(Ella)
Ao entrar para o hospital, o médico que está cuidado do quadro do meu pai, já está a minha espera no consultório. O Dr. Carter é um ótimo médico, mesmo eu atrasando alguns pagamentos, ele sempre soube compreender a minha situação.
Entro no consultório, com o peso da ansiedade em cada passo. O cheiro de desinfetante me deixa levemente tonta e mesmo com a blusa de frio de Jared, ainda sinto o ar gelado do ar condicionado. A frieza do ambiente só aumenta a sensação de desesperança. O Dr. me recebe com um olhar grave e gesticula para eu me sentar. O que virá com certeza não será nada bom.
— Então, Ella, fizemos os todos os exames necessários. O diagnóstico não é bom... — O doutor começa, tirando os óculos e olhando para mim olhar sério. Ele não precisa falar muito, eu já sei que são péssimas notícias.
— O que ele tem doutor? — A ansiedade da minha voz é evidente. O médico hesita por um momento, antes de soltar as palavras que eu tanto temia.
— Ele tem câncer nos pâncreas, Ella. Está em estágio avançado. Talvez o tratamento pode ajudar, mas será longo, doloroso e caro. A quimioterapia não será suficiente para reverter a situação.
Eu sinto como se o chão tivesse sumido debaixo de mim. Meu pai... meu pai sempre foi o homem forte da família, me criou sozinho. O pilar que sempre me apoiou. E agora?
— Mas como ele está agora, doutor? Posso vê-lo agora? — Pergunto, tentando esconder o nó na garganta. Quero mais que tudo ver meu pai, tocar suas mãos, falar com ele. Porém, novamente ele hesita.
— O estado dele é delicado, hoje especificamente ele teve uma crise muito forte. — Ele suspira, como se as palavras pesassem na boca. — O câncer é bem avançado. Ele está muito fraco e os tratamentos, mesmos intensivos, não estão surtindo o efeito esperado.
Eu engulo em seco, tentando manter o foco. A dor é quase física, apertando meu peito. A última coisa que eu esperar ouvir era que ele estava tão fraco.
— Eu preciso vê-lo. — Minha é voz tremula, e eu mal consigo controlar o choro. — Ele vai melhorar? Como ele está reagindo?
O médico suspira, buscando as palavras certas e dando uma longa pausa, olhando para os exames. Ele tira o óculos, limpando-os nervosamente antes de me olhar com uma expressão pesarosa.
— Eu... Eu não acho que ele tenha forças para mais tratamentos no momento. Ele está extremamente debilitado. Sinto muito, Ella, mas não acho que ele consiga ver ninguém agora. Ele está descansando, e não devemos forçá-lo a se esforçar mais.
Eu sinto a sensação de frio aumentar, como se o ar ao meu redor estivesse sendo tirado. A verdade me atinge como uma onda, e tudo o que eu mais queria era poder fazer algo a mais, fazer ele ficar bem.
— Mas... eu não posso perder ele. Eu... — Minhas palavras falham e o médico coloca uma mão reconfortante no meu ombro.
— Eu sei o quanto é difícil, Ella. Ele ainda tem tempo, mas é importante que você prepare-se para o que vem pela frente. Eu recomendo que se concentre em aliviar o sofrimento dele neste momento. Não há mais nada que possamos fazer além disso.
— Então o que eu faço agora? — Sinto uma onda de desespero. O médico respira profundamente.
— Você vai precisar de apoio, Ella. Talvez procurar mais recursos financeiros. Não posso prometer nada, mas a luta é possível. Possa ser que ele necessite de outros especialistas e drogas mais avançadas para o tratamento.
Saio do consultório com a cabeça girando, a informação pesada se chocando com a realidade de uma vida que parece desmoronar. Ainda faltava algumas parcelas do terceiro empréstimo que eu havia solicitado, e o dinheiro da nossa casa, na qual, havia vendido, estava quase no fim. Contudo, há algo dentro de mim, uma faísca de determinação. Vou lutar por ele e se for preciso irei trabalhar noite e dia para pagar por esses medicamentos.
Aquela sensação de peso no peito não vai embora. Cada passo que dou até o bar me parece mais cansativo do que o anterior. As ruas estão agitadas, o trânsito está infernal e, a cada segundo que passa, sinto o tempo escapando de mim. Meu pai continua no hospital, e o medo de que ele não melhore me consome.
Chego no bar e vejo que está mais vazio do que o normal. Ótimo. Não posso me atrasar, e também não posso dar margem para Mack reclamar. Ele não vai entender se eu disser a ele que meu pai está em um estado crítico. Não, Mack só se importa com o trabalho e os resultados.
Quando passo pela cortina da cozinha, encontro Mack atrás do balcão, mexendo em algumas coisas. O olhar dele é como de sempre: um misto de desdém e frieza. Quando ele me vê, o tom de voz já é o suficiente para me fazer sentir a pressão.
— Olha quem resolveu aparecer! — Ele diz, claramente irritado. — Está com o relógio atrasado, hein, Ella? Já sei, tem uma desculpa, não é?
Tento controlar a raiva, sabendo que não vale a pena discutir. Já passei por isso outras vezes. Tento ser rápida nas palavras.
— Meu pai está no hospital, Mack. Isso atrasou meu... — Ele me interrompe antes que eu possa terminar.
— Isso é o que? Uma desculpa ou um pedido de clemência? Porque, você sabe, aqui não é lugar para esse tipo de coisa. — Ele dá uma risada seca, uma risada que me deixa irritada, mas eu me mantenho calma.
— Eu vou me esforçar para compensar o tempo perdido, como sempre, Mack. — Tento ser assertiva, mas ele não parece se importar.
Ele vira a cabeça para olhar para a cozinha, como se já tivesse decidido o que fazer.
— Ah, você vai se esforçar? Ótimo. Porque vai precisar. — Mack dá um suspiro, como se o assunto já tivesse terminado, mas, de repente, ele parece lembrar de algo. — Aliás, Jack faltou hoje. Vou precisar que você cubra o turno dela. Vai ficar até mais tarde hoje.
Meu estômago dá um nó. Não bastava tudo o que já estava acontecendo, agora ele quer que eu trabalhe ainda mais. Mas a última coisa que posso fazer é recusar.
— Eu... Claro. Vou cobrir. — Respondo, tentando esconder a frustração na voz. Dou um nó agressivo em meu avental.
Mack sorri, um sorriso de superioridade que me dá vontade de socar a parede. Ele sabe que não tenho escolha. Sabe que eu preciso do dinheiro.
— E mais uma coisa... — Ele diz, se aproximando do balcão, colocando os cotovelos sobre ele enquanto me observa. — A noite promete, Ella. As gorjetas vão ser boas. Isso vai ajudar com as despesas do seu pai, não vai? Você sabe o que estou dizendo. Não é todo dia que a gente tem uma noite dessas.
Eu engulo em seco. Ele sabe que não posso recusar a oferta, e mais do que isso, sabe que ele pode me pressionar. Isso só faz a raiva crescer dentro de mim. Tento não deixar transparecer.
— Sim, Mack. Eu sei. Vou fazer o meu melhor. — Respondo sem emoção, mas a sensação de indignação é grande demais para ignorar.
Ele me lança um olhar satisfeito, como se tivesse acabado de ganhar algum tipo de vantagem. Não sei por quanto tempo mais vou conseguir suportar trabalhar para esse cara.
(Ethan)A noite estava fria, mas o ar estava limpo. Eu não costumava andar por aquele lado da cidade. Sempre havia evitado os bares do centro, o cheiro de álcool misturado ao perfume barato das mulheres e à fumaça de cigarro. Mas algo me fez parar naquela noite. O instinto, talvez. Ou a sensação de que algo estava prestes a acontecer, como se o universo estivesse preparando uma tempestade.Eu estava caminhando por uma rua vazia, os passos pesados, quando passei em frente ao bar. A porta estava entreaberta, e o som abafado de conversas e risadas escapava de dentro. Algo me puxou para lá. Não sabia o que exatamente, mas parecia certo, como se estivesse sendo guiado por algo além de mim mesmo.Eu posso ouvir tudo — até os passos ecoando contra o chão de madeira do bar, sua respiração irregular, o som suave da sua pulseira batendo contra o braço. Cada detalhe parece mais nítido, mais real. Sua voz, a maneira como ela responde ao patrão… é como se eu estivesse no centro de seu mundo, ouvind
(Ella) A noite estava quieta, mas minha mente fervilhava. Fechei os olhos tentando relaxar, e, de repente, senti o calor de mãos firmes e protetoras segurando minha cintura. Era estranho, quase impossível, mas eu sentia cada detalhe: a respiração dele próxima à minha orelha, o toque de seus dedos, o peso do seu corpo junto ao meu. Ethan. Mesmo sem entender, eu sabia que era ele.Meu coração disparava, e, sem conseguir resistir, entreguei-me ao sonho, permitindo-me desfrutar daquela sensação proibida. Ele murmurava algo que eu não compreendia completamente, mas sua voz era como um eco, reverberando de maneira profunda e sedutora. De repente, seus lábios estavam nos meus, e um arrepio me percorreu inteira, deixando-me vulnerável e entregue.Era como se eu pudesse vê-lo na minha frente, sua presença dominante e marcante. Seu porte físico é forte, resultado de muito esforço e treinamento na academia. Ele é alto, parece ter 1,90 de altura, e facilmente ele me pegou no colo, colocando-me s
(Ella)O choque se transformou em raiva. Cruzei o salão rapidamente, ignorando o olhar surpreso da garota e o sorriso debochado dele— Poxa, gata. Vamos lá em cima rapidinho. Tenho certeza que você vai amar. — Ele beijou castamente os lábios da garota, que pareceu não se incomodar.— Então, é assim, Jared? Me faz vir aqui só pra ver você com outra? — Minhas palavras saíram firmes, ainda que eu sentisse o coração martelar no peito.Ele deu de ombros, nem um pouco arrependido.— Relaxa, Ella. Você sabia que não ia durar. — Ele não me olhou, traçou um dedo no rosto da garota, me ignorando completamente.— Quem é ela? Sua namorada? — A garota se afastou, incomodada.— Não, ela é só uma vagabunda que eu comia de vez em quando.Aquelas palavras foram a gota d’água. Não esperei mais nada. Levantei minha mão e espalmei fortemente na cara dele. Arranquei sua blusa de frio e joguei nos braços da garota. Eu estava com ódio por ter vindo nessa merda de festa. Virei as costas e comecei a andar em
(Ethan)Eu me sentia inteiramente agitado, e por pouco eu quase perdi o controle na frente de Ella e aqueles humanos desprezíveis. Se eu me transformasse, eu não ia conseguir me conter e acabaria com todos eles e eu não saberia como lidar com essa mulher que mexe tanto comigo.O toque da sua mão na minha é como descarga elétrica, ela tremia deliberadamente pela adrenalina e pelo medo. Eu conseguia sentir o aroma doce que ela emana, o seu medo tem um cheiro adocicado. É como um convite que só os lobos poderiam entender: doce e tentador, uma mistura de mel silvestre com uma pitada de baunilha, envolto em algo floral, talvez lilás, mas era único. Cada vez que ele se aproximava, o aroma crescia, se intensificava, e o lobo dentro de mim se sente enredado, atraído por uma força que parecia mais antiga que o próprio tempo. É um perfume que nenhum humano seria capaz de captar, mas para mim, é inebriante e sedutor, impossível de ignorar.Eu odiei sentir o cheiro de outro macho nela, parece q
(Ethan)Ao sair da casa mais tarde, sabendo que ela estava em segurança, o desejo ainda queimava em mim. Eu sabia que aquela noite mudaria tudo.Depois de garantir que Ella estava segura e descansando na cabana, senti o peso da transformação tomar conta de mim. Eu precisava da caçada, do ar livre, do frescor da noite para aliviar o calor crescente, a tensão insuportável que eu sentia desde que a vi sob a luz do bar.Saí para a escuridão, deixando a cabana para trás. Cada músculo do meu corpo parecia vibrar com a necessidade de liberdade, de extravasar a energia que Ella, sem saber, alimentava. Sob a luz pálida da lua, me permiti soltar as rédeas, transformando-me no lobo que eu realmente era.A transição foi rápida e poderosa; em segundos, minhas garras tocaram o chão frio da floresta, meu olfato ampliado captando tudo ao meu redor com uma nitidez enlouquecedora. O vento soprava, e, mesmo a quilômetros de distância, o cheiro de Ella ainda pairava, doce e tentador. Um rosnado escapou de
(Ella)Acordei com o corpo afundado numa cama que definitivamente não era a minha. A coberta suave, o travesseiro macio e o quarto silencioso me fizeram hesitar antes de abrir os olhos por completo. Será que... será que ele me trouxe até aqui?Levantei um pouco a cabeça e meus olhos o encontraram: Ethan estava deitado no chão, acima de um tapete de pelos espessos, sem camisa. Sua respiração era ritmada, calma. O peito largo subia e descia devagar, o rosto sereno e a pele que refletia a luz suave do amanhecer. Fiquei olhando por mais tempo do que gostaria de admitir, hipnotizada.O abdome bem definido, mostrava os gominhos bem tonificados. Ele estava somente com uma calça de moletom e um volume consideravelmente grande estava ali, eu enguli em seco, imaginando como seria vê-lo totalmente nu.O calor subiu ao meu rosto, e sacudi a cabeça, me obrigando a desviar os olhos. Com todo o cuidado, levantei, passei por ele de mansinho, mas pude sentir um calor inumano irradiar dele, com pressa
(Ella) Fiquei em silêncio por um longo tempo, o peso das palavras de Ethan ainda ecoando em minha mente. Eu sabia que ele estava esperando por uma resposta, mas eu simplesmente não conseguia processar tudo o que estava acontecendo. Eu precisava de mais tempo para organizar os pensamentos, para entender se aquilo tudo era real ou apenas um pesadelo do qual eu não conseguia acordar.Sem dizer nada, me levantei da mesa e comecei a tirar a louça, tentando me distrair, encontrar algum tipo de normalidade no simples ato de lavar os pratos. Mas, não importava o que eu fizesse, a presença de Ethan era esmagadora. Ele me seguiu com o olhar, como se estivesse observando cada movimento meu. Seus olhos não saíam de mim, e eu sentia cada segundo de sua atenção como se fosse uma pressão constante.O calor subiu pelo meu corpo de forma inesperada. Como se ele estivesse mais perto de mim, mesmo sem me tocar. Uma onda de desejo misturada com confusão tomou conta de mim, e tudo o que eu consegui fazer
(Ethan)Eu observava Ella sair pela porta da cabana, seus passos silenciosos, mas com um peso que só ela poderia carregar. Ela estava decidida, mas eu não sabia se aquilo era bom ou ruim. Parte de mim queria que ela ficasse. A outra sabia que não poderia. Eu tinha minha própria guerra para lutar.Não tive muito tempo para pensar, pois o som da porta sendo aberta novamente me tirou da minha concentração. Era Caelan. Ele entrou, parecendo sério, mais do que o normal, o que não era comum para ele.— Ethan, temos um problema — Caelan disse, a voz grave.Eu franzi a testa, sentindo uma onda de preocupação tomar conta de mim. Sempre que Caelan falava assim, significava que algo grande estava acontecendo. Eu já sabia que a paz na alcateia estava prestes a ser quebrada de algum jeito, mas o que ele me disse em seguida foi além de qualquer coisa