Meu Blues
Meu Blues
Por: Trixie
21:00 PM

                                                    

O som do lado de fora é alto o suficiente para que eu me sinta perturbada. William está apoiando-se do outro lado do banheiro no vaso, sentado em cima dele. Talvez já sinta o cansaço de ficar de pé torrando os seus músculos. Eu continuo imóvel, sem saber se falo algo ou não, presa em pensamentos que não se importam em açoitar-me com força e intensidade. Estamos presos nesse banheiro há alguns minutos e nenhum dos dois parece empenhado em ser o primeiro a falar qualquer coisa. Por fora, eu tento manter a compostura, contudo, por dentro, estou um caos.

Faz alguns anos desde a escola, mas o seu rosto ainda enfeita os meus pensamentos, como quando uma música prende em sua mente e jamais se solta de lá. William Albano, o cara por quem eu estive apaixonada por tempo demais para quase sucumbir a loucura está bem a minha frente. Naquela época, eu era uma garotinha ingênua e burra demais para entender o que estava sentindo. Só o achava o garoto mais interessante do mundo, digno de toda a minha devoção. Mesmo depois da escola, eu sempre o via de longe. De vez em quando nossos caminhos se cruzavam. Uma amostra grátis de como o destino pode ser cruel e traiçoeiro.

Como ficamos presos dentro desse banheiro pequeno e quente como o inferno? Eu tenho uma hipótese, mas não quero acreditar que Thalia, minha colega de sala, tenha mesmo tido a coragem de prender-nos nesse cubículo com o único intuito de fazer-me sofrer. Sem querer eu tinha confidenciado a Thalia que William era uma paixonite do meu passado enquanto bebíamos e tentávamos formular uma apresentação para a aula do outro dia. Eu tinha entrado há pouco tempo na universidade, e vê-lo poucos minutos depois de estar dentro do campus deu um clique na minha mente.

E talvez, só talvez, Thalia tenha armado para nós dois e eu juro que irei matá-la com minhas próprias mãos e expor o seu sangue nas ruas dessa cidade quando finalmente sair daqui. Mas, por enquanto, os meus olhos estão presos nele e sequer desviam. William Albano é como um veneno. Um presente embrulhado e dado para mim pelo próprio demônio com o único intuito de me fazer sofrer terrivelmente.

Ele ainda é o mesmo. Olhos castanhos que incendeiam, rosto centrado e bonito demais. E agora ele me fita, e eu sinto tudo aquilo — aquele sentimento bobo e infantil —, me sufocando novamente. É como pular de um penhasco mesmo sabendo que a queda pode te matar. Você acaba se jogando só pela promessa da adrenalina.

— Droga, acho que estamos mesmo presos aqui! — sibila.

E então eu sinto o tom da sua voz — áspera e sem muita emoção —, atingir-me com força, fazendo eu me lembrar que William sempre teve essa postura de estátua grega, incapaz de transmitir ou deixar escapar o que estava sentindo.

— É o que parece. — respondo, simplesmente — Mas não se preocupa, em breve alguém vem e nos tira daqui.

Eu tenho em minha mente a imagem de uma Angelina mais nova sorrindo descaradamente em direção a ele, recebendo nada além de um olhar de quem parece estar julgando os seus piores e mais terríveis pecados.

Como eu era ingênua!

— Não estou com pressa, só não sei quem pode ter sido o imbecil que nos prendeu aqui. — é sincero, passando as mãos pelo cabelo castanho.

— Eu também. — afirmo, cruzando os braços e só então percebendo a garrafa de vinho em minhas mãos que tinha furtado da cozinha da casa onde Thalia mora com algumas amigas. É ela a anfitriã da festa.

A verdade é que minha mente aponta ela como a culpada e se estivéssemos em um tribunal, Thalia seria acusada. Mas eu não posso dizer para ele, pois sei que se eu contar, William perguntará o motivo dessa loucura e não terei como respondê-lo. Dizer que a minha amiga trancou a gente nesse cubículo porque ela sabe o que eu sinto — ou bem, sentia —, por ele é humilhante demais. Então, decidida a não dar o braço a torcer a esse garoto de nariz empinado, apenas minto.

Outro momento de silêncio. Duas pessoas presas em seus próprios redemoinhos. Eu só quero sair logo desse cômodo e voltar para casa, onde a minha cabeça finalmente irá parar de batucar devido ao som alto e potente do outro lado da porta. William continua sério e calado. Parece não querer bater papo comigo ou com qualquer outra pessoa.

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