Amanda abre mais uma latinha de cerveja. Emanuele parou na primeira, e agora só quer saber de beber água e comer salgadinhos. As duas estão na balaustrada da varanda do apartamento das gêmeas, e Amora está do lado de dentro cozinhando alguma coisa.Já fazia duas semanas que Joshua tinha ido embora, e havia um vazio esquisito e horrível no coração de Emanuele.Na semana anterior, o grupinho quis propor uma espécie de linchamento coletivo contra Thabata, mas a ex-ruiva implorou que não fizessem nada com ela. Apesar de estar machucada, a moça dos cabelos cor de mel só conseguiu um pouco de paz e sossego quando revidou as agressões. Ela não queria reiniciar o ciclo.Depois de dar um gole na bebida, Amanda murmura:"Você pode tomar álcool? Achei que seria prejudicial já que você ainda toma alguns remédios fortes pra dor."Emanuele dá de ombros."Todos nós temos um dia em que as regras não se aplicam. Esse é o meu caso."A gêmea ri."Não acredito que uma pessoa tão legal quanto você tenha s
Um filme se passou na cabeça de Emanuele.Johnny estava sorridente, esperançoso, até mesmo um pouco sem graça apesar de chamar a atenção para si. Ele estava esperando por aquilo há muito tempo.A moça do cabelo cor de mel não sabia se saía correndo imediatamente, interrompia discretamente o discurso do rapaz, ou simplesmente ficava parada ali, sem dizer nada.É claro que ela ficaria muito feliz se ele de fato a pedisse em namoro. Os dois estavam saindo um com o outro com certa frequência, confessaram os próprios sentimentos, tinham confiança mútua e muito respeito, é claro. Os próprios amigos ali reunidos já pensavam neles como um casal oficial.Emanuele nunca pensou que teria de fato um relacionamento sério. Na primeira e única vez que se envolveu com alguém, foi mais uma aventura do que qualquer coisa. Principalmente porque o próprio homem evitava mostrar aos outros que tinha algum envolvimento com ela, provavelmente para protegê-la de alguma represália.Embora o caminho que seguiu
Ele não a vê. Pelos milésimos de segundos em que a moça consegue ver claramente que se trata de seu antigo colega de quarto, Johnny pega em sua mão e ambos vão juntos para dentro do prédio.Aquilo só poderia ser uma brincadeira de muito mal gosto.Como os dois ainda não haviam se encontrado? Como seu então namorado vivia no mesmo prédio que Joshua e nenhum dos dois estava ciente daquilo?Dentro do elevador, o moço diz:"Está preocupada com alguma coisa?"Droga. Ela sempre foi muito boa para esconder as próprias emoções. Se chegou ao ponto de falhar, é porque de fato elas estavam bem à mostra.Emanuele respirou fundo, acalmando os próprios pensamentos. Aquela noite deveria ser especial, e não mais uma daquelas madrugada difíceis e cheias de preocupação e tormenta. E além do mais, eles estavam ali para comemorar a oficialização do namoro.Ela podia deixar aquilo de lado, pelo menos por enquanto.Até porque Joshua estar ali era o menor dos problemas. Cedo ou tarde ela teria que dizer a
Os hormônios de Emanuele fervem tanto por debaixo de sua pele que ela tem medo de entrar em ebulição.Ela arfou, sentindo o peso do pedido de Johnny. Perder a virgindade. Permitir que ele, que agora era seu namorado, fosse o primeiro homem dela.Envergonhada, a moça se lembra que o primeiro contato sexual que teve não foi com Johnny, e sim Joshua, quando ele a masturbou. Claro que a moça jamais diria isso, mesmo depois da pequena conversinha sobre sinceridade que acabaram de ter.Uma coisa era ser sincera, outra era perder completamente o discernimento das coisas.Ali de pé, ainda vestido porém doido para ficar nu, Johnny olhava para ela com uma espécie de fome, de vontade urgente e insaciável. Ela também queria, é claro, mas tinha medo. Será que iria doer? Será que se arrependeria?Sua mãe sempre a chamava de "vagabunda" quando podia, principalmente depois que a jovem tingiu o cabelo de vermelho. Inconscientemente, ela tinha muito medo de ser mal vista ou julgada. Romper aquela linha
Quando acabaram, os dois permaneceram deitados um ao lado do outro. Os braços de Johnny permaneceram agarrados ao tronco de Emanuele, que respirava fundo, ainda absorvendo tudo aquilo que acabou de acontecer.Ele disse que a amava. E ela disse que o amava também.E não era mentira.Mesmo que houvesse algum traço de confusão em seus sentimentos pelo antigo colega de quarto, era evidente que o sentimento era menor, talvez mais sutil. Joshua jamais namoraria com ela, jamais faria aquelas promessas tão doces.Até porque ele estava perdido demais na própria amargura para cuidar de alguém."Como está se sentindo?" Depois de alguns segundos de contemplação silenciosa, Johnny finalmente diz algo.Aquela era uma pergunta e tanto. Emanuele nem sabe como começar a responder, mas ela tenta:"Parece que... O mundo que eu conheço, ou o que conhecia antes disso... Mudou completamente."Ele dá um beijo na testa dela, deixando que a moça continue sua linha de raciocínio."Sempre li nas histórias como
Emanuele está tão envergonhada, tão chocada e assustada que nem consegue formular uma frase.Aos poucos, ela vai tentando ligar a lógica com aquilo tudo: Joshua morava no mesmo apartamento de Johnny, talvez até mesmo no mesmo andar (azar total!). Será que ele foi até lá para falar com ele? Sim, eles já haviam se acertado depois do infeliz episódio da briga, mas não deixava de ser esquisito.A voz da moça soou ligeiramente aguda quando ela perguntou:"O que você está fazendo aqui?"Boquiaberto, Joshua respondeu:"Eu vim falar com o meu vizinho. E o que você está fazendo aqui?"Então os olhos do homem se detém nos detalhes: nas bochechas ligeiramente coradas, o cabelo bagunçado e mal-disfarçado num coque frouxo... E a camisa é obviamente grande demais para o corpo, com falta de adornos femininos. Ou seja, uma camisa de Johnny.Emanuele percebe a linha de raciocínio sendo formada, mas também não consegue admitir a verdade. Ela coloca uma das mãos na cintura, tentando em vão ser inclement
Johnny pede licença para entrar, apoiando a sacola no balcão da cozinha. Então olha para Joshua:"Vai ficar parado aí? Entra."O homem obedece, fechando a porta atrás de si. Até então, nem ele nem Emanuele sequer tentaram explicar o que estava acontecendo. A moça ainda permanecia vermelha, absolutamente infeliz e desejando se transformar numa formiga e sair dali.Johnny não parece irritado ou chateado. Ele começa a cozinhar bacon com ovos, enquanto Emanuele e Johnny se sentam à mesa, mas não do lado um do outro."Bem..." Começa Joshua. "Vim aqui falar com você e dei de cara com a Emanuele. Confesso que fiquei um pouco surpreso.""É mesmo?" Pergunta Johnny, ainda ocupado com os preparativos do café da manhã."Sim, mas foi só num primeiro momento. Começamos a jogar conversa fora no instante que você chegou."O anfitrião coloca três pratos rasos em cima da mesa, e logo em seguida, três xícaras. Emanuele encosta no nariz quase curado, e Joshua pergunta:"Ainda falta muito pra você tirar e
Emanuele olha para Johnny, esperando repreensão, choque, angústia ou qualquer coisa mais ou menos parecida com isso. Bom, há surpresa nos olhos dele, isso é fato. Mas seu tom de voz não muda quando ele pergunta: "É mesmo?" A moça está morta de vergonha, mas prossegue com a explicação: "Ele me tocou. Apenas uma vez. E depois nós nunca mais voltamos a falar do assunto... Então eu não dei muita importância pra isso. Mas... Acho que deveria ter te contado de qualquer forma. Mas fiquei com medo. Me desculpa." O rapaz suspira fundo e olha para as paredes do próprio lar. Então finalmente fala: "Está tudo bem." "O quê?" "Está tudo bem. Eu não tô irritado com isso." "Eu não entendo. No hospital você ficou tão triste quando eu contei sobre o beijo." "Foi diferente." "Por quê?" "Bem, até então eu tinha apenas uma suspeita que acontecia algo entre vocês. E o que me chateou foi você não ter contado mesmo com a confiança que se estabeleceu entre a gente. Me senti um pouco traído nesse as