Os dias estavam passando rápidos, Marcos estava me ajudando a restaurar o canteiro de flores da mamãe, depois de finalmente ter o aval do meu pai começamos a trabalhar nele, desde o dia em que ele tinha dormido aqui em casa e não paramos mais, todos os dias pela manhã ele atravessava a cidade e cuidávamos do jardim. Mesmo depois de minha relutância quanto a atrapalhar seu trabalho, ele continuava a vir, não que eu estivesse reclamando, estava adorando passar cada minuto ao lado dele, realmente estávamos criando novas memórias. O que ajudou meu pai a dar um novo passo, ele agora estava dirigindo todos os dias até a cidade vizinha para o tratamento, só me deixou ir dois dias, para programa em família, fora isso tem sido apenas ele, a velha picape e a estrada. Mesmo ficando apreensiva no começo, sabia que não poderia vigiá-lo vinte e quatro horas por dia. O médico me assegurou que um voto de confiança o ajudaria a se esforçar cada vez mais para voltar a sua vida. Então o que Marcos e
Ela não tinha um carro e meu pai tinha ido com a picape para a clínica, não me restavam muitas opções. Marcos estava ocupado, como me informou há pouco tempo e Bi com certeza estava no hospital, só me restou Bete. Eu liguei tentando manter a calma, a última coisa que precisava agora era deixar minha amiga grávida com os nervos à flor da pele. Ela veio rapidamente e não demorou para que contássemos tudo enquanto íamos até o hospital. Bete parecia furiosa, tanto ou mais do que eu, aparentava estar a ponto de abrir o chão ao meio e enfiar o bastardo direto no inferno. — Eu vou ligar para Fernando, você pode acompanhar ela? — Não precisa. — Sara tentou mais uma vez negar ajuda, mas não adiantava, com a determinação que estávamos naquele momento nada ia nos parar. — Shiii, quietinha aí. Vai ser um prazer acompanhar você, principalmente quando prestar queixa contra aquele infeliz dos infernos! — Bete exclamou com os olhos felizes e quase espumando de ódio. Liguei para Fernando e esper
A noite passou de maneira torturante, mesmo que eu tenha ido dormir tranquilamente, com o coração alegre, os pesadelos estavam lá para me fazer sofrer. Eu estava sozinha novamente, olhava em volta e não avistava ninguém. Então, de repente, tinha um bebê morto em meus braços, sangue por todo lado, minhas mãos, meu vestido, o chão. E não importava o que eu fizesse o bebê não voltava a si e ninguém aparecia para me socorrer. Despertei chorando com o coração batendo a milhão em meu peito. Eles tinham voltado. Me forcei a deitar novamente tentando me acalmar. Encarei as paredes do quarto cercada de boas memórias, memórias que agora eu sabia que tinham sido em tudo verdadeiras, não apenas uma encenação de um cara querendo me levar pra cama. Mas, mesmo assim, elas não me trouxeram conforto, porque se eu percorresse o caminho de cada uma delas, me levaria ao mesmo resultado: eu perdendo meu filho em uma rodoviária. Respirei fundo e tentei me apegar as coisas boas. Há tudo o que tinha con
— Ei! — Fábio gritou, e de repente pingos de água fria nos atingiram. Ele nos mirou certeiro com a mangueira, fazendo com que nos separássemos. Corri até ele, e assim que tomei a mangueira de suas mãos Sara apareceu pronta para o trabalho. Marcos iria levá-la, não queríamos correr riscos, e eu iria buscá-la no fim do expediente, não que ela soubesse da última parte. — E então, prontos para começar? — meu pai perguntou, aparecendo vestido com um macacão velho que ele usava para jardinagem. Eu sorri, ele tinha comprado aquilo apenas para irritar minha mãe. Plantamos as mudas de flores que eu e Marcos tínhamos comprado, e por insistência de Fábio e fraqueza do meu pai, reservamos um espacinho para as "verduras do Fá", como ele mesmo nomeou o espaço que plantou algumas cenouras. Não demorou para ele pegar no sono depois de um banho e um lanche, pulamos erroneamente o almoço, mas ninguém pareceu se importar. Meu pai estava tão feliz com o novo aprendiz, parecia mesmo um avô e Fábio es
Pegamos o caminho para casa e quanto mais eu pensava no que ela tinha falado, mais rápido meu coração bombeava o sangue me deixando em um estado terrível. Meu pai estava passando por um momento difícil, ela não o conhecia, nem o que tinha passado. Sei que isso não era motivos para as decisões ruins, mas eu o entendia, demorei a entender que ele estava em uma situação tão parecida com a minha há cinco anos, mas agora que finalmente compreendi não deixaria que ninguém o diminuísse. Ele estava lutando, na verdade, esteve lutando desde que mamãe adoecera. Tanto ele quanto eu havíamos tomado as piores decisões no momento de dificuldade e teríamos que conviver com as consequências disso pelo resto de nossas vidas. Mas, não ia sentar e assistir as pessoas o crucificarem. — Emily você está bem? — Marcos questionou, chamando minha atenção, me tirando da terra dos meus pensamentos profundos. — Você está resmungando sozinha — ele concluiu com um sorriso nos lábios. Nós já havíamos parado e eu
A noite parecia mais longa do que o normal, mesmo depois de me deitar não consegui aquietar meus pensamentos. Eu tinha ideias sobre o que poderia oferecer para Carlos e Marcos, mas o mais importante era fazer um novo currículo e enviar. Então me ergui e me arrastei até o notebook, liguei e comecei a trabalhar. Refiz meu currículo e enviei para Carlos, direto no celular pessoal. Mas enquanto trabalhava em algumas planilhas me senti incomodada, eu estava me aproveitando da amizade para conseguir um emprego. Ele mesmo tinha dito para Bete que daria trabalho aos amigos, rapidamente apaguei a mensagem. Não teria problema certo? Era uma empresa como qualquer outra. Anexei novamente o currículo a mensagem e ia clicar em enviar. Só que com isso eu estaria dando razão aquela maluca da mãe de Marcos, apaguei a mensagem decidida a não fazer. Conseguiria um trabalho por meus méritos, não ia ficar dependendo dos meus amigos. Depois de pesquisar algumas empresas na cidade vizinha eu me senti ma
— Emily, tem gente aqui — ele me repreendeu como na noite passada, me fazendo bufar frustrada. — Vamos pra casa, só nós dois — Marcos sussurrou no pé do ouvido, me fazendo ferver de desejo.Não íamos para casa. Não agora.Me desvencilhei de seu corpo e comecei a sair da água esperando ser seguida por ele. A feição em seu rosto era uma mistura de frustração e desejo. Enquanto isso eu sorria sabendo que logo poderíamos saciar a nossa vontade louca.— A caminhonete fica para o outro lado — ele gritou atrás de mim. — A não ser que esteja planejando fazer isso aqui no mato. — Eu gargalhei alto e corri mais rápido por entre as árvores assim que avistei a cabana.— Você está bem pervertido senhor Marcos.Foi a única coisa que tive tempo de dizer assim que coloquei a chave na maçaneta, pois o corpo de Marcos se chocou com o meu, me prendendo contra a parede.— Repete — sussurrou, mordendo o lóbulo da orelha e me fazendo arfar.— Pervertido? — Ele rosnou um não e se afastou um pouco. — Senhor
Na segunda-feira bem cedo eu já estava de pé, animada com tudo o que tinha planejado fazer na cabana. Depois de conversar com meu pai, concordamos em deixar que Marcos me ajudasse nos concertos na cabana. Meu pai passou no armazém e trouxe tudo o que íamos precisar, madeira, pregos, tinta... Marcos e eu colocamos tudo na picape dele e partimos determinados em terminar tudo o mais rápido possível, para reunir todos e comemorarmos. — Carlos e eu analisamos seu currículo — Marcos falou no meio do caminho como quem não quer nada, mas eu já havia entendido a vontade dele que eu me juntasse a eles. — Você é qualificada até demais para trabalhar no clube, não acha? — Como vocês... Como conseguiram meu currículo? Eu apaguei as mensagens — questionei gaguejando, curiosa em como eles tinham colocado as mãos no meu currículo. — Eu peguei na sua casa, sua escrivaninha estava cheia deles — ele respondeu com naturalidade. — Céus Marcos, isso é ainda pior do que se eu tivesse enviado no e-mail!