Lokelani do Sul era o nome da faculdade em que Hanna estudava. Ela levava esse nome por causa de sua fundadora, Lokekani Roux. Era ela uma mulher de garra que havia trazido o ensino superior para a pequena cidade de Marjorie a alguns anos atrás. Não havia muito registros sobre ela, entretanto o pouco que existia era estudado na faculdade.
Em Lokekani, não havia uma enorme quantidade de cursos, estudavam somente os mais básicos. Mas, por isso, a qualidade do ensino era alta. Ninguém podia reclamar se caso fosse aceito — tinha que passar por uma prova para testar seus conhecimentos para se mostrar digno de estudar lá. Quem se formava tinham um ótimo apoio e recomendações que garantiram uma menor dificuldade ao conquistar um emprego ao entrar no mercado de trabalho. Recomendações eram o que regia e motivava os jovens a estudar em uma faculdade em sua própria cidade. E também era um dos motivos que trazia vários estudantes de cidades vizinhas para morar em Marjorie. Essa era umas das coisas que movimentava a economia da cidade.— Hanna! — Mia a chamou, estalando os dedos em sua frente. Hanna piscou, sem compreender direito o que estava acontecendo. — Você está me ouvindo?— Desculpa, eu viajei agora — pediu, passando uma de suas mãos sobre seus fios castanhos.— Não, imagina — disse, ironicamente. Fiore revirou os olhos e voltou a olhar para a mesa onde estava o novo estudante. Ele era uma gracinha. Pela curvatura de seu corpo, Hanna podia dizer que ele não era muito alto. Sua pele era pálida com algumas sardas, seus olhos eram castanhos avelã e seus cabelos eram castanhos avermelhados. Ele vestia impecavelmente o uniforme — até mesmo a gravata parecia estar sem nenhum amassado.O azul da blusa combinava perfeitamente com sua pele clara, o cinza escuro da calça fazia um contraste com a gravata também cinza e um tênis preto. Ele parecia sorrir discretamente para não mostrar o aparelho que usava e mexia seus óculos redondos toda vez que algum dos outros nerds perguntava alguma coisa.Era tão fofo!Hanna nunca tinha o visto antes, o que a levava a pensar que ele era um novato vindo de alguma cidade vizinha. Pela insistência da garota em olhar em sua direção, ele virou o rosto e seus olhos se encontraram.A jovem deu o seu melhor sorriso, o que o deixou desconcertado e com a pele levemente avermelhada. Rapidamente desviou os olhos e voltou sua atenção para uma garota baixinha que estava tagarelando algo freneticamente em sua frente. Hanna sorriu satisfeita, endireitando seu corpo na mesa. Ao olhar para sua amiga, avistou um sorriso malicioso aparecendo em seus lábios. Engolindo em seco, tentou disfarçar seu constrangimento.Falhou miseravelmente.— Pelo jeito já encontrou um novo alvo, certo, Fiore? — Mia provocou, com seu olhar maldoso. Hanna apenas revirou os olhos e negou com a cabeça.— Novo alvo? O que você está pensando que eu sou, Borges? — indagou, em tom reprovador. — Uma assassina sanguinária, por acaso? — supôs, sarcasticamente. Mia somente deu de ombros e olhou para o garoto novato. Fiore engoliu em seco ao presenciar o olhar avaliador no rosto de sua amiga.— Ele é bonitinho, usa óculos — ela voltou seu olhar para Hanna —, e faz muito seu tipo. A jovem balançou a cabeça de um lado para o outro, não muito à vontade com a suposição.Era verdade que ela tinha um fetiche por garotos de óculos, mas dessa vez não era somente isso. Era o conjunto da obra toda. Desde o cabelo castanhos avermelhados ao perfeccionismo na arrumação da roupa. Tudo havia encantado-a e isso era a primeira vez que acontecia em muito tempo.Ou talvez não.— Não é só isso — negou, voltando a olhar na direção do garoto. Ele estava visivelmente desconfortável, provavelmente por causa dela. — Ele parece ser diferente.— Diferente, é? — sussurrou, pensativa. Hanna voltou sua atenção para Mia. Ela parecia não acreditar muito, mas não ligou, pois, às vezes, até ela mesma duvidava de suas próprias palavras.— Que tal mudarmos de assunto? — sugeriu, já imaginando sobre o que conversar: seu livrinho de contos.— Do que você quer falar? — Fiore sorriu, animada. Rapidamente pegou seu livro na mochila e mostrou para Mia.— O volume um já está pronto — anunciou, com o peito estufado. Dizer aquilo a enchia de orgulho.— Não brinca! — Borges literalmente arrancou o livro da mão da garota e começou a folheá-lo. Ao se ver sem seu xodó, a jovem somente bateu o pé em resposta a reação de sua amiga. Isso a irritava. — Está maravilhoso! Vou ficar com ele — anunciou, com um leve sorriso maldoso no rosto. Hanna grunhiu baixo. Nem por cima do seu cadáver!— Não seja mal educada, ele é meu — disse, pegando seu livro de volta. Como sempre, Mia olhou para ela com uma cara de "cachorro sem dono" e ela não pode resistir ao pedido. Devolveu o livro para a mão de sua amiga fazendo uma cara de "pronto, é seu".— Você é demais, Fiore! — Ela praticamente gritou, se jogando em cima de sua amiga. Todos os olhares se voltaram para a mesa das duas — inclusive a do garoto que Hanna estava de olho. Isso era o que faltava.— Não seja escandalosa! — repreendeu-a, tirando Mia de cima de si. A carinha de inocência de Borges a deixou sem armas para argumentar ou gritar com ela.Vendo isso, Fiore suspirou e se levantou. Sem muito cuidado, pegou a mão de Mia e, literalmente, a arrastou para fora do refeitório. Antes de sair pela porta, pode sentir o queimor dos olhos do novato em suas costas. Ela se virou para ele e sorriu maliciosamente. Ao ver a pele dele enrubescer, voltou a arrastar sua amiga e ir em direção ao anfiteatro. De toda e qualquer forma, sua aula já devia ter começado e isso não era algo bom. Além de que, sua apresentação para o novato, poderia esperar.***Era por volta do meio-dia, e a última aula de Hanna daquela manhã já havia acabado. Ela andava com certa preguiça até o refeitório para comprar um refrigerante para abaixar a temperatura elevada de seu corpo.Fazia muito calor, provavelmente à tarde teria uma chuva para refrescar como na noite anterior. Suspirando impacientemente, parou em frente de seu armário com o número quatrocentos e cinquenta e oito escritos em sua porta, e guardou seus livros didáticos nele. Ao dobrar o corredor, avistou uma placa escrita "Cuidado! Chão molhado", ela só deu de ombros e continuou andando com toda a animação que não possuía.Quando estava quase no meio do percurso, avistou, andando lentamente, cabisbaixo e com um fone de ouvido sobre a cabeça, o novato de mais cedo. Sorriu maliciosa ao perceber que ele não só não tinha a visto como também estava distraído demais. Em sua cabeça, aquela era uma ótima oportunidade para criar um belo clichê.Não era uma ideia mirabolante, ela só precisava continuar andando até ele e se "jogar" em seus braços ou esbarrar em seu corpo para "forçar" sua queda para o lado oposto. Certamente ele pegaria sua mão ou ela mesma. Um plano perfeito para iniciar uma conversa entre os dois de maneira amigável. Sorriu divertida com a ideia, logo se pondo para executá-la.O que poderia dar errado, certo?Talvez…Tudo?Fiore continuou andando, focando sua visão só nele e, por isso, acabou se esquecendo da placa presente no começo do corredor. Antes mesmo de trombar com o garoto, seus pés deslizaram rumo à parede e ela caiu ali mesmo, fazendo um barulho alto, mas não suficiente para chamar a atenção de seu alvo. Por estar de fone e de cabeça baixa, o novato continuou andando sem nem notá-la. Hanna bufou, indignada.Só podia ser brincadeira! Vermelha, levantou-se com dificuldade, no entanto acabou tropeçando em seus próprios pés e caiu novamente — só que dessa vez estava no meio e não na lateral. Frustrada, fechou seus olhos e tentou esfriar a cabeça. Tudo tinha dado errado e ela não podia se dar ao luxo de cair uma terceira vez. Não depois de ter falhado miseravelmente em seu plano.— Está tirando uma soneca em um lugar como esse, Fiore? — Uma voz ligeiramente conhecida por ela ecoou logo acima de onde estava. Curiosa, ergueu a cabeça para confirmar quem era.Não podia ser! Tinha que ser justo ele? Vendo que não tinha escolha, sorriu graciosamente para o indivíduo que a encarava com certo divertimento, e rapidamente apoiou sua cabeça em sua mão direita e colocou a esquerda apoiada em sua cintura. Estava se preparando para o confronto.— Claro! — concordou, irônica. — Eu amo o chão gelado da escola! É tão refrescante — comentou, exalando sarcasmo em cada palavra.Ele se abaixou e tocou de leve no chão. Seus lábios se curvaram em um sorriso genuíno.— Realmente, estou até com vontade de te acompanhar agora — ele concordou, e se sentou no chão à frente da garota. Inevitavelmente ela ficou incrédula com a atitude dele. Provavelmente sua roupa ficaria molhada após aquela gracinha.— Você não tem jeito mesmo, né, Bellini? — indagou, se erguendo para também ficar sentada.— Só quando estou com você — ele a provocou, deixando-a levemente vermelha. Logo sua risada rouca preencheu o ambiente.— Muito engraçadinho como sempre — desdenhou, revirando os olhos. Noah somente sorriu. — O que faz aqui, Bellini? Que eu saiba, você já está formado — observou, um tanto quanto curiosa.— E estou. — Ele parou de sorrir e mostrou uma pasta azulada para ela. — Eu só vim entregar isso para minha irmã.— Para a Noemi? — Hanna estreitou os olhos um pouco desconfiada, mas logo relaxou. Devia ser isso mesmo. — Faz sentido. — Não é? — Ele piscou e, rapidamente, se deitou no chão. Ainda bem que está limpo, Hanna pensou assim que ele pegou sua mão e a puxou junto com ele. — Eu tenho mais dois minutos, quero aproveitá-los.— Deitado? No chão? Comigo? — indagou, pausadamente. Em cada palavra era perceptível o espanto que ela sentia. — Não pode ser! — negou, divertida. Noah gargalhou, também entrando na brincadeira.— Por que não? — Seu sorriso era contagiante. Naquele momento, Hanna nem notou que havia um sorriso bobo estampado em seus lábios ou uma expressão apaixonada em seu rosto. Mesmo assim, ela tinha que admitir: ele a afetava de uma forma inexplicável.— Não é algo normal, Noah. — Hanna respirou fundo, e olhou para o teto do corredor. Ela não deveria estar ali.— Isso eu já sabia. — Ele se sentou e ela fez o mesmo. Devagar, ele aproximou mais da garota, fazendo com que ela o encarasse. — Quero que me conte algo que eu não sei ainda — pediu, seriamente. Fiore sentiu a respiração quente do rapaz lhe acariciar o rosto. Um friozinho estranho tocou seu estômago com tal aproximação.— Bem, eu…O barulho do relógio que estava no braço de Noah os tirou do transe em que estavam. E, como se tivesse algo para falar e já não pudesse dizer por ter sido interrompido, Bellini se levantou, relutante, estendendo sua mão para que Hanna a pegasse logo após. A jovem a pegou mesmo se sentindo indecisa, e ele a ergueu com a facilidade que não parecia ser possível. Naquele momento, Noah parecia pensativo.— Te vejo por aí, Fiore — ele disse, dando as costas para ela. Acenando, e antes que ela pudesse respondê-lo, saiu com toda a sua imponência do campo de visão da garota, deixando-a sem entender tudo que havia acontecido por alguns instantes, mas não fazendo-a deixar de ir até a cantina comprar seu bom refrigerante. Depois do ocorrido, ela precisava da bebida para esclarecer suas ideias.— Isso não é justo! Eu e clichê não combinamos — Hanna gritou, a todo pulmões. Bryath, que a acompanhava naquela tarde de sol forte, apenas revirou os olhos e cruzou as pernas.— Por que diz isso, quase xará? — ela perguntou, fingindo interesse. Como a garota precisava conversar com alguém, fingiu que não havia percebido isso. Era boa quando se travava de fingir de sonsa, apesar de não gostar.— Tentei criar uma cena de clichê entre eu e um rapaz que conheci, mas acabei de cara com o chão — disse, fungando e secando seu choro falso com uma de suas mãos.— Mas também, né? Quem tenta criar uma cena clichê? — ela indagou, rindo da cara de Hanna. Isso não era o eu que precisava, dona Ana.— Escritores de romance? Ou de novela, filme e seriado? — perguntou, com sarcasmo. — Eles não fazem isso na vida real, querida. — Ela sorriu, levantando-se de sua cadeira. A passos lentos caminhou até o balcão.Já era sexta-feira e as inv
A primeira coisa que Hanna sentiu ao pôr os pés na calçada fria da rua fora o ricochetear do vento gélido atingindo seu rosto. Os, ainda fortes, raios de sol da tarde provocavam ardência em seus olhos, deixando-a desnorteada por alguns segundos. Seus cabelos curtos grudaram em sua boca, sua saia rodada verde abóbora dificultava a locomoção de suas pernas e a blusa roxa soltinha que vestia parecia querer sair toda vez que o vento — um pervertido, inclusive — adentrava suas vestes com agressividade.Aquela situação a irritava, tanto que ela bateu o pé com força e apertou seus punhos, sem saber lidar com suas emoções. Ela sabia que precisava de calma naquele momento, mas não a tinha, por mais que quisesse.Enquanto andava apressadamente pelas ruas quase desertas de Marjorie e tentava, em vão, encontrar seu irmão no meio das pessoas que ali estavam, Hanna sentia alguns olhares caindo sobre si. Eram, em sua maioria, de adolescentes, jovens e de algumas mulheres adultas. Elas a olhavam com
Se pudesse, Hanna com certeza teria ficado em casa naquela manhã.As luzes do ambiente ofuscavam sua visão. Suor escorria por sua testa à medida que suas pernas doíam de tanto ficar em pé. Hanna respirou fundo desejando um pouco de água para matar sua sede. O tempo abafado daquela manhã de sábado denunciava que não demoraria muito para chover. Era só uma questão de tempo para novamente se ver encharcada pelas gotas d'água que sempre desciam do céu velozmente. Nada diferente do habitual em sua querida cidade natal.Apesar do tempo tão incômodo, seu humor era agradável. Por esse único motivo — ou nem tanto assim —, vestia um vestido de alcinha florido e rodado, seu cabelo estava em uma pequena trança lateral bem arrumados e ela calçava uma sandália rasteira rosa bebê. Tudo muito bem trabalhado para ficar o mais próximo possível da perfeição. Não que ela gostasse disso, mas Mia havia feito questão de que seu look estivesse maravilhoso para não passar vergonha durante sua ida ao único sho
— Eu já disse não! — Eros praticamente berrou, já aparentando estar impaciente com a insistência de Hanna. A garota resmungou, se erguendo do sofá vermelho em formato de "L" que ficava na sala de estar do apartamento do moreno, para se aproximar ainda mais dele. — Por que não? É algo fácil, rápido e que não vai te custar muito! — Hanna protestou, batendo o pé com força no chão. Mia, que estava sentada em uma poltrona do outro lado da sala, gargalhou baixo.— Você não sabe o que é não, Fiore? — replicou, incrédulo com a atitude contínua dela.— Ela nunca se cansa, gato — Mia disse, antes mesmo que Hanna pudesse abrir a boca para falar algo. Contrariada, a jovem assentiu.Ela era e não podia negar isso.— Eu sou sim e não tô nem aí — disse, se aproximando de Eros ainda mais. — E, além do mais, o que eu estou te pedindo é algo tão simples que não posso me conformar com seu não!— Hanna — a chamou, respirando fundo. — Vamos recapitu
— Não acredito que foi por isso que me chamaram aqui! — Hanna resmungou, lançando um olhar mortal na direção de Alba. A garota somente deu de ombros e sorriu minimamente.— É algo importante, Hanna! — alegou, apontando para Dominic que se olhava em um grande espelho do outro lado da sala onde os três se encontravam. — Você quer acabar com a infância daquelas crianças lá fora? Quer? — acusou, gesticulando com as mãos.Hanna somente revirou os olhos. Não era tão gritante assim.— Você está exagerando.— Estou? Olha para aquilo, Hanna! — exaltou, apontando para Dominic novamente. — Que criança não ficaria traumatizada ao ver isso?Relutante, Hanna foi obrigada a assentir.Seu pai estava, no mínimo, esquisito.Dominic vestia uma fantasia da pequena sereia. A peruca ruiva que usava estava posta desajeitadamente em sua cabeça e não condizia com a barba, não tão rala, que ele possuía. Para piorar a situação, a calda da sereia parecia mais um par de músculos esquisitos, nada delicada, em seu
Era segunda-feira. O sol brilhava majestosamente no céu naquela manhã. Os poucos estudantes que estavam naquele recinto conversavam sobre assuntos diversos, desde o tempo tempestuoso que assombrava as cidades vizinhas ou as eliminatórias do futebol local. E, enquanto a preocupação de alguns era ser pego por uma tempestade ou não ganhar o troféu, Hanna suspirava a cada três segundos enquanto sua cabeça estava posta desajeitadamente sobre uma das mesas do refeitório da faculdade. Sua mente estava presa em seu encontro com Bellini na tarde anterior. Por sorte, ou azar, Noah não chegou a se encontrar com pai da garota e Alba. Ele foi obrigado a ir embora para ver sua noiva antes que pudesse fazer. Aquele pequeno fato fez Hanna ser puxada de volta para a realidade. Apesar de estar com Bellini, se divertindo com os pestinhas e finalmente ver o tempo passando mais rápido, ela foi obrigada a perceber que aquilo não era verdade. Não era ela a plebéia do príncipe. Não era ela a garota que Noa
Os sons desconexos das vozes vindas da tevê lhe causavam uma irritação anormal, fazendo sua cabeça doer mais do que já estava. Enquanto os canais saltavam a cada cinco segundos, Hanna pensava em como não entender nada do que eles falavam era irritante. Bufando, permitiu que seus pensamentos voltassem para os acontecimentos da manhã daquele dia. Suas palavras, ditas sem pensar, lhe perturbavam a mente. De um jeito ou de outro, ela não conseguia saber se aquilo que disse era totalmente verdade. Afinal, como alguém que não possuía a oportunidade de escolher o que faria da sua própria vida tinha direito de dizer sobre a forma que os outros viviam? Ela não achava que o possuía, principalmente ao perceber que, apesar do modo errado que Ágatha usou seu nome, ela nem tinha esse privilégio. Queria ela ser totalmente livre das responsabilidades, dos padrões da sociedade e, principalmente, das expectativas dos outros. Sua mãe era a prova viva que ela não era tão "que se dane" assim.
Era uma tarde de quarta-feira. O dia estava nublado, cinzento, desde o momento que uma garoa fina bloqueou os raios quentes da manhã. Hanna olhava furtivamente para um certo casal apaixonado do outro lado da praça da cidade de Marjorie. Ela aguardava, agora não mais ansiosa, a chegada de Carlos. Seu deleite havia sido roubado no momento que descobriu uma felicidade alheia lhe atormentando. Noah estava a alguns metros dela, conversando de um jeito apaixonado — talvez — com Jéssica. Os dois sorriam, riam e, vez ou outra, entrelaçavam os dedos, passando uma confiança, uma cumplicidade que era de sentir inveja. Não era preciso nem perguntar o quanto aquela cena deixava Hanna frustrada. Sentia uma raiva inexplicável dominando seu corpo aos poucos, quase levando-a a loucura.Apesar disso, aquela cena era tão esperada que a fazia sentir-se uma tola. Os dois eram um casal, noivos. Já ela, não era nada dele. Nem mesmo podia considerá-lo um amigo. Não tinha porquê sentir a