Hanna estava estupefata, com seus olhos arregalados e sua boca entreaberta. Seu cérebro era incapaz de raciocinar direito, de processar aquilo que via em sua frente. Se alguém lhe dissesse, jamais acreditaria. Não tinha como algo assim acontecer, principalmente em um lugar tão lotado que ambos, ela, Noah e Jéssica, frequentavam regularmente. Além de errado, era antiético. Queria acreditar que Urine não era capaz daquilo, mas a realidade a obrigava a contrair suas crenças. Ela estava presenciando em primeira mão, não tinha como negar mais, e isso a deixava desnorteada.
Afinal, que merda Jéssica tinha na cabeça!? Por mais que tentasse entender — e apesar de saber que quem estava pagando de maluca era ela ao ficar encarando as duas como se fosse algo de outro mundo — não podia controlar suas próprias reações. Não conseguia pensar direito, buscar uma explicação lógica — mesmo sabendo que não havia uma — ou tentar ver as coisas por outro ângulo. Tudo era iguCurtir e comemorar até não aguentar mais.Hanna nunca tinha levado essas palavras tão a sério quanto havia feito na noite anterior. Ela curtiu, embebedou-se dos mais variados tipos de bebidas e dançou descalço com uma maluca. E amou fazer isso, sem pensar nas consequências. De fato, foi bom enquanto estava lá e não sentia os efeitos da sua extravagância. Mas, assim que botou os pés, com auxílio de uma Borges enfurecida e um Guerra tão bêbado quanto ela, no tapete da sala de sua casa e recebeu uma bronca de sua mãe, ela começou a repensar sua atitude, mesmo já sendo tarde demais.Tinha ido um pouquinho longe, ou era só até aí que iria admitir.Agora, vendo o sol brilhar intensamente por detrás da janela de seu quarto, pensava em como era terrível a dor de cabeça proveniente da ressaca que lhe atormentava. Não se lembrava de um terço dos acontecimentos da noite anterior — só se recordava de ir para o bar e beber muito depois da saída rápida de Noah
— Na aula de hoje iremos preparar um belo tiramisu, crostata di ricotta e outras receitas para testar suas aptidões. Vocês terão dez minutos para prepararem seus utensílios e ingredientes. Então, se apressem — Caio, o professor de culinária de Hanna, anunciou assim que pisou no chão da cozinha da Lokelani do Sul. A garota bufou, cansada demais para se dedicar completamente à tarefa. Já fazia uma semana desde o incidente com Noah, uma semana que ela não o via, muito menos tinha notícias do ruivo. Boa parte disso era por causa do castigo — um que ela já estava farta, mas tinha que aturar por mais um dia. Graças a isso, sua liberdade estava muito limitada. Sua rotina sempre era de Lokelani a sua casa, de sua casa a padaria e vice-versa. Não tinha tempo para sair com seus amigos, muito menos visitar Ana em sua lanchonete. As informações eram escassas, já o trabalho era intenso demais. Tinha que ajudar na padaria de sua família como uma condenada, coisa que
Noah mantinha suas mãos presas aos pulsos de Hanna com firmeza. Seus olhos negros não ousavam desviar dos dela, deixando-a ainda mais desconcertada. Fiore suspirou, incapaz de fazer qualquer movimento brusco. Aos poucos, via o rapaz inclinando-se em sua direção, sem ao menos piscar. Ela fez de tudo para não tremer, para não soltar uma piada sem graça naquele momento e estragar com todo aquele clima que os envolvia.Mas… Por Deus!Como era difícil se manter sã em tal situação.Não conseguia pensar direito, muito menos avaliar as consequências daquela provocação. Odiava admitir que seu coração só conseguia querer que aquele momento durasse para sempre — mesmo com os contras. No entanto, lá no fundo, ela também sabia que aquilo era só mais um jogo. Só mais um que não significava nada para Noah — o completo oposto do que era, e significava, para ela.Seja lá o que Bellini queria fazer, o que queria provocar nela, era algo íntimo demais. Ele havia term
— Eu realmente tenho que parar de fazer isso? — Hanna perguntou para Carlos, enquanto olhava para o teto do apartamento do rapaz. Carlos suspirou pesadamente, colocando dois copos de suco sobre a mesinha à frente dela.— Se quiser tentar aparentar mais madura, sim, você tem — ele confirmou, sentando-se ao seu lado.— Mas eu amo bater meus pés. Além de ser algo inconsciente, é relaxante.— Eu sei disso, Hanna. — Ele a encarou, de forma avaliativa, enquanto ela desencostava-se do sofá. — Mas você tem que admitir que isso é muito infantil.— Você não é o primeiro que me diz isso — resmungou, descontente.— E não serei o último, não é?— Infelizmente?Hanna bufou, curvando seu corpo para frente. Já fazia três dias desde a conversa com Noemi, três dias onde ela havia pensado em mil e um meios de conseguir conquistar Noah sem mudar o seu jeito e, infelizmente, nada lhe veio à mente além de bancar a responsá
O som da chuva tocando com agressividade o telhado daquela casa trazia paz para os indivíduos presentes em sua sala e, ao mesmo tempo, receio. Ventos fortes açoitavam as janelas e produziam som duvidosos, deixando os menos corajosos apreensivos. Hanna riu, vendo sua irmã pular com o som de um raio atravessando o céu lá fora. Alba fuzilou-a com os olhos, ajeitando-se no sofá presente ali e tentando não olhar para Filippo que ria escandalosamente das expressões dos dois filhos mais novos dos Fiore. Dominic mantinha-se sentado na poltrona, lendo um livro tranquilamente. Emma, por sua vez, permanecia em seu quarto, fazendo algo que Hanna, ou qualquer outro, não conseguia sequer imaginar. Por que sons estranhos ecoavam de lá? Anthony resmungou a falta de espaço ao ver sua irmã, Alba, deitando-se para tentar esconder sua cabeça e não ver os clarões que iluminavam a casa. Ele parecia com medo, como ela, mas não ousava dizer isso em voz alta. Não era
A semana após a aposta com Emma se passou rapidamente. Mesmo que a mente de Hanna estivesse muito cansada, tanto pela pressão de sua escolha quanto pelas provas, ela tentava ao máximo olhar para o lado positivo de tudo aquilo.Se vencesse, poderia seguir com seu sonho mais rápido do que imaginava. E, se por desventura acabasse perdendo, ainda teria a liberdade para escolher seu parceiro sem a interferência de sua mãe. Depois disso, valia ainda mais a pena lutar para conquistar Noah — mesmo que, a partir daquele momento, ela pudesse considerá-lo um verdadeiro rival.Hanna parou diante da lanchonete de Ana, com uma expressão apreensiva.Bellini seria realmente seu rival? Inevitavelmente, sua mente começou a pensar que, talvez, Noah não iria mais participar da competição por ter sido expulso de sua casa. Se esse fosse o caso, ela teria que enfrentar Noemi? Ou pior, Leona?Um desespero alcançou os olhos da garota e ela hesitou em entrar naquele estabelecimento. Não queria acreditar que,
— Hanna! — uma voz irritada ecoou atrás de Fiore e Noah, assustando-os. Ela estremeceu, reconhecendo aquela voz juvenil e tão alterada.Sem outras opções, afastou-se do rapaz, interrompendo assim seu momento mágico, e virou-se para trás, encarando o garoto que os observava com seus seus olhos castanhos quase arregalados. Viu que era mesmo seu irmão, Anthony, olhando para os dois com indignação.— Thony! Eu… posso explicar.— Explicar? Que merda você tem na cabeça, Hanna? Esse cara é…— Eu sou o que, pestinha? — Noah se pronunciou, irritado. — O filho da mulher que sua mãe odeia? É isso que ia dizer? Se sim, quero que me diga: isso realmente importa?— Claro que sim! — Thony afirmou, convicto. — Você está usando minha irmã para atingir minha mãe, isso está muito óbvio para mim. — O que raios você tem no lugar do seu cérebro? — Noah esbravejou, dando alguns passos em direção ao garoto. — Eu nunca usaria a Hanna. Você deveria saber
Era quinta-feira. Hanna estava lendo um livro de terror — It: A coisa, de Stephen King — no silêncio da biblioteca da Lokelani. No entanto, apesar de estar parcialmente concentrada na leitura, seus pensamentos voavam por diversas coisas. Eram desde seu, até então, primeiro beijo com Bellini a chuva que havia molhado ela e Anthony na tarde de terça após não encontrarem Dominic e Alba no porto da cidade.Se soubessem que eles não estavam ali, jamais teriam ido para aquele lugar ao invés de voltarem para o aconchego de sua casa. No entanto, não adiantava chorar o leite derramado. Eles já tinham ido e estavam sofrendo as consequências disso. Hanna, se não bastasse acabar totalmente ensopada, foi obrigada a ouvir um sermão de Emma e ter que lidar com a culpa de ter deixado Thony resfriado — só mais uma coisa irritante para, também, lhe perturbar.Ela suspirou fundo, levando um de seus dedos à boca. Bufando, fechou o livro que lia e olhou para a hora que brilhava na tela