Capítulo 03

(Ella)

Ao entrar para o hospital, o médico que está cuidado do quadro do meu pai, já está a minha espera no consultório. O Dr. Carter é um ótimo médico, mesmo eu atrasando alguns pagamentos, ele sempre soube compreender a minha situação.

Entro no consultório, com o peso da ansiedade em cada passo. O cheiro de desinfetante me deixa levemente tonta e mesmo com a blusa de frio de Jared, ainda sinto o ar gelado do ar condicionado. A frieza do ambiente só aumenta a sensação de desesperança. O Dr. me recebe com um olhar grave e gesticula para eu me sentar. O que virá com certeza não será nada bom.

— Então, Ella, fizemos os todos os exames necessários. O diagnóstico não é bom... — O doutor começa, tirando os óculos e olhando para mim olhar sério. Ele não precisa falar muito, eu já sei que são péssimas notícias.

— O que ele tem doutor? — A ansiedade da minha voz é evidente. O médico hesita por um momento, antes de soltar as palavras que eu tanto temia.

— Ele tem câncer nos pâncreas, Ella. Está em estágio avançado. Talvez o tratamento pode ajudar, mas será longo, doloroso e caro. A quimioterapia não será suficiente para reverter a situação.

Eu sinto como se o chão tivesse sumido debaixo de mim. Meu pai... meu pai sempre foi o homem forte da família, me criou sozinho. O pilar que sempre me apoiou. E agora?

— Mas como ele está agora, doutor? Posso vê-lo agora? — Pergunto, tentando esconder o nó na garganta. Quero mais que tudo ver meu pai, tocar suas mãos, falar com ele. Porém, novamente ele hesita.

— O estado dele é delicado, hoje especificamente ele teve uma crise muito forte. — Ele suspira, como se as palavras pesassem na boca. — O câncer é bem avançado. Ele está muito fraco e os tratamentos, mesmos intensivos, não estão surtindo o efeito esperado.   

Eu engulo em seco, tentando manter o foco. A dor é quase física, apertando meu peito. A última coisa que eu esperar ouvir era que ele estava tão fraco.

— Eu preciso vê-lo. — Minha é voz tremula, e eu mal consigo controlar o choro. — Ele vai melhorar? Como ele está reagindo?

O médico suspira, buscando as palavras certas e dando uma longa pausa, olhando para os exames. Ele tira o óculos, limpando-os nervosamente antes de me olhar com uma expressão pesarosa.

— Eu... Eu não acho que ele tenha forças para mais tratamentos no momento. Ele está extremamente debilitado. Sinto muito, Ella, mas não acho que ele consiga ver ninguém agora. Ele está descansando, e não devemos forçá-lo a se esforçar mais.

Eu sinto a sensação de frio aumentar, como se o ar ao meu redor estivesse sendo tirado. A verdade me atinge como uma onda, e tudo o que eu mais queria era poder fazer algo a mais, fazer ele ficar bem.

— Mas... eu não posso perder ele. Eu... — Minhas palavras falham e o médico coloca uma mão reconfortante no meu ombro.

— Eu sei o quanto é difícil, Ella. Ele ainda tem tempo, mas é importante que você prepare-se para o que vem pela frente. Eu recomendo que se concentre em aliviar o sofrimento dele neste momento. Não há mais nada que possamos fazer além disso.

— Então o que eu faço agora? — Sinto uma onda de desespero. O médico respira profundamente.

— Você vai precisar de apoio, Ella. Talvez procurar mais recursos financeiros. Não posso prometer nada, mas a luta é possível. Possa ser que ele necessite de outros especialistas e drogas mais avançadas para o tratamento.

Saio do consultório com a cabeça girando, a informação pesada se chocando com a realidade de uma vida que parece desmoronar. Ainda faltava algumas parcelas do terceiro empréstimo que eu havia solicitado, e o dinheiro da nossa casa, na qual, havia vendido, estava quase no fim. Contudo, há algo dentro de mim, uma faísca de determinação. Vou lutar por ele e se for preciso irei trabalhar noite e dia para pagar por esses medicamentos.

Aquela sensação de peso no peito não vai embora. Cada passo que dou até o bar me parece mais cansativo do que o anterior. As ruas estão agitadas, o trânsito está infernal e, a cada segundo que passa, sinto o tempo escapando de mim. Meu pai continua no hospital, e o medo de que ele não melhore me consome.

Chego no bar e vejo que está mais vazio do que o normal. Ótimo. Não posso me atrasar, e também não posso dar margem para Mack reclamar. Ele não vai entender se eu disser a ele que meu pai está em um estado crítico. Não, Mack só se importa com o trabalho e os resultados.

Quando passo pela cortina da cozinha, encontro Mack atrás do balcão, mexendo em algumas coisas. O olhar dele é como de sempre: um misto de desdém e frieza. Quando ele me vê, o tom de voz já é o suficiente para me fazer sentir a pressão.

— Olha quem resolveu aparecer! — Ele diz, claramente irritado. — Está com o relógio atrasado, hein, Ella? Já sei, tem uma desculpa, não é?

Tento controlar a raiva, sabendo que não vale a pena discutir. Já passei por isso outras vezes. Tento ser rápida nas palavras.

— Meu pai está no hospital, Mack. Isso atrasou meu... — Ele me interrompe antes que eu possa terminar.

— Isso é o que? Uma desculpa ou um pedido de clemência? Porque, você sabe, aqui não é lugar para esse tipo de coisa. — Ele dá uma risada seca, uma risada que me deixa irritada, mas eu me mantenho calma.

— Eu vou me esforçar para compensar o tempo perdido, como sempre, Mack. — Tento ser assertiva, mas ele não parece se importar.

Ele vira a cabeça para olhar para a cozinha, como se já tivesse decidido o que fazer.

— Ah, você vai se esforçar? Ótimo. Porque vai precisar. — Mack dá um suspiro, como se o assunto já tivesse terminado, mas, de repente, ele parece lembrar de algo. — Aliás, Jack faltou hoje. Vou precisar que você cubra o turno dela. Vai ficar até mais tarde hoje.

Meu estômago dá um nó. Não bastava tudo o que já estava acontecendo, agora ele quer que eu trabalhe ainda mais. Mas a última coisa que posso fazer é recusar.

— Eu... Claro. Vou cobrir. — Respondo, tentando esconder a frustração na voz. Dou um nó agressivo em meu avental.

Mack sorri, um sorriso de superioridade que me dá vontade de socar a parede. Ele sabe que não tenho escolha. Sabe que eu preciso do dinheiro.

— E mais uma coisa... — Ele diz, se aproximando do balcão, colocando os cotovelos sobre ele enquanto me observa. — A noite promete, Ella. As gorjetas vão ser boas. Isso vai ajudar com as despesas do seu pai, não vai? Você sabe o que estou dizendo. Não é todo dia que a gente tem uma noite dessas.

Eu engulo em seco. Ele sabe que não posso recusar a oferta, e mais do que isso, sabe que ele pode me pressionar. Isso só faz a raiva crescer dentro de mim. Tento não deixar transparecer.

— Sim, Mack. Eu sei. Vou fazer o meu melhor. — Respondo sem emoção, mas a sensação de indignação é grande demais para ignorar.

Ele me lança um olhar satisfeito, como se tivesse acabado de ganhar algum tipo de vantagem. Não sei por quanto tempo mais vou conseguir suportar trabalhar para esse cara.

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