Capítulo 02.

Acordo com o som do galo. Eu e Antonieta dormimos no mesmo quarto. Eu sou dois anos mais velha que ela, com vinte aninhos. Eu e Tônia, crescemos juntas, nossas mães viveram juntas até onde me lembro. Tia Di Meranca é irmã da minha falecida mãe, que perdeu a vida devido a uma enfermidade. Eu tinha 7 anos na época. Do meu pai, pouco sei, apenas de que perdeu a vida dois anos após meu nascimento. Em termos práticos, sou órfã de pais. Por outro lado, minha tia foi abandonada pela pessoa que engravidou logo que o mesmo teve conhecimento da gravidez. Do que eu sei, é que o mesmo já tinha três esposas, minha tia seria a quarta, não sei o que aconteceu, apenas que o mesmo desistiu da minha tia e nunca mais veio a ver.

A história da minha família é triste, acho que é azar no amor, só que, em contrapartida, somos mulheres fortes e independentes.

-- Coloque tudo na carroça, hoje irei connosco para o vilarejo, tenho muitas entregasTia Dimirança, é uma mulher de estatura média, gordinha, de cabelos castanhos curtos.

-- EBA. --- Tonia saltita feliz, diferente de mim que fecho a cara.

--- Acho que eu devia ficar cuidando da casa. -- tento argumentar—um urso pode invadir a casa.

--- Você mais do que ninguém sabe que não tem ursos na floresta. – Tia Dimirança.

-- E se fosse invadida, e melhor tu não estares em casa. Podes ser devorada. -- Tonia.

---  Sei me defender—minha tia apenas me ignora enquanto eu continuo discutindo com Tônia.

Tonia pode até gostar de ir ao vilarejo, ela sonha um dia se cruzar com um príncipe ou talvez algum nobre que a peça em casamento. E talvez até tenha sorte nisso. Apesar de não possuir roupas caras, nem dispomos dos melhores tecidos. Tonya está sempre bem apresentada, como se a qualquer momento o príncipe da sua vida fosse aparecer. Eu e ela temos 1,70 de altura, diferente de mim, que sou ruiva e de olhos azuis, ela tem cabelos castanhos como a área do campo, lisos e olhos da mesma cor. Somos um total oposto, meus cabelos são cacheados, acredito até que tenha pássaros vivendo dentro dos cachos. Eu e ela temos o mesmo tom pardo de pelo, eu tenho sardas no rosto, enquanto ela tem no peito. Meus peitos são menores em relação aos seus, termos o busto cheio, herança materna.

Quando o sol começou a picar, chegámos ao vilarejo. Eu não gosto de vir para cá, porque não me sinto bem. As pessoas olham para gente com nojo. Comigo eu até entendo, eu não tento parecer apresentável. Não consigo o ser. Não tente escovar meus cabelos, ou usar maquiagem. Não estou precisando de ninguém para se casar comigo. Quero viver, livre e selvagem.

Antes do pôr do sol, estávamos voltando para casa. Já havíamos preparado o jantar antes de ir para o vilarejo. Por isso, apenas fizemos banho, jantamos e depois fomos nos deitar.

(...)

Acordo com o som da bendita porta sendo esmurrada. Apenas cocei meu traseiro e virei para outro lado, devo estar alucinando é impossivel que alguem esteja batendo na nossa porta. Só pode ser um urso. Ignoro os meus pensamentos e viro para outro lado, recebo um chute nas costelas por parte de Tônia. Essa rapariga dorme muito mal. Novamente o som da porta sendo esmurrado.

Ah. Droga.

Me levanto da  cama feita de palha seca, de cara amarrada, se for um urso eu vou matar juro, detesto que me acordem.  Nosso quarto não tem porta, apenas um lençol para servir de barreira. A distância daqui até a porta é de cinco metros, nem preciso me aproximar para ver com quem ela está falando. Pouco dava para ouvir, apenas ruídos. Esfrego os olhos para melhorar minha visão. A pessoa com quem minha tia está falando, veste roupas elegante, e tem o brazao real. O que uma pessoa da realeza está fazendo aqui?

-- o que está fazendo aí, Amanda?—Tonia resmunga sonolenta.

--- Quieta.---ralho--- assim mal dá para ouvir.

 --- escutar a conversa dos outros é feio, Amanda.

--- Ainda bem que sabe. O que ainda está fazendo aqui?--- perguntei irônica. -- Sai daqui para que eu possa ouvir melhor.

--- Rude. -- me xinga e eu reviro os olhos.

--- A sua sobrinha Amanda está sendo solicitada para comparecer ao palácio do imperador amanhã.--diz o mensageiro.

--- posso saber por qual motivo?

--- Ela está concorrendo a vaga para se tornar esposa do príncipe. – minha tia fica sem falar por alguns instantes. Eu também estou do mesmo jeito, como assim, concorrendo a vaga para me tornar a esposa do PRÍNCIPE?UM CARA QUE EU NUNCA VI, E QUE NEM LIGA PARA SEU PRÓPRIO POVO?

- Desculpe, acho que não entendi muito bem. –minha tia diz coçando a garganta, branca como um fantasma. Tão incrédula como qualquer um em sua situação. Todo o mundo sabe que as esposas da realeza são escolhidas entre nobres ou entre nações, isto de modo a melhorar as relações entre nações. O QUE ELE QUER COM UMA CAMPONESA COMO EU?

- Aqui está a carta real em caso de dúvidas. Amanhã antes do galo cantar estaremos à porta.

Ele não fez questão de explicar mais nada, apenas deu as costas a minha tia e entrou no seu carro. Minha tia continuou parada olhando para o nada sem acreditar no que tinha acontecido.

-- ISSO. FINALMENTE DEUS ESTÁ OLHANDO PARA NÓS.—Tônia grita eufórica.

-- NÃO. ESTÁ LOUCA? EU NÃO QUERO ISSO PARA MIM, NÃO QUERO ME CASAR. NÃO QUERO IR PARA O PALÁCIO DO IMPERADOR. TIAAA.—gritei com raiva me consumindo, minha tia se virou e ficou algum tempo me encarando sem dizer nada. E essa reação dela, está me dando vontade de chorar. Ela volta a si e sacode a carta com o símbolo do imperador.  Nenhum de nós sabe ler, então ninguém vai se dar ao tempo de abrir a carta e ler. -- Eu não quero. -- sussurro.

-- Não é sobre querer ou não querer, é uma ordem do príncipe. E nós apenas seguimos ordens. -- disse estranhamente calma, como se já tivesse se conformado.

-- Quem dera fosse eu.--- Tonia

-- Sério fecha boca Antonieta. Estou com raiva. Eu não quero isso para mim. Não quero ter que lidar com gente esnobe. ELES SEQUER LIGAM PARA A GENTE. OLHA ONDE A GENTE MORRA. NO RAIO QUE PARIU

---  OLHA BOCA AMANDA

--- MAS É VERDADE TIA. A senhora sabe que tenho razão. LA SEREI HUMILHADA.--- digo já chorando de medo de ter de lidar com gente que mal conheço, mas rica, mais limpa, mais educada e bela. - Tia sabe que eu não aguento ser humilhada. Vou enlouquecer. Isso só pode ser um engano. - Comecei a soluçar e Tônia me abraça.

--- Não fica assim. Mãe, diz alguma coisa.

Ficamos em silêncio por algum tempo.

--- Vamos tomar café, depois procuramos boas roupas para você pelo menos estar bem apresentável quando vierem te levar. Tonia vai te fazer maquiagem e você estará linda. -- Disse ignorando tudo que eu disse. Cai de joelhos chorando compulsivamente, sou muito intuitiva e algo dentro de mim grita para eu fugir. Sinto calafrios como se fosse mau presságio. E é isso que me faz chorar, mais e mais.--- Amada, nós cumprimos ordens. Ele é realeza, e nos seus peões.

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