Olhei em direção à mesa centímetros da minha, e me sentia devastada assistindo aquela cena. Fred estava bem à vontade com a garota ao seu lado, inclusive, levava a mão dela à sua boca e a tocava carinhosamente. Respirei fundo enquanto bebericava meu martini.
Existia horas que eu gostaria de entender por que gostava tanto de sofrer assim, ou melhor, por que perdia meu tempo com um homem tão canalha quanto ele?! Talvez eu estivesse mentindo para mim, acreditando que ele pudesse mudar algum dia.
Meu coração quebrou em pedaços quando ele a beijou, sem ao menos se importar com a minha presença. Um punhal estava a ser empurrado no meu peito, e aquilo doeu muito, quanta decepção!
Passei a mão nos meus cabelos e disfarcei ao levar o meu copo de bebida a boca novamente. Deveria ter pensado bem antes de vir para esta festa, contudo, seria egoísmo de minha parte com o meu amigo David. Ele estava tão feliz por terminar o seu doutorado em medicina e queria que os seus amigos se juntassem a sua comemoração.
Observei mais uma vez aquele infeliz torturando-me psicologicamente, que mal notei quando minha amiga sentou-se ao meu lado. Só percebi a sua presença no momento em que ela se pronunciou, me olhando com um semblante triste.
— Esse cara é um filho da puta! Novamente ele não pensa antes de machucar você, e ainda insiste em esfregar isso na sua cara. — percebi o quanto ela compartilhava da minha dor. A sua expressão era de pura indignação.
Passei a mão nos meus cabelos disfarçando o meu incômodo e respondi:
— Não posso fazer nada! Sabe que eu e ele não temos nada sério. A minha única opção é olhar, ou ignorar esse cretino, mas não consigo.
— Então você já sabe que os dois estão juntos de verdade, não é? — olhei confusa para Cássia e perguntei sem entender.
— Como assim juntos? Sobre o que você está falando, Cássia?!
— Amiga... – ela mordeu os lábios, se sentindo culpada. - Ele não disse nada para você? Não acredito que esse cara pudesse ser tão safado. É mesmo um cachorro sem-vergonha! — ela olhou na direção em que Fred estava, com ódio e nojo.
E curiosa, perguntei, tentando entender:
— Não sei. O que você quer dizer com isso? Fala logo, Cássia!
— Fred pediu essa mulher em namoro, mas pela reação na sua cara ele não foi nem homem o suficiente para te contar. Que filho da puta!
Me senti instantaneamente destruída por dentro com esta notícia. Me levantei da mesa rapidamente para sair.
Cássia disse enquanto andava ao meu lado:
— Espere, Helena! Não saia assim, você não está bem.
Ignorei o comentário de Cássia e continuei andado até a saída. Só desejava me retirar desse lugar maldito o quanto antes. Era humilhante demais vê-lo esfregando sua nova namorada na minha cara!
David correu na minha direção ao notar que eu estava indo embora e perguntou, sem entender o motivo, enquanto me segurava pelo braço.
— Espere, Helena! Você já está indo embora? Ainda é cedo, agora que a festa começou.
Eu estava com os olhos marejados a ponto de explodir em lágrimas. David olhou sem entender o motivo da minha tristeza, porém, logo percebeu quando viu meus olhos seguirem na direção do lugar onde estava Fred, e disse chateado:
— Ele não tem jeito! Nem teve a decência de te dizer nada? Venha, vou te levar para casa, ursinha!
— É muito gentil de sua parte. Eu te agradeço por isso.
Meus amigos acompanharam-me em silêncio até em casa. Cássia se ofereceu para ficar comigo, porém, recusei dizendo para ela ir se divertir por mim naquela festa. Precisava ficar sozinha e colocar toda dor que aquela notícia havia me causado para fora.
Sentei na beirada da minha cama e as lágrimas caíram incontrolavelmente. Passei três anos da minha vida implorando pelo amor de um cara que nunca me quis além de sexo. No entanto, ele não pensou duas vezes em namorar uma garota que conheceu no mês passado.
Caminhei até meu espelho vendo meu reflexo. Minha maquiagem estava toda borrada, eu estava horrível! Peguei a tesoura em cima da estante e pensei: “se tenho que mudar tudo de uma vez, que seja para algo radical, certo?”
Sempre deixei meu cabelo comprido porque ele gostava, porém, eu iria cortar. Aquela mulher ali não era eu. Então, comecei a cortar mecha por mecha e observei o novo corte, enquanto dizia para mim mesma na frente do espelho:
— Nunca mais, Fred Lourenço, você vai me fazer de boba ou me usar!
Fui ao banheiro e tomei um banho. Quando voltei para o meu quarto, coloquei meu pijama e abri a gaveta da minha mesa pegando o formulário de inscrição. Resolvi preencher de uma vez, não havia razão para ficar nesta m*****a cidade. Já havia passado na primeira seleção, agora era só esperar o dia de sair desse inferno.
Uma semana depois
Como era esperado, o colégio militar me ligou informando que na próxima segunda-feira eu viajaria para a base da escola militar. Minha mãe não gostou nada da ideia, entretanto, meu pai pulou de alegria por saber que sua filha do meio seguiria seus passos.
Meus amigos fizeram uma pequena festa de despedida. Cássia não passou na seleção, mas disse que tentaria novamente no ano seguinte.
Suspirei pesadamente pensando no meu novo recomeço, tomei um gole de suco deixando meus pensamentos vagarem. De repente senti aquele forte perfume masculino atrás de mim que eu conhecia muito bem.
— Então é isso? Você realmente vai embora?— Fred perguntou me olhando sério.
Tomei mais um gole do meu suco e respondi friamente, desviando os olhos:
— Sim! Não vejo a hora de sair logo desse inferno de cidade e esquecer essa vida que tenho aqui.
— Esse inferno que você está se referindo seria eu? — ele me olhou com um sorriso zombeteiro e respondi friamente jogando meu cabelo para trás.
— Seu problema, Fred, é acreditar que o mundo gira aos seus pés, mas simplesmente não funciona assim. Não tenho que justificar minha razão de partir para você.
— O problema não será resolvido com você fugindo dele, Helena! Você vai continuar a me amar mesmo estando longe.
Soltei uma risada sarcástica e disse, rindo friamente:
— Não se considere insubstituível, você pode quebrar a cara. E outra, não se atreva a bater na minha janela como fez ontem à noite, porque vou chamar a polícia.
— Você só fala isso porque ainda está magoada comigo pelo meu namoro com a Laís. Não posso fazer nada se ela conseguiu me dar um chá, sendo que você não foi boa o suficiente para me prender.
Nem sei quando decidir dar um tapa na cara dele. Agir apenas no automático pela raiva e comentei ríspida, enquanto ele esfregava seu rosto:
— Isso aqui é para você aprender a me respeitar, porque a cada momento que convivo com você, mais nojo eu tenho. Quero que você saiba de uma coisa; vá para o inferno com todas essas suas putas e vadias com quem você anda.
Tomei distância do mesmo e fui até meus amigos.
Quando pensei que ele evoluiu, conseguia mostrar o quão babaca era. Acontece que agora ele era página virada na minha vida. Meu coração ainda estava muito machucado, contudo, seguirei em frente, minha vida não podia parar por uma ilusão amorosa.
Completei finalmente a fase final da carreira militar. Foram necessários anos de treinamento e muita força de vontade para me tornar uma oficial do exército. Meu supervisor comunicou que eu iria para o quartel de Goiânia por ser a cidade mais próxima de onde me formei, organizei tudo, pois viajaria no dia seguinte.
Quando cheguei ao quartel, outros como eu foram enviados para seus alojamentos. Meu quarto seria 323, minha colega de quarto se chamava Luísa Spark, descendente de indígenas. Ela tinha cabelos compridos e negros e uma beleza exuberante, me disse que sempre morou na cidade apesar de seus pais terem um laço muito forte com seus descentes.
Depois de estarmos instaladas, fomos para a sala de seleção onde seriam divididas as equipes e uma trabalharia ao lado do General Cortez.
Escutei no corredor que todos temiam esse homem por ser um grosso e arrogante, soube que ele aplicava punições severas aos seus subordinados que não cumpriam suas tarefas direito. Luísa foi uma das selecionadas para sua equipe, além de uma loira chamada Brenda que fazia parte do dormitório.
Após a seleção, caminhamos para a sala onde conheceríamos nosso futuro superior e Luísa disse, meio tenebrosa:
— Poxa, Helena, não tivemos sorte! Caímos logo com o carrasco desse homem, ouvi dizer que ele é um ogro ignorante e muito nojento.
Respondi, lhe observando calmamente:
— Nem me fale. Contudo, será pior reclamar! Talvez se realizarmos as tarefas direito, ele não pegue muito no nosso pé.
— Sim, rezaremos para isso acontecer. Agora é melhor andarmos, o pessoal já está quase lá na frente da sala dele.
Apressamos o passo para chegar até os nossos colegas de trabalho.
Assim que entramos, o general estava de pé olhando pela janela. Ao notar nossa presença, virou-se nos olhando sério.
Nossa, que homem bonito, não tinha como não reparar em sua beleza. O que ele tinha de arrogante, tinha de lindo. Porte físico musculoso e grande, barba em forma de cavanhaque e olhos azuis, tão azuis quanto o céu, além de ser ruivo.
Ele então se pronunciou:
— Vocês estão dois minutos atrasados! Da próxima vez, faço vocês pagarem por isso, entenderam?
Nosso grupo respondeu em uníssono:
— Sim, senhor General.
— Ótimo! Em cima desta mesa está a pasta com as tarefas da semana de cada um, têm seus nomes nelas. Após pegarem, podem se retirar.
Peguei minha pasta e olhei rapidamente as tarefas. Caminhei com os outros para fora. Quando de repente o general me chama.
— Soldada Hernandes, espere, você fica!
O olhei sem entender. Por que eu ficaria, enquanto o resto poderia ir embora? O que será que fiz?
O general Cortez me observou misteriosamente e de maneira penetrante, como se eu estivesse nua. Engoli em seco. Não gostava da forma que aquele homem estava me olhando, isso me deixou muito desconfortável.
Helena Hernandes General Cortez continuava a me observar de maneira intensa como se estivesse me estudando. Senti meu rosto ficar vermelho igual a um pimentão. Não sabia o porquê eu estava me sentindo tão vulnerável perto desse homem. Respirei profundamente tentando acalmar meu nervosismo. Ele então abriu uma das gavetas de sua mesa, pegando uma pasta, a abriu enquanto analisava e depois se pronunciou: — Soldada Hernandes, eu preciso que termine de preencher sua ficha. Está incompleta e não aceitamos isso aqui. Por favor, coloque seus dados bancários com o número do RG e CPF. O olhei de forma surpresa e constrangedora. — Claro, senhor! Poderia me emprestar uma caneta, por favor? — Aqui está. Nunca se esqueça de colocar seus dados corretamente, soldada, ou como espera receber seu salário? Me aproximei da mesa puxando uma cadeira, sentei na mesma e disse, enquanto assinava os espaços vazios: — Me desculpe, senhor! Não irá se repetir, no entanto, pensei que essas coisas fosse
Fernando Cortez A semana que vem ali no quartel, seria bastante agitada, porque os novos recrutas que acabaram de se formar, seriam transferidos para ali, por isso o coronel mandou-me selecionar os novos soldados. Soltei um suspiro de frustração porque odiava realizar essa parte, isso deveria ser feito pela administração, mas como o Coronel Matias mesmo falava: “Nós somos pagos para desenvolver nosso trabalho direito. Você tem o cargo mais alto, entretanto, tenho a função de maior preparação das companhias para a Defesa da Pátria, além de administrar como leis internas do Estado-Maior no Exército.” Velho desgraçado! Como se ele fizesse algo a não ser dar ordens, com aquela bunda velha sentada o dia inteiro naquele gabinete. Não via a hora daquele homem se aposentar e parar de infernizar minha vida. Pedi ao Tenente Klaus para me ajudar, afinal, eram muitas pastas com fichas dos candidatos. Selecionei alguns rapazes pelo físico e sua boa saúde, um exemplo que tomávamos era sempre ter
Helena Hernandes Senti meu corpo estremecer ao ouvir as palavras do General Cortez. Eu era mesmo uma idiota que não conseguia nem disfarçar ou se controlar na presença dele. Sinceramente, que vergonha que ele tenha percebido isso. Ainda bem que não tinha ninguém naquele corredor, se não, com toda a certeza, na manhã seguinte eu seria os motivos de cochichos e risadas no quartel. Assim que entrei o banheiro, dei de cara com Miriam e outras duas soldadas. As cumprimentei com um “boa noite”, e elas me responderam educadamente e voltaram a conversar entre si. Entrei no banheiro, ao fechar a porta, comecei a retirar minhas roupas. Liguei o chuveiro e a água estava bem gelada, mas não reclamei. Eu estava mesmo com calor, e ao lembrar do que aconteceu minutos, com o general me confessando: “Se quer saber qual é o tamanho, te confesso ser bem grande.” Meu Deus! Era incrível como aquele homem conseguia me desestabilizar, porque naquela hora senti minhas pernas mais trêmulas que gelatina.
Fernando Cortez O cheiro forte de café que senti ao estacionar meu carro em frente á minha casa, era maravilhoso. Eu já sabia que tinha a visita da minha mãe. Às vezes pensava que a velha adivinhava quando eu voltaria para casa. Dona Marcela sempre vinha uma vez por semana para avaliar como estava a minha casa e me dar puxões de orelhas por ser um bagunceiro desorganizado. Dei um sorriso de lado ao lembrar-me de seus sermões. Abri a porta do meu carro o fechando em seguida, coloquei a chave na fechadura e quando entrei, deixei minha mochila em cima do sofá seguindo em direção a cozinha. Como previsto, lá estava a dona Marcela, alegre e cantarolando uma de suas músicas antigas. Me recostei na parede a observando, ela se abaixava para retirar um bolo do forno. O cheiro familiar é irreconhecível, o meu favorito. Incrível que mesmo já sendo um homem de barba feita, minha mãe ainda gostava de me mimar como se eu fosse um garotinho de 5 anos. Continuei a olhando desenformar o bolo de ce
Helena Hernandes Havia se passado algumas semanas desde aquele episódio constrangedor com o general. Não cruzei mais com ele, o Tenente Klaus nos informou que nos orientaria enquanto o general se ocupava com outros assuntos pendentes junto ao Coronel Matias. Pelo menos nessa semana estava respirando aliviada, só pelo fato de não encontrá-lo. Á noite eu tinha cada sonho mais erótico que outro, sonhei até que ele me possuía em cima de sua mesa e só de lembrar, sentia minha virilha latejar. Eu realmente precisava dar um jeito naquela seca que me encontrava há três anos e meio sem transar. Se duvidar, eu estava virgem de novo. Naquele final de semana, Luísa e eu ficamos de procurar um apartamento para alugar quando não estivermos no quartel. Eu estava escovando um cavalo branco quando notei que Felipe estava ali me olhando e sorrindo. — Helena, acho tão bonito a maneira que cuida dos animais. - comentou Levei o cavalo para o seu lugar e respondi enquanto trancava a porteira: — Quê
Fernando Cortez Os dias passaram rapidamente e retornei ao quartel na última semana. Foquei nas minhas atividades administrativas e em meus treinos. Mal encontrava meu grupo, pois eles sempre estavam muito ocupados com suas tarefas após seus treinos diários. Não voltei a encontrar a senhorita Hernandes depois daquele episódio embaraçoso no corredor, poderia apostar que ela estava me evitando após ter dito aquelas palavras. Sabia o impacto que causava nas subordinadas daquele quartel, sempre pegava as próprias suspirando e com a soldada Hernandes, não seria diferente. Acredito que todas às vezes que chegava perto, ela se desestabiliza, ou pelo menos jurava que ela começava a imaginar coisas indecentes. Até tentava disfarçar, contudo, seu rosto lhe entregava e às vezes tinha vontade de rir do seu jeito. Mas eu não era um homem que procurava relacionamentos ou mulheres para me envolver, não após ter passado por uma grande desilusão amorosa. Para mim, nenhuma mulher prestava. Elas só sa
Helena Hernandes Há quase duas semanas, eu estava vivendo um inferno nas mãos do general Cortez. Realmente o que me disseram sobre ele era totalmente verdade; era cruel quando resolvia aplicar seus castigos em quem ousava o desafiar. Não foi diferente comigo. Diariamente ele surgia na porta do meu alojamento às 04h00min da manhã para começar os exercícios diários e depois escolhia os piores trabalhos para me colocar. Contudo, não me fiz de mole, uma vez que meu treinamento havia sido esse na escola militar, não era desistir. Fui uma das melhores da minha sala e não seria aquele infeliz que iria me dizer o contrário. Me sentei um pouco para descansar após terminar de limpar as sujeiras dos estábulos e Luísa me olhou preocupada e disse: — Amiga, estou preocupada com você, seu rosto demonstra o quanto está cansada. Esse homem está sendo cruel demais aplicando essa punição. Isso para mim, é abuso de poder. Respirei pesadamente e disse, passando a mão em meu rosto: — Não posso fazer
Fernando Cortez Eu estava terminando de assinar os últimos relatórios para mandar ao Coronel Matias, quando escutei os gritos do Tenente Klaus que chamava pelo nome de Helena. Sem entender o que estava acontecendo, me levantei para ir ver do que se tratava, ao sair da minha sala constatei vários soldados olhando para o andar de baixo. Me aproximei para olhar o que os outros subordinados estavam vendo. Senti um frio na espinha ao ver Klaus desesperado segurando a cabeça de Helena que parecia estar sangrando pela queda, pelo o que percebi ela havia rolado escada abaixo, além disso, o balde estava de um lado e a pequena escada do outro. Saí do meu transe quando ouvi Klaus dizendo: — Helena, abra os olhos. Por favor, acorde! Vocês saiam de cima, abram espaço para ela respirar melhor. A amiga de quarto ao perceber que se tratava de sua companheira, correu desesperada, se ajoelhando do lado de Klaus. — Meu Deus, o que aconteceu com ela? Como foi que ela caiu? — Avisei para ela descan