MOSCOU ULITSA ARBAT (ARBAT STREET)
Fico parada no portão da escola por mais de duas horas, tentando ligar para Mackenzie — minha mãe — que não atende a droga do telefone e deixa todas as minhas chamadas irem para a caixa de mensagens, já são vinte e três até agora! As sombras começam a se alongar, e a luz dourada do crepúsculo parece escorregar entre os edifícios enferrujados, arrastando consigo os últimos vestígios da esperança. Um vento gelado sussurra pelas árvores ao longo da calçada, as folhas dançando suavemente antes de se renderem ao chão, como sussurros de um passado esquecido. Cansada de esperar, opto por ir para casa a pé, sabendo que o caminho será longo e cansativo. É melhor do que permanecer aqui, aprisionada ao sabor cruel da incerteza, à espera de minha mãe. E, se ela se esqueceu de mim mais uma vez? Meus pés começam a latejar, o tecido dos meus tênis fazendo fricção nas costas dos meus calcanhares, e, ao longo do caminho, a cidade se transforma. As vozes distantes e os sons abafados do trânsito se mesclam em um eco surdo que faz meu estômago revirar. A exaustão se instala, e minha boca parece desidratar, secando mais a cada passo que dou. Tudo que desejo é um banho, a água quente caindo sobre minha pele como um abraço reconfortante, levando embora a frustração de ter sido abandonada novamente. Sigo por um beco estreito e pouco movimentado que fica atrás do bar, um caminho que normalmente evitaria, mas a adrenalina da curiosidade me puxa, como se fosse uma força traiçoeira. Quando viro à esquerda em uma rua sem saída, a realidade se transforma em um pesadelo grotesco. Já havia lido histórias de assassinatos a sangue frio: agora os sentimentos se transformaram em uma realidade crua. Vários homens, uns quinze ao total me aguardam, sete deles mais adiante; cinco deles armados. As armas brilham na luz escassa e a tensão que permeia o ar é quase palpável. A primeira explosão de tiros ecoa como um sino de morte, e a brutalidade do ato corta a quietude da noite. Dois dos homens caem, a cena se desenvolvendo como uma sinfonia de horror. O cheiro de pólvora permeia o ar, misturando-se ao aroma metálico do sangue fresco, que se espalha pela calçada em um riacho fatal, manchando as pedras da rua, enquanto cada batida do meu coração ressoa em meus ouvidos como um tambor fúnebre, intensificando a angústia que me envolve. O ar, denso e quase sufocante, está impregnado com a essência da violência, enquanto a visão dos corpos estirados no chão se grava em minha mente como um pesadelo vívido. As sombras dançam ao meu redor, e o frio da noite contrasta com o calor pulsante do sangue que se espalha. Um grito de desespero escapa dos meus lábios, mas é abafado pelo eco ensurdecedor dos tiros e pelas risadas cruéis dos homens armados que agora dominam a cena. O riso deles é uma nota dissonante que fere a atmosfera, transformando o horror em um espetáculo grotesco. Meus instintos gritam para que eu fuja, mas a paralisia se instala em meu corpo. Cada movimento parece pesado e lento, como se o tempo tivesse desacelerado, permitindo que eu absorvesse cada detalhe macabro ao meu redor. A luz fraca das lâmpadas de rua cria uma iluminação sinistra, banhando tudo em uma tonalidade amarelada que acentua o horror do que acabo de testemunhar. Me preparo para correr, mas, como se o universo tivesse decidido brincar comigo, uma voz profunda e cavernosa rebenta no ar, cortando a tensão. Ela vem do homem mais velho, que possui cabelos loiro escuro com alguns fios grisalhos nas laterais, assim como em sua barba. Ele é mais alto e robusto do que os demais, e a expressão em seu rosto é realmente cruel. — Fique onde está, garota! Se correr, estouramos seus miolos contra essas paredes — ele diz, o sotaque pesado e ameaçador ecoando nas sombras que me cercam. As palavras dele flutuam na brisa gelada da noite, cercando-me como um cobertor de trevas, fazendo com que a impotência e o terror me consumam. As lágrimas escorrem pelo meu rosto à medida que tento processar a situação. Meus olhos se deparam com os corpos no chão, a vida se esvaindo deles em um mar vermelho. A realidade do que aconteceu aqui, do meu papel como uma testemunha involuntária, se torna esmagadora. Um homem à frente, com olhos azuis cinzentos e um sorriso macabro, avança em minha direção. — Que azar, lugar e hora errada para estar, bonequinha. Infelizmente, não podemos deixar pontas soltas, não é mesmo, Capo? — ele diz, lançando um olhar malicioso ao seu líder, um homem de presença imponente e fria. — Acaba logo com isso! Não temos o dia todo — o Capo ordena, sua voz carregada de autoridade e crueldade. — Puta merda… — O som do tiro corta o ar, fazendo meu coração disparar. Por um instante, penso que o tiro é direcionado a mim, mas, em um piscar de olhos, dois homens que apareceram atrás de mim caem no chão, suas expressões de surpresa e terror eternamente gravadas em seus rostos. O cheiro de pólvora e sangue fresco permeia o ambiente, colidindo com a adrenalina que corre em minhas veias.A noite parece se fechar ao meu redor, como se as sombras conspirassem para me engolir. O riso dos homens ao meu lado ecoa como um som distante, quase irreal, mas o cheiro de sangue e pólvora me traz de volta à realidade crua. Cada respiração que dou parece carregar o peso da morte, como se o ar estivesse impregnado de culpa e desespero.Meus olhos se fixam nas poças de sangue que se espalham pela calçada, cada uma delas um testemunho mudo de vidas que foram ceifadas sem piedade. A luz dos postes oscila, criando sombras dançantes que parecem sussurrar segredos sombrios. Sinto um frio que não vem do vento, mas de dentro, como se minha própria essência estivesse se desintegrando.O Capo ergue sua garrafa em um brinde macabro, sua voz rouca cortando o silêncio da noite.Eu me pergunto como cheguei a este ponto. Como minha vida se tornou isso: um pesadelo do qual não consigo escapar. Lembro-me de tempos mais simples, de dias em que o sol parecia brilhar mais forte e o futuro era uma prome
A tensão no escritório é quase insuportável, como se o ar estivesse carregado de uma eletricidade silenciosa, pronta para explodir a qualquer momento. Luther continua a andar de um lado para o outro, seus passos pesados ecoando no chão de madeira escura. Seus olhos estão distantes, mas há algo neles que me preocupa — uma centelha de obsessão, de desespero. Ele está lutando contra algo que eu não consigo ver, algo que só ele conhece. E Feyra, essa garota que trouxemos para cá, parece o catalisador de tudo isso.Zedekiah permanece imóvel, seu rosto impassível, como sempre. Ele é como uma estátua, frio e calculista, mas hoje até ele parece sentir o peso da situação. Suas palavras são precisas, como sempre, mas há uma hesitação sutil em sua voz quando menciona Feyra. Ele sabe que isso é diferente. Ele sabe que isso pode ser perigoso.— Feyra Yelena Smirnov — ele repete, como se o nome tivesse um significado maior do que qualquer um de nós poderia entender. — Filha de Mackenzie Ekaterina S
Desperto mais uma vez com o som da água pingando, um ritmo monótono que ecoa nas paredes frias e úmidas do porão. O cheiro de mofo invade minhas narinas e a escuridão me envolve como um manto pesado, quase palpável. Meus olhos, acostumados à luz, têm dificuldade em focar, mas logo percebo as sombras que se contorcem ao meu redor, revelando o espaço claustrofóbico em que estou presa.Minhas mãos continuam amarradas a um cano velho e enferrujado, a corda apertando meu pulso e fazendo minha pele arder. A sensação de impotência me gela por dentro. O chão, coberto por um material que prefiro não identificar, adere aos meus pés descalços e expostos. É um poço de desespero, uma sepultura à meia-luz, e não faço ideia de como cheguei aqui.Cada palavra que chega até mim me machuca mais profundamente. Como se pudessem sentir meu medo, uma risada alta fura o ar pesado. O que eles querem? O que farão comigo? Minha mente corre, buscando uma saída, um motivo para acreditar que posso escapar daquela
Heros revelou a obsessão de Luther por Feyra, uma garota que lembra Alicia, sua antiga paixão cuja morte o destruiu. Após investigações, descobrimos mais sobre Alicia, um assunto antes restrito a Luther, e entendemos por que ele criou a Lei da Irmandade, que considera sentimentos além dos carnais como fraqueza. Agora, com Feyra tão parecida com Alicia, a obsessão de Luther envolve todos nós, pois ele busca uma conexão que pode colocar a irmandade em risco.O código da Irmandade exige que todos estejam cientes e de acordo, mas a presença de Feyra causa tensão. Sua beleza e inocência despertam curiosidade em mim, lembrando Alicia. Lohan e Zedekiah também aceitam a situação, embora constrangidos, enquanto Heros se preocupa com a ameaça que ela representa ao seu controle. A grande questão agora é se Feyra aceitará nossa proposta, algo que não parece vantajoso para ela.Com tudo isso, não podíamos simplesmente deixar a garota trancada naquele porão para sempre. A ideia de que suas forças e
Flashbacks de dias perdidos começam a fluir, cada imagem como um golpe de dor. Vejo-me como uma criança esquelética, praticamente à beira da morte, vagando por ruas desertas e frias.Aos seis anos, estou sozinho nas ruas de uma cidade fria. O dia em que meus pais me abandonaram continua fresco na memória, como uma ferida que nunca cicatriza. As calçadas são duras sob meus pés descalços, e o vento gélido corta minha pele, congelando até meus ossos. Cada respiração traz a umidade do ar, e eu me encolho, tentando escapar do frio.Os cheiros são diversos e ruins — a fumaça dos carros, o lixo acumulado nas calçadas e a urina nos becos. O odor é tão forte que parece grudar nas roupas furadas e sujas que visto. Caminho pela cidade, tentando não ser invisível, mas a maioria das pessoas desvia o olhar, apressadas.Meu estômago ronca, lembrando a fome. Aproximo-me de um grupo sentado em um café. A brisa quente que sai dali contrasta com o frio lá fora. Com a voz trêmula, pergunto:— Por favor,
A luz fraca do porão mal ilumina o rosto de Feyra, mas consigo ver a firmeza cravada em seus olhos enquanto eu a observo.Depois da visita dele naquele lugar imundo, eu e os meus irmãos esperávamos que o medo a fizesse ceder e nos confessar que ela realmente é uma espiã. Mas, curiosamente, sua resistência só parece crescer.Feyra, a jovem que foi ser uma mera testemunha em nosso caminho, tem olhos que queimam com uma intensidade que desafia a escuridão ao nosso redor. Ela não parece ser apenas uma jovem inocente. Sua postura é firme, quase desafiadora, e, mesmo com o medo pulsando em seus olhos, há uma força que emana dela, uma força que me deixa curioso para explorar.Fiquei horas vigiando ela pela câmera do porão.— O que você acredita que ela realmente sabe? — pergunta Lohan, parando atrás de mim. Juntos, observamos a garota pela tela do meu computador, com um tom desesperado incomum para ele. — Além do que já descobrimos sobre ela?— Acredito que tudo o que nos contou seja verdade
Sentado no escritório, a luz fraca do abajur ilumina apenas parcialmente o ambiente, criando sombras que dançam nas paredes. Eu e meus irmãos nos reunimos em torno da mesa, a expectativa pairando no ar enquanto aguardamos a ligação de Kurt, nosso infiltrado na Rússia. A tensão é palpável; a busca por informações sobre Feyra e sua mãe se torna uma prioridade.No momento em que o telefone toca, coloco no viva-voz e a voz de Kurt ressoa pelo alto-falante.— Capo, consegui as informações — ele diz, e apesar da distância, a firmeza na sua voz é reconfortante.— Fala logo! — Minha voz sai mais ríspida do que pretendia, mas a expectativa é muita.— Ela era matriculada em uma escola pública em Moscou. O histórico escolar dela mostra que sempre foi uma aluna média, mas com algumas notas melhores em artes. A escola é bem conhecida na área — ele continua. — Ela tem alguns amigos próximos, mas a maioria parece superficial. Não têm muita influência sobre ela.Enquanto escuto, uma parte de mim imag