Naquele momento difícil, encontrei ela. Minha alma estava esticada ao limite, completamente exausta, tanto física quanto emocionalmente. Meus lábios estavam rachados, as olheiras profundas, e meu cabelo, ralo e seco. Minha mente turva e os passos, incertos, não sabiam para onde ir. Por fim, parei em uma passarela pouco frequentada e olhei para baixo. Havia poucas pessoas. Ainda bem. Não causaria um pânico social.Ela me disse mais tarde:— Quando te vi, a primeira impressão foi de descuido. Não que você seja feia, pelo contrário, é até bonita, mas estava em um estado terrível. Parecia um animal prestes a morrer de sede no deserto ou um peixe a ponto de se afogar em um lago.Eu ri e bati levemente na mão dela:— Você está falando bobagem, peixes não se afogam.Ela revirou os olhos para mim.— Era essa a sensação. A sensação de exalar uma aura de morte, como se pudesse morrer a qualquer momento.Minha risada cessou.De fato, naquela tarde, eu planejava pular da passarela. Mas ela
Todos os dias ao lado de Sophia eram alegres. Ela realmente era alguém que trazia alegria para quem estava ao seu redor, uma pessoa que iluminava tudo como o sol. Para mim, ela era o sol da minha vida. Eu lhe dizia frequentemente: — Sophia, sem você, eu já estaria morta. Ela dava um tapinha na minha mão e respondia: — Você fala isso melhor do que os mentirosos que tentaram me enganar. Concordei com a cabeça, pois não estava mentindo. Após um breve silêncio, ela segurava meu rosto e falava seriamente: — Então, sem a minha permissão... Letícia, você não pode morrer. Eu quebrei minha promessa. Na verdade, eu realmente queria cumpri-la. Depois de estar com ela, minha depressão se aliviou, e logo eu não precisava mais tomar medicamentos. Porque Sophia me levava para comer coisas deliciosas e escrevia no meu bolo de aniversário: [Feliz aniversário para minha irmãzinha.] Ela me levava em sua moto para ver as belas vistas noturnas do rio. Também cantava as músicas qu
Era o quinto dia após a minha morte.As sobrancelhas do meu irmão se franziam cada vez mais, e com isso, um traço de pânico começava a surgir.Porque o máximo que eu havia ficado longe de casa foram três dias.Eu começava a aguardar ansiosamente pela expressão dele ao descobrir a minha morte.Depois de me encontrar com Sophia, ela me disse que era importante viver feliz.A felicidade era o mais importante.Por isso, minhas notas caíram rapidamente, tão rápido ao ponto de ser chamada pela professora da escola, e Rafael ser convocado ao escritório.Quando ele voltou para casa, como esperado, descontou em mim:— Letícia, você já tem 18 anos. Não pode ser mais madura? Você acha que abaixar suas notas para chamar atenção é algo inteligente?Antigamente, eu buscava a atenção do meu pai e irmão.Eu até considerava um nariz sangrando como algo positivo.Pelo menos naquela hora, meu irmão e meu pai ficavam ao meu redor, me dando atenção.Mas, para mim, o significado de estudar com afinco havia
Sophia nunca me deixa voltar para casa sozinha.Ela sempre me acompanhava, me impedindo de beber.Quando ela própria se embriagava, fazia com que amigos próximos me levassem em segurança até em casa.Todos eles eram cavalheiros.Muito mais do que os amigos de Rafael, sempre trajados em ternos.Foi então que compreendi que semelhantes atraem semelhantes, isso era verdadeiro.Nos olhos de Rafael, eu era vista como suja e vulgar, e seus amigos também pensavam que podiam me tocar como bem entendiam.Mas Sophia me tratava como se eu fosse sua própria irmã, e seus amigos me respeitavam como uma irmã querida.Contudo, houve uma exceção, um rapaz que confessou gostar de mim.Desde o primeiro momento em que me viu, ele se encantou.Sophia me lançou um olhar e me puxou para o lado, sussurrando:— Daniel é um bom rapaz, nunca namorou desde que o conheci e nunca se comporta de maneira irresponsável quando saímos. Se você se interessar, pode tentar algo com ele. Contudo, você sabe, é melhor que as
— Você não tem vergonha, Letícia? É só isso que você quer? Dormir com um homem?Senti meu sangue ferver, e uma névoa turva cobriu minha visão.Com todas as minhas forças, eu lhe dei um tapa.A cabeça do meu irmão se inclinou levemente, e logo apareceu uma marca avermelhada em seu rosto pálido.Nos seus olhos, vi incredulidade.Essa foi a primeira e última vez que resisti a ele.Porque eu queria deixar aquela casa de uma vez por todas.— Irmão, esta é a última vez que te chamo assim. Você me criou por dezoito anos, e eu sofri por dezoito anos. Você não merece ser meu irmão.As sobrancelhas de Rafael se ergueram, seus olhos se estreitaram levemente, e seus lábios se apertaram, como um leão furioso tentando conter sua raiva.Em um instante, seu rosto bonito começou a se contorcer enquanto ele agarrava meus ombros e os sacudia violentamente.— Letícia, você enlouqueceu! Quando você se arrepender, eu não vou te perdoar, nem deixar você entrar na minha casa novamente.Eu soltei um riso frio,
No sétimo dia após minha morte, Rafael planejou sair para me procurar pela primeira vez. Porém, foi detido por Mariana:— Irmão, Letícia com certeza foi para a casa daquele homem. Se você for agora procurar ela, e se por acaso ver o namorado da nossa irmã...Ela parou após insinuar isso. Rafael então desabou no sofá de couro legítimo da sala, jogando as chaves do carro de luxo ao lado. Desistiu da ideia de me procurar. Vi o sorriso de satisfação no canto da boca de Mariana.Pouco depois, Rafael ligou para seus amigos próximos, reclamando de mim:— Letícia sumiu, não sei para onde foi. Ela enlouqueceu. Já são sete dias sem voltar para casa.— Aquela sua irmã, eu a vi algumas vezes no bar, sempre rodeada de más companhias, nada séria. Deve estar agora nos braços de algum homem.Ouvi, com o rosto impassível, enquanto ele e seus amigos denegriam minha reputação. Aos olhos dele, eu era aquele tipo de garota, não era sua irmã, pura e imaculada.Me afastei para longe, observando as luzes
Mas eu não esperava que Sophia aparecesse na minha casa.Ela detestava meu irmão, e apenas por necessidade de me levar para casa às vezes, ela se aventuraria no subúrbio isolado.Mas já faziam sete dias que eu não atendia o telefone.Quando Rafael abriu a porta e viu quem era, notou a tatuagem na clavícula e os dreads estilosos. Sua testa se franziu profundamente.Ele estava prestes a falar, quando Sophia perguntou:— Onde você escondeu a Letícia?As sobrancelhas de Rafael se franziram ainda mais.— Ela não está com vocês? — Perguntou ele, com um tom de desprezo.Como sempre, ele desprezava todos que tinham uma boa relação comigo. Mas, embora ele pudesse me difamar, eu não permitiria que ele difamasse meus amigos, nem minha irmã.Os olhos de Sophia se arregalaram levemente, ela ficou atônita por um momento. Então, seu rosto endureceu.— Rafael, você tem coração? Sua irmã desapareceu por sete dias e você nem a procurou? Você não tem medo de que algo tenha acontecido com ela?A mão de
Rafael havia pensado inúmeras vezes.Se naquela noite ele tivesse seguido seu coração para procurar sua irmã, será que o resultado seria diferente?Mas seus passos pararam à porta.Ele pensou que Letícia sempre voltaria.Não importava quanto ele a repreendesse, ela era sua irmã, ele era seu único parente no mundo.Para onde mais ela poderia ir?Rafael foi à delegacia e registrou um desaparecimento.O policial perguntou, como de costume:— Há quantos dias ela está desaparecida?Ele se sentiu um pouco culpado ao responder:— Sete dias.— Você é o irmão biológico dela? Sua irmã desaparece por sete dias e você só agora está reportando? — O olhar do policial varreu seu corpo com um tom de voz hostil.Um pressentimento perturbador começou a crescer em seu coração.Ele não conseguia pensar racionalmente enquanto uma voz ecoava em seus ouvidos repetidamente:— Você não teme que algo tenha acontecido com ela?Eu flutuava no ar, observando meu irmão como uma mosca sem destino voando ao seu redor