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6. Ele Nos Viu Juntos

Luciana

Fiquei pensando no meu primeiro beijo.

Foi gostoso.

O beijo dele era bom? Ou beijar era bom?

Será que Otávio também beija assim? Será que a língua dele é assim quente e gostosa?

Será que faz aquelas coisas no pescoço?

Que vergonha, que situação embaraçosa. Apalpei meu rosário no pescoço.

Pensando bem, estou com vergonha de olhar na cara de Christofer de novo. Ele deve estar me julgando por beijar mal.

E eu estou me julgando por ficar mordendo os lábios e pensando nas coisas que ele fez.

Fiquei reflexiva.

Acho que quero de novo.

Bem, eu não devo nada a Christofer. Não preciso me importar com o que ele pensa. Ele está com meu celular, então tem que me dar pelo menos mais mil beijos.

Meu chip agora estava em um celular antigo sem muitos recursos, mas, felizmente, permitia o uso do W******p. Até estranhei quando vi uma mensagem de um número desconhecido ali.

Falando no Diabo: era Christofer. Eu reconheceria aquela foto de violão em qualquer lugar.

“Chegou bem?” Ele perguntou.

“Sim, ué.” Respondi. Por que eu não chegaria bem? Será que teve algum arrastão na estrada e eu não fiquei sabendo? Que estranho, ninguém nunca me perguntou isso. Estive com ele uma hora atrás.

Acho que eu deixei o assunto morrer, até porque eu estava secando o cabelo e com pouco tempo para mexer no celular.

"Então você vai querer seguir adiante com o plano?" Ele perguntou.

"Sim, quero que me ensine a seduzir o Otávio." Respondi antes de me arrepender.

"Isso inclui muitas aulas de beijos." Ele disse. Entendi que ele estava me ridicularizando de novo por beijar mal.

"Se eu não tiver que pagar a mais." Enviei.

"Então, nossa próxima aula é amanhã" Ele disse. Eu ia concordar apenas porque tenho pressa para conquistar Otávio, do contrário não ia ficar querendo vê-lo todos os dias. Ele me deixa nervosa.

"Ok." Respondi. Sou bem objetiva, não gosto de conversa fiada.

Por que será que dizem que deixo o assunto morrer? Não consigo entender.

Bem, voltando a pensar no que fiz da minha vida. Eu troquei um celular pela esperança de ter um homem. Otávio estava me saindo bem caro.

Aquele celular não tinha quase recurso nenhum. Então só me sobrava m****r mensagem para minha única amiga e encher o saco dela.

Acabei de falar que não gosto de conversa fiada, mas vivo me contradizendo.

“Vai à aula amanhã?” Perguntei.

Alessandra não respondeu. Ridícula, está me dando gelinho. E eu querendo contar a ela todas as novidades. Tive que remoer sozinha meu primeiro beijo.

Naquele dia eu comprei alguns vinhos e só parei quando vi o fundo da garrafa através do gargalo. Foi difícil aceitar que meu primeiro beijo tinha sido pago, mas eu acho que era melhor interpretar de outra forma. Talvez eu só devesse considerar meu primeiro beijo quando acontecer por amor.

Fui deitar, completamente bêbada.

Eu gostava da paz de morar sozinha, era melhor do que ter minha mãe me enchendo o saco por comer uma merda de uma pipoca de caramelo ou me mostrando fotos de caras ricos com quem ela queria que eu me casasse, sem motivos aparentes.

De manhã, acordei e vi uma mensagem de Estefânia. A mãe de Alessandra só falou comigo uma vez, perguntando se sua filha estava dormindo aqui em casa. No caso, Alessandra tinha ido dormir com outra pessoa, mas, como boa amiga, acobertei.

Dessa vez, a mensagem dizia: “Luciana, a Alessandra comeu alguma coisa estragada quando estavam aí? Ela passou muito mal, não para de vomitar”.

Eu nem me lembrava, mas fui vasculhar meus armários e ver se tinha algo fora da validade. Só encontrei uma massa de bolo de napolitano vencida, mas não fizemos bolo.

Enfim, respondi que não encontrei nada estragado e fui para a aula.

Sem Alessandra, eu me sentia despida. Ela me protegia das pessoas toscas da faculdade, começando por Estela. Aquela garota sempre me detestou. Ela me chamava de burra e ria das minhas notas. Dessa vez, não foi diferente. Ela tirou 9 em inglês instrumental e ficou remexendo o bolo de provas para encontrar a minha nota. Tirei 6. Não era muito, mas era honesto. Ela comentou para um cara do outro lado da sala, de modo que todos ouvissem:

— Quem tirou menos de 7 nessa prova tem que abandonar o curso.

Revirei os olhos. Sabia que ela falava isso sobre mim, mas não podia responder, ou a carapuça serviria.

Ela gostava de ser bajulada por ser inteligente e não aceitava que algumas pessoas fossem alheias a ela. Aquela garota falava mal de mim para todo mundo.

Todos deviam ter sobre mim o mesmo pensamento dela, afinal, ela ficava promovendo festinhas em sua casa e só convidava quem concordava com ela. Alessandra e eu éramos as únicas a nunca serem convidadas. Graças a Deus.

— Professor, o senhor esqueceu de pedir aquela questão extra. — Estela disse, lembrando o dito cujo de uma tarefa que ele tinha solicitado na aula passada. A tal incumbência não valia nada, mas tirava pontos de quem não fez. Logicamente: eu esqueci de fazer porque estava muito ocupada pensando em como conquistar Otávio. Meus problemas de jovem adulta que não viveu todas as fases da adolescência batiam à minha porta. Minha nota suada foi reduzida a 5.

Saí para tomar um café antes de surtar com aquela garota e fiquei parada na porta da classe, respirando fundo antes de voltar ao meu lugar.

Ressaca.

Por que fui beber tanto vinho?

Recebi uma mensagem enquanto assoprava meu café e olhei para a telinha tosca do meu celular antigo.

“Que horas você sai da aula?” Christofer perguntou. Fiz uma cara confusa, perguntando-se se tinha sido meu chofer a m****r aquela pergunta. Seria possível um bug no aplicativo?

“15h, por quê?” Indaguei.

“Eu vou te buscar.” Disse ele.

“Eu tenho chofer.” Respondi.

“Em qual prédio você estuda?

Já levei o seu queridinho à faculdade algumas vezes, mas você estuda em outro lugar, não é?” Ele escreveu.

Quem o autorizou a chamar meu Otávio de queridinho naquele tom debochado? Não gostei.

“Você não leu o que falei?” Insisti.

“Era pedagogia, não era? Ouvi sua amiga falando sobre isso no dia do acidente.”

Revirei os olhos. Christofer podia ficar com meu celular e sumir sem dar mais nada em troca, era só nunca mais me m****r mensagem. Ele consegue ser mais burro que eu.

Não respondi. Agora até eu estava ficando desconfiada dessa proximidade toda.

Durante o resto da aula, fiquei mandando mensagens para Alessandra, perguntando se ela estava melhor do estômago. A ridícula ainda me dava gelinho, mesmo passando mal. Teimosia ou convicção? Eis a questão. Tudo isso porque ela não concordava com meu plano.

Antes eu a tivesse ouvido.

Eu estava em dúvida em relação a Christofer. Gostei do beijo, mas não gostei de ser uma péssima experiência para ele. Mas, eu tinha o ponto positivo de não precisar causar boa impressão a ele, então tudo bem.

Coloquei uma alça da minha mochila nas costas e tratei de me apressar para ir embora antes de Estela fazer outro comentário estúpido sobre minhas notas. Isso quando ela não chamava meu pai de ladrão só por ter sido político.

Olhei para trás algumas vezes para ver se ela estava perto enquanto eu ia embora. Olhei tanto para trás que esqueci o mais importante: olhar para a frente.

Assim que desci as escadas, me deparei com Christofer. E não foi um encontro amistoso, eu meti a cara no peito dele com tanta força que minha cabeça ricocheteou. Fiquei zonza. Os músculos dele eram muito rígidos.

Chris colocou a mão no peito, se sentindo violado.

— Eu tive que procurar o seu prédio no g****e e é assim que você me recebe? — Ele reclamou, me causando ainda mais irritação.

— Ora essa… — Eu inflei meu peito para reclamar que não o chamei ali e que devia olhar por onde andava, mas ele me calou segurando meu rosto com as mãos e me dando um selinho. Foi muito repentino, sem chance de defesa. Eu me senti neutralizada e paralisei. Até me esqueci do que estava correndo antes de encontrá-lo.

Christofer levantou uma sobrancelha ao ver que eu perdi a capacidade de brigar, dando um sorrisinho vencedor.

— Mas, o que foi isso? — Perguntei, tocando meu lábio com o indicador e o dedo médio. Agora meu tom era mais questionador que irritado.

Olhei em volta, para ter certeza de que ninguém viu isso.

— Eu te dei um beijo. — Ele explicou em seu tom calmo. Ficou procurando para ver do que eu estava fugindo.

— Eu entendi. Mas, por quê? — Falei.

— Porque você tem que aprender todos os tipos de beijos que existem. Inclusive os beijos de surpresa. — Ele parecia estar se divertindo bastante com a mudança que eu sofro depois que ele me beija. Fiquei um pouco ruborizada.

Parei, respirei e tentei não ser grossa.

— E tinha que ser na frente do prédio em que estudo?

— Está com vergonha de mim? — Ele ficou confuso. Contudo, sua voz permanecia inalterada.

Será que ninguém nunca questionou os beijos dele?

Suspirei.

— Vamos embora daqui. — Falei e andei à frente.

— Não, o meu carro está para lá. — Ele apontou para o estacionamento.

Certo, ele tinha falado que tínhamos aula de beijos hoje. Mandei uma mensagem para meu chofer dizendo que não precisava me buscar naquele dia, qualquer coisa eu poderia pegar um ônibus. Ou um Uber.

Naquele dia, devido aos contratempos na classe, eu estava exausta. Talvez não fosse o melhor dia para darmos continuidade. Contudo, eu tinha marcado e Christofer parecia empolgado.

— Por que veio me buscar? — Indaguei, enquanto caminhávamos. — Estava passando aqui perto?

— Sim. Otávio esqueceu um carregador no meu carro e eu quis entregar a ele para evitar que ele me visitasse. — Chris falou com impessoalidade. Ele não gosta da visita do irmão?

— Vocês são brigados? — Perguntei, com um rosto inquisitivo e desconfiado.

— Não somos melhores amigos, mas nada que atrapalhe o plano. — Garantiu Christofer, e eu suspirei. Ótimo, mais um ponto negativo para a conquista de Otávio.

Não consegui negar o rubor só por ele falar o nome do meu amado. Fiquei toda mimosinha apaixonada, sonhando acordada. Chris parou de andar e olhou para mim, com uma cara de decepção.

— Não gostou dos meus beijos? — O loiro indagou, parecia desapontado.

— O que tem a ver? — Coloquei as mãos na cintura.

— Eu te beijei e está falando de Otávio.

Cruzei os braços. Ele estava desapontado comigo?

— Está levando nosso acordo a sério, não está?

— É claro que sim. — Christofer disse, sem explicar nada.

— Acha que vou me esquecer do Otávio por causa de dois beijinhos? — Perguntei, só por brincadeira. Afinal, ele era tão arrogante que pensou que eu ia desistir do plano por causa de algumas migalhas de afeto? Ai, esse Christofer não me conhece. Infelizmente, eu sou exageradamente teimosa.

Christofer sorriu desafiadoramente. O sorriso realçava seu queixo quadrado e bonito.

— Claro que não. — Ele disse e eu concordei com seu raciocínio. — Mas e três?

— Como? — Falei. Antes de concluir o pensamento ele estava com os lábios colados nos meus, roubando um beijo intenso. Não foi um selinho, foi para valer.

Não, ali não. Vai que alguém vê! Eu o empurrei e ele parou de me beijar, mas já tinha exercido seu efeito de me deixar sem reação. Christofer agora sorria, com os lábios vermelhos.

— E-Escute aqui... — Eu não tinha convicção alguma nas palavras, e ele percebeu como me deixou desnorteada. Estava acostumado a causar isso nas pessoas.

— O que foi? — Ele fez um beicinho. — Não gosta dos meus beijos?

— Eu… — Pensei bem. Eu não queria afagar o ego dele, mas também não queria mentir. Eu nem sei mentir. Respirei fundo e falei, baixinho: — Gostei. Sabe que gostei. Todas gostam, não?

Ele não desviou os olhos de mim.

— As outras não importam. — Respondeu.

Já sei. Ele achou que, como é lindo e sedutor, eu ia me apaixonar por ele por causa de uns beijos e está confuso porque não estou morrendo de amores.

— Você quer mais? — Christofer indagou, naquele tom calmo e sedutor, ainda que inconsciente. E eu, claro, ruborizei. Ficamos tanto tempo nos observando que ele teve que repetir a pergunta. — Perguntei se quer meus beijos.

— Quero, ué. Paguei pelos seus beijos. — Minha maldita sinceridade me traía novamente.

Christofer suspirou.

— Christofer! — Alguém chamou, e não fui eu.

Merda. Merda. Merda.

Olhamos para o lado ao mesmo tempo, e eu senti o peito queimando. Eu quase desmaiei.

Otávio.

Ele acenava de longe, saindo do caixa eletrônico.

Maldito caixa eletrônico.

Otávio se aproximou de nós andando calmamente, e parou a meio metro de Christofer. Ambos eram altos, me senti um pitoco de gente.

— Boa tarde. — Otávio olhou para mim e fez um aceno com a cabeça, como se não me reconhecesse. Depois, olhou para o irmão. — Você pode me levar para casa hoje? Meu carro ainda está ruim, e eu preciso ir ao mercado.

— Na verdade, estou ocupado. — Christofer falou, deixando óbvio que era comigo.

Eu queria morrer.

Primeiro porque Otávio não me notou.

Segundo porque Christofer deu a entender para Otávio que estávamos saindo. Sem falar que, provavelmente, nossos lábios ainda estavam avermelhados. Só sendo um idiota para não entender que eu estava tendo um caso com Christofer, e isso me deixou apavorada.

Otávio nunca ia me querer. Nunca.

Otávio assentiu e se despediu. E eu continuei lá, congelada. Ficamos em silêncio por alguns segundos, e Christofer ia voltar a andar como se nada tivesse acontecido.

— V-V-Você disse a ele que estava... que estava ocupado comigo? — Minha voz não conseguia conter o imenso furor que transbordava no meu peito.

— E não é óbvio? — Ele deu de ombros. — Você está comigo hoje, é lógico que estou ocupado para qualquer outra coisa.

— Você destruiu minhas chances com ele! — Cocei minha cabeça nervosamente, pensando no que fazer.

— O que queria que eu fizesse? Cancelasse o encontro?

— Não era um encontro, droga! — Choraminguei. Minha visão ficou embaçada.

— Certo. — Ele disse. — Mas, ele pode ter achado que você é somente minha amiga.

Sequei algumas lágrimas que já tinham começado a se formar no meu rosto.

— E você tem amigas? Duvido que ele vá pensar isso!

— Além do mais, se você for minha amiga, tem mais chances de encontrá-lo. — Christofer revirou os olhos ao falar.

— Pensando bem... — Respirei fundo. Eu não queria, de jeito nenhum, que Otávio pensasse em mim como alguém vinculada ao irmão. Mas, como amiga de Christofer, eu poderia me aproximar mais do cotidiano de Otávio.

Suspirei.

— Venha, vamos. — Ele disse, pegando minha mão.

Soltei, imediatamente.

— Amigos não dão as mãos, idiota.

— Desculpe, foi o hábito. — Ele disse, e eu não pude ver seu rosto.

Revirei os olhos.

Esse cara pensa que pode conquistar qualquer uma. Mas, eis aqui a exceção que confirma a regra. Se eu desconfiar que ele está trapaceando e estragando meus planos, teríamos problemas.

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