Seis anos depois
Os dedos de Hanna batucavam no estofado de umas das cadeiras do pequeno escritório ao qual ela se encontrava, trazendo um pouco de alívio para a mulher. Ela ergueu seus olhos assim que uma voz rouca chamou por seu nome, ansiosa e cheia de expectativas em relação àquela entrevista de emprego.Dessa vez vai, com certeza!, afirmou para si mesma, em pensamentos.O barulho do seu tênis ecoava pelo piso de madeira do escritório, deixando-a perplexa sobre como seriam as coisas dessa vez. Aquele som lhe trazia lembranças da sua época de faculdade, quando ainda morava em Marjorie e vivia aprontando para se sentir livre de verdade.Agora, mais velha e em São Paulo, ela não precisava de tanto esforço para ser feliz; bastava conseguir aquele emprego, por mais difícil que fosse, e tudo estaria finalmente bem. A outra coisa, que era a parte mais importante, ela já o tinha conquistado e morava com ela em seu apartamento.— Senhorita FioA festa era muito badalada. Vários garçons distribuíam bebidas para os convidados, enquanto estes aguardavam ansiosamente o início do desfile de moda arquitetado pela sensação do momento entre as principais modelos do mundo da moda: Eros Guerra.Hanna observava tudo com olhos curiosos, se sentindo orgulhosa por ver o sonho de mais um dos seus amigos realizados. Aquele desfile era o ápice que o rapaz desejara quando saíra de sua cidade natal, no interior, e a conheceu em Marjorie. Era o começo da glória que ele tanto queria, e isso deixava a mulher mais que satisfeita. Era tudo que ela poderia desejar para ele.Sorrindo, Fiore deixou que suas lembranças vagassem para o passado, que não era tão distante assim, e permitiu-se repassar cada momento, desde seus planos malucos para esquecer Bellini até a revelação da verdade que quase pôs tudo a perder.Eram lembranças incríveis, inesquecíveis, que faziam parte do ápice da sua juventude, embora ainda não se consi
Quando Hanna parou diante de Carlos, a primeira coisa que ele fez foi lhe abraçar, matando a saudade que ambos sentiam um pelo outro, mesmo que não tivesse passado muito tempo desde a última vez que eles haviam se visto. Noah olhou a cena com certa curiosidade, sorrindo de um jeito malicioso assim que eles se separaram.— Você estava com tanta saudade da minha florzinha assim, Carlos? — Noah perguntou, estreitando seus olhos em tom de brincadeira. O rapaz, meio envergonhado, ajeitou seus óculos e sorriu amarelo para ele.— Bem, já faz algum tempo desde a última vez… — murmurou, sem encarar as íris negras de Bellini, que riu ao ver a timidez que Carlos ainda insistia em manter com ele mesmo após tantos anos juntos.— Que isso! Eu só estou brincando. Sei que são grandes amigos — falou, batendo suas mãos nos ombros de Carlos amigavelmente.— Noah, eu já disse inúmeras vezes para não mexer com o Carlos. Ele é tímido de verdade — Hanna o repreendeu, ba
Giulia respirou fundo. Seus olhos, agora molhados por lágrimas causadas pela história da velha senhora, encaravam-na com um sorriso triste e ao mesmo tempo feliz. Não sabia direito como deveria reagir a história contada pela mais velha, muito menos se ela se encaixava com sua situação atual, no entanto, era uma sensação gratificante saber que tudo tinha acabado bem no fim, embora tivesse muitos pesares que ela não queria considerar.— Eu não entendo. Por que você me contou essa história? — ela perguntou, ao notar que a idosa não iria prosseguir mais com seu relato.— Ah, minha jovem, se você ainda não entendeu, talvez deva voltar tudo no começo mais uma vez — cantarolou, fazendo a mais nova arregalar seus olhos verdes.— Está falando sério? — questionou, surpresa. A senhora balançou sua cabeça de um lado para outro, com um pequeno sorriso em seus lábios trêmulos.— Não, só estou brincando um pouquinho com você para prolongar este momento — a respo
Queridos leitoresÉ, parece que finalmente chegamos ao fim. Depois de tanto tempo, e — apesar de ter sido somente 47 capítulos contando prólogo e epílogo e apenas um mês para quem conheceu Meu Desastroso Romance aqui na Buenovela — eu me sinto realizada em poder entregar essa história completa para vocês, leitores. É estranho parar para pensar em como determinadas coisas acontecem somente quando tem que ser. Com MDR foi assim; até eu vir parar nessa plataforma de publicação, parecia um sonho distante tê-la concluída, em seu máximo que o momento me permitia fazer.Embora tenha pensado em muitos finais diferentes — muito felizes e outros nem tanto — ao longo dos dois anos que ela permaneceu apenas como um mero rascunho não terminado, estou feliz em ver qual foi o que escolhi para ser o definitivo. E, claro, espero também que seja assim para vocês; que tenham gostado de cada nuance, personagem e diálogos, por mais curiosos que esses foram; que tenham amado — assim como eu — a história de
A que nível o ser humano poderia ser tão falso? Giulia se perguntava, enquanto via a chuva cair na mesma velocidade que as lágrimas rolavam de seus olhos esverdeados. Em comparação com sua dor, que era ainda mais recente, o tempo estava fechado, e chovia a apenas três dias. A jovem italiana havia sido traída pelo seu noivo, que, na verdade, estava com ela só pelo seu dinheiro. Ela se sentia usada, como se tudo o que viveram durante os três anos de namoro fosse uma completa mentira. Como se cada palavra de amor, gesto de afeto e sorrisos, fossem uma invenção de sua imaginação fértil e sonhadora. E, de certa forma, poderia ser. Usando as costas de suas mãos para reter as lágrimas, ela olhou ao redor. As ruas de Veneza estavam quase desertas, sem nenhum sinal de vida além dela, de uma senhora que caminhava lentamente em direção ao ponto de ônibus, onde Giulia se encontrava, e um grupo de pessoas do lado de fora de uma lanchonete do outro lado da rua. Com dificuldade, a jovem fez de
Até onde você estaria disposto a ir para esquecer um grande amor? Muitos se jogariam nos braços da bebida, outros iriam em busca de novos romances. A segunda opção foi a escolhida por Hanna. E, enquanto embebedava um de seus melhores amigos, ela se perguntava se aquilo que estava fazendo era o certo. Talvez fosse melhor deixar as coisas rolarem naturalmente. Não. Não podia se dar ao luxo de esperar para que, o cara que ela estava afim, desse conta de seus sentimentos e finalmente começasse a olhar para ela com outros olhos. Ela já tinha seguido essa linha uma vez e acabou se dando mal. Ele a trocou por outra. Entretanto, não podia culpá-lo. Ele nem mesmo sabia de seus sentimentos, então como poderia aceitá-los? Mas também não se culpava. Ele também não era o tipo fácil de decifrar. Hanna balançou a cabeça com força. Não era hora de lembrar dele, de seu sorriso, do modo como agia com ela e de como… Ah!Maldição!Não, não, não! Ela já não sentia mais nada por ele. Já havia superado. E
Sabe quando sua família odeia uma certa pessoa e você se vê obrigado a ir junto com a manada? Bem, era isso que deveria ter acontecido com Hanna.Seus pais, os Fiore, eram donos de uma padaria que vinha sendo passada de geração em geração. Tudo começou com sua bisavó descendente de franceses casando-se com um descendente de italianos. O sonho dela era construir a maior padaria de toda Marjorie — uma pequena cidade no litoral sul do Brasil. Tudo estava indo bem, seu sonho estava prestes a se concretizar, entretanto ela apareceu, Myra Bellini, uma mulher imponente vinda da Itália. Ela era uma jovem de cabelos ruivos e olhos claros — cá entre nós, ela não se parecia nada com uma italiana —, elegante, batalhadora e com um sonho igual ao da bisavó de Hanna. Ela também queria construir a maior padaria de toda Marjorie e se tornar a maior padeira de sua época.Claro que duas pessoas com sonhos iguais e com alguns aspectos diferentes, não podiam se dar muito bem. Por isso, e outros motivos,
Os fracos raios de luz adentravam lentamente pela janela do quarto de Hanna. A pintura lilás das paredes pareciam mais claras quando expostas à luz do sol, deixando o ambiente aconchegante e calmo — o completo oposto da garota que ali dormia. Naquele dia, Fiore acordou não muito disposta com o toque frenético de seu despertador que ficava ao lado de sua cama. Como sempre, apesar do sol da manhã, fazia um frio de congelar as pontas dos dedos.Ela se espreguiçou lentamente e sorriu ao sentir o cheiro de pães fresquinhos vindo do andar de baixo. Em um salto, saiu da cama e correu para o banheiro do outro lado do corredor. Naquele pequeno toalete, ela efetuou todas suas higienes necessárias e tomou um bom banho. Infelizmente, ou não, sua aula começava cedo. Hanna cursava literatura e gastronomia na faculdade de Marjorie — a tão aclamada Lokelani. Amava cozinhar variados tipos de iguarias, inclusive aquelas à venda na padaria de sua mãe. Em seus tempos vagos, dedicava sua atenção à leitur