Mas eu não esperava que Sophia aparecesse na minha casa.Ela detestava meu irmão, e apenas por necessidade de me levar para casa às vezes, ela se aventuraria no subúrbio isolado.Mas já faziam sete dias que eu não atendia o telefone.Quando Rafael abriu a porta e viu quem era, notou a tatuagem na clavícula e os dreads estilosos. Sua testa se franziu profundamente.Ele estava prestes a falar, quando Sophia perguntou:— Onde você escondeu a Letícia?As sobrancelhas de Rafael se franziram ainda mais.— Ela não está com vocês? — Perguntou ele, com um tom de desprezo.Como sempre, ele desprezava todos que tinham uma boa relação comigo. Mas, embora ele pudesse me difamar, eu não permitiria que ele difamasse meus amigos, nem minha irmã.Os olhos de Sophia se arregalaram levemente, ela ficou atônita por um momento. Então, seu rosto endureceu.— Rafael, você tem coração? Sua irmã desapareceu por sete dias e você nem a procurou? Você não tem medo de que algo tenha acontecido com ela?A mão de
Rafael havia pensado inúmeras vezes.Se naquela noite ele tivesse seguido seu coração para procurar sua irmã, será que o resultado seria diferente?Mas seus passos pararam à porta.Ele pensou que Letícia sempre voltaria.Não importava quanto ele a repreendesse, ela era sua irmã, ele era seu único parente no mundo.Para onde mais ela poderia ir?Rafael foi à delegacia e registrou um desaparecimento.O policial perguntou, como de costume:— Há quantos dias ela está desaparecida?Ele se sentiu um pouco culpado ao responder:— Sete dias.— Você é o irmão biológico dela? Sua irmã desaparece por sete dias e você só agora está reportando? — O olhar do policial varreu seu corpo com um tom de voz hostil.Um pressentimento perturbador começou a crescer em seu coração.Ele não conseguia pensar racionalmente enquanto uma voz ecoava em seus ouvidos repetidamente:— Você não teme que algo tenha acontecido com ela?Eu flutuava no ar, observando meu irmão como uma mosca sem destino voando ao seu redor
Os policiais pularam aquele segmento e encontraram uma gravação minha, desorientada e sendo atropelada por um carro, numa câmera de segurança à beira da estrada.Os olhos do policial exibiam simpatia enquanto ele batia no ombro de Rafael.Ele não proferiu palavra alguma.Rafael desabou no chão, ostentando um olhar vazio e uma expressão de total desamparo.Era como se ele fosse novamente uma criança, com apenas dez anos.Observando sua irmãzinha chorar ao nascer.E sua mãe, que havia acabado de falecer.A dor atual não era menor que a daquele momento.Não demorou muito para Rafael encontrar meu corpo.Eu estava lá, quieta, já pálida, fria e rígida. Os funcionários do hospital mostraram alguma compaixão:— Pobre garota, tinha apenas 18 anos.Então veio a reclamação:— Demoraram tanto para procurá-la.Olhares de desaprovação se voltaram para Rafael.Sim, em minha vida, a maioria das adversidades foi causada por Rafael e uma pequena parte pela Mariana.Esses irmãos eram como assassinos.R
Daniel e Sophia foram juntos procurar Rafael para recuperar minhas cinzas. Os olhos de ambos estavam inchados de tanto chorar. Eu acreditava que os sentimentos humanos não podiam ser medidos pelo tempo, pois, apesar de eu e meu irmão termos vivido juntos por dezoito anos, ele nunca me abraçou, nunca me amou, nem um pouco.No entanto, a maior parte do amor que senti naquele mundo veio de Sophia e Daniel. Eu morri na noite em que corria em direção a uma nova vida.— Devolva as cinzas da Letícia para nós. — Disse Sophia, cujo rosto parecia ter congelado. — Letícia não queria ficar ao seu lado. A última coisa que ela fez foi deixar você, não foi?Sophia foi direta, assim como quando me repreendia, na presença do meu irmão. Mas, ela tentava manter a compostura, porque não queria que as pessoas me desprezassem ainda mais por ter sido sua amiga.— Rafael, eu sei que você também odiava Letícia, não é? — Sophia encarou Rafael diretamente. Ele baixou os olhos, segurando minhas cinzas nas mã
Rafael investigou todas as adversidades que enfrentei em vida.Só então percebeu que Mariana havia feito muitas coisas às escondidas.Afinal, ele não sabia de nada.Pensei que ele soubesse de tudo.Vi quando ele chamou Mariana, que estava em aula, para fora da sala e a arrastou até o banheiro feminino.Ele repetiu todas as minhas adversidades com ela, detalhe por detalhe.Ainda convocou algumas pessoas para tirar fotos íntimas dela.Depois, encontrou alguém para postar anonimamente em vários fóruns da escola.Incluindo a vez em que ela espalhou boatos e liderou o bullying escolar contra mim.Ela deveria saber que quando o mal retornasse, retornaria com mais força.Mariana ficou furiosa.Ela sofreu torturas milhares de vezes piores do que as que eu sofri.Implorava na porta, pedindo a Rafael que a deixasse em paz.O que ela não entendia era: Rafael odiava sua própria irmã, que estava morta, ele não deveria estar feliz?Por que ele se importava com o que ela sofreu em vida, detalhe por d
Como se tivesse ouvido minha voz interior, meu irmão de repente levantou a cabeça, olhando para o quarto vazio que eu ocupava quando estava viva.Tão limpo que parecia nunca ter sido habitado.Afinal, Mariana tinha tudo o que eu não tinha.— Letícia, você ainda está aqui? Sempre senti que você estava aqui.Desolado, meu irmão se sentou no quarto.Clara apareceu de um lado e suspirou.— Rafael, você precisa cuidar da sua saúde. Letícia se preocupava muito com você. Antigamente, quando você ficava bêbado, aquelas sopas para aliviar a ressaca e a canja, tudo era preparado por Letícia para você. Até os objetos para proteger seus olhos sobre a mesa. Suas camisas e roupas eram todas passadas por Letícia.De repente, Rafael se lembrou de uma vez em que tinha bebido demais e, ao chegar em casa, viu a irmã espiando timidamente de outro quarto, olhando para ele. Naquela época, ela estava no ensino fundamental II e ele, por causa do trabalho na empresa, estava sempre ocupado com compromissos soci
Olhei para Rafael, cujo rosto expressava uma emoção frenética.Isso era bem esquisito.Ele estendeu os braços em minha direção.— Letícia, minha irmã, finalmente posso ver você de novo.Com repulsa, me virei de costas.— Rafael, eu já disse: não vou mais te chamar de irmão. Eu não sou sua irmã.A excitação em seus olhos lentamente se dissipou, e seus braços gradualmente caíram.Ele falou baixinho:— Irmã, se eu morresse, você ficaria feliz?Com um pedido difícil de expressar.— Não. Se possível, desejo que você... — Ele ouvia em silêncio, com um leve sorriso nos lábios e uma expressão quase doentia de devoção no rosto. — Viva muitos anos e morra de solidão.O sorriso em seu rosto congelou:— Letícia, o que você disse?— Eu disse que você não pode morrer, porque eu não quero te ver. Rafael, nesta vida e para sempre, eu nunca mais quero te ver.No dia em que deixei este mundo, fui ver Daniel e Sophia pela última vez.Eles estavam em pé, ao lado do meu túmulo, me homenageando.O vento sop
Mariana suportou apenas meio ano de bullying escolar antes de não aguentar mais e pular de um prédio alto.Parada em frente ao prédio, ela pensou que aquela garota, aparentemente frágil, havia sido realmente bem resistente e forte.Afinal, ela tinha sofrido violência psicológica do irmão por dezoito anos.Mariana praticou bullying com Letícia por seis anos, desde o ensino médio.Ela não se suicidou e, no final, foi ironicamente morta por um carro.Que ironia.Ao ouvir a notícia da morte de Mariana, Rafael apenas deu uma risada fria:— Bem feito. — E então acrescentou. — Ela teve o que merecia.Todos sabiam que o Presidente Rafael do Grupo Garcia era jovem e capaz.Havia uma grande foto pendurada em sua casa, diziam que era de sua irmã.Rafael revirou sua casa e seu celular e não encontrou nenhuma foto de Letícia.No final, no celular recuperado de sua irmã, ele encontrou uma foto tirada por outra pessoa.Nela, sua irmã estava vestida com um vestido de tule branco, usando uma coroa com