Meu Desastroso Romance
Meu Desastroso Romance
Por: Jaya Pereira
Prólogo

A que nível o ser humano poderia ser tão falso? Giulia se perguntava, enquanto via a chuva cair na mesma velocidade que as lágrimas rolavam de seus olhos esverdeados. Em comparação com sua dor, que era ainda mais recente, o tempo estava fechado, e chovia a apenas três dias.

A jovem italiana havia sido traída pelo seu noivo, que, na verdade, estava com ela só pelo seu dinheiro. Ela se sentia usada, como se tudo o que viveram durante os três anos de namoro fosse uma completa mentira. Como se cada palavra de amor, gesto de afeto e sorrisos, fossem uma invenção de sua imaginação fértil e sonhadora.

 E, de certa forma, poderia ser.

Usando as costas de suas mãos para reter as lágrimas, ela olhou ao redor. As ruas de Veneza estavam quase desertas, sem nenhum sinal de vida além dela, de uma senhora que caminhava lentamente em direção ao ponto de ônibus, onde Giulia se encontrava, e um grupo de pessoas do lado de fora de uma lanchonete do outro lado da rua.

Com dificuldade, a jovem fez de tudo para conter o choro antes da idosa chegar. Infelizmente, ela não conseguiu a tempo. A senhora de cabelos grisalhos e sorriso gentil já a encarava com um olhar triste e… compreensível?

— Posso me sentar, minha jovem? — perguntou, com um belo sorriso no rosto. Giulia assentiu, desviando os olhos das órbitas castanhas escuras da idosa. 

Um silêncio estranho se estendeu entre as duas mulheres, enquanto a mais velha se ajeitava no banco do ponto de ônibus e guardava seu guarda-chuva em um canto qualquer para secar. Suspirando, a senhora voltou a encarar Giulia. Ela parecia querer dizer algo.

— Problemas com o amor, jovem? — a senhora perguntou, fazendo Giulia se assustar. Era tão evidente assim?

— Posso dizer que sim… — sussurrou, tão para baixo que um sorriso triste recaiu na face da mulher ao seu lado.

— Alguma decepção? — ela supôs, tentando decifrar os olhos verde-claros da garota.

— Traição, eu diria — corrigiu-a, fungando. A fraca menção sobre o que aconteceu a deixava quebrada.

— Isso não é motivo suficiente para chorar, minha jovem. — Giulia arqueou uma sobrancelha, indignada com as palavras da mulher. 

Como assim não era motivo suficiente para chorar? Ela se sentia tão destruída, como se o mundo estivesse caindo aos seus pés. Era como se o seu coração estivesse em cacos, e nada parecia ser suficiente para reconstruí-lo.

— Você não entende? — perguntou, esboçando sua indignação em cada palavra. — Como não pode ser motivo…

— Para se gastar lágrimas com alguém que não te merece? — a idosa a interrompeu, completando sua fala. Sua expressão era reprovadora.

— Mas… Senhora! Eu… eu realmente… — balbuciou, sem conseguir controlar as lágrimas que voltavam a cair de seus belos olhos.

A velha mulher estava certa. De um jeito, ou de outro, não era motivo para se gastar seu precioso tempo sofrendo por um canalha como seu ex-noivo, mas essa não era a única questão ali. Não era o único porquê de suas lágrimas.

— Calma, minha jovem — a mais velha pediu, erguendo uma de suas mãos enrugadas e trêmulas para tentar enxugar as lágrimas presentes no rosto da mais nova. 

— Como pode pedir para eu ficar calma sabendo que isso é impossível após ouvir suas palavras? — ela questionou, balançando sua cabeça de um lado para o outro. Com delicadeza, retirou a mão da senhora de seu rosto.

— Minha jovem…

— Giulia. — Ela respirou fundo. — Meu nome é Giulia.

— Giulia… — sussurrou, pensativa. — Deixe-me lhe contar uma história — pediu, com o rosto sereno. O barulho das gotas de chuva que caíam no teto do ponto de ônibus traziam uma sensação angustiante para ambas. 

— Uma história? — perguntou, confusa. O que isso tinha a ver com aquela conversa? Para ela, parecia ser nada.

— Sim. — A velha sorriu, nostálgica. — Uma história desastrosa — sibilou, baixo o suficiente para que Giulia quase não escutasse. A garota estava confusa, mas, para não contrariar a mais velha, assentiu.

Uma parte dela queria ver qual era a real intenção da idosa. E, além disso, não tinha nada a perder.

— Tudo bem — concordou, arrancando um suspiro aliviado da outra. 

Sorrindo tristemente, a velha senhora olhou para o céu tortuoso. Tudo indicava que a chuva demoraria para cessar e que o tempo parecia estar do seu lado. Respirando de forma profunda, ela fechou os olhos e deixou que bons sentimentos lhe acarinhassem. Ao abri-los, fitou os olhos verde-claros de Giulia, e apenas assentiu.

Essa seria uma longa história.

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