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3. O "Não" Eu Já Tenho, Falta A Humilhação

Luciana

Gritei. Esfreguei minha cabeça com as mãos, bagunçando as mechas lisas, numa tentativa inútil de embaralhar os pensamentos.

— Eu não queria que meu primeiro beijo fosse nele! Tinha que ser com Otávio! — Eu sequei minhas lágrimas direto no travesseiro. Toda a felicidade que eu tinha sentido até então foi vã.

— Luciana García Benelli, não foi beijo, sua louca! — Alê queria torcer meu pescocinho nessa hora. — O Chris estava tentando salvar sua vida!

— Meu primeiro beijo foi num desconhecido! — Cobri o meu rosto com o travesseiro, de modo a me esconder do mundo. Ria de mim, universo, pode rir. Sou uma piada cósmica.

Minha mãe meteu a cabeça no vão da porta entreaberta, depois de ouvir meus gritos, e disse:

— Você está proibida de beber, ouviu Luciana?! — Ela apontou o dedo para mim, raivosa. Eu não conseguia prestar atenção ao que ela dizia quando usava aquela máscara de carvão. — Está proibida de ir a qualquer outra dessas festinhas! Não admito! Veja o acidente em que você se envolveu! Poderia ter deformado seu rosto completamente!

Ah, sei. O que iria incomodá-la era eu ser mais feia. Pensei, mas não falei,

Bem, o esporro dela é irrelevante. Eu moro sozinha e vou a quantas festas eu quiser. Com certeza, eu não queria ter sido levada ao apartamento da Dona Amélia, mas não sei como foi a discussão que me trouxe a este destino. Só sei que Alessandra e Otávio decidiram por mim que ali era o melhor lugar para eu estar.

Fui embora do território da minha mãe no dia seguinte. Pedi a Alessandra que dormisse comigo no meu apartamento naqueles dias porque eu estava com muita dor nas costas e tinha algumas coisas que eu não conseguia fazer. E eu não queria ficar com minha mãe.

Meu apartamento era bem grande. Tinha dois quartos, uma sala grande e uma cozinha planejada com muitos utensílios cor de rosa. Era moderno, ainda que antigo, pois minha mãe me obrigou a reformar antes de vir morar sozinha.

Alessandra se sentia rainha naquele lugar, era uma cozinheira e tanto. Fez um talharim com frutos do mar que me fez realmente questionar se não deveríamos dividir apartamento.

Enquanto o aroma da comida subia, eu fiquei pensativa.

Estranhamente, a sexualidade dela nunca havia sido aceita por alguém com tanta naturalidade como foi comigo. Na verdade, eu era muito grata por ter uma amiga como ela e não imaginava como alguém poderia destratar Alessandra. Ela tinha personalidade forte, e defendia os amigos com unhas e dentes. Além disso, ela tinha a esperteza e a atitude que me faltavam.

— Está melhor? — Indagou a ruiva, depois de eu tentar ajeitar o travesseiro pela enésima vez.

— Sobre? Ter perdido minha virgindade bucal com um coadjuvante?

— Não seja assim, ele salvou sua vida. — Alessandra falou com paciência e bondade. — Afinal, depois o Otávio cuidou de você, então não importa quem fez respiração boca-a-boca.

— Eu sei, estou sendo egoísta. Devia ter agradecido a ele, mas... eu não sabia que tinha sido ele. — Revelei, com um pouco de peso na consciência pela minha brutalidade. — Além do mais, eu estava completamente grogue por ter me acidentado.

— Eu sei. Agradeci por você. — Alessandra disse. — Além disso, haverá outras oportunidades. Agora temos que pensar em como você vai se reencontrar com o professor.

Eu sorri. Estava feliz por minha amiga ter parado de criticar minha obsessão com Otávio e ter começado a me ajudar, mas algo me dizia que ela queria me confrontar logo com a verdade. Ela queria estourar o balãozinho dos meus sonhos.

***

A primeira vez que me reencontrei com o professor foi na semana seguinte, quando retornei às aulas. Por milagre, Otávio foi ao meu prédio num intervalo e me encontrou ouvindo música no celular e comendo pipoca doce num dos bancos sob as árvores. Ele não usava terno, e sim, uma camisa social entreaberta. Parecia que tinha acordado lindo daquele jeito.

— Olá, é bom ver que está melhor e de volta às atividades. — Disse Otávio, de modo rotineiro. Eu me engasguei com um milho de pipoca ao vê-lo e comecei a tossir desordenadamente. Otávio se assustou com a reação do meu corpo e ficou preocupado. — Você está bem?

— Ótima! Melhor impossível! — Falei, com a cabeça vermelha, e tentando reprimir outra saraivada de tosse. Uma lágrima se formou em cada pálpebra minha.

— Bem, então fico feliz. — Ele acenou e foi embora pelo mesmo lugar de onde veio. Ele tinha ido ali apenas me ver? Como sabia onde eu estudava? Alessandra tem a ver com isso?

Eu surtei. Liguei para a ruiva, que tinha faltado aula por acordar tarde, e contei o que aconteceu.

— Legal da parte dele. — Alessandra murmurou, com voz de sono.

— Legal?! Ele foi um gentleman! Um ícone do altruísmo! Ele… — Pensei por um instante. — Ele gosta de mim!

— Luci… — Ela fez menção de dizer algo, mas pensou melhor. Enquanto isso, minha mente fervilhava.

— Ele, com certeza, gosta de mim! Eu nunca o vi por essas bandas, ele veio apenas me ver! Com certeza gosta de mim! Tenho certeza! Ah, mas e a nossa diferença de idade? As pessoas vão ter que aceitar!

— Luci, ele é médico. — Alessandra suspirou, e eu senti seu tom de voz preocupado. — No dia do seu acidente ele me perguntou onde você estudava e eu falei. Ele comentou que ia te procurar depois para ver se você melhorou, e lamentou seu acidente.

— Nossa, como você é negacionista, Alessandra! — Falei, sofrendo pelo balde de gelo que ela me jogou. Ela estava sugerindo que ele se preocupou comigo por mero procedimento?

— Se você quer beijar na boca eu te arrumo um cara rapidinho. Mas, você quer logo o cara arrogante.

— Ele não é arrogante! — Desliguei, irritada.

Que raiva! Ela não queria ver a verdade estampada diante de si. Há meses eu encontrava aquele homem no consultório, ele iria desenvolver sentimentos por mim em algum momento.

Se ele tinha poucas oportunidades de falar o que sentia, eu ia me aproximar mais dele e deixá-lo falar.

Eu passei a almoçar diariamente no prédio da saúde para ver se encontrava o homem que mexia com cada célula do meu corpo. Passei a aproveitar as poucas vezes em que o via para chamar sua atenção, seja mexendo em meu cabelo ou dando uma piscadinha. Mas, ele era um homem distraído. Otávio estava sempre tão absorto, e tinha tantas outras pessoas por perto para conversar, que ele simplesmente não me via.

Eu queria permanecer acesa na mente e nas lembranças dele. Tudo bem que ele não fez respiração boca-a-boca em mim, mas tinha cuidado de mim e me visitado no dia seguinte.

De algum modo, não somos estranhos.

Uma lágrima caiu no meu prato de risoto quando eu o vi almoçar num restaurante acompanhado de uma bela mulher com seus trinta e cinco anos, corte de cabelo perfeito e saltos altos ressaltando as panturrilhas. Parecia ser uma professora.

— Ele está me traindo. — Quase entortei o garfo. — Está tentando me fazer ciúmes.

— Amiga, mas ele nem sabe que você gosta dele. — Disse Alessandra, aparentemente cansada de me ver passando raiva.

— Como não? E todos os sinais que eu já dei? Além disso, estou aqui todos os dias, ele sabe.

— Todo mundo que trabalha aqui está aqui todos os dias, Luci. E nem por isso está todo mundo apaixonado pelo Otávio. Imagina que problema seria! — Ela estava estressada.

— Certo, Alê. — Suspirei. — Digamos que você esteja certa. O que eu faço? — Recolhi-me à minha insignificância momentaneamente e me curvei à sabedoria dela.

— Você vai ter que ser sincera com ele, Luci. — Alessandra suspirou. Sei que ela postergou ao máximo esse momento, pois estava crente que eu ia desistir do professor e mudar de ideia. Mas, como o tempo passou e eu não desisti, provei a ela que meu amor era real.

— Um homem de trinta e poucos anos, com sucesso profissional, carreira exemplar. Além disso, ele é famoso, lindo e sarado... O que ele veria numa garota sem graça como eu? — Indaguei. Caí na real dolorosamente.

— Você tem sua juventude, Luci. Use a seu favor. Você é linda. — Alessandra insistiu. Pode ser que eu fosse linda segundo os gostos dela, mas e segundo os gostos do Otávio? Ai, Deus. Será que Otávio me acha linda?

Suspirei.

— Eu puxei o lado feio da família do meu pai. — Deixei meu rosto desmanchar em angústia.

Alessandra deu um soco na mesa.

— Deprecie-se de novo e o próximo soco vai ser nisso que você chama de cara! Você queria minha ajuda e vai ter. Não venha querer desistir agora.

***

Bem, nosso plano era simples: eu ia falar com ele e chamá-lo para sair. Essa vai para a coleção de “ideias que não têm como dar errado”.

Dias depois, Alessandra me ajudou a escolher um vestido bonito e florido, com abertura nas laterais para evidenciar minha cintura, que ela dizia ser bonita. Eu não estava à vontade porque tinha medo de minha cicatriz aparecer, mas ela me assegurou que não tinha como. Para piorar, ela me obrigou a usar um salto, e eu não me sentia confiante para usar um. Logicamente, minha calça jeans do dia-a-dia estava na mochila, que ficou com Alessandra.

Nós acompanhamos Otávio após o almoço e o vimos voltando do banheiro depois de escovar os dentes. Eu estava perdendo a aula da tarde, mas não tinha problema.

Na hora de abordá-lo, quando eu o vi se aproximando, meu corpo deu tilt. Travou. Minha mente simplesmente parou de responder, deu tela azul, e eu não tive coragem de falar com ele. Fiquei parada, me sentindo um lixo diante daquele deus grego. Percebi que eu era alguém que tinha que se recolher à sua insignificância. Otávio era areia demais para seu caminhãozinho.

Desalento.

Caí na real tarde demais.

Alessandra não entendeu que eu tinha bugado e me deu o empurrão da misericórdia. Como consequência, me inclinei em direção a ele e saí de trás da pilastra, parando de frente para Otávio. Acho que ele tomou um susto, pois parou sua caminhada e engoliu seco ao me ver em sua frente tão subitamente. Aquela situação era muito fora da minha zona de conforto e meu corpo não aguentou. Meu pé se desequilibrou em cima daquele salto e virou.

Eu caí bem na frente dele.

Bati o joelho com tanta força no chão que rasguei meu vestido.

— Você está bem? — Ele perguntou. Seu braço viril envolveu meu corpo, me ajudando a levantar. É por isso que eu gosto de homens maduros. Otávio não riu e nem fez chacota de mim, pelo contrário, ficou preocupado e me ajudou. — Você não é aquela menina daquele dia?

Pronto. Senti como se o disco da Marcha Nupcial tivesse arranhado bem nessa hora.

— Sim. — Respondi. Apesar de ele nem se lembrar do meu nome, eu estava extasiada com o toque dele. O rubor me atingiu em cheio, e eu perdi o raciocínio. Como aquele homem conseguia trazer à tona tantos sentimentos assim de uma vez e me deixar tão entorpecida? E que perfume...

— Quer ajuda para ir à enfermaria? — Indagou Otávio, preocupado. Sua mão ainda me dava suporte.

— N-N-Não precis… — Comecei a falar, mas fui interrompida.

— Ela quer, sim. — Alessandra chegou, me ajudando a não falar besteiras. Otávio deve ter se perguntado de onde ela saiu, pois chegou muito repentinamente.

Contudo, quando Otávio me levou à enfermaria, logo se despediu e foi fazer o resto de suas atividades do dia. Ele não me deu atenção como da outra vez.

Por quê?

Eu era só uma aluna acidentada para ele?

Não. Ele deve estar muito ocupado, é isso. Hora de mentir para me iludir.

Por ora, era suficiente. Otávio tinha tocado na minha cintura, isso só pode ter algum bom significado. Certamente, ele tinha coisas extremamente importantes para fazer e, por isso, não podia ficar comigo na enfermaria, como da outra vez.

É isso.

Talvez ele ainda goste de mim. Talvez esteja fingindo que não sou importante só para me instigar. Não posso dizer com certeza.

Mas, uma coisa era certa: eu nunca mais lavaria aquele vestido. Até esqueceria o fato de Otávio fingir não lembrar meu nome e ter me chamado de “aquela menina daquele dia”. Não vou fingir que não doeu, mas vou ultrapassar essa dor.

— Você não falou com ele, né, Luci? — Perguntou Alessandra, me encontrando na enfermaria com uma botinha para torção no pé direito. Ela tinha dado uma desculpa qualquer para me deixar a sós com Otávio, o que não adiantou muito.

— Acho que ele gosta de mim, tocou minha cintura. — Falei, insegura. Eu estava inventando formas de me iludir.

— Ele está sendo cuidadoso como com qualquer outra garota da faculdade. — Alessandra verbalizou logo seus pensamentos. — Na verdade, como com qualquer outra pessoa. Ele é altruísta. Você tem que mostrar a ele que o vê diferente. Ele não tem anel, então... quem não arrisca não petisca. — Disse Alessandra, e sei que falou aquilo porque me viu devastada.

Suspirei, bem derrotada e abatida.

— Queria ser você, Alê. — Suspirei, e falei num tom angustiado. — Você não tem nenhuma insegurança.

— Ai, Luci. O conselho que posso te dar é esse: fale a verdade. — E a verdade é que ela não queria me dizer com todas as letras que não via esperança em meus sonhos.

Ela segurou meu ombro. Transmitiu muita convicção, e eu ia me agarrar a isso.

O resto do dia eu revivi aquela cena na qual tropecei na frente de Otávio mil vezes. Meu coração de jovem-adulta ainda tinha esperança. Às vezes, eu pensava em fazer ioga ou boxe, alguma coisa para ficar com o belo corpo que minha mãe tanto queria e poder ser vista pelo Otávio, mas eu detestava tanto aquelas atividades... Só de pensar em usar aquela roupinha colada para entrar num ginásio, me fazia lembrar da minha mãe. O máximo que eu fazia era usar a esteira dela alguns minutos e depois assistir televisão até dormir.

No dia seguinte, Alessandra me ligou com uma novidade quentíssima.

— Luci, descobri que hoje vai ter festinha no departamento dele. Larga o que você estiver fazendo e vamos aparecer lá. Você vai puxar ele num canto e vai falar o que sente!

— Ai, meu Deus! Sério? Está bem!  — Desliguei tremendo. Não podia perder a chance.

***

Narrador

Christofer descobriu que a porta do seu apartamento estava aberta, e estranhou. Quando foi até o quarto de hóspedes, onde deixou os instrumentos da banda por causa da obra no estúdio, ficou apático. Ele viu as condições dos instrumentos musicais: completamente estraçalhados, e as paredes tinham lascas, como se tivessem sido alvejadas por aqueles objetos.

Ele viu no W******p uma mensagem de sua ex: "Isso é pela sua traição, babaca".

Christofer suspirou. Helena descobriu que ele tinha transado com a prima dela, Suzana. Mesmo que tal fato tivesse ocorrido depois que já tinham terminado, Helena quebrou todos os instrumentos musicais do ex e dos seus colegas.

O conserto daqueles objetos teria que ser breve, pois eles tinham um show na faculdade no fim do mês.

No entanto, ela também quebrou todos os cartões dele, e ainda alguns documentos que ele não levava consigo na carteira.

Os pais de Chris detestavam que seu filho tivesse uma carreira musical, então simplesmente não responderam às mensagens e deram uma de desentendidos durante as ligações. Christofer, então, não viu alternativa além de pedir ajuda a Otávio. Com ainda menos paciência que os pais, Otávio disse:

— Largue esse sonho idiota. Se você fizesse medicina eu te ensinaria tudo. Enquanto não amadurecer eu não vou segurar as pontas para você.

Christofer estava cansado daquela situação.

Cansado de não ter suporte da família.

Cansado de ser comparado com seu irmão o tempo todo.

Ele se olhou no espelho. Por que seu jeito incomodava tanto? Ele era um cara muito bonito. Suas roupas eram cheirosas, sua barba era aparada. O problema não era o modo como se vestia ou sua aparência. O problema era ter que ser Otávio. Não tinha como ele cortar o cabelo sem virar uma cópia mal representada de seu irmão.

Como se nada tivesse acontecido, Yoko, a mãe deles, ligou para Christofer naquela tarde. Ignorando os problemas do seu caçula, ela o convidou para a festinha em comemoração aos 10 anos de carreira de Otávio, que ia ser no departamento em que trabalhava.

Claro que Christofer se recusou. Primeiro, porque seus pais tinham ignorado seu problema completamente. Segundo, por causa das imposições que fizeram sobre como se comportar ou qual roupa vestir.  Eles o instruíram sobre o que não deveria fazer, de modo a evitar uma vergonha para Otávio.

Por que insistem que Christofer é uma vergonha?

Christofer não era o que a sociedade chamava de rebelde. Ele não usava munhequeira e nem tinha tatuagens. Nunca desenhou uma cruz de cabeça para baixo no olho. Ele realmente vivia de música porque gostava. Amava. Era a razão de viver dele.

O loiro encontrou um violão velho entre os destroços e ficou olhando para ele. Um achado entre o caos. O que faria de sua vida?

Chega disso. Basta. Ele praticava taekwondo, mas nenhuma meditação conseguia controlar seus anseios naquele momento.

Uma vontade insana de fazer merda atingiu seu coração como uma seta e ele prometeu que iria ao aniversário do irmão, mas somente para estragar tudo. Ele iria quebrar tudo.

Ainda bem que ele estava na rua na hora que Helena quebrou suas coisas, pois, do contrário, ela o teria arranhado e destruído também.

Christofer entrou em seu veículo e foi rumo à universudade.

Quando chegou ao departamento em que Otávio trabalhava, Christofer viu as pessoas iludidas com a representação social de Otávio. Não o conheciam de verdade. Por isso, providenciaram uma mesinha bonita com um bolo caro, provavelmente do Carlo's Bakery, com frutas vermelhas e pasta americana. Tinha Strudel de maçã!

Toda aquela demonstração de respeito, todo aquele levantamento de ego, as pessoas reunidas para comemorar o quanto Otávio era perfeito... Era de matar.

Além disso, o olhar de pena que Otávio lançou para Christofer ao vê-lo ali dizia: "Você nunca vai ter isso".

Não, Christofer não suportaria isso.

Tinha um monte de gente ali que Christofer não conhecia, então era mais fácil. Ele voltou ao carro e pegou seu taco de beisebol, disposto a quebrar tudo. Otávio jamais o olharia daquela forma de novo.

Os planos de Christofer foram frustrados quando ele olhou para dentro da sala de festa e viu uma garota tímida indo falar com Otávio. Diferente do irmão, Christofer se lembrava dela. Luciana.

Porém, em vez de agir como uma pessoa normal, ela derrubou ponche na manga da camisa de Otávio. Christofer observou e guardou o taco atrás de si. As coisas tinham ficado interessantes.

Vendo a situação de longe, Christofer sabia que tinha sido um acidente, mas Otávio era completamente intolerante. Para o mais velho, atitudes desastradas que manchavam sua imagem eram totalmente inadmissíveis.

Ver o irmão irritado fez Christofer se sentir um pouco realizado, mas ele sabia que Otávio ia descontar na garota.

Otávio e Luciana viraram o centro da festa enquanto ele reclamava da sujeira em sua roupa. Resmungou num tom completamente amargo e impaciente, revelando uma pessoa que Luciana não conhecia.

Christofer ficou pensativo. Otávio ia ralhar com ela na frente de todos? Pobre garota.

O mais novo parou para olhar enquanto Luciana simplesmente travou na frente de Otávio, ruborizada dos pés à cabeça, e gritou:

— Professor, eu gosto do senhor. Quer sair comigo?

Todos respiraram fundo ao ouvir isso. Alessandra espalmou a própria testa, sentindo que Luciana tinha feito completamente o oposto de “chamar num canto”. Bem, vamos ver, pensou Alessandra. Pode ser que Otávio admire a coragem dela e dê uma resposta positiva, a ruiva concluiu silenciosamente.

Otávio riu, nervoso. Bem que ele já tinha notado que aquela garota o estava seguindo ultimamente. No entanto, como estava na frente de todo mundo, achou de bom tom fazer um carinho na cabeça de Luciana. Ele disse:

— Você é bem brincalhona, não é, hum... como é seu nome mesmo?

Todos na festa explodiram de rir. Pensaram que era uma comediante contratada para alegrar a festa. Ou aquela garota era mesmo idiota. Era tão estabanada que sujou a camisa do professor e ainda queria chamá-lo para sair? Ela se enxergava? Uma garota apagada e sem graça querendo chamar a atenção de um homem mais velho e bem resolvido? Era tipo uma anônima dar em cima do Henry Cavill. Luciana viu como as pessoas riam e zombavam dela, e saiu correndo, desesperada e cheia de vergonha.

— Parece que você conheceu meu irmão, Luciana. — Christofer murmurou, vendo a garota passar por ele como se fosse uma bala perdida. Ele já tinha sido esculachado pelo irmão uma infinidade de vezes, e sabia bem qual a sensação.

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