Capítulo 07

Helena Hernandes

Há quase duas semanas, eu estava vivendo um inferno nas mãos do general Cortez. Realmente o que me disseram sobre ele era totalmente verdade; era cruel quando resolvia aplicar seus castigos em quem ousava o desafiar. Não foi diferente comigo.

Diariamente ele surgia na porta do meu alojamento às 04h00min da manhã para começar os exercícios diários e depois escolhia os piores trabalhos para me colocar. Contudo, não me fiz de mole, uma vez que meu treinamento havia sido esse na escola militar, não era desistir. Fui uma das melhores da minha sala e não seria aquele infeliz que iria me dizer o contrário.

Me sentei um pouco para descansar após terminar de limpar as sujeiras dos estábulos e Luísa me olhou preocupada e disse:

— Amiga, estou preocupada com você, seu rosto demonstra o quanto está cansada. Esse homem está sendo cruel demais aplicando essa punição. Isso para mim, é abuso de poder. 

Respirei pesadamente e disse, passando a mão em meu rosto:

— Não posso fazer nada, Luísa. Ele é meu superior, e eu se teimar, as consequências serão piores.

 — Isso que ele está fazendo já é maldade, Helena. Nenhum superior pode agir desse modo. Olha como estão suas mãos, feridas de tanto trabalhar naquela parte da área florestal. Você deveria o denunciar. 

Lhe lancei um sorriso amargo e respondi:

— Luísa, creio que você ainda não entendeu; Cortez é um general, seria a palavra dele contra a minha. E eu sou apenas uma soldada em início de carreira.

— É verdade, ainda tem mais essa. Mas deve ter uma maneira de acabar com isso. 

Me levantei pegando minhas coisas para ir para o alojamento e comentei:

— Vamos esquecer isso. Hoje estou tão cansada que nem quero comer. Irei tomar um banho e me deitar para aproveitar as horas que ainda tenho para descansar.

Ela concordou e me acompanhou. 

No caminho avistei o General Cortez conversando com o Tenente Klaus. O ignorei completamente e entrei para o quartel. Tomei um banho rápido e me deitei para dormir. 

Na manhã seguinte, como previsto, ele já estava do lado da minha cama me esperando. Levantei pegando o meu uniforme de treino e o segui calada. Ele apenas me observava e também continuou em silêncio.

Cada dia, Cortez colocava os treinos mais pesados e longos. Ás vezes jurava que ele pensava que eu era alguma máquina, ou melhor, um robô. 

Coloquei meu pé sobre o banco para amarrar meu tênis e percebi que ele me observava maliciosamente, principalmente na região da minha bunda. Ainda era um safado que nem sabia disfarçar. Me alonguei em silêncio e comecei os exercícios. 

Quando finalmente terminei, me sentei, bebericando minha água em silêncio e ele se pronunciou, me olhando:

— Hoje quero que você ajude no andar de cima na limpeza do quartel. Leve uma escada, quero as paredes e o forro muito bem limpos.

Suspirei fundo, mas não disse nada. Limpar aquele andar acabaria comigo, já andava tão exausta, contudo, apenas o respondi formalmente.

— Tudo bem. É só isso ou lavarei os banheiros também?

— Acredito que isso ficará para amanhã. Bom, soldada, eu preciso ir. Espero encontrar tudo impecável! 

Ele se retirou me dando as costas.

Após descansar um pouco, tomei um banho e meu café da manhã para seguir com as ordens daquele maldito desgraçado. 

As paredes estavam imundas, mas mesmo assim, comecei a limpar e esfregar bem com sabão e a sujeira ia saindo lentamente. 

Já passava das onze quando observei o Tenente Klaus me olhando de maneira doce e se aproximando ao me ver descansando.

 — Hernandes, nossa, isso aqui está impecável! Nem os faxineiros dão conta de deixar assim.

Lhe lancei um sorriso amargo e comentei:

 — Se eu deixar um vestígio de sujeira, as consequências não serão nada boas. Bom, preciso terminar aqui, porque ainda tenho minhas tarefas para realizar.

 — Sim, claro. Não acho justo o que o General Cortez está fazendo com você, falarei com ele sobre isso. 

Neguei, recusando sua ajuda e disse:

 — Por favor, não faça isso. Só irá piorar as coisas para mim, é melhor deixar como está.

 — Admiro sua coragem, soldada. Você não abaixa sua cabeça fácil. 

Me levantei do chão e senti minha visão ficar embaçada e uma vertigem tomar conta de mim e eu quase caio para trás, se não fosse o tenente me segurando. 

 — Soldada Hernandes, é melhor ir à enfermaria. Esse excesso de trabalho está lhe fazendo mal e causando um esgotamento físico enorme! – disse ele, preocupado.

Afastei-me recompondo e afirmei, pegando o balde e a pequena escada:

 — Não se preocupe, já disse que estou bem. Vai passar, deixe-me ir.

Andei na direção da escada e senti meu pé desfalecer e minha visão ficar escura outra vez e acabei tropeçando e rolando escada abaixo. Escutei apenas o grito do tenente e vi tudo se apagar na minha frente.

 — SOLDADA HELENA! SOCORRO, CHAMEM AJUDA!

Novamente recobrei a consciência, e pude ver um médico me examinando. Ao perceber que eu estava acordada, ele perguntou, enquanto passava gaze no meu rosto:

— Helena, está me ouvindo? Você sofreu um acidente na escada e quebrou a perna e também deslocou o braço. Só não está sentindo dor, devido aos analgésicos. 

Percebi que ainda estava no mesmo local e perguntei:

— Ainda estou no chão, doutor?

— Sim, estamos esperando os paramédicos para te deslocar para o hospital.

 Senti minha visão embaçada e apaguei mais uma vez. 

Quando acordei, percebi que já estava em uma sala deitada numa cama. Olhei para o lado e vi minha amiga dormindo sobre a poltrona e a chamei pelo seu nome.

— Luísa? 

Ela se espantou me olhando, e logo levantou-se vindo até mim.

— Amiga, finalmente! Que susto você me deu, dormiu por quase três dias.

 — Nossa, tudo isso? Mas não me lembro do que aconteceu direito, ainda está tudo confuso.

 Luísa disse, me olhando séria:

— Você teve uma vertigem e tropeçou no degrau da escada. Quando avistei aquele grupo, fui ver o que era e lá estava você, caída em uma poça de sangue. Tudo por culpa daquele desgraçado do general, nem para ele rolar escada abaixo, ele merecia.

— Luísa, para com isso. 

Ela protestou e se expressou, ainda brava:

— Peguei ódio daquele homem. Falo só o necessário e faço meu trabalho, quero distância desse ser nojento. Todo mundo olha torto para ele no quartel pela imensa maldade que fez a você.

— Não me fale, não quero saber desse homem. Assim que minha penitência acabar, quero o máximo de distância possível dele.

Luísa então diz, lembrando de algo:

— Esqueci-me de falar que você trabalhará na parte administrativa até se recuperar de sua perna. Ordem do Coronel Matias.

— Pelo menos uma notícia boa, assim ficarei bem distante desse louco! 

Ela disse sorrindo:

— Exatamente, amiga. Quero te mostrar o apartamento que encontrei no final de semana, acredito que você vai gostar!

Ela se aproximou o celular para me mostrar as fotos e eu olhei atentamente.

 O apartamento tinha dois quartos, uma pequena cozinha, uma sala e um banheiro. Existia também uma varanda, e tudo indicava que parecia ser ótimo para nosso bolso e se localizava em um bairro próximo ao quartel.

Então eu disse alegre:

— Por mim pode fechar negócio. Gostei do apartamento, apesar de pequeno, é lindo. — Luísa deu gritinhos e me abraçou. Senti meu braço doer e soltei um gemido. — Ai, cuidado!

— Me desculpe, amiga, não fiz por mal. Deixe-me ajeitar o seu travesseiro. Fiquei muito empolgada!

— Imagino, amiga, agora me deixe descansar e vá para casa. Estou bem aqui no hospital, não se preocupe! 

Ela sorriu e falou:

— Volto amanhã, agora durma.

Quando acordei, Luísa não estava mais ali, já havia se retirado.

 O doutor passou para avaliar minha perna e meu braço, e também para passar a medicação para aliviar a dor. A sensação de estar impotente era horrível, sem falar que minha perna coçava e meu braço latejava.

Na hora de comer, foi terrível e me sentia bastante desconfortável. Mas a enfermeira teve muita paciência comigo. Esperava que a próxima também seja assim. 

Suspirei pesadamente. Mas que inferno eu fui me meter?

Olhei para a minha mão e vi que ela estava áspera de tanto trabalho. Tomara que aquele filho da puta não pegue implicância comigo mais uma vez, pois se isso continuasse, iria pedir minha transferência. Não queria mais trabalhar assim ou sofrer aquele perseguição, preferiria ir para outro lugar. 

O medicamento começou a fazer efeito e adormeci. 

Quando despertei, tomei um susto. Ele estava lá, me olhando sério com um buquê de flores coloridas. Era sério? Me fez mal e depois pensou que flores iriam aplacar minha raiva?

Enquanto o encarava com o semblante fechado, ele se pronunciou sem jeito:

— Helena, sei que sou a última pessoa que você quer ver em sua frente, mas quero que me escute, por favor.

Era até difícil de acreditar que ele estava sendo educado e gentil. Apenas o encarei, sem saber o que dizer. 

Realmente já não bastava está sofrendo de dor, a minha noite ainda teria que terminar sendo atormentada por aquele homem?

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