Meu irmão não me ligou mais. Era de se esperar. Para ele, aquela ligação já representava o limite de sua paciência comigo. Me lembrei da primeira vez que brigamos seriamente. As veias de suas mãos estavam saltadas enquanto ele apontava para a escuridão lá fora, aquele breu onde não se via sequer a mão à frente do rosto.— Letícia, saia desta casa agora. Você não é mais minha irmã.Lágrimas escorriam enquanto eu gritava para ele:— Você acha que eu queria ter um irmão como você? Rafael Garcia, eu te odeio!Ele me deu um tapa, e a área ardente e vermelha no meu rosto começou a inchar. Corri para fora, encolhida ao lado da estrada, esperando que ele viesse me procurar. O vento da noite era frio, e eu estava apenas de camisola de seda. Rapidamente, meus lábios começaram a ficar roxos, e meu corpo tremia incontrolavelmente. Eventualmente, percebi desolada que meu irmão não iria atrás de mim. Ele não havia dado um passo sequer para fora do quarto.Depois, sentindo um frio terrível e
Eu observei o rosto irritado de meu irmão, que finalmente esboçava um leve sorriso, afundado no sofá. Sabia que era a hora de minha irmã mais nova sair da escola. Quando eu estava no ensino fundamental, essa irmã sem laços de sangue veio morar conosco. Diziam que ela se parecia trinta por cento com minha mãe falecida. Por isso, meu irmão estava disposto a tratá-la bem.Eu frequentemente me perguntava se as coisas seriam melhores se eu fosse um pouco como minha mãe. Talvez assim, papai e meu irmão não me odiassem tanto. Mariana Garcia saltitava até o carro do irmão, vestindo um vestido branco e fofo, com os olhos e sobrancelhas arqueados em um ângulo que partia o coração, a ponta do nariz avermelhada e um sorriso radiante. Ela realmente era alguém que havia sido mimada.Era habilidosa em fazer meu irmão e meu pai felizes, conseguindo facilmente o afeto de todos. Ao contrário de mim, que era desajeitada e medrosa. Eu não ousava. Porque cada vez que questionava ou chorava, o que
— Não fale assim da Letícia. Ela deve estar apenas fazendo birra. É culpa minha, se não fosse o que eu disse, ela não estaria tão brava com o irmão.Ah, aquele sentimento familiar da Mariana.Ela era tão falsa.Não conseguia associar aquela garota à minha frente com a mãe gentil das fotografias.Elas realmente se pareciam?— Mariana é tão generosa, Letícia é tão dura com você, mas você sempre a defende. — Disse meu irmão enquanto acariciava a testa de Mariana com delicadeza. — No testamento do papai, ele disse que a propriedade seria dividida meio a meio entre mim e Letícia. Mas olhando para ela, toda louca e desvairada, como ela pode ser minha irmã? Por isso, estou pensando em mudar o testamento para colocar você no lugar dela.Uma náusea indescritível subiu do meu estômago.Eu queria ir embora.Mas minha alma parecia estar aprisionada.Incapaz de me mover.Minha cabeça zumbia.Ainda podia ouvir a voz do meu irmão.— Na verdade, quando papai foi resgatado, ele queria ver a Letícia. El
Quando Mariana chegou, ela se mostrou amigável comigo. Ao menos dentro de casa. Ela timidamente me seguia, sorrindo enquanto me chamava de "irmã". Isso até perceber que nosso pai me ignorava e meu irmão era cruel comigo. Foi então que ela também começou a me tratar mal. Foi quando percebi que Mariana realmente não gostava de sorrir. Ela me encurralou certa vez no banheiro da escola, permitindo que outras meninas puxassem meu cabelo e me jogassem ao chão. Os golpes eram desferidos onde as roupas cobriam, causando dor sem deixar marcas visíveis. Nem um hematoma podia ser encontrado.— Letícia, não me odeie. Se for para odiar alguém, odeie seu irmão. Eu só faço isso porque ele permite. Você acha que eu, apenas uma filha adotiva, teria tanta audácia sem a aprovação dele?Sim, se não fosse por meu irmão, como ela ousaria me tratar assim? Meu irmão realmente desejava a minha morte. Depois disso, eu já não esperava mais que ele me salvasse. Eu apenas pedia a ela que não me batesse.
Inúmeras vezes retornei para casa com o cabelo e as roupas desalinhados. Quando meu irmão notava, ele apenas franzia a testa e me puxava de lado para perguntar:— Letícia, você tem se envolvido em confusões por aí? Você ainda não tem dezoito anos! Você acha que está honrando nossa mãe?Eu segurava as lágrimas. Eu contia os gritos. Mas não conseguia aliviar a dor no corpo e no coração. Eu queria contar tudo ao meu irmão. Porém, Mariana e um garoto da classe me despiram e tiraram fotos minhas em situações vexatórias. O belo rosto de Mariana se iluminava com um sorriso aparentemente inocente.— Letícia, se você contar algo, eu espalho estas fotos. Então, você verá o que seu irmão pensará de você.Valia a pena falar? Eu não conseguia decidir. Comecei a tomar remédios. Meu cabelo começou a cair aos montes. Mas nada adiantava. Procurei uma clínica psicológica. A médica acariciou meu cabelo, com um olhar de ternura e cuidado que eu raramente via. Minha emoção aflorou e as lágrima
Depois de adoecer, meu temperamento se deteriorou significativamente. O modo como tratava Mariana e Rafael também piorou. Naquela prova, embora estivesse doente, meu desempenho foi um pouco inferior, mas ainda consegui superar as notas de Mariana. Isso me trouxe grande satisfação. Pelo menos nos estudos, eu era superior a ela. Ao levantar os olhos, cruzei com seu olhar odioso. Um sorriso sinistro se formou em seu rosto. Inicialmente, não compreendi o significado daquilo. Até que ela saiu com alguns amigos.Ela voltou depois de pouco tempo, e na sala de aula espalharam rumores de que eu era a pessoa azarada que tinha matado minha mãe.Ao voltar do intervalo, descobri que minha cadeira estava cheia de serpentes mortas e aranhas venenosas. Até os móveis foram substituídos por outros quebrados e inutilizáveis. A humilhação física não foi suficiente para Mariana, que então recorreu a táticas psicológicas. Ao sair da escola, ela me lançou um sorriso triunfante. Aqueles olhos redon
Naquele momento difícil, encontrei ela. Minha alma estava esticada ao limite, completamente exausta, tanto física quanto emocionalmente. Meus lábios estavam rachados, as olheiras profundas, e meu cabelo, ralo e seco. Minha mente turva e os passos, incertos, não sabiam para onde ir. Por fim, parei em uma passarela pouco frequentada e olhei para baixo. Havia poucas pessoas. Ainda bem. Não causaria um pânico social.Ela me disse mais tarde:— Quando te vi, a primeira impressão foi de descuido. Não que você seja feia, pelo contrário, é até bonita, mas estava em um estado terrível. Parecia um animal prestes a morrer de sede no deserto ou um peixe a ponto de se afogar em um lago.Eu ri e bati levemente na mão dela:— Você está falando bobagem, peixes não se afogam.Ela revirou os olhos para mim.— Era essa a sensação. A sensação de exalar uma aura de morte, como se pudesse morrer a qualquer momento.Minha risada cessou.De fato, naquela tarde, eu planejava pular da passarela. Mas ela
Todos os dias ao lado de Sophia eram alegres. Ela realmente era alguém que trazia alegria para quem estava ao seu redor, uma pessoa que iluminava tudo como o sol. Para mim, ela era o sol da minha vida. Eu lhe dizia frequentemente: — Sophia, sem você, eu já estaria morta. Ela dava um tapinha na minha mão e respondia: — Você fala isso melhor do que os mentirosos que tentaram me enganar. Concordei com a cabeça, pois não estava mentindo. Após um breve silêncio, ela segurava meu rosto e falava seriamente: — Então, sem a minha permissão... Letícia, você não pode morrer. Eu quebrei minha promessa. Na verdade, eu realmente queria cumpri-la. Depois de estar com ela, minha depressão se aliviou, e logo eu não precisava mais tomar medicamentos. Porque Sophia me levava para comer coisas deliciosas e escrevia no meu bolo de aniversário: [Feliz aniversário para minha irmãzinha.] Ela me levava em sua moto para ver as belas vistas noturnas do rio. Também cantava as músicas qu