Os policiais pularam aquele segmento e encontraram uma gravação minha, desorientada e sendo atropelada por um carro, numa câmera de segurança à beira da estrada.Os olhos do policial exibiam simpatia enquanto ele batia no ombro de Rafael.Ele não proferiu palavra alguma.Rafael desabou no chão, ostentando um olhar vazio e uma expressão de total desamparo.Era como se ele fosse novamente uma criança, com apenas dez anos.Observando sua irmãzinha chorar ao nascer.E sua mãe, que havia acabado de falecer.A dor atual não era menor que a daquele momento.Não demorou muito para Rafael encontrar meu corpo.Eu estava lá, quieta, já pálida, fria e rígida. Os funcionários do hospital mostraram alguma compaixão:— Pobre garota, tinha apenas 18 anos.Então veio a reclamação:— Demoraram tanto para procurá-la.Olhares de desaprovação se voltaram para Rafael.Sim, em minha vida, a maioria das adversidades foi causada por Rafael e uma pequena parte pela Mariana.Esses irmãos eram como assassinos.R
Daniel e Sophia foram juntos procurar Rafael para recuperar minhas cinzas. Os olhos de ambos estavam inchados de tanto chorar. Eu acreditava que os sentimentos humanos não podiam ser medidos pelo tempo, pois, apesar de eu e meu irmão termos vivido juntos por dezoito anos, ele nunca me abraçou, nunca me amou, nem um pouco.No entanto, a maior parte do amor que senti naquele mundo veio de Sophia e Daniel. Eu morri na noite em que corria em direção a uma nova vida.— Devolva as cinzas da Letícia para nós. — Disse Sophia, cujo rosto parecia ter congelado. — Letícia não queria ficar ao seu lado. A última coisa que ela fez foi deixar você, não foi?Sophia foi direta, assim como quando me repreendia, na presença do meu irmão. Mas, ela tentava manter a compostura, porque não queria que as pessoas me desprezassem ainda mais por ter sido sua amiga.— Rafael, eu sei que você também odiava Letícia, não é? — Sophia encarou Rafael diretamente. Ele baixou os olhos, segurando minhas cinzas nas mã
Rafael investigou todas as adversidades que enfrentei em vida.Só então percebeu que Mariana havia feito muitas coisas às escondidas.Afinal, ele não sabia de nada.Pensei que ele soubesse de tudo.Vi quando ele chamou Mariana, que estava em aula, para fora da sala e a arrastou até o banheiro feminino.Ele repetiu todas as minhas adversidades com ela, detalhe por detalhe.Ainda convocou algumas pessoas para tirar fotos íntimas dela.Depois, encontrou alguém para postar anonimamente em vários fóruns da escola.Incluindo a vez em que ela espalhou boatos e liderou o bullying escolar contra mim.Ela deveria saber que quando o mal retornasse, retornaria com mais força.Mariana ficou furiosa.Ela sofreu torturas milhares de vezes piores do que as que eu sofri.Implorava na porta, pedindo a Rafael que a deixasse em paz.O que ela não entendia era: Rafael odiava sua própria irmã, que estava morta, ele não deveria estar feliz?Por que ele se importava com o que ela sofreu em vida, detalhe por d
Como se tivesse ouvido minha voz interior, meu irmão de repente levantou a cabeça, olhando para o quarto vazio que eu ocupava quando estava viva.Tão limpo que parecia nunca ter sido habitado.Afinal, Mariana tinha tudo o que eu não tinha.— Letícia, você ainda está aqui? Sempre senti que você estava aqui.Desolado, meu irmão se sentou no quarto.Clara apareceu de um lado e suspirou.— Rafael, você precisa cuidar da sua saúde. Letícia se preocupava muito com você. Antigamente, quando você ficava bêbado, aquelas sopas para aliviar a ressaca e a canja, tudo era preparado por Letícia para você. Até os objetos para proteger seus olhos sobre a mesa. Suas camisas e roupas eram todas passadas por Letícia.De repente, Rafael se lembrou de uma vez em que tinha bebido demais e, ao chegar em casa, viu a irmã espiando timidamente de outro quarto, olhando para ele. Naquela época, ela estava no ensino fundamental II e ele, por causa do trabalho na empresa, estava sempre ocupado com compromissos soci
Olhei para Rafael, cujo rosto expressava uma emoção frenética.Isso era bem esquisito.Ele estendeu os braços em minha direção.— Letícia, minha irmã, finalmente posso ver você de novo.Com repulsa, me virei de costas.— Rafael, eu já disse: não vou mais te chamar de irmão. Eu não sou sua irmã.A excitação em seus olhos lentamente se dissipou, e seus braços gradualmente caíram.Ele falou baixinho:— Irmã, se eu morresse, você ficaria feliz?Com um pedido difícil de expressar.— Não. Se possível, desejo que você... — Ele ouvia em silêncio, com um leve sorriso nos lábios e uma expressão quase doentia de devoção no rosto. — Viva muitos anos e morra de solidão.O sorriso em seu rosto congelou:— Letícia, o que você disse?— Eu disse que você não pode morrer, porque eu não quero te ver. Rafael, nesta vida e para sempre, eu nunca mais quero te ver.No dia em que deixei este mundo, fui ver Daniel e Sophia pela última vez.Eles estavam em pé, ao lado do meu túmulo, me homenageando.O vento sop
Mariana suportou apenas meio ano de bullying escolar antes de não aguentar mais e pular de um prédio alto.Parada em frente ao prédio, ela pensou que aquela garota, aparentemente frágil, havia sido realmente bem resistente e forte.Afinal, ela tinha sofrido violência psicológica do irmão por dezoito anos.Mariana praticou bullying com Letícia por seis anos, desde o ensino médio.Ela não se suicidou e, no final, foi ironicamente morta por um carro.Que ironia.Ao ouvir a notícia da morte de Mariana, Rafael apenas deu uma risada fria:— Bem feito. — E então acrescentou. — Ela teve o que merecia.Todos sabiam que o Presidente Rafael do Grupo Garcia era jovem e capaz.Havia uma grande foto pendurada em sua casa, diziam que era de sua irmã.Rafael revirou sua casa e seu celular e não encontrou nenhuma foto de Letícia.No final, no celular recuperado de sua irmã, ele encontrou uma foto tirada por outra pessoa.Nela, sua irmã estava vestida com um vestido de tule branco, usando uma coroa com
Eu morri.Letícia Garcia morreu aos brilhantes dezoito anos.Uma dor intensa me atacou num instante, e fiquei grata por morrer rapidamente.No entanto, depois do atropelamento, meu corpo não apresentava uma boa aparência.Flutuava, observando os transeuntes balançarem a cabeça e suspirarem.Segui meu corpo até o hospital.Me levaram rapidamente e me encaminharam para o necrotério.O médico revistou minhas roupas desgastadas.Olhou por dentro e por fora, mas não encontrou nada que comprovasse minha identidade.— Que pena. Uma garota tão bonita, parece que nem tinha atingido a maioridade. Ah, seus familiares devem estar tão tristes ao saber.Ah, era verdade.Minha carteira, identidade e celular foram roubados por um homem depois que discuti com meu irmão e saí correndo.Ele também levou algo mais, que eu esqueci.Uma enfermeira cuidadosamente limpou o sangue do meu corpo, derramando algumas lágrimas.Imaginei como seria se meu irmão soubesse.Não sei o quanto ele ficaria feliz.Olhei fix
Voltei para casa, flutuando. Uma mansão luxuosamente decorada se erguia nos subúrbios, como uma fera adormecida nas trevas, nunca me oferecendo um pingo de calor como lar. A luz suave da luminária incidia sobre as feições severas do meu irmão, que lidava com assuntos da empresa com o cenho franzido. Ele olhou para o relógio no celular, seu semblante denotava impaciência, parecia estar irritado novamente. Após algum tempo, tentou fazer uma ligação. Parecia que não conseguia conexão, soltou um palavrão e desligou, atirando tudo o que estava na mesa ao chão. O temperamento do meu irmão sempre foi explosivo, isso eu sabia.— Letícia, você se acha esperta agora, não é? Você bloqueou meu número e o WhatsApp! — Gritou meu irmão, furioso, jogando coisas ao redor. — Se é assim, nunca mais volte. Morra aí fora.Meu nariz ainda ficava sensível, mesmo estando morta. Ouvir aquelas palavras ainda me fazia querer chorar.— Irmão, você conseguiu o que queria. Sua irmã, Letícia, realmente morreu