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CAPÍTULO 01 - FEYRA SMIRNOV

A noite parece se fechar ao meu redor, como se as sombras conspirassem para me engolir. O riso dos homens ao meu lado ecoa como um som distante, quase irreal, mas o cheiro de sangue e pólvora me traz de volta à realidade crua. Cada respiração que dou parece carregar o peso da morte, como se o ar estivesse impregnado de culpa e desespero.

Meus olhos se fixam nas poças de sangue que se espalham pela calçada, cada uma delas um testemunho mudo de vidas que foram ceifadas sem piedade. A luz dos postes oscila, criando sombras dançantes que parecem sussurrar segredos sombrios. Sinto um frio que não vem do vento, mas de dentro, como se minha própria essência estivesse se desintegrando.

O Capo ergue sua garrafa em um brinde macabro, sua voz rouca cortando o silêncio da noite.

Eu me pergunto como cheguei a este ponto. Como minha vida se tornou isso: um pesadelo do qual não consigo escapar. Lembro-me de tempos mais simples, de dias em que o sol parecia brilhar mais forte e o futuro era uma promessa, não uma sentença. Agora, tudo o que resta é este turbilhão de violência e desespero.

Minhas mãos continuam tremendo, e sinto uma náusea subir pela minha garganta. Quero correr, quero gritar, quero acordar deste pesadelo. Mas sei que não adianta. As correntes que me prendem não são feitas de metal, mas de medo e lealdade distorcida. Eu me tornei parte desta máquina de destruição, e não há como voltar atrás.

— Por favor… — sussurro novamente, mas minha voz é tão fraca que mal consigo ouvi-la.

O Capo se vira para mim, seus olhos brilhando com uma mistura de diversão e crueldade.

— Você está conosco agora, querida. Não há volta. Aprenda a gostar disso.

Suas palavras são uma facada no que resta da minha sanidade. Sinto uma lágrima escorrer pelo meu rosto, mas rapidamente a enxugo, com medo de mostrar fraqueza. Fraqueza é morte neste mundo, e eu já vi o que acontece com aqueles que não conseguem se adaptar.

A noite parece se estender eternamente, cada segundo uma tortura. Enquanto os outros continuam a celebrar, eu fico parada, imóvel, tentando entender como tudo deu tão errado. E, no fundo, sei que não há respostas. Apenas sangue, pólvora e o vazio que consome tudo ao meu redor.

O que resta de mim agora é apenas uma casca, uma sombra do que eu costumava ser. E, enquanto a noite avança, sinto que cada vez mais dessa sombra está se perdendo, até que não reste nada além de escuridão.

Uma mistura de desespero e sobrevivência se torna o meu instinto, e, embora o frio comece a se infiltrar em minha espinha, uma voz interna grita para que eu sobreviva. Mas não consigo me mover. O medo paralisante tem me amarrado em uma escuridão onde nenhum sol poderá brilhar.

Não podemos fazer isso, você sabe demais, garota — a voz do moreno de olhos claros sussurra, provocativa como uma serpente em busca de sua presa. Sinto sua mão fria apertar meu braço e, em um momento de fraqueza, meus instintos me alertam para escapar.

Um cheiro forte de pólvora e morte permeia o ar, afastando o oxigênio. O calor do caos me envolve, e inexoravelmente, eu sei que estou no centro de um furacão. .

De repente, a ordem do Capo corta o ar, libertando-me de minha letargia.

Deixe-a ir! — ele grita, e um fio de esperança se acende em mim. O alívio quase me faz desmoronar quando a mão que me aperta se afrouxa. Levanto rapidamente e pego minha mochila caída no chão, o golpe de esperança misturado com o medo que corroí meu interior. Mas antes que eu possa escapar, sinto meus cabelos serem puxados com força, e meu corpo colide contra algo duro atrás de mim. Uma mão firme se agarra à minha cintura, e uma arma fria é pressionada contra minha pele.

Droga!”, meu pensamento ecoa em pânico. Um movimento errado e posso acabar estirada no chão, agonizando em dor e sangue. O medo se intensifica, mas a urgência de ser mais astuta do que eles se torna meu foco.

Preciso usá-los contra eles mesmos.

Pensei melhor, você vem conosco — a voz profunda e arrastada encosta aos meus ouvidos, e sinto um arrepio gélido percorrer minha espinha; é o moreno de olhos escuros que me observam com uma intensidade perturbadora. A pressão do cano da arma contra minha pele quente é um lembrete cruel da vulnerabilidade em que me encontro. Ele se inclina, sua língua desliza pela minha bochecha, colhendo uma das minhas lágrimas, um gesto que me provoca uma revolta silenciosa e um embate de sentimentos dentro de mim.

Se você cooperar, ninguém vai se machucar — ele assegura, e preciso fazer o possível para manter a calma. Assinto, o pânico se aquietando dentro de mim temporariamente. Este é o jogo agora. Eles não conhecem o poder que podem ativar ao dar um passo em falso.

A cena no beco é uma cena devastadora, com os corpos caídos e ensanguentados ao meu redor, testemunhas silenciosas da falta de compaixão e piedade desses homens. O sangue adere às solas de minhas botas, e o cheiro da morte permeia minhas narinas como uma perpetuação do horror. Entrei na rua errada e agora estou nas garras de cinco assassinos cruéis, sem saber aonde me levarão ou qual será o meu destino.

 

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