Caminhando pelos corredores escuros do castelo, equilibrando a lamparina sobre seus pesados livros, Rosely pensava no que poderia fazer para ajudar o marido quando, de repente, sentiu um par de mãos puxando-a para dentro de uma sala adjacente. Quase gritou com o susto, derrubando tudo no chão, e então, apertou o peito aliviada ao reconhecer de quem se tratava.– Ser rei está me deixando louco – Eslen desabafou baixinho, enfiando o rosto entre o ombro e o pescoço da esposa.– E você tem guardado tudo para si mesmo… – ela respondeu com um sorriso gentil, aproveitando a proximidade para acariciar os cabelos dele.Sentiu seu corpo sendo erguido do chão e quando deu por si, estava tendo suas costas depositadas nas almofadas confortáveis da sala de estudo. Suspirou, sentindo-o colar o rosto ao seu ventre, já bem mais aparente e aproveitou aquele momento tão necessário.– Quero te ver em vestimentas de gestante – ele disse de repente, esboçando um sorrisinho de pai orgulhoso.– Ora, não me l
Rosely viu, com surpresa, como, mesmo assolado por uma variedade de sintomas causados pelo veneno, Eslen continuava a trabalhar como se nada tivesse acontecido. E diante disso, ela pensou consigo mesma que precisava fazer algo a respeito.Remexeu nos pergaminhos enviados por Carolle.E assim, se seguiu uma série de noites em claro em seu quarto de estudo, tentando encontrar um antídoto que conseguisse neutralizar todas as toxinas identificadas. Havia conseguido neutralizadores para quase todas elas, exceto quatro – que, por algum motivo estranho –, mesmo sabendo do que se tratava, os reagentes conhecidos não funcionavam.Estava tão frustrada. Contudo, não teve tempo de se desanimar, pois, um burburinho começou a soar pelos corredores. Deixou o quarto, parando apenas para prestar atenção no que as empregadas conversavam e arregalou os olhos ao perceber que elas estavam falando sobre o veneno. Aparentemente, o culpado por trazê-lo para dentro do palácio havia sido encontrado.Entrou no
Rosely sentia seus ombros doloridos. Havia tanto em sua cabeça: o bebê chutando pela primeira vez, o veneno que ainda corria nas veias de seu amado, o medo de seus pais estarem certos… tantos problemas que a deixavam exausta. E para piorar, ainda precisava decidir se Bjorn era um aliado ou inimigo.Mal o dia amanheceu e já estava na loja de especiarias, feliz, pois, finalmente, havia conseguido preparar uma poção eficiente o suficiente para neutralizar o efeito de todas as toxinas.– Fico feliz em ajudar, mas preciso dizer que isso sairá caro – disse o alquimista depois de um tempo. – Digo, por conta dos altos impostos.– Impostos? – ela repetiu. – Pensei que numa vila tão pequena os impostos fossem menores.A verdade é que ela queria mais informações sobre o que o que havia ouvido na taverna.– Você é da capital, imagino – ele comentou com um sorriso de agastamento. – Isso é uma terra sem lei. Tenha os contatos certos e veja os olhos se fecharem para os seus delitos.E como ela apen
Rosely ouviu a decisão do marido e sorriu com orgulho, estava impressionada com o quanto ele vinha tomando boas decisões, melhorando a vida de seu povo sem ter que derramar sangue, ou mesmo usar a força. Os livros sobre diplomacia estavam sendo realmente úteis.Como de costume, retomou seu caminho pelos corredores do castelo, carregando seus pesados livros de feitiços. Acomodou-se com gazebo, sentindo o cheiro de pinho e abriu um antigo codex sobre fantasmas e aparições, lembrando-se do vulto que, constantemente retornava aos seus pensamentos.Era normal que lugares antigos tivessem espíritos, mas esse realmente parecia pedir ajuda.Foi tirada de seus devaneios quando uma moça se aproximou, enchendo uma xícara de chá e deixando-a sobre a mesinha rente à cadeira, e teria ido embora se não tivesse sido chamada. – Senhora? – questionou com um olhar acanhado. – Há algo mais em que possa ajudá-la?– Na verdade, há sim – Rosely concordou, sentando-se para observá-la. – Das servas, há algum
– Quem diria, dona Rosely agora é a rainha – Eleonore comentou com um sorriso grande depois de ler a carta enviada pela patroa. – Deve ser legal viver em um conto de fadas.– Não seja tão ingênua – o marido resmungou, mesmo que, até então, estivesse apenas ouvindo o que ela dizia. – As coisas devem estar um inferno depois de um golpe de estado, mesmo que tecnicamente o trono fosse dele por direito. O sorriso sumiu do rosto dela.– Queria acreditar que finalmente ela estava tendo bons momentos. – murmurou, agora olhando para as próprias mãos apoiadas no colo.Millan abriu a boca, sem ter certeza do que deveria dizer, mas a conversa foi interrompida quando o pequeno Thomas surgiu na cozinha, carregando com dificuldade uma cesta de amoras. Ao seu lado, Charlotte o acompanhava, como sempre, com Sebastian em seu encalço.– Está com fome? – Millan perguntou com um grande sorriso enquanto pegava o filho nos braços. – Vamos lavar as mãos.Eleonore o viu se afastando, acompanhado por Sebasti
Com a aproximação do verão, as coisas pareciam estar ficando mais calmas. As primeiras colheitas davam frutos, o comércio efervescia no contato com os povos aliados – que passaram a transitar mais pelo reino –, e aos poucos, a pobreza diminuia exponencialmente. Inclusive os cofres reais também tornavam a encher.Naquele dia, Rosely estava cheia de energia, mesmo que estivesse andando com mais dificuldade depois de completar o nono mês de gestação, o que a estava deixando muito ansiosa. Não só ela, mas também, o rei e o próprio povo do reino.Aos poucos, sua distração acabou se tornando os estudos e sua nova obsessão: o fantasma no corredor.– Tem certeza de que isso é uma boa ideia? – Eslen perguntou, enquanto lia o amontoado de documentos que o enterraram no gabinete. – Seus pés estão muito inchados, você deveria manter repouso.– Estou gestante, não doente – Rosely explicou calmamente, suspirou fitando os pés que realmente doíam e então, ergueu os olhos de novo para o marido. – Al
– Rosely…Ela ouviu uma voz sussurrar seu nome. Piscou algumas vezes, confusa e demorou alguns segundos para perceber que era o parceiro.Sentou-se na cama, sentindo a respiração falha por conta da barriga volumosa e então, o viu: era Eslen, sentado na janela, recoberto pela penumbra, quase camuflado por suas roupas pretas.– Quer dar uma volta? – ele perguntou ao vê-la mais desperta.Rosely olhou para o lado, onde o marido deveria estar, se certificando que não era uma alucinação e então, tornou a encará-lo na janela.– Você deve estar ficando louco – resmungou mais para si do que para ele, mas mesmo assim, se aproximou da janela. Ele envolveu seu corpo com o manto real e seus olhos bicolores a fitaram, esperando por uma resposta.– Acho que estou ficando louca também – ela murmurou, subindo no umbral.E como se não pesasse nada, ele facilmente a ergueu, levando-a consigo floresta a dentro. Poderia usar sua velocidade sobre-humana, mas apenas caminhava um pouco mais rápido, mas o su
As primeiras estrelas começavam a surgir no céu quando ele lhe estendeu o buquê de belas rosas brancas. – Oh, são lindas, Isaiah – Rosely disse com um sorriso enquanto as cheirava.– Não tanto quanto você – respondeu o homem parecendo satisfeito.Rosely viu o braço erguido em sua direção e o segurou, recostando o rosto em seu ombro enquanto a carruagem deslizava pela estrada de pedras, úmidas pelos costumeiros chuviscos de fim de tarde londrinos. Estavam noivos mesmo antes de conseguirem falar, e agora que o casamento se aproximava, haviam recebido permissão das famílias para se conhecer melhor.Foi tirada de seus devaneios quando notou que estavam seguindo um caminho diferente do que conhecia, ergueu os olhos para questionar o noivo e recebeu um sorriso de canto.– Desculpe-me, não fiz o convite devidamente – ele explicou, beijando a mão dela. – Trouxe um chefe parisiense que irá cozinhar especialmente para você esta noite.Rosely piscou algumas vezes ao ouvir isso, sentindo um repe