-- Amanda, para onde é que pensas que vais?- Viro-me lentamente para me dar de cara com a minha prima e fico de costas para a porta. Olha, tu vais só arranjar problemas com a mãe. Ela não gosta que saias para a floresta.—a encaro entediada, afinal, ela sempre diz isso quando quero sair—Amanda, sério. Tu, não devias fazer isso. Não é de bom tom que uma dama fique abanando um arco e flecha de um lado para outro.
Revirei os olhos.
-- Você usa esse vestido feio que rasteja no chão mas nem por isso, e fico reclamando. Ah. Mesmo quando fica inventando avarias para ir a cidade grande, eu não me meto nas suas escolhas. Então eu imploro encarecidamente que faça o mesmo comigo.
Ela ficou chocada com a boca aberta, se movimentando como se fosse falar algo, mas apenas saiu um guincho agudo. Ela apontou-me o dedo e eu arquei as sobrancelhas desafiando a iniciar essa discussão. Ela recolheu o dedo e fechou a boca, emburrada, dei um sorriso convencido e dei meia volta.
Mesmo quando sai de casa, ainda voltei a olhar para trás para ver se ela se atreveu a me seguir. Mas, a única coisa que vejo quando olho para trás é a nossa velha casa rústica, com apenas dois quartos, uma pequena sala, uma porta velha amadeirada e cheia de buracos. Do lado esquerdo está a capoeira, com três galinhas, dois patos e dois cavalos, um de raça e outro normal. Não somos ricos. Para ter um celeiro cheio de compartimentos, por isso que todos os animais ficam no mesmo sítio. No início é uma luta, mas depois eles se dão muito bem. Entro na capoeira para pegar o meu cavalo, meu porque fui eu que o achei, a cinco anos atrás e sou a única que consegue domar.
--Cry, como está garoto.—digo passando minha mão sobre a sua longa crina castanha. Ele recebe o meu toque ao mesmo tempo, que cheira meu pescoço, e puxa meus fios cacheados ruivos. -- Também senti saudades. Aposto que está com fome, não é garoto.—os guinchos dele soam mais alto, ri satisfeita. – bora, arranjar algo para você petiscar.
O tiro da capoeira, logo de seguida o manto. Nossa casa está no meio da floresta, porque, bom porque nós somos neutras. Não temos poderes, e geralmente as cidades grandes e as aldeias estão preenchidas por pessoas que ao menos tenham um poder. Em norma. Numa família, tem de ter ao menos uma pessoa com poder. O que não acontece na minha família, somos três mulheres desprovidas de poder. Querer viver na cidade é o mesmo que colocar um alvo nas nossas costas. Não somos bem vindos, nem bem vistos. Somos uma espécie de cólera. Então é mais seguro se esconder dentro da floresta. É só sair para fora quando necessário. Para comprar roupas, comida, produtos domésticos, ou quando saímos para ajudar minha tia nas vendas. Ou seja, não temos permissão para sair daqui, e temos pouco contacto com o mundo exterior.
A floresta não é assim tão assustadora como as pessoas da cidade do vilarejo pensam. Ela está cheia de maravilhosas ervas, algumas medicinais, outras comestíveis e outras venenosas. Sentei-me debaixo de uma gigante macieira, soltei Cry para que pudesse se alimentar, e beber água do lago. Deitei-me sobre o gramado olhando para as folhas verdes e amarelas. Alguns raios solares queimam o meu corpo, mas nada que me faça sair daqui. Fico encarando as folhas quando me canso, viro de lado e adormeço.
Minha tia não gosta que eu venha para cá por causa dos animais selvagens, isto é, algumas cobras, porco espinho, doninhas, coelhos e insectos. Não estamos falando de uma floresta rica em animais selvagens. Conheço este lugar, com a palma da minha mão, e nunca vi um leão, que pelo que eu sei são comuns no país do fogo, lobo já nem digo, pais da terra, jares, país da água. Ou seja, minha tia não se preocupa por nada.
Eu só venho para aqui, porque eu gosto, eu me sinto conectada com a natureza, eu amo a floresta, e também..., na minha infância brinquei muito aqui, conheci alguém incrível, que mal me recordo. É irônico né, eu tenho um carinho enorme por alguém que talvez já nem se recorde de mim. Eu por exemplo, não me recordo do rosto do mesmo, isso foi há tanto tempo. Tenho algumas recordações dos momentos que passamos juntos, queria ter mais, queria poder encontrar, queria poder saber como ele está. Talvez até já tenha constituído família, enquanto eu continuo presa a lembranças.
Me levanto num pulo e vejo que já está anoitecendo, pego meu arco e flecha, assobio para chamar Cry, que não leva um minuto para aparecer.
-- Bora, caçar, alguns coelhos garoto.—monto nele, para adentrar mais na floresta. -- AAAAAAHHHHHHHH. LA. LA. LA. LA. LA LA. LE. LE. LE. LE. – dou risada, com minha própria maluquice, que funciona, porque os animais desta floresta odeiam barulho. Quando há barulho ficam muito assustados e correm por todos os lados. Tomo um susto quando uma cobra voa em minha direção, me curvo e ela cai no chão. Ela começa a serpentear em torno do Cry, que diferente de outros cavalos, não se assusta, apenas fica fora do alcance da cobra, vejo alguns coelhos saltitando, sem me demorar, tiro meu arco, procurando acertar pelo menos dois.
Algum tempo depois, sai da floresta tendo cruzado com a minha tia, logo na saída da floresta.
--Presente. -- mostro dois coelhos grandes antes que ela comece a ralhar.
- Eu é que não digo nada. Você já é maior, sabe o que faz. – Ela pega os coelhos da minha mão e sai falando pelos cotovelos – duvido que ache alguém para se casar com esse comportamento, mas tudo bem. Quem se importa. Você nem quer casar mesmo.
-- Pensei que não diria nada. -- murmuro.
-- Antonieta. Traga água fervida. Amanda vá buscar os temperos. – ordena sem parar de falar.
Entro na casa pego os tempo e saí às encontrando depenando o coelho. Deixou o tempero de lado e começou a ajudar. Minha tia nos conta sobre como foram as vendas hoje e menciona que está rolando um aviso de que o príncipe vai se casar. Minha tia deve saber quem ele é mas, eu e Antonieta, nunca o vimos pessoalmente, nem a ele nem a família real. Mas enfim, o que isso importa. Somos três pobres mulheres, excluídas da sociedade.
Acordo com o som do galo. Eu e Antonieta dormimos no mesmo quarto. Eu sou dois anos mais velha que ela, com vinte aninhos. Eu e Tônia, crescemos juntas, nossas mães viveram juntas até onde me lembro. Tia Di Meranca é irmã da minha falecida mãe, que perdeu a vida devido a uma enfermidade. Eu tinha 7 anos na época. Do meu pai, pouco sei, apenas de que perdeu a vida dois anos após meu nascimento. Em termos práticos, sou órfã de pais. Por outro lado, minha tia foi abandonada pela pessoa que engravidou logo que o mesmo teve conhecimento da gravidez. Do que eu sei, é que o mesmo já tinha três esposas, minha tia seria a quarta, não sei o que aconteceu, apenas que o mesmo desistiu da minha tia e nunca mais veio a ver.A história da minha família é triste, acho que é azar no amor, só que, em contrapartida, somos mulheres fortes e independentes.-- Coloque tudo na carroça, hoje irei connosco para o vilarejo, tenho muitas entregasTia Dimirança, é uma mulher de estatura média, gordinha, de cabelo
Tomamos café, depois fomos fazer nossas tarefas. Minha tia tirou o dia de folga para ficar conosco. Ela está pensativa. Quase como se estivesse divagando entre o passado e o presente. Eu não fiquei para escolher roupas para ir à prisão, peguei em Cry e corri para a floresta, voltei para amaciar.Sinto saudades, saudades de uma pessoa que mal lembro. Saudades da minha mãe, aposto que ela não me deixaria ir de mão beijada, ela era uma guerreira. Ia fazer de tudo para me ver feliz.Encarei meu reflexo no riacho. Meus cabelos volumosos cheios de no, minha sobrancelha ruiva, e meu rosto vermelho depois de chorar. Bati minha mão contra o reflexo fazendo a água se agitar.--- Ao mundo inteiro, sobrevivi.—a melodia sai num tom arranhando.--- Nesta batalha, não irei ceder.--- Aos poucos a imagem do meu rosto no riacho voltou a se formar --- Choquei perfeito, sem exitar, se me derrotam, poderei tentar... porque eu sou... eu sou...--- parei de respirar por um instante. Acho que já sei o que faz
Desperto me sentindo levemente enjoada, e antes mesmo de abrir as pálpebras, me recordo de tudo que aconteceu. Sinto como se estivesse dormindo em nuvens, por isso me levantei abruptamente, não reconhecendo o cômodo, no qual me encontro. Uma cama limpa e confortável, um armário, uma janela média, uma porta, e mais ao fundo, vejo o banheiro, por detrás de sinuosas cortinas.Droga. Onde eu estou?Olho para o meu colo e vejo que continuo com as mesmas roupas de antes. Mas não vejo sandálias. Ignoro esse pormenor e me levanto.Eu tenho de sair daqui.Me direciono a porta, segurou na maçaneta, e felizmente a mesma não está trancada. Abro e não vejo ninguém pelos corredores. Olho ao redor e vejo vários compartimentos espalhados na linha horizontal, e vertical, como se fosse um labirinto de residências.Com certeza esse é o palácio do imperador.Deve ser meio dia porque o sol está no pico. Sigo minha intuição e entro num dos corredores. Nunca estive aqui, mas com certeza, posso me orgulhar
(...)Minha pele ficou um pouco vermelha, por causa de todos os procedimentos, com os quais elas me fizeram passar. Depois disso me vestiram um lindo vestido, cor de vinho, colocaram brincos de pedras de jaspe, e um colar de ouro branco.-- Ouro branco, senhora?—questionou uma das serviçais.--Sim. -- disse Ruth com um estranho brilho nos olhos. -- Simboliza pureza.Quando me levaram, até a sala de jantar, que por acaso fica de portas abertas, para a lagoa, que está cercada, pelos pilares do palaniços, com lanternas amarelas iluminando o lago.O sol já havia se escondido, dando abertura para lua minguante. Apesar do olhar emocionado da imperatriz, o príncipe não deixou de passar seu olhar de reprovação por terem chegado atrasadas. A família real está no centro da sala, enquanto que os servos, devidamente organizados, servem. As serviçais entram comigo até o centro da sala, elas fizeram uma curva e se retiraram. Me deixando à própria sorte. Olhei em volta , e o único rosto que eu recon
Eu levei horas, para chegar à fronteira, mas com o cavalo real, foram apenas alguns instantes para voltarmos ao palácio, dessa vez ele me conduziu aos meus aposentos. Ele ficou me vigiando, enquanto os servos, colocavam grades, nas janelas e tranquetas nas portas. Como punição por tentar fugir, ele disse que ficaria sem jantar, e ficaria o dia todo trancada no quarto.Eu prometi me casar, com aquele príncipe desprezível. Isso nem sequer faz sentido, não me recordo de alguma vez ter visto. Ele me humilhou. Nunca. Nunca. Nunca. Vou amar um homem assim. Eu o odeio. Odeio. Odeio. Odeio.-- A Partir de hoje, terá aulas de etiqueta, e retórica. Daqui a três luas cheia, será o dia da competição, e a imperatriz a quer pronta para qualquer desafio. -- Ruth informou.-- Porque a imperatriz, está tão interessada, que eu aprenda tudo isso?—Ruth sorriu.-- Não sei ao certo, meu chute é que você conquistou o favor da imperatriz.-- Mas. Eu mal a conheço. Quero dizer, não conheço ninguém.Depois de
Daqui a algumas noites será a terceira lua cheia, por um lado as aulas teóricas abrandaram, por outro, as aulas de música se intensificaram, mas pelo menos agora eles me deixam com algum tempo livre. Acho que ganhei o favor do príncipe, para que ele me de alguma liberdade.Se ele confia em mim, então ele é louco, assim que eu encontrar uma brecha vou dar o fora, mas por outro lado, se eu for fugir, viro fugitiva, e o príncipe Christopher vai colocar minha cabeça a prêmio. Ao mesmo tempo que não quero me tornar sua esposa, quer dizer, já sou sua concubina, mas diferente da Senhora Larissa eu ainda não estou cumprindo meus deveres conjugais. Para nobreza se o príncipe não te visita, te despreza, ou seja, se ele ainda não veio consumar o acto, provavelmente não virá, que ele me despreza ele mesmo o disse.Como hoje tenho o dia de folga decidi sair para conhecer melhor o palácio, como andei muito ocupada andando de um ponto fixo para o outro que mal tive tempo de conhecer o palácio.-- A
A passos de fantasma entrou no escritório do príncipe. Que possui várias estantes de livros, uma secretaria, com documentos por cima, um pequeno sofá de descanso do lado esquerdo. Tem duas cadeiras para visitas, e uma pequena carinha, que contém uma bandeja com o almoço do príncipe.Leio e vasculho tudo quanto é lado, e nao encontro nada relevante aqui, a maior parte dos documentos se não todos tem haver com a administração do reino, nas aulas de ciência política aprendi, que a administração do nosso reino, é centralizada no imperador, o seja a última palavra será sempre do imperador. Por outro lado, o imperador pode delegar funções, investindo certos nobres, de poder administrativos, jurisdicionais e legislativos, a última parte é mais complexa, sendo que todas as leis criadas, devem estar em consonância com a vontade do imperador. O imperador da mesma forma que lhes investe de poder pode destituí-los a qualquer altura.Um tiro no escuro.Hoje está no poder, amanhã não está.Quanto
LARISSA.A chegada daquela mulher estragou todos os meus planos, me deixou possessa de raiva, estava tudo tão certo. Mesmo Christopher sendo frio, ele gostava um pouco de mim, me via mais vezes em relação a outras mulheres, me deu o título de concubina e me deu a função de gerir as escravas que vem para o palácio. Mas um pouco e ele seria meu.Não, ele é meu, eu sou a única que merece ser sua esposa. fomos feitos um para o outro, o conheço mais que qualquer pessoa. Maldito imperador e sua maldita lei. Se não ele, eu e Christopher já estávamos casados. Seríamos os imperadores, mas não, ele tinha de trazer aquela mulher para aqui.Minhas servas me contaram, que ela tentou fugir, duas vezes aqui no palácio, e soube por um dos oficiais, que mesmo quando era para vir ao palácio ela tentou fugir. Eu não entendo porque fazem tanta questão de a ter aqui.Mandei alguém procurar saber mais sobre ela, e as informações me fizeram rir, aquela mulher não tem nenhum título, não tem nada, é pobre, cr