Era segunda-feira. O sol brilhava majestosamente no céu naquela manhã. Os poucos estudantes que estavam naquele recinto conversavam sobre assuntos diversos, desde o tempo tempestuoso que assombrava as cidades vizinhas ou as eliminatórias do futebol local. E, enquanto a preocupação de alguns era ser pego por uma tempestade ou não ganhar o troféu, Hanna suspirava a cada três segundos enquanto sua cabeça estava posta desajeitadamente sobre uma das mesas do refeitório da faculdade. Sua mente estava presa em seu encontro com Bellini na tarde anterior. Por sorte, ou azar, Noah não chegou a se encontrar com pai da garota e Alba. Ele foi obrigado a ir embora para ver sua noiva antes que pudesse fazer. Aquele pequeno fato fez Hanna ser puxada de volta para a realidade. Apesar de estar com Bellini, se divertindo com os pestinhas e finalmente ver o tempo passando mais rápido, ela foi obrigada a perceber que aquilo não era verdade. Não era ela a plebéia do príncipe. Não era ela a garota que Noa
Os sons desconexos das vozes vindas da tevê lhe causavam uma irritação anormal, fazendo sua cabeça doer mais do que já estava. Enquanto os canais saltavam a cada cinco segundos, Hanna pensava em como não entender nada do que eles falavam era irritante. Bufando, permitiu que seus pensamentos voltassem para os acontecimentos da manhã daquele dia. Suas palavras, ditas sem pensar, lhe perturbavam a mente. De um jeito ou de outro, ela não conseguia saber se aquilo que disse era totalmente verdade. Afinal, como alguém que não possuía a oportunidade de escolher o que faria da sua própria vida tinha direito de dizer sobre a forma que os outros viviam? Ela não achava que o possuía, principalmente ao perceber que, apesar do modo errado que Ágatha usou seu nome, ela nem tinha esse privilégio. Queria ela ser totalmente livre das responsabilidades, dos padrões da sociedade e, principalmente, das expectativas dos outros. Sua mãe era a prova viva que ela não era tão "que se dane" assim.
Era uma tarde de quarta-feira. O dia estava nublado, cinzento, desde o momento que uma garoa fina bloqueou os raios quentes da manhã. Hanna olhava furtivamente para um certo casal apaixonado do outro lado da praça da cidade de Marjorie. Ela aguardava, agora não mais ansiosa, a chegada de Carlos. Seu deleite havia sido roubado no momento que descobriu uma felicidade alheia lhe atormentando. Noah estava a alguns metros dela, conversando de um jeito apaixonado — talvez — com Jéssica. Os dois sorriam, riam e, vez ou outra, entrelaçavam os dedos, passando uma confiança, uma cumplicidade que era de sentir inveja. Não era preciso nem perguntar o quanto aquela cena deixava Hanna frustrada. Sentia uma raiva inexplicável dominando seu corpo aos poucos, quase levando-a a loucura.Apesar disso, aquela cena era tão esperada que a fazia sentir-se uma tola. Os dois eram um casal, noivos. Já ela, não era nada dele. Nem mesmo podia considerá-lo um amigo. Não tinha porquê sentir a
Era sexta-feira. O sol, aos poucos, se escondia no horizonte, trazendo o frio da noite para aqueles que continuavam nas ruas naquele horário. Os fortes ventos vindo do litoral balançavam as cortinas daquele cômodo quase vazio, trazendo uma brisa gostosa e arrepiante para quem estivesse próximo a janela. Ali, no apartamento de Eros, vários tufos de cabelos castanhos enfeitavam o chão, por cima do tapete vermelho. Guerra choramingava ao pé da cama, ainda não acreditando que Fiore havia cortado seu cabelo. Borges ria da cena, próxima a porta, divertindo-se a cada soluço falso do novo amigo. Era uma cena divertida tanto para Hanna quanto Mia. Fiore sorriu minimamente ao sentir Mia vindo em sua direção. A morena tocou seus ombros, encantada com o resultado final de seu trabalho árduo. Ela tinha feito a maquiagem.— Você está linda, Hanna — Borges elogiou-a, sorrindo abertamente. — Sim — ela concordou. — Graças a vocês.— Exato — Eros confi
Hanna estava estupefata, com seus olhos arregalados e sua boca entreaberta. Seu cérebro era incapaz de raciocinar direito, de processar aquilo que via em sua frente. Se alguém lhe dissesse, jamais acreditaria. Não tinha como algo assim acontecer, principalmente em um lugar tão lotado que ambos, ela, Noah e Jéssica, frequentavam regularmente. Além de errado, era antiético. Queria acreditar que Urine não era capaz daquilo, mas a realidade a obrigava a contrair suas crenças. Ela estava presenciando em primeira mão, não tinha como negar mais, e isso a deixava desnorteada. Afinal, que merda Jéssica tinha na cabeça!? Por mais que tentasse entender — e apesar de saber que quem estava pagando de maluca era ela ao ficar encarando as duas como se fosse algo de outro mundo — não podia controlar suas próprias reações. Não conseguia pensar direito, buscar uma explicação lógica — mesmo sabendo que não havia uma — ou tentar ver as coisas por outro ângulo. Tudo era igu
Curtir e comemorar até não aguentar mais.Hanna nunca tinha levado essas palavras tão a sério quanto havia feito na noite anterior. Ela curtiu, embebedou-se dos mais variados tipos de bebidas e dançou descalço com uma maluca. E amou fazer isso, sem pensar nas consequências. De fato, foi bom enquanto estava lá e não sentia os efeitos da sua extravagância. Mas, assim que botou os pés, com auxílio de uma Borges enfurecida e um Guerra tão bêbado quanto ela, no tapete da sala de sua casa e recebeu uma bronca de sua mãe, ela começou a repensar sua atitude, mesmo já sendo tarde demais.Tinha ido um pouquinho longe, ou era só até aí que iria admitir.Agora, vendo o sol brilhar intensamente por detrás da janela de seu quarto, pensava em como era terrível a dor de cabeça proveniente da ressaca que lhe atormentava. Não se lembrava de um terço dos acontecimentos da noite anterior — só se recordava de ir para o bar e beber muito depois da saída rápida de Noah
— Na aula de hoje iremos preparar um belo tiramisu, crostata di ricotta e outras receitas para testar suas aptidões. Vocês terão dez minutos para prepararem seus utensílios e ingredientes. Então, se apressem — Caio, o professor de culinária de Hanna, anunciou assim que pisou no chão da cozinha da Lokelani do Sul. A garota bufou, cansada demais para se dedicar completamente à tarefa. Já fazia uma semana desde o incidente com Noah, uma semana que ela não o via, muito menos tinha notícias do ruivo. Boa parte disso era por causa do castigo — um que ela já estava farta, mas tinha que aturar por mais um dia. Graças a isso, sua liberdade estava muito limitada. Sua rotina sempre era de Lokelani a sua casa, de sua casa a padaria e vice-versa. Não tinha tempo para sair com seus amigos, muito menos visitar Ana em sua lanchonete. As informações eram escassas, já o trabalho era intenso demais. Tinha que ajudar na padaria de sua família como uma condenada, coisa que
Noah mantinha suas mãos presas aos pulsos de Hanna com firmeza. Seus olhos negros não ousavam desviar dos dela, deixando-a ainda mais desconcertada. Fiore suspirou, incapaz de fazer qualquer movimento brusco. Aos poucos, via o rapaz inclinando-se em sua direção, sem ao menos piscar. Ela fez de tudo para não tremer, para não soltar uma piada sem graça naquele momento e estragar com todo aquele clima que os envolvia.Mas… Por Deus!Como era difícil se manter sã em tal situação.Não conseguia pensar direito, muito menos avaliar as consequências daquela provocação. Odiava admitir que seu coração só conseguia querer que aquele momento durasse para sempre — mesmo com os contras. No entanto, lá no fundo, ela também sabia que aquilo era só mais um jogo. Só mais um que não significava nada para Noah — o completo oposto do que era, e significava, para ela.Seja lá o que Bellini queria fazer, o que queria provocar nela, era algo íntimo demais. Ele havia term