DevaNa minha cidade sempre que a pessoa se sentia injustiçada por algo, ela podia ir até o chefe da aldeia submeter uma queixa e ser julgado de acordo para resolver o problema. Muitas brigas maritais e familiares se resolviam lá mesmo, o chefe tinha o poder de concentrar todo mundo em um só lugar, ouvir suas queixas e resolver os problemas destas pessoas. Hoje ele está resolvendo o meu problema, o tanto que Dinesh pediu para que eu recorresse à justiça local para recuperar minha casa, que é como se eu não tivesse escolha a não ser fazer o que ele disse.Naquela noite em que Abhiprithi não nos deixou entrar na mansão Bewa de qualquer jeito, Dinesh chamou um táxi e me levou até um motel na cidade onde eu pude tomar um banho, comer um lanche rápido e dormir na companhia dele, o vaso de cerâmica onde os restos mortais do meu pai descansava em cima da cômoda do quarto. Então pude dormir aquela noite mas, não que eu tivesse desistido de conseguir a minha casa que tinha sido tomada à força
Deva"Não!" Grito estupefata com esta condenação. "Por que está sendo tão radical comigo?" Ser retirada minha própria casa e ainda por cima estar proibida de morar naquela cidade onde nasci e cresci? Ele acha que tem esse direito..?"Aceite o seu destino, pecadora. Agradeça antes pelo bebê que está em seu ventre pois senão eu mandaria que lhe apedrejassem até a morte, quem sabe assim você pagava pela morte do Achalesvara." O chefe diz me fazendo enrugar os lábios numa expressão de ódio extremo, as pessoas ali presentes começaram a vaiar insatisfeitas pelo veredito do julgamento, só que ao invés de estarem a pedir para que Gyaneshwar diminuísse aquela sentença sendo justo comigo, as pessoas estão vaiando gritando pela minha morte, as pessoas querem que eu morra, elas querem me matar com as suas próprias mãos."Matem ela! Matem ela! Matem!" Eles gritavam furiosos, sinto uma dor aguda na testa e vejo um pé de bota caindo do outro lado no chão, alguém da população tinha jogado um sapato e
Quando chegamos em Varanasi, Dinesh quis alugar um quarto numa pousada nas margens do rio Ganges para que a gente pudesse pernoitar ali e logo mais no dia seguinte descer pro rio e ir deitar as cinzas do meu pai naquelas águas sagradas. So que a tarefa foi demasiado difícil de concretizar, pois estamos na época do Puja para Ganesh, uma festividade que acontece todo ano onde muitos devotos costumam ir até Varanasi para se mergulhar nas águas sagradas do rio afim de buscar uma santificação espiritual. Por isso, nesses dias é normal ver aquela cidade totalmente congestionada pelos devotos peregrinos vindos de todos os cantos do país e até vindo de fora do país."Eu acho melhor a gente ir embora e voltar daqui há algum tempo." Dinesh fala enquanto estamos olhando a movimentação das pessoas na rua lá embaixo do quarto do motel onde finalmente ele tinha conseguido achar um quarto que não tivesse sido reservado pelos visitantes da cidade. "Está muito cheio." Suspiro com aquela sugestão dele.
DevaEstamos de volta no trem agora definitivamente a caminho de Surat que não fica muito longe, em duas horas nós já estaríamos lá, então aproveitamos a viagem pra dormir um pouco no trem em movimento. Assim que chegamos em Surat eu fiquei guiando Dinesh por lá já que ele nunca tinha estado ali."Eu sempre quis vir pra cá quando você estava casada e morando aqui." Ele conta pra mim descontraído."Então por que não veio? Seria bom ter sua visita por aqui." Falo em termos de brincadeira, mas com uma grande verdade nas minhas palavras. Os dias que passei na casa dos Suryavant foram tão deprimentes que avistar um rosto conhecido e amistoso faria alguma diferença, ainda mais se fosse Dinesh vindo me ver, assim eu evitaria me meter em encrencas. A verdade é que eu estava me sentindo abandonada na casa dos Suryavant, embora as pessoas me tratassem vagamente bem, eu me sentia presa e assustada por dentro, se Dinesh estivesse ali comigo eu sentiria aconchego e apoio vindo dele, não me sentiri
Anushka"Descer logo... Ela acha mesmo que eu sou uma selvagem..." Por que tem que me dizer quando eu devo ou não descer? Será que ela acha que eu não sei me comportar como uma dama? Talvez por dentro de toda aquela bondade e meiguice que Nayana mostrava, talvez lá no fundo ela me desprezava por eu ser uma dalit, é impossível não detectar este depesprezo até nas coisas inconscientes que elas fazem, nas suas falas tem algo que me inferioriza, a forma como me olham e como tocam em mim, estão sempre me inferiorizando. Eu notava isso até em meu próprio marido às vezes mesmo quando não era diretamente comigo, o preconceito que eles tinham por pessoas da minha casta é tanto e está tão impregnado neles que vai além da consciência deles, só que eu estou disposta a lutar pelos meus direitos, estou disposta a tomar o meu lugar de direito no mundo e não importa o quanto isso vai cobrar de mim.Atrasei de propósito, deixei as duas finezas esperando por mim lá embaixo. Posso até imaginar Bhadrasr
Anushka"A gente devia ir pro cabeleireiro, não é mesmo?" Nayana tenta apaziguar. "A senhora disse que precisava tratar o cabelo hoje, minha sogra." Eu e minha sogra ainda estávamos nos fitando impetuosamente, nem ela e nem eu querendo baixar a cabeça. A tensão era tanta no lugar, por fim Bhadrasri fez um som de descontentamento e se recompôs."Sim, claro. Vamos logo pagar essas compras." Então saiu se dirigindo até o caixa. Nikash olhou pra mim e deu um meio sorriso, indo embora logo em seguida, talvez ele tivesse me achado mais forte agora que tinha enfrentado minha sogra, Nayana apertou o meu ombro de leve num gesto de dar forças e seguiu Bhadrasri, suspirei fechando os olhos por um momento tentando recobrar minha calma e então segui elas também.Momentos depois, quando saímos da loja de roupas femininas, fomos para o salão de cabelo que eu também conhecia bem, pois quando Bhadrasri passava aquelas tardes de compra e cuidado com sua aparência ela sempre me levava pra carregar as co
Deva"Vai pensando que eu desisti, e tente dormir tranquila essa noite, algo que você não vai conseguir pois eu sempre serei o seu pior pesadelo." Dou um último sorriso cínico e então me viro indo embora sumindo entre a movimentação do bairro.Estou pensando em como foi delicioso e satisfatório ter visto a cara da Anushka toda assustada com a hipótese de eu estar gerando um filho do marido dela que ela tanto se gaba, aquela desgraçada, ela deve estar se remoendo toda agora, me dá muita vontade de rir às gargalhadas. Embora minha ida até a casa dos Suryavant tenha sido um fracasso total, pois não tinha conseguido alcançar os meus objetivos, mas devo reconhecer agradavelmente que pelo menos tinha valido a pena por ter visto Anushka tão em apuros com medo de eu estar grávida do marido dela. Não tinha desmentido aquilo confessando que não era verdade, que eu só estava brincando pra tirar a paz dela e que o pai do bebê na verdade era Shankar, eu mesma não quis desmentir, ela que ficasse s
"Eu quero ver ela... Cadê minha filha..?" Procuro com os olhos pra sala onde estamos, há muitos doentes nessa sala, uma cama está sendo ocupada por duas ou até mesmo três mulheres, ninguém está ocupando minha cama para além de mim porque estou recebendo remédios por via arterial, senão acredito que teria alguém ocupando essa cama também junto comigo. Há muito choro de bebê também, constato. Eles me colocaram na sala de parto, há muitas mães carregando em seus braços seus bebés recém nascidos, há também um forte cheiro de remédio, sangue e urina pelo ar que me fez enrugar o rosto.Então era assim que funcionava hospitais para pessoas sem dinheiro..? Também não é algo para se admirar. Há milhões de pessoas nessa cidade, quase dois bilhões em todo país, então mesmo que o governo construa sempre mais hospitais sempre terá défice por causa de tanta população existente, não consigo evitar de sentir nojo, queria poder ter estado num quarto particular, mas também não devo exigir uma coisa des