Emanuele para de comer no mesmo instante. Ela o encara silenciosamente, ponderando se deve mesmo expor seus pensamentos naquele instante, ou esperar um pouco e filtrar melhor as palavras.Johnny não parece abalado com a reação dela. Ao contrário, o homem ergue uma das sobrancelhas e abre um sorriso convidativo.Ela responde devagar:"Bom... Talvez. Relações podem ter momentos muitos bons... Mas também têm momentos muito ruins.""Tem razão." Ele bebe um gole do suco e continua comendo as omeletes. "Você acha que, no nosso caso, teríamos mais momentos bons do que ruins?"As bochechas de Emanuele estão tão quentes que ela poderia fritar ovos nelas. Ela se remexe na cadeira, sentindo-se um tanto quanto desconfortável, e olha para as paredes da cozinha."É difícil dizer.""Sério? Eu não acho. Acho que estaríamos bem quase cem por cento do tempo."Ela finalmente olha nos olhos dele ao perguntar:"Porque esse assunto surgiu tão de repente?"Johnny pondera a pergunta, coça o queixo e então co
Quando Johnny sobe, vê Emanuele sentada com o celular nas mãos, ainda sem coragem de se mexer, fazer ou dizer qualquer coisa. Ele nota a fisionomia assustada dela e se preocupa imediatamente:"Ei. Acontece alguma coisa?"Os olhos dela estão genuinamente assustados e alarmados quando ela diz, num fio de voz:"Alexandra está voltando da viagem."O rapaz cruza os braços:"Achei que ela nunca mais fosse voltar. Eu e Carlos até mesmo estávamos apostando quando ela daria a notícia de que ficaria por lá, onde quer que esteja.""Vocês não sabem pra onde ela foi?""Não, ninguém. Mas você disse que ela foi ver um parente distante, um membro da família, não é?"Emanuele assente e olha mais uma vez para a tela do celular, ainda sem coragem de ler aquelas duas frases tão curtas e precisas, mas ainda tão chocantes."Eu estarei aí amanhã de manhã. Tenho que preparar o meu irmão para o enterro."O homem que assombrou os sonhos de Joshua, que o fez ir para o reformatório, se reerguer do nada e conquis
O carro de Johnny parou em frente a calçada do prédio de Emanuele. Dolorida, a menina encostou no nariz quebrado, ainda enfaixado com o curativo especial. Ela olhou para o rapaz ao volante, franzindo o cenho de tensão. "Quer que entre com você?" A garota faz um sinal negativo com a cabeça. "Melhor não." Ele a beija delicadamente e segura em seu rosto, de forma protetora e segura. "Qualquer coisa, Emanuele. Qualquer grito, qualquer ameaça ou discussão, me ligue imediatamente." "Eu ligo, sim. Pode deixar." Ela faz menção de abrir a porta do carro, mas ele a detém colocando a mão em seu ombro. "Estou falando muito sério. Não hesite em me chamar." "Eu sei. Está tudo bem." Depois de um último beijo, ela finalmente coloca os pés para fora do automóvel. Mesmo assim, Johnny só dá a partida depois que a moça sobe os pequenos degraus até as enormes portas duplas do edifício. Dentro do elevador, Emanuele sentiu que seu coração estava acelerado, a pele suada e a respiração difícil. Entã
Alexandra é muito parecida com que Emanuele viu nas fotos, mas ao mesmo tempo diferente. Nas imagens perfeitamente calculadas e anguladas das redes sociais, ela é apenas uma mulher bonita com ar sério. Mas ali, parada na frente dos dois, a ex-ruiva percebe um ar tremendo de autoridade. Estava explicado o porquê ela simplesmente saiu do apartamento às pressas para uma longa viagem, se importando pouco com os sentimentos dos outros no processo. Ela fazia o que queria, e provavelmente não aceitava ser contrariada. Ela estava usando calça jeans, blusa de manga comprida e botas de cano curto. Uma mala pequena estava em sua mão esquerda, e na outra, a chave. "Bom dia", ela os cumprimenta, absolutamente surpresa por estarem os dois acordados tão cedo. A mulher de pele escura, longos cabelos negros e cacheados presos num coque e olhos cintilantes observa melhor a aparência de Emanuele e quase deixa a mala cair. "Santo Deus! O que aconteceu com você?" Ela encara Joshua, que estende as m
Emanuele observa as feições de Joshua mudarem drasticamente: primeiro ele tenta rir, como se estivesse ouvindo uma piada. Então vai para a tristeza, uma espécie de angústia interminável. Finalmente, a emoção mais forte toma conta e se destaca: a indignação. Sua voz não está mais alta como antes. Ele cerra os punhos antes de perguntar num tom bem baixo:"Como assim, ele me cortou do testamento?"Alexandra suspira e começa a mexer nas unhas enquanto fala:"Antes de ele perder quase que completamente as funções cognitivas, uma das últimas atitudes dele foi tirar o seu nome de todos os documentos oficiais. A casa, o sítio e as pequenas ações da empresa estão em minha posse agora."Apesar de não falar nada, o próprio silêncio de Joshua é ameaçador e opressivo. É como se Emanuele conseguisse sentir a aura agressiva que emanava do corpo imóvel dele.Aparentemente, a própria Alexandra não conseguia ver ou sentir isso, pois continuou falando:"É claro que acho isso injusto. E por isso tive qu
Quando Emanuele entra no quarto, Joshua já está abrindo a porta do guarda-roupa e retirando todas as suas blusas, calças e demais peças de vestuário de lá. A menina diz: "Joshua, espera." O homem sequer olha para ela ao responder, ainda concentrado em retirar suas roupas do móvel. "Não tenho o que esperar. Você ouviu." "Vocês apenas perderam a cabeça, tenho certeza que podem chegar a um acordo." A voz de Alexandra soa atrás dela: "Não há acordo. Eu sinto muito, Emanuele. Você parece uma pessoa doce e gentil, e eu enxergo isso, mas eu e meu irmão obviamente temos problemas demais." "Mas esse problema acabou, não acabou? O pai de vocês morreu. Não há mais nada a temer ou discutir!" Emanuele olha de um para o outro, gesticulando muito. "Por favor, não façam isso, não se deixem levar pela mágoa e pelo odio." Joshua responde mais uma vez: "Não é tão simples assim." "É simples, sim. Vocês só precisam sentar e conversar. Gente, vocês são irmãos! Passaram por tanta coisa, sofreram ta
Tudo acabou da forma mais desastrosa que podia. Ou quase.Alexandra não voltou atrás da decisão, muito pelo contrário. Disse que Joshua tinha duas horas para recolher todos os seus pertences e voltar para o lugar de onde veio. Emanuele reparou pela primeira vez que nunca soube onde era a casa do agora ex-colega de quarto.Apesar dos pedidos para ficar sozinho, a moça não conseguiu deixar que ele organizasse e arrumasse as malas sem nenhuma ajuda. Enquanto Alexandra tomava um banho e fazia ligações importantes, provavelmente para o advogado ou pessoas da empresa, Joshua dobrava roupas, camisas e calças, tudo com a ajuda de Emanuele.O silêncio os incomodava, mas não havia absolutamente nada que pudessem dizer um para o outro. Não existia conforto nem conselho que fizesse alguma diferença naquele momento."Eu queria ficar mais", murmurou ele.Ela parou o movimento de guardar a roupa, surpresa por ele estar falando.Joshua esclareceu:"Você parece bem machucada, queria poder ajudar com i
Amanda abre mais uma latinha de cerveja. Emanuele parou na primeira, e agora só quer saber de beber água e comer salgadinhos. As duas estão na balaustrada da varanda do apartamento das gêmeas, e Amora está do lado de dentro cozinhando alguma coisa.Já fazia duas semanas que Joshua tinha ido embora, e havia um vazio esquisito e horrível no coração de Emanuele.Na semana anterior, o grupinho quis propor uma espécie de linchamento coletivo contra Thabata, mas a ex-ruiva implorou que não fizessem nada com ela. Apesar de estar machucada, a moça dos cabelos cor de mel só conseguiu um pouco de paz e sossego quando revidou as agressões. Ela não queria reiniciar o ciclo.Depois de dar um gole na bebida, Amanda murmura:"Você pode tomar álcool? Achei que seria prejudicial já que você ainda toma alguns remédios fortes pra dor."Emanuele dá de ombros."Todos nós temos um dia em que as regras não se aplicam. Esse é o meu caso."A gêmea ri."Não acredito que uma pessoa tão legal quanto você tenha s