A noite parece se fechar ao meu redor, como se as sombras conspirassem para me engolir. O riso dos homens ao meu lado ecoa como um som distante, quase irreal, mas o cheiro de sangue e pólvora me traz de volta à realidade crua. Cada respiração que dou parece carregar o peso da morte, como se o ar estivesse impregnado de culpa e desespero.
Meus olhos se fixam nas poças de sangue que se espalham pela calçada, cada uma delas um testemunho mudo de vidas que foram ceifadas sem piedade. A luz dos postes oscila, criando sombras dançantes que parecem sussurrar segredos sombrios. Sinto um frio que não vem do vento, mas de dentro, como se minha própria essência estivesse se desintegrando.
O Capo ergue sua garrafa em um brinde macabro, sua voz rouca cortando o silêncio da noite.
Eu me pergunto como cheguei a este ponto. Como minha vida se tornou isso: um pesadelo do qual não consigo escapar. Lembro-me de tempos mais simples, de dias em que o sol parecia brilhar mais forte e o futuro era uma promessa, não uma sentença. Agora, tudo o que resta é este turbilhão de violência e desespero.
Minhas mãos continuam tremendo, e sinto uma náusea subir pela minha garganta. Quero correr, quero gritar, quero acordar deste pesadelo. Mas sei que não adianta. As correntes que me prendem não são feitas de metal, mas de medo e lealdade distorcida. Eu me tornei parte desta máquina de destruição, e não há como voltar atrás.
— Por favor… — sussurro novamente, mas minha voz é tão fraca que mal consigo ouvi-la.
O Capo se vira para mim, seus olhos brilhando com uma mistura de diversão e crueldade.
— Você está conosco agora, querida. Não há volta. Aprenda a gostar disso.
Suas palavras são uma facada no que resta da minha sanidade. Sinto uma lágrima escorrer pelo meu rosto, mas rapidamente a enxugo, com medo de mostrar fraqueza. Fraqueza é morte neste mundo, e eu já vi o que acontece com aqueles que não conseguem se adaptar.
A noite parece se estender eternamente, cada segundo uma tortura. Enquanto os outros continuam a celebrar, eu fico parada, imóvel, tentando entender como tudo deu tão errado. E, no fundo, sei que não há respostas. Apenas sangue, pólvora e o vazio que consome tudo ao meu redor.
O que resta de mim agora é apenas uma casca, uma sombra do que eu costumava ser. E, enquanto a noite avança, sinto que cada vez mais dessa sombra está se perdendo, até que não reste nada além de escuridão.
Uma mistura de desespero e sobrevivência se torna o meu instinto, e, embora o frio comece a se infiltrar em minha espinha, uma voz interna grita para que eu sobreviva. Mas não consigo me mover. O medo paralisante tem me amarrado em uma escuridão onde nenhum sol poderá brilhar.
— Não podemos fazer isso, você sabe demais, garota — a voz do moreno de olhos claros sussurra, provocativa como uma serpente em busca de sua presa. Sinto sua mão fria apertar meu braço e, em um momento de fraqueza, meus instintos me alertam para escapar.
Um cheiro forte de pólvora e morte permeia o ar, afastando o oxigênio. O calor do caos me envolve, e inexoravelmente, eu sei que estou no centro de um furacão. .
De repente, a ordem do Capo corta o ar, libertando-me de minha letargia.
— Deixe-a ir! — ele grita, e um fio de esperança se acende em mim. O alívio quase me faz desmoronar quando a mão que me aperta se afrouxa. Levanto rapidamente e pego minha mochila caída no chão, o golpe de esperança misturado com o medo que corroí meu interior. Mas antes que eu possa escapar, sinto meus cabelos serem puxados com força, e meu corpo colide contra algo duro atrás de mim. Uma mão firme se agarra à minha cintura, e uma arma fria é pressionada contra minha pele.
“Droga!”, meu pensamento ecoa em pânico. Um movimento errado e posso acabar estirada no chão, agonizando em dor e sangue. O medo se intensifica, mas a urgência de ser mais astuta do que eles se torna meu foco.
Preciso usá-los contra eles mesmos.
— Pensei melhor, você vem conosco — a voz profunda e arrastada encosta aos meus ouvidos, e sinto um arrepio gélido percorrer minha espinha; é o moreno de olhos escuros que me observam com uma intensidade perturbadora. A pressão do cano da arma contra minha pele quente é um lembrete cruel da vulnerabilidade em que me encontro. Ele se inclina, sua língua desliza pela minha bochecha, colhendo uma das minhas lágrimas, um gesto que me provoca uma revolta silenciosa e um embate de sentimentos dentro de mim.
— Se você cooperar, ninguém vai se machucar — ele assegura, e preciso fazer o possível para manter a calma. Assinto, o pânico se aquietando dentro de mim temporariamente. Este é o jogo agora. Eles não conhecem o poder que podem ativar ao dar um passo em falso.
A cena no beco é uma cena devastadora, com os corpos caídos e ensanguentados ao meu redor, testemunhas silenciosas da falta de compaixão e piedade desses homens. O sangue adere às solas de minhas botas, e o cheiro da morte permeia minhas narinas como uma perpetuação do horror. Entrei na rua errada e agora estou nas garras de cinco assassinos cruéis, sem saber aonde me levarão ou qual será o meu destino.
A tensão no escritório é quase insuportável, como se o ar estivesse carregado de uma eletricidade silenciosa, pronta para explodir a qualquer momento. Luther continua a andar de um lado para o outro, seus passos pesados ecoando no chão de madeira escura. Seus olhos estão distantes, mas há algo neles que me preocupa — uma centelha de obsessão, de desespero. Ele está lutando contra algo que eu não consigo ver, algo que só ele conhece. E Feyra, essa garota que trouxemos para cá, parece o catalisador de tudo isso.Zedekiah permanece imóvel, seu rosto impassível, como sempre. Ele é como uma estátua, frio e calculista, mas hoje até ele parece sentir o peso da situação. Suas palavras são precisas, como sempre, mas há uma hesitação sutil em sua voz quando menciona Feyra. Ele sabe que isso é diferente. Ele sabe que isso pode ser perigoso.— Feyra Yelena Smirnov — ele repete, como se o nome tivesse um significado maior do que qualquer um de nós poderia entender. — Filha de Mackenzie Ekaterina S
Desperto mais uma vez com o som da água pingando, um ritmo monótono que ecoa nas paredes frias e úmidas do porão. O cheiro de mofo invade minhas narinas e a escuridão me envolve como um manto pesado, quase palpável. Meus olhos, acostumados à luz, têm dificuldade em focar, mas logo percebo as sombras que se contorcem ao meu redor, revelando o espaço claustrofóbico em que estou presa.Minhas mãos continuam amarradas a um cano velho e enferrujado, a corda apertando meu pulso e fazendo minha pele arder. A sensação de impotência me gela por dentro. O chão, coberto por um material que prefiro não identificar, adere aos meus pés descalços e expostos. É um poço de desespero, uma sepultura à meia-luz, e não faço ideia de como cheguei aqui.Cada palavra que chega até mim me machuca mais profundamente. Como se pudessem sentir meu medo, uma risada alta fura o ar pesado. O que eles querem? O que farão comigo? Minha mente corre, buscando uma saída, um motivo para acreditar que posso escapar daquela
Heros revelou a obsessão de Luther por Feyra, uma garota que lembra Alicia, sua antiga paixão cuja morte o destruiu. Após investigações, descobrimos mais sobre Alicia, um assunto antes restrito a Luther, e entendemos por que ele criou a Lei da Irmandade, que considera sentimentos além dos carnais como fraqueza. Agora, com Feyra tão parecida com Alicia, a obsessão de Luther envolve todos nós, pois ele busca uma conexão que pode colocar a irmandade em risco.O código da Irmandade exige que todos estejam cientes e de acordo, mas a presença de Feyra causa tensão. Sua beleza e inocência despertam curiosidade em mim, lembrando Alicia. Lohan e Zedekiah também aceitam a situação, embora constrangidos, enquanto Heros se preocupa com a ameaça que ela representa ao seu controle. A grande questão agora é se Feyra aceitará nossa proposta, algo que não parece vantajoso para ela.Com tudo isso, não podíamos simplesmente deixar a garota trancada naquele porão para sempre. A ideia de que suas forças e
Flashbacks de dias perdidos começam a fluir, cada imagem como um golpe de dor. Vejo-me como uma criança esquelética, praticamente à beira da morte, vagando por ruas desertas e frias.Aos seis anos, estou sozinho nas ruas de uma cidade fria. O dia em que meus pais me abandonaram continua fresco na memória, como uma ferida que nunca cicatriza. As calçadas são duras sob meus pés descalços, e o vento gélido corta minha pele, congelando até meus ossos. Cada respiração traz a umidade do ar, e eu me encolho, tentando escapar do frio.Os cheiros são diversos e ruins — a fumaça dos carros, o lixo acumulado nas calçadas e a urina nos becos. O odor é tão forte que parece grudar nas roupas furadas e sujas que visto. Caminho pela cidade, tentando não ser invisível, mas a maioria das pessoas desvia o olhar, apressadas.Meu estômago ronca, lembrando a fome. Aproximo-me de um grupo sentado em um café. A brisa quente que sai dali contrasta com o frio lá fora. Com a voz trêmula, pergunto:— Por favor,
A luz fraca do porão mal ilumina o rosto de Feyra, mas consigo ver a firmeza cravada em seus olhos enquanto eu a observo.Depois da visita dele naquele lugar imundo, eu e os meus irmãos esperávamos que o medo a fizesse ceder e nos confessar que ela realmente é uma espiã. Mas, curiosamente, sua resistência só parece crescer.Feyra, a jovem que foi ser uma mera testemunha em nosso caminho, tem olhos que queimam com uma intensidade que desafia a escuridão ao nosso redor. Ela não parece ser apenas uma jovem inocente. Sua postura é firme, quase desafiadora, e, mesmo com o medo pulsando em seus olhos, há uma força que emana dela, uma força que me deixa curioso para explorar.Fiquei horas vigiando ela pela câmera do porão.— O que você acredita que ela realmente sabe? — pergunta Lohan, parando atrás de mim. Juntos, observamos a garota pela tela do meu computador, com um tom desesperado incomum para ele. — Além do que já descobrimos sobre ela?— Acredito que tudo o que nos contou seja verdade
Sentado no escritório, a luz fraca do abajur ilumina apenas parcialmente o ambiente, criando sombras que dançam nas paredes. Eu e meus irmãos nos reunimos em torno da mesa, a expectativa pairando no ar enquanto aguardamos a ligação de Kurt, nosso infiltrado na Rússia. A tensão é palpável; a busca por informações sobre Feyra e sua mãe se torna uma prioridade.No momento em que o telefone toca, coloco no viva-voz e a voz de Kurt ressoa pelo alto-falante.— Capo, consegui as informações — ele diz, e apesar da distância, a firmeza na sua voz é reconfortante.— Fala logo! — Minha voz sai mais ríspida do que pretendia, mas a expectativa é muita.— Ela era matriculada em uma escola pública em Moscou. O histórico escolar dela mostra que sempre foi uma aluna média, mas com algumas notas melhores em artes. A escola é bem conhecida na área — ele continua. — Ela tem alguns amigos próximos, mas a maioria parece superficial. Não têm muita influência sobre ela.Enquanto escuto, uma parte de mim imag
MOSCOU ULITSA ARBAT (ARBAT STREET)Fico parada no portão da escola por mais de duas horas, tentando ligar para Mackenzie — minha mãe — que não atende a droga do telefone e deixa todas as minhas chamadas irem para a caixa de mensagens, já são vinte e três até agora!As sombras começam a se alongar, e a luz dourada do crepúsculo parece escorregar entre os edifícios enferrujados, arrastando consigo os últimos vestígios da esperança. Um vento gelado sussurra pelas árvores ao longo da calçada, as folhas dançando suavemente antes de se renderem ao chão, como sussurros de um passado esquecido. Cansada de esperar, opto por ir para casa a pé, sabendo que o caminho será longo e cansativo. É melhor do que permanecer aqui, aprisionada ao sabor cruel da incerteza, à espera de minha mãe. E, se ela se esqueceu de mim mais uma vez?Meus pés começam a latejar, o tecido dos meus tênis fazendo fricção nas costas dos meus calcanhares, e, ao longo do caminho, a cidade se transforma. As vozes distantes e o