Como se tivesse ouvido minha voz interior, meu irmão de repente levantou a cabeça, olhando para o quarto vazio que eu ocupava quando estava viva.Tão limpo que parecia nunca ter sido habitado.Afinal, Mariana tinha tudo o que eu não tinha.— Letícia, você ainda está aqui? Sempre senti que você estava aqui.Desolado, meu irmão se sentou no quarto.Clara apareceu de um lado e suspirou.— Rafael, você precisa cuidar da sua saúde. Letícia se preocupava muito com você. Antigamente, quando você ficava bêbado, aquelas sopas para aliviar a ressaca e a canja, tudo era preparado por Letícia para você. Até os objetos para proteger seus olhos sobre a mesa. Suas camisas e roupas eram todas passadas por Letícia.De repente, Rafael se lembrou de uma vez em que tinha bebido demais e, ao chegar em casa, viu a irmã espiando timidamente de outro quarto, olhando para ele. Naquela época, ela estava no ensino fundamental II e ele, por causa do trabalho na empresa, estava sempre ocupado com compromissos soci
Olhei para Rafael, cujo rosto expressava uma emoção frenética.Isso era bem esquisito.Ele estendeu os braços em minha direção.— Letícia, minha irmã, finalmente posso ver você de novo.Com repulsa, me virei de costas.— Rafael, eu já disse: não vou mais te chamar de irmão. Eu não sou sua irmã.A excitação em seus olhos lentamente se dissipou, e seus braços gradualmente caíram.Ele falou baixinho:— Irmã, se eu morresse, você ficaria feliz?Com um pedido difícil de expressar.— Não. Se possível, desejo que você... — Ele ouvia em silêncio, com um leve sorriso nos lábios e uma expressão quase doentia de devoção no rosto. — Viva muitos anos e morra de solidão.O sorriso em seu rosto congelou:— Letícia, o que você disse?— Eu disse que você não pode morrer, porque eu não quero te ver. Rafael, nesta vida e para sempre, eu nunca mais quero te ver.No dia em que deixei este mundo, fui ver Daniel e Sophia pela última vez.Eles estavam em pé, ao lado do meu túmulo, me homenageando.O vento sop
Mariana suportou apenas meio ano de bullying escolar antes de não aguentar mais e pular de um prédio alto.Parada em frente ao prédio, ela pensou que aquela garota, aparentemente frágil, havia sido realmente bem resistente e forte.Afinal, ela tinha sofrido violência psicológica do irmão por dezoito anos.Mariana praticou bullying com Letícia por seis anos, desde o ensino médio.Ela não se suicidou e, no final, foi ironicamente morta por um carro.Que ironia.Ao ouvir a notícia da morte de Mariana, Rafael apenas deu uma risada fria:— Bem feito. — E então acrescentou. — Ela teve o que merecia.Todos sabiam que o Presidente Rafael do Grupo Garcia era jovem e capaz.Havia uma grande foto pendurada em sua casa, diziam que era de sua irmã.Rafael revirou sua casa e seu celular e não encontrou nenhuma foto de Letícia.No final, no celular recuperado de sua irmã, ele encontrou uma foto tirada por outra pessoa.Nela, sua irmã estava vestida com um vestido de tule branco, usando uma coroa com
Eu morri.Letícia Garcia morreu aos brilhantes dezoito anos.Uma dor intensa me atacou num instante, e fiquei grata por morrer rapidamente.No entanto, depois do atropelamento, meu corpo não apresentava uma boa aparência.Flutuava, observando os transeuntes balançarem a cabeça e suspirarem.Segui meu corpo até o hospital.Me levaram rapidamente e me encaminharam para o necrotério.O médico revistou minhas roupas desgastadas.Olhou por dentro e por fora, mas não encontrou nada que comprovasse minha identidade.— Que pena. Uma garota tão bonita, parece que nem tinha atingido a maioridade. Ah, seus familiares devem estar tão tristes ao saber.Ah, era verdade.Minha carteira, identidade e celular foram roubados por um homem depois que discuti com meu irmão e saí correndo.Ele também levou algo mais, que eu esqueci.Uma enfermeira cuidadosamente limpou o sangue do meu corpo, derramando algumas lágrimas.Imaginei como seria se meu irmão soubesse.Não sei o quanto ele ficaria feliz.Olhei fix
Voltei para casa, flutuando. Uma mansão luxuosamente decorada se erguia nos subúrbios, como uma fera adormecida nas trevas, nunca me oferecendo um pingo de calor como lar. A luz suave da luminária incidia sobre as feições severas do meu irmão, que lidava com assuntos da empresa com o cenho franzido. Ele olhou para o relógio no celular, seu semblante denotava impaciência, parecia estar irritado novamente. Após algum tempo, tentou fazer uma ligação. Parecia que não conseguia conexão, soltou um palavrão e desligou, atirando tudo o que estava na mesa ao chão. O temperamento do meu irmão sempre foi explosivo, isso eu sabia.— Letícia, você se acha esperta agora, não é? Você bloqueou meu número e o WhatsApp! — Gritou meu irmão, furioso, jogando coisas ao redor. — Se é assim, nunca mais volte. Morra aí fora.Meu nariz ainda ficava sensível, mesmo estando morta. Ouvir aquelas palavras ainda me fazia querer chorar.— Irmão, você conseguiu o que queria. Sua irmã, Letícia, realmente morreu
Meu irmão me odiava profundamente. Não sem motivo, segundo ele. Fui eu quem causou a morte de nossa mãe e, também, a de nosso pai. Nos dias que antecederam o meu nascimento, mamãe, de repente, teve a ideia de ir ao shopping comprar roupas para mim. Foi atropelada por um carro e levada ao hospital, onde não resistiu. Um parto por cesariana salvou minha vida, mas não pôde salvar a dela. Ela morreu no dia em que eu nasci.Embora as últimas palavras que minha mãe dirigiu ao meu pai tenham sido:— Cuide bem da Letícia, diga a ela que a mamãe a ama.Aquelas palavras foram sussurradas por meu pai, embriagado, ao meu ouvido.No entanto, meu pai ainda se recusava a lidar comigo, exceto quando estava bêbado. Nessas ocasiões, ele ocasionalmente murmurava algumas palavras em meu ouvido. Nos demais momentos, ele simplesmente mantinha um semblante fechado, como se eu nem existisse.E, recentemente, esse pai distante e taciturno também faleceu, por suicídio. Papai deixou uma carta, mas meu irm
Meu irmão enfrentou uma vida difícil, ele era dez anos mais velho do que eu. Desde que nosso pai começou a sofrer de depressão, a empresa da família entrou em declínio. Ele sempre foi um aluno exemplar, avançando rapidamente pelas séries escolares. Aos vinte anos, se formou na universidade e ingressou na empresa, começando a assumir responsabilidades significativas.De um jovem recém-chegado ao mercado de trabalho, ele ascendeu à presidência do Grupo Garcia. O percurso dele foi árduo. Por isso, eu sentia uma profunda compaixão por ele. Quando ele ficava até tarde bebendo por causa do trabalho, eu preparava uma sopa para curar a ressaca e deixava ela secretamente na mesa para ele.Acordava cedo para fazer canja, que era benéfica para o estômago. Quando vi meu irmão esfregar os olhos, exausto, utilizei o dinheiro que economizei durante um mês para trocar a lâmpada incômoda de sua mesa por uma nova, além de deixar colírio e vitaminas ao seu alcance. Passava a ferro suas camisas lav
Meu irmão não me ligou mais. Era de se esperar. Para ele, aquela ligação já representava o limite de sua paciência comigo. Me lembrei da primeira vez que brigamos seriamente. As veias de suas mãos estavam saltadas enquanto ele apontava para a escuridão lá fora, aquele breu onde não se via sequer a mão à frente do rosto.— Letícia, saia desta casa agora. Você não é mais minha irmã.Lágrimas escorriam enquanto eu gritava para ele:— Você acha que eu queria ter um irmão como você? Rafael Garcia, eu te odeio!Ele me deu um tapa, e a área ardente e vermelha no meu rosto começou a inchar. Corri para fora, encolhida ao lado da estrada, esperando que ele viesse me procurar. O vento da noite era frio, e eu estava apenas de camisola de seda. Rapidamente, meus lábios começaram a ficar roxos, e meu corpo tremia incontrolavelmente. Eventualmente, percebi desolada que meu irmão não iria atrás de mim. Ele não havia dado um passo sequer para fora do quarto.Depois, sentindo um frio terrível e