A tensão no escritório é quase insuportável, como se o ar estivesse carregado de uma eletricidade silenciosa, pronta para explodir a qualquer momento. Luther continua a andar de um lado para o outro, seus passos pesados ecoando no chão de madeira escura. Seus olhos estão distantes, mas há algo neles que me preocupa — uma centelha de obsessão, de desespero. Ele está lutando contra algo que eu não consigo ver, algo que só ele conhece. E Feyra, essa garota que trouxemos para cá, parece o catalisador de tudo isso.
Zedekiah permanece imóvel, seu rosto impassível, como sempre. Ele é como uma estátua, frio e calculista, mas hoje até ele parece sentir o peso da situação. Suas palavras são precisas, como sempre, mas há uma hesitação sutil em sua voz quando menciona Feyra. Ele sabe que isso é diferente. Ele sabe que isso pode ser perigoso.
— Feyra Yelena Smirnov — ele repete, como se o nome tivesse um significado maior do que qualquer um de nós poderia entender. — Filha de Mackenzie Ekaterina Smirnov. A mãe dela tem conexões, mas nada que sugira um envolvimento direto com a Bratva. Pelo menos, não ainda.
Observo Luther enquanto Zedekiah fala. Seus olhos se fixam em mim por um momento, e eu vejo algo nele que não via há muito tempo: uma mistura de dor e esperança. Ele está se agarrando a Feyra como se ela fosse uma tábua de salvação, uma chance de redenção. Mas sei que isso é ilusão. Alicia está morta, e nada vai trazê-la de volta. Feyra não é Alicia, e tentar transformá-la nela só vai destruir todos nós.
— Luther — digo, minha voz firme, tentando trazê-lo de volta à realidade. — Ela não é Alicia. Você precisa entender isso.
Ele para de andar e olha para mim, seus olhos brilhando com uma mistura de raiva e dor.
— Sei disso — ele responde, sua voz rouca. — Mas ela… ela pode ser uma chance. Uma chance de fazer as coisas direito desta vez.
Eu suspiro, sentindo o peso da responsabilidade sobre meus ombros. Luther é meu irmão, e eu o amo, mas ele está se perdendo. E se ele continuar assim, vai nos arrastar para o abismo junto com ele.
— Zedekiah — digo, voltando minha atenção para ele. — Coloque mais homens de olho na mãe dela. Se ela souber de algo, se ela for uma ameaça… lidamos com isso. Rapidamente.
Zedekiah acena com a cabeça, seu rosto impassível como sempre. Ele não questiona, não hesita. Ele sabe o que precisa ser feito.
— E Feyra? — ele pergunta, sua voz calma, mas carregada de significado.
Olho para Luther novamente. Ele está parado agora, seus olhos fixos em mim, esperando minha decisão. Sinto o peso do que estou prestes a dizer, mas sei não haver outra escolha.
— Nós a testamos — digo, minha voz firme. — Descobrimos o que ela sabe, o que ela quer. E se ela for uma ameaça… lidamos com isso também.
Luther abre a boca para protestar, mas levanto a mão, silenciando-o.
— Não há outra escolha, Luther — digo, minha voz suave, mas implacável. — Nós não podemos nos dar ao luxo de cometer erros. Não agora.
Ele olha para mim por um momento, seus olhos cheios de conflito, mas finalmente ele acena com a cabeça, cedendo. Ele sabe que estou certo, mesmo que ele não queira admitir.
— Zedekiah — digo, voltando minha atenção para ele novamente. — Prepare tudo. Visitamos Feyra amanhã. E esteja pronto para qualquer coisa.
Zedekiah acena com a cabeça novamente, e eu posso ver as engrenagens girando em sua mente, já calculando os próximos passos. Ele é eficiente, eu lhe dou isso. Mas mesmo ele não pode prever o que vai acontecer quando confrontarmos Feyra.
Olho para Luther mais uma vez e vejo a dor em seus olhos. Ele está lutando contra algo que eu não consigo entender, algo que só ele pode enfrentar. Mas sei que, não importa o que aconteça, eu estarei lá para ele. Ele é meu irmão, e eu não vou deixá-lo cair.
Mas também não vou deixar que ele nos destrua.
A noite está quieta lá fora, mas a tempestade está se formando em nós. E quando ela chegar, nós precisamos estar prontos. Prontos para enfrentar o que vier, não importa o quão sombrio seja.
Porque no nosso mundo, não há espaço para erros. E eu não vou permitir que Feyra, ou qualquer outra pessoa, seja o nosso fim.
A noite se arrasta lentamente, e o silêncio se instala no escritório, pesado e opressor. Lá fora, a cidade continua a pulsar com sua própria vida, indiferente aos conflitos internos que enfrentamos aqui dentro. Olho pela janela, as luzes da cidade piscando como estrelas distantes, e me pergunto como chegamos a esse ponto.
Luther permanece em silêncio, perdido em seus próprios pensamentos. Seus olhos estão fixos em um ponto distante, mas sei que sua mente está trabalhando furiosamente, tentando encontrar uma maneira de salvar Feyra e, talvez, salvar a si no processo. Ele sempre foi assim, impulsivo e teimoso, mas com um coração que, por trás de toda a dureza, ainda se importa profundamente.
Zedekiah, por outro lado, é uma presença constante e imperturbável. Ele é o tipo de pessoa que nunca se deixa abalar, não importa o que aconteça. Sua lealdade é inquestionável, mas às vezes eu me pergunto o que realmente se passa por trás de seu olhar frio e calculista.
Amanhã, quando visitarmos Feyra, tudo pode mudar. Ela não é somente uma garota apanhada no meio de nosso mundo turbulento; ela é uma peça-chave, um enigma que precisamos decifrar. E cada um de nós terá que confrontar seus próprios demônios para descobrir a verdade sobre ela e sobre nós mesmos.
Enquanto me preparo para deixar o escritório, a sensação de inquietação não me abandona. Sei que estamos à beira de algo monumental, algo que pode redefinir tudo o que conhecemos. E, no fundo, talvez seja isso que todos tememos: o desconhecido, a mudança, o confronto com aquilo que evitamos por tanto tempo.
Mas, por agora, somente posso esperar que, quando a manhã chegar, estejamos prontos para enfrentar Feyra e tudo o que ela representa. Porque, no fim, o que está em jogo não é somente nosso destino, mas o próprio equilíbrio do nosso mundo. E eu não posso permitir que ele desmorone. Não agora. Não depois de tudo pelo qual passamos.
Desperto mais uma vez com o som da água pingando, um ritmo monótono que ecoa nas paredes frias e úmidas do porão. O cheiro de mofo invade minhas narinas e a escuridão me envolve como um manto pesado, quase palpável. Meus olhos, acostumados à luz, têm dificuldade em focar, mas logo percebo as sombras que se contorcem ao meu redor, revelando o espaço claustrofóbico em que estou presa.Minhas mãos continuam amarradas a um cano velho e enferrujado, a corda apertando meu pulso e fazendo minha pele arder. A sensação de impotência me gela por dentro. O chão, coberto por um material que prefiro não identificar, adere aos meus pés descalços e expostos. É um poço de desespero, uma sepultura à meia-luz, e não faço ideia de como cheguei aqui.Cada palavra que chega até mim me machuca mais profundamente. Como se pudessem sentir meu medo, uma risada alta fura o ar pesado. O que eles querem? O que farão comigo? Minha mente corre, buscando uma saída, um motivo para acreditar que posso escapar daquela
Heros revelou a obsessão de Luther por Feyra, uma garota que lembra Alicia, sua antiga paixão cuja morte o destruiu. Após investigações, descobrimos mais sobre Alicia, um assunto antes restrito a Luther, e entendemos por que ele criou a Lei da Irmandade, que considera sentimentos além dos carnais como fraqueza. Agora, com Feyra tão parecida com Alicia, a obsessão de Luther envolve todos nós, pois ele busca uma conexão que pode colocar a irmandade em risco.O código da Irmandade exige que todos estejam cientes e de acordo, mas a presença de Feyra causa tensão. Sua beleza e inocência despertam curiosidade em mim, lembrando Alicia. Lohan e Zedekiah também aceitam a situação, embora constrangidos, enquanto Heros se preocupa com a ameaça que ela representa ao seu controle. A grande questão agora é se Feyra aceitará nossa proposta, algo que não parece vantajoso para ela.Com tudo isso, não podíamos simplesmente deixar a garota trancada naquele porão para sempre. A ideia de que suas forças e
Flashbacks de dias perdidos começam a fluir, cada imagem como um golpe de dor. Vejo-me como uma criança esquelética, praticamente à beira da morte, vagando por ruas desertas e frias.Aos seis anos, estou sozinho nas ruas de uma cidade fria. O dia em que meus pais me abandonaram continua fresco na memória, como uma ferida que nunca cicatriza. As calçadas são duras sob meus pés descalços, e o vento gélido corta minha pele, congelando até meus ossos. Cada respiração traz a umidade do ar, e eu me encolho, tentando escapar do frio.Os cheiros são diversos e ruins — a fumaça dos carros, o lixo acumulado nas calçadas e a urina nos becos. O odor é tão forte que parece grudar nas roupas furadas e sujas que visto. Caminho pela cidade, tentando não ser invisível, mas a maioria das pessoas desvia o olhar, apressadas.Meu estômago ronca, lembrando a fome. Aproximo-me de um grupo sentado em um café. A brisa quente que sai dali contrasta com o frio lá fora. Com a voz trêmula, pergunto:— Por favor,
A luz fraca do porão mal ilumina o rosto de Feyra, mas consigo ver a firmeza cravada em seus olhos enquanto eu a observo.Depois da visita dele naquele lugar imundo, eu e os meus irmãos esperávamos que o medo a fizesse ceder e nos confessar que ela realmente é uma espiã. Mas, curiosamente, sua resistência só parece crescer.Feyra, a jovem que foi ser uma mera testemunha em nosso caminho, tem olhos que queimam com uma intensidade que desafia a escuridão ao nosso redor. Ela não parece ser apenas uma jovem inocente. Sua postura é firme, quase desafiadora, e, mesmo com o medo pulsando em seus olhos, há uma força que emana dela, uma força que me deixa curioso para explorar.Fiquei horas vigiando ela pela câmera do porão.— O que você acredita que ela realmente sabe? — pergunta Lohan, parando atrás de mim. Juntos, observamos a garota pela tela do meu computador, com um tom desesperado incomum para ele. — Além do que já descobrimos sobre ela?— Acredito que tudo o que nos contou seja verdade
Sentado no escritório, a luz fraca do abajur ilumina apenas parcialmente o ambiente, criando sombras que dançam nas paredes. Eu e meus irmãos nos reunimos em torno da mesa, a expectativa pairando no ar enquanto aguardamos a ligação de Kurt, nosso infiltrado na Rússia. A tensão é palpável; a busca por informações sobre Feyra e sua mãe se torna uma prioridade.No momento em que o telefone toca, coloco no viva-voz e a voz de Kurt ressoa pelo alto-falante.— Capo, consegui as informações — ele diz, e apesar da distância, a firmeza na sua voz é reconfortante.— Fala logo! — Minha voz sai mais ríspida do que pretendia, mas a expectativa é muita.— Ela era matriculada em uma escola pública em Moscou. O histórico escolar dela mostra que sempre foi uma aluna média, mas com algumas notas melhores em artes. A escola é bem conhecida na área — ele continua. — Ela tem alguns amigos próximos, mas a maioria parece superficial. Não têm muita influência sobre ela.Enquanto escuto, uma parte de mim imag
MOSCOU ULITSA ARBAT (ARBAT STREET)Fico parada no portão da escola por mais de duas horas, tentando ligar para Mackenzie — minha mãe — que não atende a droga do telefone e deixa todas as minhas chamadas irem para a caixa de mensagens, já são vinte e três até agora!As sombras começam a se alongar, e a luz dourada do crepúsculo parece escorregar entre os edifícios enferrujados, arrastando consigo os últimos vestígios da esperança. Um vento gelado sussurra pelas árvores ao longo da calçada, as folhas dançando suavemente antes de se renderem ao chão, como sussurros de um passado esquecido. Cansada de esperar, opto por ir para casa a pé, sabendo que o caminho será longo e cansativo. É melhor do que permanecer aqui, aprisionada ao sabor cruel da incerteza, à espera de minha mãe. E, se ela se esqueceu de mim mais uma vez?Meus pés começam a latejar, o tecido dos meus tênis fazendo fricção nas costas dos meus calcanhares, e, ao longo do caminho, a cidade se transforma. As vozes distantes e o
A noite parece se fechar ao meu redor, como se as sombras conspirassem para me engolir. O riso dos homens ao meu lado ecoa como um som distante, quase irreal, mas o cheiro de sangue e pólvora me traz de volta à realidade crua. Cada respiração que dou parece carregar o peso da morte, como se o ar estivesse impregnado de culpa e desespero.Meus olhos se fixam nas poças de sangue que se espalham pela calçada, cada uma delas um testemunho mudo de vidas que foram ceifadas sem piedade. A luz dos postes oscila, criando sombras dançantes que parecem sussurrar segredos sombrios. Sinto um frio que não vem do vento, mas de dentro, como se minha própria essência estivesse se desintegrando.O Capo ergue sua garrafa em um brinde macabro, sua voz rouca cortando o silêncio da noite.Eu me pergunto como cheguei a este ponto. Como minha vida se tornou isso: um pesadelo do qual não consigo escapar. Lembro-me de tempos mais simples, de dias em que o sol parecia brilhar mais forte e o futuro era uma prome