Capitulo 04.

 Desperto me sentindo levemente enjoada, e antes mesmo de abrir as pálpebras, me recordo de tudo que aconteceu. Sinto como se estivesse dormindo em nuvens, por isso me levantei abruptamente, não reconhecendo o cômodo, no qual me encontro. Uma cama limpa e confortável, um armário, uma janela média, uma porta, e mais ao fundo, vejo o banheiro, por detrás de sinuosas cortinas.

Droga. Onde eu estou?

Olho para o meu colo e vejo que continuo com as mesmas roupas de antes. Mas não vejo sandálias. Ignoro esse pormenor e me levanto.

Eu tenho de sair daqui.

Me direciono a porta, segurou na maçaneta, e felizmente a mesma não está trancada. Abro e não vejo ninguém pelos corredores. Olho ao redor e vejo vários compartimentos espalhados na linha horizontal, e vertical, como se fosse um labirinto de residências.

Com certeza esse é o palácio do imperador.

Deve ser meio dia porque o sol está no pico. Sigo minha intuição e entro num dos corredores. Nunca estive aqui, mas com certeza, posso me orgulhar do meu senso de direção.

Aqui é tudo tão diferente da vida na floresta, o brilho é diferente, a atmosfera também. O jeito como ele anda e se vestem, a vida que eu nunca terei. Não muito distante do local onde eu estava, eu achei o estábulo.

-- E você quem é?—perguntou um dos homens que guarnece

-- Eu sou uma serviçal, me mandaram vir pegar o cavalo.

- Nunca vi você aqui.

Olho para o homem não tão forte à minha frente, e tento analisar as minhas hipóteses, de certa forma ele não me deixa passar facilmente. Tentar lutar será inútil, são dois contra um e eu não tenho hipóteses de ganhar. Sem falar que vai chamar atenção desnecessária para mim. Tenho de pensar.

Estalo a língua.

-- Aquele não o imperador?—aponto para uma direção qualquer. No instante que eles viram o rosto, entrou no estábulo, cheio de cavalos. Ouço gritarias dos guardas que me seguem. Entre tantos cavalos, avisto, Cry.

-- Ela está ali. Deve ser uma ladra, não a deixe sair daqui.

-- Garoto, vamos. –abro a cela e monto em Cry.

---DESÇA DAÍ, POR BEM.

-- Isso não vai acontecer. -- passo por eles lhes atropelando com Cry. Sem me importar em lhes ferir, antes eles do que eu.

- Chame reforços.

Eles emitem um som estranho ao mesmo tempo que sinto a temperatura mudar, e as portas do estábulo quase se fechando. Derrubo a porta, conseguindo escapar. Vou pela direita, mas antes mesmo que eu consiga cavalgar em direção a liberdade, me vejo flutuando. Cry se agita por estar longe do chão, eu mais ainda com medo de algo pior que estar longe do chão acontecer.

-- Para onde pensa que vai Amanda?—estou de costas e mal consigo ver quem fala comigo.

-- Meu, príncipe sinto muito, essa mulher nos enganou e tentou roubar um dos cavalos.

-- O CAVALO é MEU. – grito mesmo sem conseguir ver o que acontece atrás de mim.

Pouco a pouco me vejo voltando à terra. E um homem de vestes celestiais. De cabelos castanhos longos, olhos da cor ambar. Pele limpa e clara. O homem mais bonito que já vi em vida. Eu não saí muito da floresta, então é de se esperar que eu ache qualquer homem nobre lindo.

-- Desça do cavalo, Amanda. – sua voz é o oposto da sua aparência delicada. É firme e imponente.

-- Não. –as palavras saíram antes que eu pudesse pensar.

--  Enlouqueceu. -- diz um dos guardas. -- dizendo não ao futuro imperador.

-- Quer morrer mulher?—diz outro guarda.

Sou surpreendida por dois guardas, que me seguraram pelos braços para me tirar do cavalo.

-- Nao.—diz o príncipe. -- ela vai descer sozinha.—Os homens me soltaram imediatamente. Eu não movo nem um músculo. O encaro com raiva nos olhos. Quero que ele saiba que ele não manda em mim, eu não irei ceder. Ele tem de me deixar voltar para casa. -- Desça. -- Não me movo. Pouco a pouco algumas pessoas fazem a minha volta. Assistindo o espetáculo. Quando pensei que ele ia se repetir, ele elevou sua mão, fazendo um vento forte bater em Cry, que recheou para trás. Perdi o equilíbrio e caí de costas no chão duro. As vozes das pessoas comentando enchem minha cabeça, me deixando vermelha de vergonha.

Me coloco em pé de forma desajeitada. O Príncipe olha para mim com a sombra arqueada me desafiando a lhe desafiar novamente. Dou um passo para trás. E imediatamente, os guardas fecham meu caminho, olho para ele que vale por um exército e olho para as pessoas em volta de mim que fecham o meu caminho de fuga.

- Devolvam o cavalo para o estábulo. Levem ela para o seu quarto.—ele me encara de  cima para baixo e torce o nariz, com desprezo.—limpem na, e a deixem apresentável. A quero antes do pôr do sol, na sala de jantar.

---Sim, vossa majestade. -- todos se curvam excepto por mim, que continuou o encarando, como se fosse o matar.

Os guardas me arrastaram de volta ao quarto, mesmo eu tendo resistido com todas as minhas forças. As serviçais me cercam.apontam suas tesouras. Tecidos. Saltos. E pós de maquiagem em minha direção.

-- Vocês não vão tocar em mim. -- ameaçou apontando a almofada.

-- Eu sou a Ruth, a chefe das empregadas, estou aqui por ordem, da imperatriz, para inspecionar, a sua...—ela me olha de baixo para cima. -- mudança , vamos assim dizer.

-- Vou arrancar seus olhos. Não se atreva a se aproximar de mim.—rosno.

Ela dá um riso nasal.

-- A imperatriz, me preparou para situações como esta. E eu, tenho permissão, para usar, meios coercivos, para te fazer, cooperar.—ela estala os dedos e dois guardas entram.—segurem-na. Cuidado para não machucar, não temos permissão para aferir.

O que veio a seguir foram gritos, e berros de injúrias contra essas mulheres, contra todo o império. Eles me prenderam no banheiro, os guardas saíram e as servas, me banharam. Com recurso a pedras, para tirar os calos dos meus pés. Violentaram minhas unhas, com suas agulhas infalíveis. Esfregaram meus cabelos, com tanto força que senti meu couro cabeludo, instalar. Dos meus cabelos, caíram, alguns insetos inofensivos, pedrinhas, uma e outra folha colada.

--ME SOLTEM. SUAS LOUCAS.

Gritem uma e outra vez, mas foi em vão. O banho durou cerca de duas horas, e quando dei por mim estava sentada vestindo apenas um sobretudo branco de banho de frente para o espelho.

- Temos que cortar seus cabelos, ao menos até ao ombro.—anunciou Ruth.

-- Se atreva e eu vou te matar.—Me coloquei de pé, chutando a cadeira, minhas mãos vasculharam a cabeceira, peguei na primeira coisa que achei, um pente. Vai ter que servir.—Nos meus cabelos, VOCÊ NÃO TOCA. EU NUNCA OS CORTEI QUANDO CRIANÇA, E NÃO SERÁ VOCÊ QUE ME FARÁ CORTÁ-LOS.—minha respiração saiu ofegante. Guardas abriram a porta preocupados.

Ruth apenas deu um meio sorriso, e mandou os guardas voltarem.

--Você deve aprender a se expressar sem gritar, querida. -- disse num tom ameno me deixando desconfiada, não confio em pessoas que parecem boazinhas.—podemos cuidar de seu cabelo, sem cortá-lo. É uma questão de escolha. Se prefere-os compridos, deixá-los cumpridos. É só saber conversar. -- lentamente baixei minha guarda e guardei o pente de volta na cabeceira. -- pode voltar a se sentar por favor.

--Agora você pede por favor. -- uma serviçal, coloca o banco de volta no lugar.

--Você não nos deu escolhas antes, tentou fugir.

-Não estou dando agora, na primeira oportunidade vou colocar os pés para fora desse lugar.

Ruth, apenas deu um pequeno sorriso e apontou o banquinho. Me sentei. Porque uma boa guerreira sabe, qual é o tempo de lutar, e qual é o tempo de recuar, para a próxima batalha.

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