Johnny chegou rápido. Bem mais rápido do que Emanuele sequer poderia ter imaginado.A moça ainda estava de pijama e com os olhos inchados de choro quando o som da campainha soou. Ela havia lhe dito o andar e o número do apartamento na ligação, mas esqueceu completamente de falar que o culpado não era o atual dono do apartamento.Ao abrir a porta, a primeira coisa que Johnny fez foi avaliá-la de cima a baixo. Ele estava usando calça jeans, camisa preta e jaqueta combinando. Então o rapaz segurou suas duas mãos e disse:"Obrigado por ter me ligado. Você se machucou? Ele fez alguma coisa a você? Ou foi a Thabata?"Antes que ela pudesse agradecer pela gentileza e pela rapidez da qual Johnny veio atendê-la, a porta do quarto de Joshua fez um pequeno clique. A maçaneta se mexeu e a porta se abriu, revelando a figura do homenzarrão de bermuda e ainda sem camisa."O que está acontecendo aqui?", Ele pergunta."Excelente pergunta." A voz do recém chegado é grave e ligeiramente mais alta do que
Não é a mãe de Emanuele.Mas a senhora emburrada, um pouco corcunda, loura de olhos castanhos e cheiro de naftalina é praticamente idêntica. Os olhos arregalados da ruiva relaxam imediatamente após constatar que o Demônio não está na sua frente. Então ela e Johnny finalmente entram no elevador.Enquanto descem até o térreo, Johnny dá um beijo na testa de Emanuele."Me desculpa se eu acordei você", diz ela, apoiando-se no corpo do rapaz."Ei, eu disse que você poderia me chamar se precisasse. E você fez isso. Não se culpe.""Mas são oito da manhã.""Ei, é domingo. Eu não vou trabalhar hoje. E eu já te disse, vou manter você fora o dia inteiro."Ela o abraçou forte. Johnny era um perfeito cavalheiro, e era muito fácil se sentir confortável com ele. O que ela não entendia, de verdade, era o porquê de ele ser tão gentil com ela desde o início. De acordo com o próprio, Johnny disse que ela parecia com alguém que ele conheceu.Mas seria isso um motivo forte o suficiente?Os dois atravessar
Depois que a senhorinha foi embora, tanto Johnny quanto Emanuele concordaram ir embora e dar um pequeno passeio. Precisavam de ar fresco. O cartãozinho ainda estava na mão da menina da cidade pequena, os dedos trêmulos.Assim que chegasse no apertamento, embora não soubesse quando, já que provavelmente Thabata estaria lá "conversando" com seu namorado, ela iria entregá-lo. E provavelmente fazer perguntas, se seu senso de noção estivesse particularmente desregulado.Andando em ritmo de passeio por uma calçada comprida e tranquila que dava para um dos parques do bairro, Emanuele debatia avidamente sobre quem era aquela mulher e de quem ela estava falando."Alguma coisa horrível aconteceu. Não apenas com o Joshua, mas com a Alexandra também." "E aparentemente a Alexandra perdoou a pessoa que fez essa coisa horrível.""Que vem a ser um membro da família deles.""Isso."Ambos se perdem nos próprios pensamentos por alguns segundos, tentando montar peças de um quebra-cabeça confuso e aparen
A volta pra casa foi pesarosa, lenta e repleta de medo, confusão e receio.A imagem horrível não saía de sua cabeça: a pobre senhora idosa jogada no asfalto, terrivelmente machucada e desfalecida. Emanuele não quis ficar para ver o resgate. Na verdade, antes mesmo de uma ambulância chegar, um dos passantes jogou uma lona em cima do corpo.Johnny estava pálido ao lado dela, segurando-a pela cintura enquanto faziam o trajeto de volta para o prédio. A ideia era que eles passariam o resto do dia longe, mas aquilo não poderia esperar.Como será que Joshua iria reagir? Será que ele se lembrava da babá? O cartão com o número entregue minutos antes pesava como chumbo na bolsa da moça. Agora ele nunca mais poderia ligar pra ela e tirar a limpo o que quer que houvesse acontecido entre eles.Mas ainda havia uma coisa que Emanuele poderia fazer. Com ou sem Thabata no apartamento, com ou sem ecos do pesadelo aparecendo de vez em quando para tumultuar seu raciocínio. E essa coisa era passar para J
Os rapazes rolam pelo apartamento, trocando socos e chutes. Apesar de estar assustada e apavorada, gritando que parem, Emanuele percebe que ambos não estão batendo a esmo. Aparentemente, tanto Joshua quanto Johnny sabem lutar de verdade.Isso só piora as coisas, na verdade, já que ambos sabem como neutralizar um agressor. As coisas poderiam sair completamente de controle, quer dizer, mais do que já estavam.Emanuele grita mais uma vez para que parem, mas os dois não escutam. Sem conseguir raciocinar direito, a ruiva vai para a cozinha e enche uma jarra d'água. Em Porto Feliz, quando cachorros e gatos vadios começavam a brigar, os moradores os separavam jogando água.É exatamente isso o que ela faz ao voltar para a sala. Eles não saem correndo como cachorros, mas param de se bater e olham para ela, assustados e confusos."Pelo amor de Deus, vocês podem acabar se matando! Johnny, acho melhor você ir."O garoto parece magoado com a menina, mas se levanta. Ele não parece machucado, embora
Joshua e Emanuele estão um de frente para o outro na mesa da sala de estar. Um copo d'água está na frente de cada um, mas nenhum deles bebeu um gole sequer. O atual proprietário disse à ela que iria contar o que estava acontecendo, e ela estava pronta para ouvir... Ou pelo menos se julgava pronta."Eu não vou contar tudo. Mas... Apenas uma parte. Para que você entenda o porquê dessa minha... Comoção."As palavras que ele diz saem de forma difícil e arrastada, como se fosse difícil ficar ali, sentado em casa com uma hóspede ao invés de sair quebrando todos os móveis na sua frente. Ela assente, mostrando que compreende o quão complicado aquilo está sendo pra ele.Joshua respira fundo."Você está certa. Conseguiu entender essa parte da história, embora eu ache que ficou meio óbvio depois de... Depois de você ter se encontrado com a Rosita."O homem dá um gole na água e olha para o nada enquanto prossegue seu relato:"Alexandra e eu somos muito diferentes. Nós nos amamos muito, mas perte
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .Emanuele está deitada na cama puída, velha e com cheiro de mofo. As paredes descascadas e sem reboco têm cheiro de tijolo molhado; a janela com vidros quebrados está parcialmente fechada, como sempre. O dia é nublado e sem graça, como todos os outros. A moça olha para a porta do próprio quarto.A ruivinha nunca teve privacidade para nada. Desde criança ouvia da mãe que nada do que tinha, da roupa do corpo até a comida (nojenta) no prato, pertencia a ela. Até os quinze anos, Emanuele achava que esse comportamento era o normal. Até uma palestrante de outra cidade ir até a escola dela, e explicar aos alunos diversas questões sobre saúde mental.Aquele dia foi crucial para que ela entendesse que, no fundo, ela estava certa. E que sua mãe não era uma mãe normal; ela não era como as outras.A partir dos quinze anos, Emanuele estudou vários artigos científicos e documentos escolares, bem como livros de profissionais da saúde e psicólogos. Não levou
"Eu sabia."A voz de Thabata, surpreendentemente, não é alta e esganiçada. Pelo contrário: é baixa e fria, como um rosnado.Joshua se levanta. Emanuele não sai do lugar, mas fala:"Thabata, foi só um abraço.""Cala a sua boca, caipira de merda. Como você ousa ainda tentar falar alguma coisa?""Thabata, não há com o que se preocupar. Não é o que você está pensando", Joshua tenta explicar."Claro que não! Porque eu não estou pensando nada, Joshua. Eu vi.""Estávamos apenas conversando.""E que conversa era essa, se eu tenho o direito de saber?"Os dois não respondem imediatamente. Os detalhes eram muito íntimos, e retratava diretamente sobre o passado de ambos. Emanuele olha discretamente para Joshua. Será que Thabata sabia da relação dele com o tal membro da família? Afinal, eles já estavam juntos há quase três anos.Devido a hesitação, Thabata debocha:"E você dizendo que queria esclarecer a situação... Pra mim está tudo claro como cristal. Eu sabia que não podia confiar em você!"Em