— Isso não é justo! Eu e clichê não combinamos — Hanna gritou, a todo pulmões. Bryath, que a acompanhava naquela tarde de sol forte, apenas revirou os olhos e cruzou as pernas.
— Por que diz isso, quase xará? — ela perguntou, fingindo interesse. Como a garota precisava conversar com alguém, fingiu que não havia percebido isso.Era boa quando se travava de fingir de sonsa, apesar de não gostar.— Tentei criar uma cena de clichê entre eu e um rapaz que conheci, mas acabei de cara com o chão — disse, fungando e secando seu choro falso com uma de suas mãos.— Mas também, né? Quem tenta criar uma cena clichê? — ela indagou, rindo da cara de Hanna. Isso não era o eu que precisava, dona Ana.— Escritores de romance? Ou de novela, filme e seriado? — perguntou, com sarcasmo.— Eles não fazem isso na vida real, querida. — Ela sorriu, levantando-se de sua cadeira. A passos lentos caminhou até o balcão.Já era sexta-feira e as invA primeira coisa que Hanna sentiu ao pôr os pés na calçada fria da rua fora o ricochetear do vento gélido atingindo seu rosto. Os, ainda fortes, raios de sol da tarde provocavam ardência em seus olhos, deixando-a desnorteada por alguns segundos. Seus cabelos curtos grudaram em sua boca, sua saia rodada verde abóbora dificultava a locomoção de suas pernas e a blusa roxa soltinha que vestia parecia querer sair toda vez que o vento — um pervertido, inclusive — adentrava suas vestes com agressividade.Aquela situação a irritava, tanto que ela bateu o pé com força e apertou seus punhos, sem saber lidar com suas emoções. Ela sabia que precisava de calma naquele momento, mas não a tinha, por mais que quisesse.Enquanto andava apressadamente pelas ruas quase desertas de Marjorie e tentava, em vão, encontrar seu irmão no meio das pessoas que ali estavam, Hanna sentia alguns olhares caindo sobre si. Eram, em sua maioria, de adolescentes, jovens e de algumas mulheres adultas. Elas a olhavam com
Se pudesse, Hanna com certeza teria ficado em casa naquela manhã.As luzes do ambiente ofuscavam sua visão. Suor escorria por sua testa à medida que suas pernas doíam de tanto ficar em pé. Hanna respirou fundo desejando um pouco de água para matar sua sede. O tempo abafado daquela manhã de sábado denunciava que não demoraria muito para chover. Era só uma questão de tempo para novamente se ver encharcada pelas gotas d'água que sempre desciam do céu velozmente. Nada diferente do habitual em sua querida cidade natal.Apesar do tempo tão incômodo, seu humor era agradável. Por esse único motivo — ou nem tanto assim —, vestia um vestido de alcinha florido e rodado, seu cabelo estava em uma pequena trança lateral bem arrumados e ela calçava uma sandália rasteira rosa bebê. Tudo muito bem trabalhado para ficar o mais próximo possível da perfeição. Não que ela gostasse disso, mas Mia havia feito questão de que seu look estivesse maravilhoso para não passar vergonha durante sua ida ao único sho
— Eu já disse não! — Eros praticamente berrou, já aparentando estar impaciente com a insistência de Hanna. A garota resmungou, se erguendo do sofá vermelho em formato de "L" que ficava na sala de estar do apartamento do moreno, para se aproximar ainda mais dele. — Por que não? É algo fácil, rápido e que não vai te custar muito! — Hanna protestou, batendo o pé com força no chão. Mia, que estava sentada em uma poltrona do outro lado da sala, gargalhou baixo.— Você não sabe o que é não, Fiore? — replicou, incrédulo com a atitude contínua dela.— Ela nunca se cansa, gato — Mia disse, antes mesmo que Hanna pudesse abrir a boca para falar algo. Contrariada, a jovem assentiu.Ela era e não podia negar isso.— Eu sou sim e não tô nem aí — disse, se aproximando de Eros ainda mais. — E, além do mais, o que eu estou te pedindo é algo tão simples que não posso me conformar com seu não!— Hanna — a chamou, respirando fundo. — Vamos recapitu
— Não acredito que foi por isso que me chamaram aqui! — Hanna resmungou, lançando um olhar mortal na direção de Alba. A garota somente deu de ombros e sorriu minimamente.— É algo importante, Hanna! — alegou, apontando para Dominic que se olhava em um grande espelho do outro lado da sala onde os três se encontravam. — Você quer acabar com a infância daquelas crianças lá fora? Quer? — acusou, gesticulando com as mãos.Hanna somente revirou os olhos. Não era tão gritante assim.— Você está exagerando.— Estou? Olha para aquilo, Hanna! — exaltou, apontando para Dominic novamente. — Que criança não ficaria traumatizada ao ver isso?Relutante, Hanna foi obrigada a assentir.Seu pai estava, no mínimo, esquisito.Dominic vestia uma fantasia da pequena sereia. A peruca ruiva que usava estava posta desajeitadamente em sua cabeça e não condizia com a barba, não tão rala, que ele possuía. Para piorar a situação, a calda da sereia parecia mais um par de músculos esquisitos, nada delicada, em seu
Era segunda-feira. O sol brilhava majestosamente no céu naquela manhã. Os poucos estudantes que estavam naquele recinto conversavam sobre assuntos diversos, desde o tempo tempestuoso que assombrava as cidades vizinhas ou as eliminatórias do futebol local. E, enquanto a preocupação de alguns era ser pego por uma tempestade ou não ganhar o troféu, Hanna suspirava a cada três segundos enquanto sua cabeça estava posta desajeitadamente sobre uma das mesas do refeitório da faculdade. Sua mente estava presa em seu encontro com Bellini na tarde anterior. Por sorte, ou azar, Noah não chegou a se encontrar com pai da garota e Alba. Ele foi obrigado a ir embora para ver sua noiva antes que pudesse fazer. Aquele pequeno fato fez Hanna ser puxada de volta para a realidade. Apesar de estar com Bellini, se divertindo com os pestinhas e finalmente ver o tempo passando mais rápido, ela foi obrigada a perceber que aquilo não era verdade. Não era ela a plebéia do príncipe. Não era ela a garota que Noa
Os sons desconexos das vozes vindas da tevê lhe causavam uma irritação anormal, fazendo sua cabeça doer mais do que já estava. Enquanto os canais saltavam a cada cinco segundos, Hanna pensava em como não entender nada do que eles falavam era irritante. Bufando, permitiu que seus pensamentos voltassem para os acontecimentos da manhã daquele dia. Suas palavras, ditas sem pensar, lhe perturbavam a mente. De um jeito ou de outro, ela não conseguia saber se aquilo que disse era totalmente verdade. Afinal, como alguém que não possuía a oportunidade de escolher o que faria da sua própria vida tinha direito de dizer sobre a forma que os outros viviam? Ela não achava que o possuía, principalmente ao perceber que, apesar do modo errado que Ágatha usou seu nome, ela nem tinha esse privilégio. Queria ela ser totalmente livre das responsabilidades, dos padrões da sociedade e, principalmente, das expectativas dos outros. Sua mãe era a prova viva que ela não era tão "que se dane" assim.
Era uma tarde de quarta-feira. O dia estava nublado, cinzento, desde o momento que uma garoa fina bloqueou os raios quentes da manhã. Hanna olhava furtivamente para um certo casal apaixonado do outro lado da praça da cidade de Marjorie. Ela aguardava, agora não mais ansiosa, a chegada de Carlos. Seu deleite havia sido roubado no momento que descobriu uma felicidade alheia lhe atormentando. Noah estava a alguns metros dela, conversando de um jeito apaixonado — talvez — com Jéssica. Os dois sorriam, riam e, vez ou outra, entrelaçavam os dedos, passando uma confiança, uma cumplicidade que era de sentir inveja. Não era preciso nem perguntar o quanto aquela cena deixava Hanna frustrada. Sentia uma raiva inexplicável dominando seu corpo aos poucos, quase levando-a a loucura.Apesar disso, aquela cena era tão esperada que a fazia sentir-se uma tola. Os dois eram um casal, noivos. Já ela, não era nada dele. Nem mesmo podia considerá-lo um amigo. Não tinha porquê sentir a
Era sexta-feira. O sol, aos poucos, se escondia no horizonte, trazendo o frio da noite para aqueles que continuavam nas ruas naquele horário. Os fortes ventos vindo do litoral balançavam as cortinas daquele cômodo quase vazio, trazendo uma brisa gostosa e arrepiante para quem estivesse próximo a janela. Ali, no apartamento de Eros, vários tufos de cabelos castanhos enfeitavam o chão, por cima do tapete vermelho. Guerra choramingava ao pé da cama, ainda não acreditando que Fiore havia cortado seu cabelo. Borges ria da cena, próxima a porta, divertindo-se a cada soluço falso do novo amigo. Era uma cena divertida tanto para Hanna quanto Mia. Fiore sorriu minimamente ao sentir Mia vindo em sua direção. A morena tocou seus ombros, encantada com o resultado final de seu trabalho árduo. Ela tinha feito a maquiagem.— Você está linda, Hanna — Borges elogiou-a, sorrindo abertamente. — Sim — ela concordou. — Graças a vocês.— Exato — Eros confi