Rosely sentia seus ombros doloridos. Havia tanto em sua cabeça: o bebê chutando pela primeira vez, o veneno que ainda corria nas veias de seu amado, o medo de seus pais estarem certos… tantos problemas que a deixavam exausta. E para piorar, ainda precisava decidir se Bjorn era um aliado ou inimigo.Mal o dia amanheceu e já estava na loja de especiarias, feliz, pois, finalmente, havia conseguido preparar uma poção eficiente o suficiente para neutralizar o efeito de todas as toxinas.– Fico feliz em ajudar, mas preciso dizer que isso sairá caro – disse o alquimista depois de um tempo. – Digo, por conta dos altos impostos.– Impostos? – ela repetiu. – Pensei que numa vila tão pequena os impostos fossem menores.A verdade é que ela queria mais informações sobre o que o que havia ouvido na taverna.– Você é da capital, imagino – ele comentou com um sorriso de agastamento. – Isso é uma terra sem lei. Tenha os contatos certos e veja os olhos se fecharem para os seus delitos.E como ela apen
Rosely ouviu a decisão do marido e sorriu com orgulho, estava impressionada com o quanto ele vinha tomando boas decisões, melhorando a vida de seu povo sem ter que derramar sangue, ou mesmo usar a força. Os livros sobre diplomacia estavam sendo realmente úteis.Como de costume, retomou seu caminho pelos corredores do castelo, carregando seus pesados livros de feitiços. Acomodou-se com gazebo, sentindo o cheiro de pinho e abriu um antigo codex sobre fantasmas e aparições, lembrando-se do vulto que, constantemente retornava aos seus pensamentos.Era normal que lugares antigos tivessem espíritos, mas esse realmente parecia pedir ajuda.Foi tirada de seus devaneios quando uma moça se aproximou, enchendo uma xícara de chá e deixando-a sobre a mesinha rente à cadeira, e teria ido embora se não tivesse sido chamada. – Senhora? – questionou com um olhar acanhado. – Há algo mais em que possa ajudá-la?– Na verdade, há sim – Rosely concordou, sentando-se para observá-la. – Das servas, há algum
– Quem diria, dona Rosely agora é a rainha – Eleonore comentou com um sorriso grande depois de ler a carta enviada pela patroa. – Deve ser legal viver em um conto de fadas.– Não seja tão ingênua – o marido resmungou, mesmo que, até então, estivesse apenas ouvindo o que ela dizia. – As coisas devem estar um inferno depois de um golpe de estado, mesmo que tecnicamente o trono fosse dele por direito. O sorriso sumiu do rosto dela.– Queria acreditar que finalmente ela estava tendo bons momentos. – murmurou, agora olhando para as próprias mãos apoiadas no colo.Millan abriu a boca, sem ter certeza do que deveria dizer, mas a conversa foi interrompida quando o pequeno Thomas surgiu na cozinha, carregando com dificuldade uma cesta de amoras. Ao seu lado, Charlotte o acompanhava, como sempre, com Sebastian em seu encalço.– Está com fome? – Millan perguntou com um grande sorriso enquanto pegava o filho nos braços. – Vamos lavar as mãos.Eleonore o viu se afastando, acompanhado por Sebasti
Com a aproximação do verão, as coisas pareciam estar ficando mais calmas. As primeiras colheitas davam frutos, o comércio efervescia no contato com os povos aliados – que passaram a transitar mais pelo reino –, e aos poucos, a pobreza diminuia exponencialmente. Inclusive os cofres reais também tornavam a encher.Naquele dia, Rosely estava cheia de energia, mesmo que estivesse andando com mais dificuldade depois de completar o nono mês de gestação, o que a estava deixando muito ansiosa. Não só ela, mas também, o rei e o próprio povo do reino.Aos poucos, sua distração acabou se tornando os estudos e sua nova obsessão: o fantasma no corredor.– Tem certeza de que isso é uma boa ideia? – Eslen perguntou, enquanto lia o amontoado de documentos que o enterraram no gabinete. – Seus pés estão muito inchados, você deveria manter repouso.– Estou gestante, não doente – Rosely explicou calmamente, suspirou fitando os pés que realmente doíam e então, ergueu os olhos de novo para o marido. – Al
– Rosely…Ela ouviu uma voz sussurrar seu nome. Piscou algumas vezes, confusa e demorou alguns segundos para perceber que era o parceiro.Sentou-se na cama, sentindo a respiração falha por conta da barriga volumosa e então, o viu: era Eslen, sentado na janela, recoberto pela penumbra, quase camuflado por suas roupas pretas.– Quer dar uma volta? – ele perguntou ao vê-la mais desperta.Rosely olhou para o lado, onde o marido deveria estar, se certificando que não era uma alucinação e então, tornou a encará-lo na janela.– Você deve estar ficando louco – resmungou mais para si do que para ele, mas mesmo assim, se aproximou da janela. Ele envolveu seu corpo com o manto real e seus olhos bicolores a fitaram, esperando por uma resposta.– Acho que estou ficando louca também – ela murmurou, subindo no umbral.E como se não pesasse nada, ele facilmente a ergueu, levando-a consigo floresta a dentro. Poderia usar sua velocidade sobre-humana, mas apenas caminhava um pouco mais rápido, mas o su
As primeiras estrelas começavam a surgir no céu quando ele lhe estendeu o buquê de belas rosas brancas. – Oh, são lindas, Isaiah – Rosely disse com um sorriso enquanto as cheirava.– Não tanto quanto você – respondeu o homem parecendo satisfeito.Rosely viu o braço erguido em sua direção e o segurou, recostando o rosto em seu ombro enquanto a carruagem deslizava pela estrada de pedras, úmidas pelos costumeiros chuviscos de fim de tarde londrinos. Estavam noivos mesmo antes de conseguirem falar, e agora que o casamento se aproximava, haviam recebido permissão das famílias para se conhecer melhor.Foi tirada de seus devaneios quando notou que estavam seguindo um caminho diferente do que conhecia, ergueu os olhos para questionar o noivo e recebeu um sorriso de canto.– Desculpe-me, não fiz o convite devidamente – ele explicou, beijando a mão dela. – Trouxe um chefe parisiense que irá cozinhar especialmente para você esta noite.Rosely piscou algumas vezes ao ouvir isso, sentindo um repe
– Não te ensinei nada? – uma voz feminina questionou e seu tom, apesar de acusatório, era divertido. – O que eu sempre digo? Nada acontece por acaso. E deixe de ser tão grosseiro.Entretanto, Rosely não conseguiu ouvir a resposta, pois, mesmo que fizesse um esforço, tentando se manter acordada, estava exausta demais e acabou desmaiando. Quando acordou, tempos depois, percebeu que estava num lugar desconhecido. Ouviu passos dentro do quarto e então, a viu.– Você dormiu bastante – disse uma mulher enorme, não só em altura, mas também em músculos, como um general.Foi quando Rosely a reconheceu como uma das pessoas que haviam a ajudado anteriormente, e pelo canto do olho, notou que o homem também estava ali, recostado à porta aberta, apenas observando-as com uma expressão fechada.Ele nada disse, apenas se se aproximou, trazendo consigo uma caixa que parecia daquelas usadas em ateliês para armazenar roupas, a colocou sobre a cama e passou a encarar a moça enferma. – Vista-se, a levare
O vento soprou frio e Rosely fechou o casaco, sentindo como se seus membros pudessem congelar a qualquer momento. O barco finalmente havia aportado no cais e ela se via seguindo a multidão que descia ao som dos sapatos batendo no piso de madeira.De onde estava, quase conseguia ver toda a vila, de tão pequena que era.Respirou fundo, de olhos fechados, e quando os abriu, disse a si mesma que não era possível voltar atrás. Afinal, não era mais bem vinda na casa dos pais e aquele era o castigo por sua desobediência. Continuou seu caminho, carregando sua única mala pesada, e parou somente quando ouviu seu nome sendo chamado. Olhou para trás, e notou que era Millan, o homem com quem vinha se correspondendo dias antes.– Fico feliz que tenha chegado bem – ele disse com um sorriso gentil enquanto pegava sua mala.– Obrigada – ela respondeu, mas não conseguiu devolver o sorriso.– Minha esposa limpou o casarão – Millan disse puxando assunto, já que a mulher pouco falava. – A senhorita tem