofá.

— Está louco? Eu não vou fazer isso.

— E por quê? — Ele levantou uma sobrancelha.

— Não consigo ter atitude.

— Então eu vou embora. — Christofer disse, e, dessa vez, foi ele quem se levantou. Se ele desistisse de me ajudar, eu nunca mais ia conseguir me aproximar do Otávio. Merda. Eu tinha que mostrar mais maleabilidade. — Já que você não...

— Está bem! — Cortei a fala dele e respirei fundo. Fiquei na ponta do pé e fiz um biquinho, me direcionando à boca dele.

— Selinho, não. — Ele segurou a minha cintura e tomou o controle, me beijando. Sua língua tocou a minha e a acariciou.

O beijo fez nossos rostos se inclinarem em direções opostas. Os lábios dele chamavam os meus com insistência, e sua língua me invadia. Não tinha como não sentir uma conotação sexual naquilo. O corpo dele estava entrando no meu.

Fiquei nervosa, e vi que ele estava de olhos fechados, bem entregue. Dessa vez, eu tentei me acalmar ao máximo, mas era impossível. Apertei meus olhos, tentando focar somente no beijo, mas era impossível.

Eu tive a incrível quantidade de 01 (uma) aula de beijos e já estava fazendo prova? Céus. Pior professor do universo.

Apesar de Christofer ter pedido que eu o beijasse, era ele quem estava tomando o controle de tudo.

Empurrei o peito dele com meus dedos e nos afastei, secando meus lábios.

— Está limpando o meu beijo, Luciana? — Ele não gostou. Acho que eu sou uma pessoa que fazia coisas que as outras garotas que ele beijou nunca fizeram.

Bem, as outras aceitavam qualquer coisa porque não estavam pagando. Aqui é capitalismo, meu amor.

— Não estou limpando, estou secando. — Resfoleguei um pouco. Por algum motivo que desconheço, fiquei sem ar. Meus lábios estavam vermelhos de novo. — Aprendi alguma coisa?

— É, digamos que sim. — Christofer admitiu, suspirando.

— Calma aí. — Tentei recuperar o controle da respiração. Eu não sei por que ele me deixava tão nervosa, acho que era por seu jeito sem vergonha. — Eu quero melhorar, eu juro.

Eu senti que o estava decepcionando e não queria isso. Eu precisava da ajuda dele.

— Você é única, Luci. — Ele riu um pouco.

— Como assim? — Perguntei.

— As suas reações são divertidas.

Suspirei. Não sei o que ele quis dizer com isso, mas ok.

— Deve se divertir com minha inexperiência.

— Não. — Ele acariciou meu rosto, num sorriso bondoso. — Acho você um encanto. E muito linda.

Ergui uma sobrancelha.

— Obrigada. — De fato, não me lembro a última vez que fui elogiada. Acho que só Alessandra falou isso no último ano.

— Não tem motivos para ficar nervosa perto de mim. Eu estou aqui para isso. Vem aqui. — Christofer me tomou pela mão e me abraçou. Sem safadezas, sem saliências e sem aquele olhar mortalmente sexy. Suspirei nos braços dele. Ele era tão cheiroso, tão reconfortante. Suas mãos grandes em minhas costas me transmitiram segurança.

Acho que ele queria realmente que eu ficasse mais tranquila perto dele. E acho que deu certo.

O que era simples para ele não era para mim.

— Aconteceu alguma coisa? Algo que te faz ficar nervosa perto de homens? — Sua voz era baixinha e compreensiva. Vi o brilho azulado e intenso em seus olhos e fiquei indefesa.

— Não. Não o que está pensando, eu só… eu me sinto insegura. Acabo ficando nervosa e falando alguma piadinha para me aliviar.

— Não quero que fique nervosa perto de mim, ok? — Christofer levantou meu rosto em direção ao seu. Ah, aqueles olhos azuis. Eu realmente entendo quem se apaixona perdidamente por esses olhos.

Ele era alto, então meu pescoço doeu.

— É que… você é alto, bonito, eu fico nervosa. — Admiti. Eu não tinha problemas em falar a verdade, já que talvez eu pudesse começar a considerá-lo um amigo agora.

Chris tocou meu rosto longamente com seus lábios. Ele era uma pessoa muito intensa e fazia gestos simples se tornarem muito emocionantes.

Eu não tive escolha: suspirei.

— Você também me deixa nervoso. — Ele falou em meu ouvido.

Isso não fez sentido algum. Ele, nervoso? Acho que a única dúvida dele deve ser sobre a cor da calcinha da próxima garota com quem vai transar.

— Não imagino o motivo. — Revelei. Ele é tão seguro de si, tão bonito e carismático que, se eu fosse assim, não ficaria nervosa nunca.

— Não? — Ele suspirou. Sinto que não queria me deixar ainda mais ansiosa e deixou o assunto morrer.

Os carinhos dele me deixaram tranquila. Seus doces beijos em meu rosto me acalmaram. Eu acho que com Chris eu não me sentia insegura. Afinal, ele me dava coisas que nunca recebi. Ele me tocava de um modo que eu pensei que só acontecia em novelas e filmes. Isso me fez perceber que talvez eu seja uma pessoa normal. Ainda que eu estivesse pagando por todas essas demonstrações de afeto.

Seria tão maravilhoso receber aquele carinho de forma genuína, com alguém que gostasse de mim de verdade! Isso me deixou um pouco deprimida, e me fez pensar em Otávio.

— Como o Otávio é? — Indaguei, aproveitando o momento de tranquilidade. Eu não tremia mais.

— Essa pergunta foi muito genérica. — Chris comentou, meio desgostoso. Ele me soltou quando falei de Otávio.

— Como irmão. Ele é um bom irmão? — Perguntei. Christofer estava de costas para mim agora.

— Defina "bom irmão". — Era nítido o asco dele por aquele assunto, então eu não entendi errado.

— Já vi que vocês têm questões. — Fiquei reflexiva. — Como você vai me ajudar se você não conversa direito com seu irmão?

— Dou meus pulos. — Christofer respondeu, suspirando.

Eu ainda tinha coisas a perguntar, e ele não parecia interessado em responder. Isso não era bom.

Alguns segundos se passaram e eu tentei elaborar mais alguma forma de perguntar sem que ele se indispusesse.

— Ele é namorador? — Insisti.

— Se ele sai com muitas mulheres? — Perguntou Christofer, se sentando no sofá, mal humorado.

— Quero saber se ele é assim como você.

Christofer suspirou.

— Deve achar que sou um canalha, não? — O tom dele foi de desapontamento.

Francamente... Eu tinha um pouco de ranço de cara safados, pois eles não gostam de ninguém. Por isso eu prefiro homens mais velhos, que já fizeram suas besteiras e pensam em constituir família.

— Não estou julgando. — Levantei os braços, em redenção.

Christofer suspirou novamente. Também não queria responder aquela pergunta. Estava muito sério.

— Chris? — Eu insisti.

— Otávio já foi casado. — Ele respondeu, a contragosto. — Duas vezes. Não tem filhos.

— Sabe se ele está saindo com alguém? — Perguntei de uma vez e cruzei os dedos.

Os olhos azuis ziguezaguearam pelos meus.

— Que eu saiba, não. — Ele desviou o olhar após responder. Soltei um grito de empolgação e comemorei. Depois sentei-me no sofá, quase me debruçando sobre ele.

— De zero a cem. — Falei. — Quais as minhas chances com Otávio?

Christofer não respondeu. Uniu as sobrancelhas e meneou a cabeça. Ele não tinha mais formas de demonstrar que detestava o rumo da conversa. Então, se levantou, pronto para ir embora.

— Já está tarde.

— Não vá. — Pedi. As situações se reverteram em minutos, e agora era Christofer quem queria acabar a aula. Fui atrás dele, chata como só eu sei ser. — Por que a pressa?

— Tenho que dar comida para o meu cachorro. — Ele disse, parando na porta e virando-se para me responder.

— Você não tem cachorro. — Argumentei. — Você não me disse qual a minha chance com Otávio.

— Quer saber qual sua chance? 100%. — Christofer respondeu, me puxando pelo pulso e deixando meu rosto a milímetros do seu. — Mas, não com ele. Comigo!

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