(Ethan)
A noite estava fria, mas o ar estava limpo. Eu não costumava andar por aquele lado da cidade. Sempre havia evitado os bares do centro, o cheiro de álcool misturado ao perfume barato das mulheres e à fumaça de cigarro. Mas algo me fez parar naquela noite. O instinto, talvez. Ou a sensação de que algo estava prestes a acontecer, como se o universo estivesse preparando uma tempestade.
Eu estava caminhando por uma rua vazia, os passos pesados, quando passei em frente ao bar. A porta estava entreaberta, e o som abafado de conversas e risadas escapava de dentro. Algo me puxou para lá. Não sabia o que exatamente, mas parecia certo, como se estivesse sendo guiado por algo além de mim mesmo.
Eu posso ouvir tudo — até os passos ecoando contra o chão de madeira do bar, sua respiração irregular, o som suave da sua pulseira batendo contra o braço. Cada detalhe parece mais nítido, mais real. Sua voz, a maneira como ela responde ao patrão… é como se eu estivesse no centro de seu mundo, ouvindo seu sofrimento e sua luta em cada sílaba. Mas o que me choca é quando ela fala de seu pai. Esse peso nos seus ombros, esse desespero que parece ainda mais pungente do que qualquer coisa que eu já vi.
Entrei e me misturei rapidamente às sombras, observando de longe, sem que ninguém percebesse minha presença. O lugar estava longe de ser discreto. Havia uma energia errada no ar. Talvez fosse a tensão, ou talvez a maneira como as pessoas dentro do bar se afundavam no álcool para esquecer suas preocupações, mas tudo parecia errado.
Fiquei nas sombras, observando sem ser notado. O cheiro do álcool, o som das risadas, as conversas abafadas – nada disso me interessava. Mas o que aconteceu em seguida, isso sim me chamou a atenção.
Ela entrou no meu campo de visão.
Ella.
Era ela que chamou minha atenção, antes mesmo de eu entrar no bar.
A primeira coisa que percebi foi a sua estatura pequena, uma mulher baixa, mas que carregava uma presença que parecia ocupar o espaço inteiro. Seus cabelos longos e castanhos escuros, lisos, desciam em ondas por suas costas com um brilho sutil à luz suave do bar. Ela tinha os traços delicados do rosto, como se fossem esculpidos com cuidado, mas seus olhos… Seus olhos eram o que mais chamava a atenção. Eram grandes, escuros e profundos, como se escondessem um oceano de emoções que ela tentava manter controlado. Algo que eu só vi antes em criaturas como eu – algo primal.
O contraste entre sua delicadeza e a força em sua postura era inegável. Ela estava no centro do bar, mas parecia distante, como se o lugar todo fosse uma prisão que ela tentava escapar. Seus quadris largos e o busto avantajado davam-lhe uma silhueta arrebatadora, uma mulher que, embora fosse de estatura pequena, dominava o ambiente. O seu jeito de andar, a maneira como seu corpo se movia com graça e fluidez, mas ao mesmo tempo com a cautela de quem sabe que algo poderia acontecer a qualquer momento, me deixou hipnotizado.
Eu não sabia exatamente por que, mas algo dentro de mim se aquietou quando a vi. Algo primordial. Eu soube, naquele momento, que ela era diferente. Ela não era apenas mais uma mulher no bar, mais um rosto entre outros.
Ela parecia um reflexo de algo que eu já havia visto antes, algo que me atraía de maneira inusitada, sem que eu soubesse exatamente o porquê. O momento foi quase hipnótico. Eu fiquei parado por um segundo, observando ela se afastar de um cliente e dirigir-se até o balcão, o movimento do seu corpo fluido, mas com uma leve tensão. Algo me dizia que ela estava em um ambiente que não queria estar, mas por alguma razão, tinha que aguentar.
Mas, antes que eu pudesse processar o que estava sentindo, eu a observo voltar e parar na mesa daquele cliente que ela havia se afastado antes.
— Ei, senhorita. Está muito ocupada para bater um papo? — A voz dele era áspera, quase um sussurro ameaçador. Ele a segurou pelo braço, fazendo-a parar.
— Eu... estou trabalhando. Me solte, por favor, — ela sussurrou, tentando não chamar muita atenção.
Ela tentou puxar braço, mas ele apertou com mais força, os dedos afundando em sua pele perfeita. O dono do bar, que deveria zelar por seus funcionários, principalmente as mulheres, estava ocupado demais flertando com uma cliente.
Ele não soltou, em vez disso, se levantou e inclinou-se para ela, o rosto tão próximo que, ela revirou o rosto com o hálito dele através de sua pele. — Vamos. Só uma conversa,— disse ele, arrastando as palavras.
A audição de um lobo é afiada, capaz de captar até os menores ruídos. Eu ouvi o som do homem rindo de maneira desagradável. A pressa nas palavras, o perigo nas suas intenções. Eu vi o gesto de Ella tentando se afastar, mas ele a segurou, mais forte do que deveria, com as mãos desajeitadas e perigosas. E ali, eu sabia que não podia mais esperar.
O homem bêbado começou a incomodá-la. Eu vi os sinais, a maneira como ele se aproximou dela, sua postura agressiva, e, de repente, algo estourou dentro de mim. Meu lobo se agitou, sentindo a ameaça. Não pude mais me conter.
Caminhei em direção ao bar com um passo rápido, cada som da rua e do bar distorcido pelos batimentos acelerados em meu peito. Minha mente, racional por um instante, me alertava sobre os riscos, mas a necessidade de proteger aquela mulher era mais forte. Não só pela situação, mas pela maneira como ela mexia comigo.
— Solta ela. — Minha voz era baixa, mas a força nela era inegável, como se cada palavra tivesse o peso de um trovão. O homem se virou para mim, ainda com um sorriso doentio nos lábios. Ele não sabia o que estava prestes a enfrentar.
A tensão na sala ficou palpável. O homem não queria desistir. Ele estava bêbado demais para perceber que seu corpo não estava mais no controle. Mas então, algo aconteceu. Ele percebeu, pela primeira vez, que estava sendo observado por algo muito maior e mais perigoso do que ele poderia imaginar. Ele se afastou lentamente, seu olhar encontrando o meu, surpreso.
Quando ele se retirou, minha atenção se voltou para Ella. Ela estava ali, de pé, com os olhos fixos em mim, mas com uma expressão de confusão, como se estivesse tentando entender o que acabou de acontecer. Eu poderia ouvir seu coração batendo mais rápido, a respiração pesada. Ela não sabia quem eu era, mas havia algo ali. Algo inexplicável.
— Está tudo bem? — Perguntei, a minha voz suave, tentando quebrar o gelo. Mas a tensão no ar ainda era palpável. Ella não respondeu imediatamente. Ela só me olhou, seus olhos grandes e brilhantes, e eu vi algo ali. Não era apenas o medo. Havia uma centelha, uma energia compartilhada. Como se, naquele momento, uma conexão tivesse se formado entre nós.
Ella respirou fundo e deu um passo em direção a mim, hesitante. Mas a minha presença parecia lhe dar alguma confiança, mesmo que ela não soubesse quem eu era.
Eu estendi a mão, não como um gesto de domínio, mas como uma oferta. Uma troca silenciosa. Ela hesitou por um momento, e então aceitou. Sua mão encontrou a minha, e no instante que nossos dedos se tocaram, algo dentro de mim explodiu. Era como se o universo tivesse se alinhado. Eu sabia, naquele momento, que essa mulher faria minha vida mudar.
(Ella) A noite estava quieta, mas minha mente fervilhava. Fechei os olhos tentando relaxar, e, de repente, senti o calor de mãos firmes e protetoras segurando minha cintura. Era estranho, quase impossível, mas eu sentia cada detalhe: a respiração dele próxima à minha orelha, o toque de seus dedos, o peso do seu corpo junto ao meu. Ethan. Mesmo sem entender, eu sabia que era ele.Meu coração disparava, e, sem conseguir resistir, entreguei-me ao sonho, permitindo-me desfrutar daquela sensação proibida. Ele murmurava algo que eu não compreendia completamente, mas sua voz era como um eco, reverberando de maneira profunda e sedutora. De repente, seus lábios estavam nos meus, e um arrepio me percorreu inteira, deixando-me vulnerável e entregue.Era como se eu pudesse vê-lo na minha frente, sua presença dominante e marcante. Seu porte físico é forte, resultado de muito esforço e treinamento na academia. Ele é alto, parece ter 1,90 de altura, e facilmente ele me pegou no colo, colocando-me s
(Ella)O choque se transformou em raiva. Cruzei o salão rapidamente, ignorando o olhar surpreso da garota e o sorriso debochado dele— Poxa, gata. Vamos lá em cima rapidinho. Tenho certeza que você vai amar. — Ele beijou castamente os lábios da garota, que pareceu não se incomodar.— Então, é assim, Jared? Me faz vir aqui só pra ver você com outra? — Minhas palavras saíram firmes, ainda que eu sentisse o coração martelar no peito.Ele deu de ombros, nem um pouco arrependido.— Relaxa, Ella. Você sabia que não ia durar. — Ele não me olhou, traçou um dedo no rosto da garota, me ignorando completamente.— Quem é ela? Sua namorada? — A garota se afastou, incomodada.— Não, ela é só uma vagabunda que eu comia de vez em quando.Aquelas palavras foram a gota d’água. Não esperei mais nada. Levantei minha mão e espalmei fortemente na cara dele. Arranquei sua blusa de frio e joguei nos braços da garota. Eu estava com ódio por ter vindo nessa merda de festa. Virei as costas e comecei a andar em
(Ethan)Eu me sentia inteiramente agitado, e por pouco eu quase perdi o controle na frente de Ella e aqueles humanos desprezíveis. Se eu me transformasse, eu não ia conseguir me conter e acabaria com todos eles e eu não saberia como lidar com essa mulher que mexe tanto comigo.O toque da sua mão na minha é como descarga elétrica, ela tremia deliberadamente pela adrenalina e pelo medo. Eu conseguia sentir o aroma doce que ela emana, o seu medo tem um cheiro adocicado. É como um convite que só os lobos poderiam entender: doce e tentador, uma mistura de mel silvestre com uma pitada de baunilha, envolto em algo floral, talvez lilás, mas era único. Cada vez que ele se aproximava, o aroma crescia, se intensificava, e o lobo dentro de mim se sente enredado, atraído por uma força que parecia mais antiga que o próprio tempo. É um perfume que nenhum humano seria capaz de captar, mas para mim, é inebriante e sedutor, impossível de ignorar.Eu odiei sentir o cheiro de outro macho nela, parece q
(Ethan)Ao sair da casa mais tarde, sabendo que ela estava em segurança, o desejo ainda queimava em mim. Eu sabia que aquela noite mudaria tudo.Depois de garantir que Ella estava segura e descansando na cabana, senti o peso da transformação tomar conta de mim. Eu precisava da caçada, do ar livre, do frescor da noite para aliviar o calor crescente, a tensão insuportável que eu sentia desde que a vi sob a luz do bar.Saí para a escuridão, deixando a cabana para trás. Cada músculo do meu corpo parecia vibrar com a necessidade de liberdade, de extravasar a energia que Ella, sem saber, alimentava. Sob a luz pálida da lua, me permiti soltar as rédeas, transformando-me no lobo que eu realmente era.A transição foi rápida e poderosa; em segundos, minhas garras tocaram o chão frio da floresta, meu olfato ampliado captando tudo ao meu re
(Ella)Acordei com o corpo afundado numa cama que definitivamente não era a minha. A coberta suave, o travesseiro macio e o quarto silencioso me fizeram hesitar antes de abrir os olhos por completo. Será que... será que ele me trouxe até aqui?Levantei um pouco a cabeça e meus olhos o encontraram: Ethan estava deitado no chão, acima de um tapete de pelos espessos, sem camisa. Sua respiração era ritmada, calma. O peito largo subia e descia devagar, o rosto sereno e a pele que refletia a luz suave do amanhecer. Fiquei olhando por mais tempo do que gostaria de admitir, hipnotizada.O abdome bem definido, mostrava os gominhos bem tonificados. Ele estava somente com uma calça de moletom e um volume consideravelmente grande estava ali, eu enguli em seco, imaginando como seria vê-lo totalmente nu.O calor subiu ao meu rosto, e sacudi a cabeça, me obrigando a desviar os olhos. Com todo o cuidado, levantei, passei por ele de mansinho, mas pude sentir um calor inumano irradiar dele, com pressa
(Ella) Fiquei em silêncio por um longo tempo, o peso das palavras de Ethan ainda ecoando em minha mente. Eu sabia que ele estava esperando por uma resposta, mas eu simplesmente não conseguia processar tudo o que estava acontecendo. Eu precisava de mais tempo para organizar os pensamentos, para entender se aquilo tudo era real ou apenas um pesadelo do qual eu não conseguia acordar.Sem dizer nada, me levantei da mesa e comecei a tirar a louça, tentando me distrair, encontrar algum tipo de normalidade no simples ato de lavar os pratos. Mas, não importava o que eu fizesse, a presença de Ethan era esmagadora. Ele me seguiu com o olhar, como se estivesse observando cada movimento meu. Seus olhos não saíam de mim, e eu sentia cada segundo de sua atenção como se fosse uma pressão constante.O calor subiu pelo meu corpo de forma inesperada. Como se ele estivesse mais perto de mim, mesmo sem me tocar. Uma onda de desejo misturada com confusão tomou conta de mim, e tudo o que eu consegui fazer
(Ethan)Eu observava Ella sair pela porta da cabana, seus passos silenciosos, mas com um peso que só ela poderia carregar. Ela estava decidida, mas eu não sabia se aquilo era bom ou ruim. Parte de mim queria que ela ficasse. A outra sabia que não poderia. Eu tinha minha própria guerra para lutar.Não tive muito tempo para pensar, pois o som da porta sendo aberta novamente me tirou da minha concentração. Era Caelan. Ele entrou, parecendo sério, mais do que o normal, o que não era comum para ele.— Ethan, temos um problema — Caelan disse, a voz grave.Eu franzi a testa, sentindo uma onda de preocupação tomar conta de mim. Sempre que Caelan falava assim, significava que algo grande estava acontecendo. Eu já sabia que a paz na alcateia estava prestes a ser quebrada de algum jeito, mas o que ele me disse em seguida foi além de qualquer coisa
(Ethan)Eu estava com raiva. Não de Lucian, pelo menos não de forma simples, mas do que ele representava. A raiva crescia em mim a cada quilômetro que percorria em direção ao local onde Dália estava — ou onde eu imaginava que ela estaria. Caelan ainda falava ao meu lado, mas minha mente estava longe. Não havia mais espaço para conversas descontraídas ou promessas vazias.Eu sabia o que Lucian queria. Ele precisava de Dália, mas não por amor. Ele precisava dela para se afirmar como o alfa definitivo da alcateia. No fundo, eu entendia. Ele não era o primogênito, era o caçula, e o que ele mais temia era ser renegado. Mas o que eu não suportava era saber que ele faria qualquer coisa para conseguir o que queria, até mesmo usar Dália como um peão nesse jogo de poder.— Você tem que entender, Ethan,— Caelan