— Não, espere aí. Não tem problema, eu te ensino. — Christofer falou e meteu a mão na porta sobre meu ombro. Bloqueou meu caminho.
— Me ensina o quê? — Arregalei os olhos, virando-me de frente para ele. Foi insano. Christofer não estava falando o que eu pensava que ele estava falando.
Meu rosto queimava de vergonha e ansiedade. O que aquele louco ia propor?
— A beijar, ué. Não é esse o problema? — Ele deu de ombros, como se fosse a coisa mais normal do mundo.
Não é que eu nunca tivesse tido oportunidade de beijar. Eu tinha medo das expectativas dos outros.
Quem tem 18 anos e não sabe beijar? Cada aniversário novo eu atualizava o pensamento. Daqui a dez anos seria: Quem tem 28 anos e não sabe beijar? E quanto mais o tempo passava, mais angustiada eu ficava.
Não, era demais para mim. Eu só queria cavar um buraco e me enterrar, como sempre fazia em qualquer situação na vida.
— Tudo bem. — Ele falou, segurando meu rosto. — Você está me pagando. Não tem motivos para ter vergonha. Todo mundo já foi BV um dia.
Meu Deus, por que ele insinuou que vai me beijar? Eu sou inocente e pura. Cadê a minha bíblia?
— Você perdeu com quantos anos? — Perguntei, pensando que ele diria 15.
— Onze. — Ele respondeu.
— Meu Deus. E com quem? — Fiquei horrorizada.
— Uma coleguinha da escola. Mas não tem problema nenhum. — Ele passou o dedo no meu lábio inferior. — A sua boca é gostosa.
Gelei.
Esse elogio foi novidade. As pessoas geralmente dizem "você é bonita" ou "você é legal".
Acho que nunca vi alguém tão atirado. Christofer era mesmo tão seguro de si? Para ele, devia ser super natural beijar e fazer saliências. Para mim era o momento mais importante da vida.
Fiz meus cálculos.
Bem, como eu estava pagando, eu acho que poderia fazer aquilo sem morrer de vergonha. Afinal, talvez aquela fosse a única maneira de perder meu BV de verdade. Não ia querer que meu primeiro beijo com Otávio fosse terrivelmente asqueroso, caso contrário ele não ia querer me beijar nunca mais. Imagina se eu babo nele? Ou se batemos dentes... ou pior. O maior pesadelo de qualquer pessoa é beijar com a boca aberta enquanto a outra vem com a boca somente entreaberta. Vergonhoso.
— Tudo bem. — Falei, mas se eu sentisse qualquer sinal da situação fugindo do controle, sairia correndo. E, para variar, eu abri a boca. — É assim?
— Não. — Ele riu, segurando meu rosto com as duas mãos e mordiscando meu lábio inferior. Instintivamente, tentei me afastar, envergonhada. Ele me pressionou contra a porta, levando bem a sério o assunto, e segurou meus pulsos.
— Ain. — Gemi. O que estávamos fazendo?
— Você é muito engraçadinha, sabia? — Christofer riu um pouco. — É você que ri de tudo. Se eu falo "a" você rola no chão. — Falei. — Não exagere. — Ele me cercou com os braços e eu fiquei presa entre ele e o parapeito, sem saída. A garrafa de vinho ainda estava segura na mão dele. Nossos rostos ficaram a milímetros. Acho que ele estava tentando sacar qual era a minha, pois me analisava com perspicácia. A minha vergonha (ou burrice) não me deixou entender nada e nem dizer algo digno. Meu rosto queimava e eu só desviava o olhar. — Luci, você está bem? Parece que está com febre. — É que... — Murmurei. — Você meio que está me enquadrando aqui. Esclareci, caso ele não tenha percebido. Mas, algo me diz que essa era a intenção dele. — Está com vergonha? — Aqueles grandes olhos azuis me deixavam completamente sem ar. Ele sabia que deixava as pessoas sem graça com seu jeito sedutor e simplesmente fazia. Chegou a minha vez de ser currada, meu Deus. Dai-
LucianaMais um fim de tarde solitário saindo da minha aula na faculdade. O sol poente tem uma tonalidade alaranjada que só enfeita a visão mais perfeita do mundo: o homem que eu amo. Paro e sinto meu coração palpitar. Aquele homem lindo está caminhando em direção ao estacionamento do prédio onde dá aulas.Sim, ele é minha paixonite desde que o vi pela primeira vez, alguns meses atrás. Desde então, sempre venho aqui para vê-lo sair do trabalho em direção ao estacionamento depois da minha aula.Otávio.Esse homem é o meu número. Alto, viril, forte. Ele tem uma aura misteriosa, sempre elegante e bem vestido. Aqueles cabelos clarinhos me deixam muito eufórica, o olhar dele me deixa sem chão.Pronto, meu peito disparou como se eu tivesse corrido os 400 metros rasos
Despertei cuspindo uma lufada involuntária de água com gosto de cloro. Uma boca tinha acabado de tocar a minha, mandando ar para meus pulmões com toda a força, mas eu não identifiquei quem era, minha visão era o menos importante dos meus sentidos nesse momento.Pensando bem, foi o primeiro beijo que eu recebi em toda a vida.Fiquei alguns segundos entre a consciência e a inconsciência e senti meu corpo sendo carregado. Quando me forcei a abrir os olhos de vez, pensei que iria desmaiar. O amor da minha vida me carregava nos braços: Otávio Prescott.Deus existe. Segurei meu rosário, em louvor. Eu sempre o manuseava, até inconscientemente, um hábito que adquiri
LucianaGritei. Esfreguei minha cabeça com as mãos, bagunçando as mechas lisas, numa tentativa inútil de embaralhar os pensamentos.— Eu não queria que meu primeiro beijo fosse nele! Tinha que ser com Otávio! — Eu sequei minhas lágrimas direto no travesseiro. Toda a felicidade que eu tinha sentido até então foi vã.— Luciana García Benelli, não foi beijo, sua louca! — Alê queria torcer meu pescocinho nessa hora. — O Chris estava tentando salvar sua vida!— Meu primeiro beijo foi num desconhecido! — Cobri o meu rosto com o travesseiro, de modo a me esconder do mundo. Ria de mim, universo, pode rir. Sou uma piada cósmica.Minha mãe meteu a cabeça no vão da porta entreaberta, depois de ouvir meus gritos, e disse:— Você est&aacu
LucianaCorri da festa, abandonando as risadas debochadas para trás. Eu queria cavar um buraco e meter a minha cabeça dentro. Quase acabei fazendo isso sem querer quando tropecei nos meus próprios pés no fim da escada.Eu caí no chão, ralando minhas extremidades. Do meu joelho direito começou a escorrer um fino fio de sangue, mas não consegui sentir dor por causa da pressa. Levantei-me como se não tivesse acontecido nada, e continuei correndo.Parei antes de atravessar a rua somente por causa do sinal fechado, e acabei perdendo um pouco da adrenalina que me levou até ali. A força nas minhas pernas se esvaiu, por fim. Fiquei sentada no meio-fio, cobrindo o rosto para amenizar o choro público.Comecei a sentir os sinais da ardência no joelho. Meu peito estava disparado, a vergonha e humilhação que aquela universidade t
LucianaA que ponto cheguei na vida?Pedir ajuda para o irmão do cara que eu gosto a fim de conquistar o cara que eu gosto? Eu não preciso disso.A quem eu quero enganar? Preciso, sim. Preciso muito.Virou uma obsessão.Acho que depositei na conquista de Otávio todas as minha expectativas de ser feliz algum dia.Isso era extremamente perigoso. E se desse errado?Tinha tudo para dar errado. A grande pergunta era: o que eu faria se desse errado?Bem, quando desse errado, eu ia descobrir. Eu não conseguia evitar aquela sensação de pagar para ver.Alessandra já torceu o nariz quando soube que eu teria outra ajuda para conquistar Otávio. Afinal, ela estava decidida que Otávio era o maior babaca da face da Terra e que eu devia me amar mais. Mesmo assim, ficou curiosa em relação a Christofer.Com "curiosa" e
LucianaFiquei pensando no meu primeiro beijo.Foi gostoso.O beijo dele era bom? Ou beijar era bom?Será que Otávio também beija assim? Será que a língua dele é assim quente e gostosa?Será que faz aquelas coisas no pescoço?Que vergonha, que situação embaraçosa. Apalpei meu rosário no pescoço.Pensando bem, estou com vergonha de olhar na cara de Christofer de novo. Ele deve estar me julgando por beijar mal.E eu estou me julgando por ficar mordendo os lábios e pensando nas coisas que ele fez.Fiquei reflexiva.Acho que quero de novo.Bem, eu não devo nada a Christofer. Não preciso me importar com o que ele pensa. Ele está com meu celular, então tem que me dar pelo menos mais mil beijos.Meu chip agora estava em um celular antigo s
LucianaDessa vez, fomos para o meu apartamento. Fiz questão de ficar parada esperando-o ligar para o irmão na minha frente e colocar no viva-voz.— Otávio… — Christofer já revirava os olhos.— O que é, garoto ingrato? Já se arrependeu de largar seu irmão por causa de mulher? — Otávio falou, do outro lado da linha.— É sobre isso que eu queria falar. — Ele ficou com os olhos fixos em mim. — Eu não estava saindo com aquela garota, era só uma amiga.— E eu com isso? — Otávio murmurou.— Eu disse que ele falaria isso. — Christofer tapou a entrada de som do celular e ralhou comigo, sussurrando.— Problema seu, ninguém mandou me beijar na faculdade. — Reclamei. Christofer revirou os olhos de novo e ouvimos Otávio fa