Capítulo 03.

Meu corpo todo arder, me sinto como se estivesse pegando fogo. E estou. Consigo ver meu corpo em brasa, e o grito estrangulado que não sai da minha garganta. 

Desperto. E estou apenas no meu quarto. E já amanheceu. Então o que foi esse sonho?

Fênix, me deu essa chance porque está me fazendo sentir dor, como se estivesse no inferno. Abraço os meus pés. Meu corpo está húmido e  me sinto cansada. 

--Senhorita, já preparei seu banho.

-- Joana. -- Olhei para ela cansada.—irei me banhar sozinha, não irei tomar café da manhã. Não me sinto bem.

-- Quer que chame o médico?

- Nenhum médico ou curandeira pode me ajudar. Eu só preciso ficar sozinha. -- ela fica algum tempo me encarando de forma apreensiva. Desde que me tornei noiva nunca mais tomei banho sozinha. Essa é a regra dos nobres, sempre ser banhados por seus servos. Ela se retirou e me joguei na cama de costas. 

O que foi esse sonho? Fênix está do meu lado ou não?

Virei-me,colocando a barriga na cama. Fechei os olhos e respirei fundo. Lembranças do meu passado encheram a minha mente, lágrimas queimaram o meu rosto.

Eu devia estar feliz por essa segunda chance. Mas as lembranças do meu passado ainda me queimam por dentro, quando me lembro de tudo que passei.

Quando dei por mim havia caído no sono, e o sol estava na horizontal. Se houvesse, um jeito de controlar o tempo, sem ter de depender inteiramente da natureza, da posição do sol e da lua. Seria muito mais fácil nos situar.

Levantei-me da cama, fui ao banheiro me banhar. Relaxei meu corpo e tentei não pensar em muita coisa. Assim que saí da banheira me olhei no espelho, eu não sou nada demais. Não tenho uma beleza extraordinária como Amanda, na minha vida passada isso me incomodou até os últimos instantes. Mas nessa. Tenho que gostar de mim assim como eu sou. Meus olhos são extremamente castanhos, quase como um espelho, meus cabelos são da mesma cor e são muito lisos e longos, até a cintura. Tenho o corpo forte, o busto cheio e seios médios. Minha pele é parda, mas tenho sardas nas costas, herança de família. 

Meu rosto e minha beleza são comuns, não tenho traços marcantes ou inesquecíveis.

Vesti-me a rigor e me retirei, encontrei minha mãe na sala, numa conversa com o duque Bonaparte, um homem alguns anos mais velho que minha mãe.

Assim que notam minha presença faço uma pequena vénia.

-- Boa tarde, mãe, duque Bonaparte.

-- Subi que não tomou café e dormiu a tarde inteira, Tônia, sua saúde está boa.

-- Mãe, não fale como se eu tivesse ficado um ano sem sair do quarto. Vai assustar o Duque, e ele vai pensar que sou uma jovem enferma. -- brinquei, com um sorriso no rosto.—Eu estou bem. Vou para sala de jantar, vocês vem comigo?

O Duque olhou para a minha mãe, que assentiu. Então se levantaram. Fomos à sala de jantar, onde a comida estava posta. Minha mãe e o duque conservam como se fossem velhos amigos, e íntimos. Isso eu não me recordo. Será que estivesse tão focada naquilo que eu queria, que nem dei atenção a minha mãe.

-- Eu não sabia que se davam tão bem.—soltei e minha mãe deu de ombros.

-- Se você se recorda o Duque perdeu a esposa ano passado, e de lá até cá nos tornamos amigos. Ele tem filhos mais novos que você, e não confia totalmente em seus criados para cuidar de seus filhos.

-- O QUE?—Coloquei a mão na boca. -- A quanto tempo estão saindo?—coloquei a mão no peito. -- mãe, eu pensei que partilhamos tudo.

-- Eu tentei te contar, mas você estava sempre com a cabeça no ar. -- o duque me encara seriamente, ele não parece gostar muito de mim, ou talvez me considere fútil demais para entender os sentimentos da minha mãe.

- Você tem razão. Espero que seja feliz. E também conhecer os filhos do duque.

Apesar de surpresa com minha atitude, minha mãe sorriu satisfeita. Em meio a refeição a governanta apareceu, dizendo que um mensageiro do país do fogo chegou, e com ele trouxe duas carruagens com presentes. 

-- O rumor de que o imperador do país do fogo quer se casar consigo, afinal é real. -- Duque. 

-- É, mas ela ainda não o respondeu.

-- Não?—sei exatamente o que está se passando na cabeça do duque, e compreendo sua surpresa. 

Ignorei a conversa deles e abri o envelope que o imperador escreveu. Duvido que tenha sido ele a escrever, essa caligrafia é de Dario, o secretário dele. Eu teria acreditado que ele escreveria pessoalmente para mim. Mas, eu já fui sua esposa, e conheço todos os seus truques. Renom não sabe ser fofo, essa carta é meiga demais para ele a ter escrito.

-- O que diz?—dou risada da curiosidade da minha mãe.

-- Ele quer uma resposta.

-- So?—sim mãe, so, não irei entrar em detalhes sobre essa carta, sobre os falsos elogios escritos aqui, em quanto sequer foi ele quem escreveu. Dou de ombros. -- Não vai responder?

-- Mais tarde. Joana, deixe na minha gaveta por favor. -- Joana pegou a carta e saiu. 

Olhei para todos os embrulhos de presente e não senti nenhuma emoção, consigo ver o meu eu antigo, feliz e saltitante de felicidade, abrindo todos os embrulhos ansiosamente.

-- Podem guardar em meu quarto os presentes. Irei organizar amanhã. 

Minha mãe me olha como se estivesse vendo um fantasma. Ignoro e continuo comendo.

Renom você não vai voltar a me manipular, eu juro. Depois que comi, saí do palácio-aquele que o imperador mandou construir para nós. Minha mãe achou melhor nos mudarmos para cá, invés de deixar a casa sendo habitada apenas por funcionários. Metade da floresta foi abaixo com a construção deste palácio, mas, por outras razões. O riacho foi conservado e algumas espécies selvagens ainda vivem aqui. Amanda vem para cá sempre que pode. Ela ama esse lugar.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo