Capítulo 03.

Tomamos café, depois fomos fazer nossas tarefas. Minha tia tirou o dia de folga para ficar conosco. Ela está pensativa. Quase como se estivesse divagando entre o passado e o presente. Eu não fiquei para escolher roupas para ir à prisão, peguei em Cry e corri para a floresta, voltei para amaciar.

Sinto saudades, saudades de uma pessoa que mal lembro. Saudades da minha mãe, aposto que ela não me deixaria ir de mão beijada,  ela era uma guerreira. Ia fazer de tudo para me ver feliz.

Encarei meu reflexo no riacho. Meus cabelos volumosos cheios de no, minha sobrancelha ruiva, e meu rosto vermelho depois de chorar. Bati minha mão contra o reflexo fazendo a água se agitar.

--- Ao mundo inteiro, sobrevivi.—a melodia sai num tom arranhando.--- Nesta batalha, não irei ceder.--- Aos poucos a imagem do meu rosto no riacho voltou a se formar --- Choquei perfeito, sem exitar, se me derrotam, poderei tentar... porque eu sou... eu sou...--- parei de respirar por um instante. Acho que já sei o que fazer, eu só preciso não estar aqui amanhã, quando eles voltarem, quando Tônia e minha tia foram se deitar, eu irei me arriscar e sair da aldeia. Eu posso ir para onde eu quiser, tenho Cry comigo. Eles nunca irão me achar. Esbocei um sorriso vitorioso, saltando para o riacho e molhando o meu vestido até a altura dos joelhos. – EU SOU A FILHA SELVAGEM DA MINHA MÃE—cantei com mais vivacidade --- NÃO ME CURVO DIANTE DE REIS, VOCÊS IRÃO OUVIR A MINHA VOZ QUANDO EU GRITAR AAAAAAAHHHHHH...--- sorri ao ver os pássaros saírem de seus ninhos e se amontoaram ao meu redor --- AAAAAHHHH....--- gargalhei. Movi meus pés, espalhando a água por todo o meu corpo. Um vento gostoso passou sobre mim, me senti quase levitando. Como se o vento estivesse me abraçando.

Me joguei de costas sobre água, totalmente eufórica com os meus próprios planos. De frente para o céu, me sentindo um pouco mais leve, um rouxinol saiu voando numa velocidade surpreendente.  Amanhã será um dia longo.

Isso me lembra quando consegui Cry. Ele havia ido embora sem me dizer nada. Várias luas se passaram e ele nunca mais voltou. Foi quando eu percebi que ele não voltaria. A macieira é o nosso ponto de encontro. Ou melhor, era o meu ponto seguro. Eu mostrei isso a ele. Podia  até ser criança, mas eu sei que ele era importante para mim. Chorei como nunca quando percebi que havia perdido o único amigo que não fosse Tônia, um garoto que não sei bem de onde era, mas sim. Ele era meu amigo. Ouvi o reco chiar de um cavalo. Cry estava preso entre arbustos e por ser menor não conseguia desenvelharce. Fui lá ajudar -lhe, e de lá até cá nunca mais nos separamos. Dei-lhe o nome de Cry, porque quando o conheci eu estava chorando. Meio triste eu sei, mas, para mim é uma fonte de energia, sempre que eu chamo Cry. Eu sei. Eu irei chorar, mas não será para sempre.

Assim que a noite chegou fiquei ansiosa para que minha tia e minha prima irem se deitar, mas estranhamente, exatamente hoje elas estão muito energéticas. Jantamos e depois disso foram escolher as roupas que eu usaria amanhã. Tonia inventou de querer alisar os meus cabelos. As dei as costas e fui ficar no quarto, esperando que elas fossem dormir. Só que acabou que eu adormeci, sou fraca no sono. Fraca no sono, mas com um sentido de determinação infalível. Acordei muito antes do sol nascer, a lua se fazia a oeste e minha família dormia com tudo. Troquei as roupas que estava vestido, por um vestido vermelho mais quente. Peguei duas maçãs uma para mim e outra para Cry.

Sai a passos silenciosos de casa, fui para capoeira, desarmar Cry. Mas, antes de sairmos, dei lhe de comer, a maçã. Ele esguichou contente.

-- Silêncio garoto. -- ele puxou os meus cabelos me fazendo sorrir.—Estamos numa operação de fuga, não me deixe na mão. -- baguncei sua crina. E como se me entendesse, parou de fazer barulho. O tirei da capoeira e montei nele, cavalgando silenciosamente até me ver longe de casa para aumentar a velocidade.

Esqueci meu arco, mas tudo bem, Não é como se eu tivesse tempo para recolher todas as minhas trouxas. 

Não sei para onde estou indo mas, qualquer sítio serve se for longe do príncipe. Mal tive tempo de conscientizar meus pensamentos, quando comecei a sentir algo estranho. Olhei para os lados e nada. Olhei para cima e apenas a lua me acompanhava, mesmo assim, um arrepio inevitável passou por mim. Cry, também sentiu porque começou a ficar inquieto e recuou.

--Calma, garoto. -- massageie meu rosto, mesmo eu não estando, sentindo essa calma. -- vamos devagar, está bem. 

Algo se moveu entre os arbustos me fazendo ficar em alerta, mas, apenas um rouxinol, saiu das árvores. Coloquei uma mão massageando meu peito e outra segurando com força a sela.

Deusa da lua, me proteja.

Dei um pequeno chute na barriga de Cry, avisando para ele ser mais rápido. Seja o que for que está me observando, eu não irei ficar aqui para descobrir. Cavalguei, com determinação para sair da floresta, e medo de algum mal me acontecer. Mas, em alguns instantes fui sacudida por um vento tão forte que me fez recuar.

-- Senhorita, por favor não se mova. Temos ordens para a levar ao palácio, mesmo que seja a força. -- ouço a voz de um homem. Nem me dou o luxo de responder, engato as rédeas, o vento sopra, Cry se sacode de frente para trás inquieto.

-- O que estão fazendo com o meu cavalo. – tentou segurar mas, Cry fica mais nervoso.

-- Desça do cavalo, senhorita, e nos acompanhe por bem.

-- NUNCA.—Tentei controlar Cry, mas a única coisa que recebi foi uma sacudida tão forte que me fez voar para fora do cavalo. Eu girei no ar, e quando estava prestes a cair, eu apenas desmaiei. Por causa do enjoo.

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