Helena Hernandes
Há quase duas semanas, eu estava vivendo um inferno nas mãos do general Cortez. Realmente o que me disseram sobre ele era totalmente verdade; era cruel quando resolvia aplicar seus castigos em quem ousava o desafiar. Não foi diferente comigo.
Diariamente ele surgia na porta do meu alojamento às 04h00min da manhã para começar os exercícios diários e depois escolhia os piores trabalhos para me colocar. Contudo, não me fiz de mole, uma vez que meu treinamento havia sido esse na escola militar, não era desistir. Fui uma das melhores da minha sala e não seria aquele infeliz que iria me dizer o contrário.
Me sentei um pouco para descansar após terminar de limpar as sujeiras dos estábulos e Luísa me olhou preocupada e disse:
— Amiga, estou preocupada com você, seu rosto demonstra o quanto está cansada. Esse homem está sendo cruel demais aplicando essa punição. Isso para mim, é abuso de poder.
Respirei pesadamente e disse, passando a mão em meu rosto:
— Não posso fazer nada, Luísa. Ele é meu superior, e eu se teimar, as consequências serão piores.
— Isso que ele está fazendo já é maldade, Helena. Nenhum superior pode agir desse modo. Olha como estão suas mãos, feridas de tanto trabalhar naquela parte da área florestal. Você deveria o denunciar.
Lhe lancei um sorriso amargo e respondi:
— Luísa, creio que você ainda não entendeu; Cortez é um general, seria a palavra dele contra a minha. E eu sou apenas uma soldada em início de carreira.
— É verdade, ainda tem mais essa. Mas deve ter uma maneira de acabar com isso.
Me levantei pegando minhas coisas para ir para o alojamento e comentei:
— Vamos esquecer isso. Hoje estou tão cansada que nem quero comer. Irei tomar um banho e me deitar para aproveitar as horas que ainda tenho para descansar.
Ela concordou e me acompanhou.
No caminho avistei o General Cortez conversando com o Tenente Klaus. O ignorei completamente e entrei para o quartel. Tomei um banho rápido e me deitei para dormir.
Na manhã seguinte, como previsto, ele já estava do lado da minha cama me esperando. Levantei pegando o meu uniforme de treino e o segui calada. Ele apenas me observava e também continuou em silêncio.
Cada dia, Cortez colocava os treinos mais pesados e longos. Ás vezes jurava que ele pensava que eu era alguma máquina, ou melhor, um robô.
Coloquei meu pé sobre o banco para amarrar meu tênis e percebi que ele me observava maliciosamente, principalmente na região da minha bunda. Ainda era um safado que nem sabia disfarçar. Me alonguei em silêncio e comecei os exercícios.
Quando finalmente terminei, me sentei, bebericando minha água em silêncio e ele se pronunciou, me olhando:
— Hoje quero que você ajude no andar de cima na limpeza do quartel. Leve uma escada, quero as paredes e o forro muito bem limpos.
Suspirei fundo, mas não disse nada. Limpar aquele andar acabaria comigo, já andava tão exausta, contudo, apenas o respondi formalmente.
— Tudo bem. É só isso ou lavarei os banheiros também?
— Acredito que isso ficará para amanhã. Bom, soldada, eu preciso ir. Espero encontrar tudo impecável!
Ele se retirou me dando as costas.
Após descansar um pouco, tomei um banho e meu café da manhã para seguir com as ordens daquele maldito desgraçado.
As paredes estavam imundas, mas mesmo assim, comecei a limpar e esfregar bem com sabão e a sujeira ia saindo lentamente.
Já passava das onze quando observei o Tenente Klaus me olhando de maneira doce e se aproximando ao me ver descansando.
— Hernandes, nossa, isso aqui está impecável! Nem os faxineiros dão conta de deixar assim.
Lhe lancei um sorriso amargo e comentei:
— Se eu deixar um vestígio de sujeira, as consequências não serão nada boas. Bom, preciso terminar aqui, porque ainda tenho minhas tarefas para realizar.
— Sim, claro. Não acho justo o que o General Cortez está fazendo com você, falarei com ele sobre isso.
Neguei, recusando sua ajuda e disse:
— Por favor, não faça isso. Só irá piorar as coisas para mim, é melhor deixar como está.
— Admiro sua coragem, soldada. Você não abaixa sua cabeça fácil.
Me levantei do chão e senti minha visão ficar embaçada e uma vertigem tomar conta de mim e eu quase caio para trás, se não fosse o tenente me segurando.
— Soldada Hernandes, é melhor ir à enfermaria. Esse excesso de trabalho está lhe fazendo mal e causando um esgotamento físico enorme! – disse ele, preocupado.
Afastei-me recompondo e afirmei, pegando o balde e a pequena escada:
— Não se preocupe, já disse que estou bem. Vai passar, deixe-me ir.
Andei na direção da escada e senti meu pé desfalecer e minha visão ficar escura outra vez e acabei tropeçando e rolando escada abaixo. Escutei apenas o grito do tenente e vi tudo se apagar na minha frente.
— SOLDADA HELENA! SOCORRO, CHAMEM AJUDA!
Novamente recobrei a consciência, e pude ver um médico me examinando. Ao perceber que eu estava acordada, ele perguntou, enquanto passava gaze no meu rosto:
— Helena, está me ouvindo? Você sofreu um acidente na escada e quebrou a perna e também deslocou o braço. Só não está sentindo dor, devido aos analgésicos.
Percebi que ainda estava no mesmo local e perguntei:
— Ainda estou no chão, doutor?
— Sim, estamos esperando os paramédicos para te deslocar para o hospital.
Senti minha visão embaçada e apaguei mais uma vez.
Quando acordei, percebi que já estava em uma sala deitada numa cama. Olhei para o lado e vi minha amiga dormindo sobre a poltrona e a chamei pelo seu nome.
— Luísa?
Ela se espantou me olhando, e logo levantou-se vindo até mim.
— Amiga, finalmente! Que susto você me deu, dormiu por quase três dias.
— Nossa, tudo isso? Mas não me lembro do que aconteceu direito, ainda está tudo confuso.
Luísa disse, me olhando séria:
— Você teve uma vertigem e tropeçou no degrau da escada. Quando avistei aquele grupo, fui ver o que era e lá estava você, caída em uma poça de sangue. Tudo por culpa daquele desgraçado do general, nem para ele rolar escada abaixo, ele merecia.
— Luísa, para com isso.
Ela protestou e se expressou, ainda brava:
— Peguei ódio daquele homem. Falo só o necessário e faço meu trabalho, quero distância desse ser nojento. Todo mundo olha torto para ele no quartel pela imensa maldade que fez a você.
— Não me fale, não quero saber desse homem. Assim que minha penitência acabar, quero o máximo de distância possível dele.
Luísa então diz, lembrando de algo:
— Esqueci-me de falar que você trabalhará na parte administrativa até se recuperar de sua perna. Ordem do Coronel Matias.
— Pelo menos uma notícia boa, assim ficarei bem distante desse louco!
Ela disse sorrindo:
— Exatamente, amiga. Quero te mostrar o apartamento que encontrei no final de semana, acredito que você vai gostar!
Ela se aproximou o celular para me mostrar as fotos e eu olhei atentamente.
O apartamento tinha dois quartos, uma pequena cozinha, uma sala e um banheiro. Existia também uma varanda, e tudo indicava que parecia ser ótimo para nosso bolso e se localizava em um bairro próximo ao quartel.
Então eu disse alegre:
— Por mim pode fechar negócio. Gostei do apartamento, apesar de pequeno, é lindo. — Luísa deu gritinhos e me abraçou. Senti meu braço doer e soltei um gemido. — Ai, cuidado!
— Me desculpe, amiga, não fiz por mal. Deixe-me ajeitar o seu travesseiro. Fiquei muito empolgada!
— Imagino, amiga, agora me deixe descansar e vá para casa. Estou bem aqui no hospital, não se preocupe!
Ela sorriu e falou:
— Volto amanhã, agora durma.
Quando acordei, Luísa não estava mais ali, já havia se retirado.
O doutor passou para avaliar minha perna e meu braço, e também para passar a medicação para aliviar a dor. A sensação de estar impotente era horrível, sem falar que minha perna coçava e meu braço latejava.
Na hora de comer, foi terrível e me sentia bastante desconfortável. Mas a enfermeira teve muita paciência comigo. Esperava que a próxima também seja assim.
Suspirei pesadamente. Mas que inferno eu fui me meter?
Olhei para a minha mão e vi que ela estava áspera de tanto trabalho. Tomara que aquele filho da puta não pegue implicância comigo mais uma vez, pois se isso continuasse, iria pedir minha transferência. Não queria mais trabalhar assim ou sofrer aquele perseguição, preferiria ir para outro lugar.
O medicamento começou a fazer efeito e adormeci.
Quando despertei, tomei um susto. Ele estava lá, me olhando sério com um buquê de flores coloridas. Era sério? Me fez mal e depois pensou que flores iriam aplacar minha raiva?
Enquanto o encarava com o semblante fechado, ele se pronunciou sem jeito:
— Helena, sei que sou a última pessoa que você quer ver em sua frente, mas quero que me escute, por favor.
Era até difícil de acreditar que ele estava sendo educado e gentil. Apenas o encarei, sem saber o que dizer.
Realmente já não bastava está sofrendo de dor, a minha noite ainda teria que terminar sendo atormentada por aquele homem?
Fernando Cortez Eu estava terminando de assinar os últimos relatórios para mandar ao Coronel Matias, quando escutei os gritos do Tenente Klaus que chamava pelo nome de Helena. Sem entender o que estava acontecendo, me levantei para ir ver do que se tratava, ao sair da minha sala constatei vários soldados olhando para o andar de baixo. Me aproximei para olhar o que os outros subordinados estavam vendo. Senti um frio na espinha ao ver Klaus desesperado segurando a cabeça de Helena que parecia estar sangrando pela queda, pelo o que percebi ela havia rolado escada abaixo, além disso, o balde estava de um lado e a pequena escada do outro. Saí do meu transe quando ouvi Klaus dizendo: — Helena, abra os olhos. Por favor, acorde! Vocês saiam de cima, abram espaço para ela respirar melhor. A amiga de quarto ao perceber que se tratava de sua companheira, correu desesperada, se ajoelhando do lado de Klaus. — Meu Deus, o que aconteceu com ela? Como foi que ela caiu? — Avisei para ela descan
Helena Hernandes Ver o general Cortez com aquele buquê nas mãos foi muito estranho e a maneira que tentou se desculpar foi mais bizarro ainda. Notei o quanto era desconfortável para o próprio pedir perdão, por isso não aceitei nada e muito menos aquelas flores coloridas e cafonas. Aquilo para mim, foi como uma afronta, não estava morta para receber flores. Suspirei pesadamente. Sentia que aquele homem ainda me daria uma grande dor de cabeça. Tentaria me manter sempre ocupada e se fosse possível, o mais longe dele. Cortez não era um cara fácil de lidar, o jeito que o rejeitei e não aceitei as suas desculpas, eu tive certeza que o deixou abalado, contudo, eu não me importava. Ele merecia carregar aquela culpa, uma vez que me mandou trabalhar como um animal sem descanso. As minhas mãos ainda estavam com calos pelo serviço pesado que fui obrigada a realizar nas hortas. Às vezes questionava-me o quão azarada eu era para ainda senti-me atraída por um babaca como ele. Saí dos meus dev
Fernando Cortez Duas semanas depois Havia se passado algumas semanas desde o acidente de Helena. Os olhares julgadores sobre mim no quartel pareciam ter acabado e tudo voltara ao normal novamente. Soube por Klaus que a soldada teve alta uma semana depois e estava se recuperando em seu novo apartamento que alugou com a colega de quarto, Luísa. Luísa continuava sempre a me olhar com ódio, mas disfarçava por temer a punição. Pelo menos ela sabia guardar o ódio para si, diferente de Hernandes que adorava me alfinetar. Após o beijo que dei em supetão no hospital, não voltei a procurar por Helena. Nem eu mesmo acreditava que havia feito tal coisa. Fazia muito tempo que não beijava os lábios de uma mulher, contudo, a bebida havia me dado uma certa coragem para realizar algo que desejava, mas negava a mim mesmo. Helena mexia comigo e, com toda certeza, tinha medo do que isso me causaria no futuro. Sempre me pegava pensando nela, lembrando-me de seus olhos castanhos me olhando timidamente
Helena Hernandes Cortez me beijava com tanta intensidade e desejo que não conseguia resistir e retribui, aceitando sua boca deliciosa sobre a minha. Deveria ser mais relutante e difícil, entretanto, não conseguia. Era como se o general tivesse um poder sobre mim que eu não conseguia ouvir a razão, como um feitiço que me prendia ao seu olhar sedutor. Céus, por que tinha que ser tão fraca diante daquele homem? Afinal, qual era a dele? Uma hora me desejava, na outra me odiava. Ás vezes eu tinha medo no que daria aquela atração toda. Ele me puxou para si, me carregando em seu colo. E continuava devorando meus lábios de maneira bruta. Tentei me afastar, contudo, ele não deixava. O beijo estava gostoso, mas o desconforto em minha perna não. Então virei meu rosto, o afastando, enquanto Cortez me olhava sério por eu ter parado o beijo e confessei com uma expressão de dor: — Olha, sei que o beijo está gostoso, eu não nego. Mas nessa posição, infelizmente não dá. Minha perna está doendo.
Fernando Cortez Enquanto caminhava em direção ao meu escritório, não deixava de pensar na noite anterior em que estive na casa de Helena, e de como conseguimos conversar de maneira serena e pacífica. Se bem que não sabia se podíamos chamar de conversa aquilo que estávamos fazendo. O problema era que eu não conseguia me concentrar em conversar com ela sobre qualquer coisa, com aquele mini pijama que Helena estava vestindo. Dava para ver seus seios perfeitamente, pois a parte do pijama era quase transparente e marcava seu corpo. Era muito tentador conversar e olha-la, e quando ela mordia aqueles lábios me deixava ainda mais louco. A imaginava me chupando com aquela boca deliciosa que a possuía. Então chegou uma hora em que não controlei meus instintos e a beijei. As trocas de carícias ficaram tão quentes que sentia a necessidade de me enfiar nela e saciar minha vontade. Mas minha felicidade durou pouco quando Helena afirmou que daquela maneira não queria, pois sua perna causaria muito
Helena Hernandes Desde que Cortez entrou em meu apartamento, não me largou. Eu mal tinha tempo de respirar e ele me beija novamente. Segurei seu rosto com minhas duas mãos e o afastei para olha-lo. Ele me encarava com uma expressão confusa e perguntou: — O que foi? Estou te machucando ou te causando alguma dor? Fiz um carinho em sua barba e respondi, ainda sorrindo: — Não é isso. É que preciso tomar um ar, recuperar o fôlego. — Está bem, te darei uns minutos de descanso. Ele sorriu, levantou-se e se sentou no sofá enquanto eu fazia o mesmo. Ajeitei meu cabelo que devia está parecendo com o de uma bruxa e comentei: — Obrigada, general. Preciso de fôlego. Ele me olhou sério e pegou algo em cima da minha escrivaninha que eu nem havia percebido estar ali, e me entregou. — Comprei para você, espero que goste. Foram os mais caros. Cortez sorriu enquanto eu abria a embalagem de decoração sem saber o que era. Olhei, surpresa. Nossa, chocolates do Cacau Show. Sorri e comentei ent
Fernando Cortez Um mês depois… Havia se passado exatamente um mês que não via Helena ou sabia notícias dela. Após ter sido bastante grosso na frente de sua amiga sobre nós dois, não tive coragem de procurá-la. Mas eu percebi que a tinha machucado ao observa-la me olhar com os olhos tristonhos. Como sempre, conseguia estragar tudo que era bom na minha vida, agindo como um verdadeiro idiota. No dia seguinte ela estaria de volta para começar a trabalhar na administração e eu me sentia mais desesperado ao saber disso. Helena ficaria mais perto e seria impossível não encontrar com a própria por aqui. Mas eu tentaria evita-la a todo o custo. Não tinha coragem de encara-la, ainda não. Concentrei-me em trabalhar, era a única coisa que poderia fazer para ocupar minha cabeça e parar de pensar em besteiras. A semana havia passado rápido, e naquele dia, eu estaria de plantão. Só podia tirar uma folga no próximo mês. Eu estava terminando de assinar algumas documentações quando ouvi alguém bat
Helena Hernandes Após passar a noite na enfermaria, finalmente o médico me liberou para voltar ao meu alojamento. Quando entrei, vi Luísa terminando de amarrar os cadarços de suas botas. Me sentei em minha cama, abrindo o armário e procurando um dos meus uniformes para tomar meu banho e seguir para área administrativa. Ela então perguntou curiosa, me observando: — Oi, bom dia. Eu dormi com você? Para nem me cumprimentar mais?! Revirei os olhos e disse, enquanto tirava minha roupa: — Ah, Luísa, minha noite não foi uma das melhores. Acredita que tive que dormir na enfermaria devido à Míriam?! — O quê? O que foi que aquela vaca aprontou com você? Juro que arrebento a cara dela dessa vez! Me levantei, seguindo para o banheiro enquanto Luísa me acompanhava, segurando minhas coisa. Tirei minha toalha e comentei, ligando o chuveiro: — Aquela mocreia me cercou com outras soldadas quando vinha do refeitório e começou com seus joguinhos de deboche. E sempre que respondia à altura, el