Heros revelou a obsessão de Luther por Feyra, uma garota que lembra Alicia, sua antiga paixão cuja morte o destruiu. Após investigações, descobrimos mais sobre Alicia, um assunto antes restrito a Luther, e entendemos por que ele criou a Lei da Irmandade, que considera sentimentos além dos carnais como fraqueza. Agora, com Feyra tão parecida com Alicia, a obsessão de Luther envolve todos nós, pois ele busca uma conexão que pode colocar a irmandade em risco.
O código da Irmandade exige que todos estejam cientes e de acordo, mas a presença de Feyra causa tensão. Sua beleza e inocência despertam curiosidade em mim, lembrando Alicia. Lohan e Zedekiah também aceitam a situação, embora constrangidos, enquanto Heros se preocupa com a ameaça que ela representa ao seu controle. A grande questão agora é se Feyra aceitará nossa proposta, algo que não parece vantajoso para ela.
Com tudo isso, não podíamos simplesmente deixar a garota trancada naquele porão para sempre. A ideia de que suas forças estavam se esvaindo devido à nossa tentativa de descobrir seus segredos me incomoda.
A aplicação de um sedativo pesado, juntamente com o produto químico que a fizemos cheirar para apagar sua consciência temporariamente, foi uma medida extrema que Heros ordenou como nosso Capo. Por isso, faz apenas um pouco mais de 24h que ela acordou e, desde então, não tem comido nada e sua condição letárgica me deixa inquieto.
Deixei os meus irmãos discutindo os próximos passos no escritório e me afastei da atmosfera pesada daquele espaço, esperando que um pouco de ar fresco me fizesse ver a situação com clareza.
— A Feyra precisa comer alguma coisa. Vou descer e fazer algo para ela. — Todos olham para mim, e a tensão momentânea se dissolve, substituída por uma expectativa inquieta.
Os olhares dos meus irmãos se cruzam, e percebo a surpresa na expressão de Heros, mas logo a frieza no olhar dele substitui qualquer hesitação. Ele arqueia uma sobrancelha, um sorriso sardônico nos lábios.
— Eu estava prestes a me esquecer disso. O que você sugere? — Heros diz, com desprezo.
O tom de sarcasmo na voz dele é difícil de ignorar, como se a ideia de cuidar daquela garota fosse uma perda de tempo para ele.
— Se ela vai ser nossa, precisa estar em condições de falar e se mover — retruco, a pressão aumentando dentro da minha cabeça. A imagem de Feyra, com os traços de desespero e fome, aperta meu coração de uma maneira que mal posso descrever.
Enquanto procuro algo para preparar, uma onda de lembranças invade minha mente, levando-me de volta a um passado sombrio que eu desejaria esquecer.
Faço a mesma comida que papai fez para mim pela primeira vez, quando me trouxe para morar com ele e os meus irmãos. E com um copo de suco de frutas frescas nas mãos, entro no porão. A porta se fecha atrás de mim com um estalo, e o ambiente imediatamente se torna mais sombrio e opressivo. O cheiro de mofo e umidade impregna o ar, misturando-se com algo indefinido e desagradável. As paredes de tijolos expostos parecem se aproximar, criando uma sensação de claustrofobia. A luz fraca de uma lâmpada pendurada no teto falha em iluminar adequadamente o espaço, apenas jogando sombras dançantes ao meu redor.
— Olá, Feyra — digo, tentando soar calmo. A tensão é palpável no ar enquanto observo a menina amarrada. — Eu trouxe algo para você.
Segurando o prato de comida e o copo de suco, sinto que uma parte de mim deseja que isso faça a situação parecer menos aterradora. Ela gira a cabeça, ignorando o alimento, e vejo a luta em seu rosto.
— Estou amarrada — ela responde, a voz tremendo. — Não posso pegar. Encaro Feyra, observando a apreensão em seu olhar.
— Eu sei. Mas você precisa se alimentar — digo, dando um passo à frente, quase hesitante. O peso da responsabilidade aperta meu peito. — Por favor, confie em mim.
Vejo seu corpo ficar tenso, a guarda alta, e isso me faz sentir um aperto no coração. Ela está presa, e a dor em seu olhar me lembra do peso da situação em que nos encontramos.
— Você vai me soltar? — ela pergunta, a esperança quase escapando em um sussurro.
Balanço a cabeça lentamente, sentindo o peso das minhas palavras.
— Não posso fazer isso agora. Mas prometo que não quero te machucar. Apenas coma.
Encaro os olhos dela, que refletem um misto de medo e desconfiança.
— E se eu não quiser? — ela responde, tentando manter a bravura, mas a voz vacila.
Suspirando, a tensão entre nós parece quase palpável. Um nó se apertando em meu peito, ao perceber as emoções conflitantes dentro dela.
— Então, eu terei que fazer isso de outra maneira — digo, me inclinando um pouco mais perto.
Levo uma colherada de comida até os lábios dela, enquanto o aroma da refeição preenche o espaço entre nós. A combinação de raiva e fragilidade é quase tangível. Com hesitação, ela abre a boca e aceita a comida. Essa cena provoca em mim uma emoção peculiar — uma fusão de alívio e melancolia.
— Veja? Não é tão ruim assim — digo, tentando quebrar a barreira, mas noto que há uma tristeza nos olhos dela que não passa despercebida para mim.
— Você não entende — ela responde, a boca ainda cheia de comida. — Não sei se posso confiar em você. Quem me garante que não estou cometendo o erro de comer isso e morrer envenenada depois?
— Posso ser mafioso e tão perigoso quanto os meus irmãos, mas se quisesse te matar, não seria por envenenamento — digo, oferecendo um gole do suco. Ela hesita, mas acaba aceitando, seduzida pela frescura. — E não é isso que queremos de você.
Enquanto ela mastiga, sinto a desconfiança dela ainda rondando o ar. Ela hesita, e a tensão aumenta.
— O que você quer dizer com isso? — pergunta, seu tom desafiador se firmando na voz.
Eu hesito. A pergunta deles é séria, e a expressão dela mostra que preciso ser claro.
— Meu irmão está um pouco obcecado por você — finalmente digo, a intensidade do meu olhar se encontrando com o dela. O silêncio se estende, e a pressão nos envolve.
As paredes do porão parecem se contrair, e o odor do mofo é acentuado pela culpa que sinto.
— Existem maneiras de conseguir a sua liberdade deste porão, uma delas beneficiará todos nós, e a outra, bem…
Flashbacks de dias perdidos começam a fluir, cada imagem como um golpe de dor. Vejo-me como uma criança esquelética, praticamente à beira da morte, vagando por ruas desertas e frias.Aos seis anos, estou sozinho nas ruas de uma cidade fria. O dia em que meus pais me abandonaram continua fresco na memória, como uma ferida que nunca cicatriza. As calçadas são duras sob meus pés descalços, e o vento gélido corta minha pele, congelando até meus ossos. Cada respiração traz a umidade do ar, e eu me encolho, tentando escapar do frio.Os cheiros são diversos e ruins — a fumaça dos carros, o lixo acumulado nas calçadas e a urina nos becos. O odor é tão forte que parece grudar nas roupas furadas e sujas que visto. Caminho pela cidade, tentando não ser invisível, mas a maioria das pessoas desvia o olhar, apressadas.Meu estômago ronca, lembrando a fome. Aproximo-me de um grupo sentado em um café. A brisa quente que sai dali contrasta com o frio lá fora. Com a voz trêmula, pergunto:— Por favor,
A luz fraca do porão mal ilumina o rosto de Feyra, mas consigo ver a firmeza cravada em seus olhos enquanto eu a observo.Depois da visita dele naquele lugar imundo, eu e os meus irmãos esperávamos que o medo a fizesse ceder e nos confessar que ela realmente é uma espiã. Mas, curiosamente, sua resistência só parece crescer.Feyra, a jovem que foi ser uma mera testemunha em nosso caminho, tem olhos que queimam com uma intensidade que desafia a escuridão ao nosso redor. Ela não parece ser apenas uma jovem inocente. Sua postura é firme, quase desafiadora, e, mesmo com o medo pulsando em seus olhos, há uma força que emana dela, uma força que me deixa curioso para explorar.Fiquei horas vigiando ela pela câmera do porão.— O que você acredita que ela realmente sabe? — pergunta Lohan, parando atrás de mim. Juntos, observamos a garota pela tela do meu computador, com um tom desesperado incomum para ele. — Além do que já descobrimos sobre ela?— Acredito que tudo o que nos contou seja verdade
Sentado no escritório, a luz fraca do abajur ilumina apenas parcialmente o ambiente, criando sombras que dançam nas paredes. Eu e meus irmãos nos reunimos em torno da mesa, a expectativa pairando no ar enquanto aguardamos a ligação de Kurt, nosso infiltrado na Rússia. A tensão é palpável; a busca por informações sobre Feyra e sua mãe se torna uma prioridade.No momento em que o telefone toca, coloco no viva-voz e a voz de Kurt ressoa pelo alto-falante.— Capo, consegui as informações — ele diz, e apesar da distância, a firmeza na sua voz é reconfortante.— Fala logo! — Minha voz sai mais ríspida do que pretendia, mas a expectativa é muita.— Ela era matriculada em uma escola pública em Moscou. O histórico escolar dela mostra que sempre foi uma aluna média, mas com algumas notas melhores em artes. A escola é bem conhecida na área — ele continua. — Ela tem alguns amigos próximos, mas a maioria parece superficial. Não têm muita influência sobre ela.Enquanto escuto, uma parte de mim imag
MOSCOU ULITSA ARBAT (ARBAT STREET)Fico parada no portão da escola por mais de duas horas, tentando ligar para Mackenzie — minha mãe — que não atende a droga do telefone e deixa todas as minhas chamadas irem para a caixa de mensagens, já são vinte e três até agora!As sombras começam a se alongar, e a luz dourada do crepúsculo parece escorregar entre os edifícios enferrujados, arrastando consigo os últimos vestígios da esperança. Um vento gelado sussurra pelas árvores ao longo da calçada, as folhas dançando suavemente antes de se renderem ao chão, como sussurros de um passado esquecido. Cansada de esperar, opto por ir para casa a pé, sabendo que o caminho será longo e cansativo. É melhor do que permanecer aqui, aprisionada ao sabor cruel da incerteza, à espera de minha mãe. E, se ela se esqueceu de mim mais uma vez?Meus pés começam a latejar, o tecido dos meus tênis fazendo fricção nas costas dos meus calcanhares, e, ao longo do caminho, a cidade se transforma. As vozes distantes e o
A noite parece se fechar ao meu redor, como se as sombras conspirassem para me engolir. O riso dos homens ao meu lado ecoa como um som distante, quase irreal, mas o cheiro de sangue e pólvora me traz de volta à realidade crua. Cada respiração que dou parece carregar o peso da morte, como se o ar estivesse impregnado de culpa e desespero.Meus olhos se fixam nas poças de sangue que se espalham pela calçada, cada uma delas um testemunho mudo de vidas que foram ceifadas sem piedade. A luz dos postes oscila, criando sombras dançantes que parecem sussurrar segredos sombrios. Sinto um frio que não vem do vento, mas de dentro, como se minha própria essência estivesse se desintegrando.O Capo ergue sua garrafa em um brinde macabro, sua voz rouca cortando o silêncio da noite.Eu me pergunto como cheguei a este ponto. Como minha vida se tornou isso: um pesadelo do qual não consigo escapar. Lembro-me de tempos mais simples, de dias em que o sol parecia brilhar mais forte e o futuro era uma prome
A tensão no escritório é quase insuportável, como se o ar estivesse carregado de uma eletricidade silenciosa, pronta para explodir a qualquer momento. Luther continua a andar de um lado para o outro, seus passos pesados ecoando no chão de madeira escura. Seus olhos estão distantes, mas há algo neles que me preocupa — uma centelha de obsessão, de desespero. Ele está lutando contra algo que eu não consigo ver, algo que só ele conhece. E Feyra, essa garota que trouxemos para cá, parece o catalisador de tudo isso.Zedekiah permanece imóvel, seu rosto impassível, como sempre. Ele é como uma estátua, frio e calculista, mas hoje até ele parece sentir o peso da situação. Suas palavras são precisas, como sempre, mas há uma hesitação sutil em sua voz quando menciona Feyra. Ele sabe que isso é diferente. Ele sabe que isso pode ser perigoso.— Feyra Yelena Smirnov — ele repete, como se o nome tivesse um significado maior do que qualquer um de nós poderia entender. — Filha de Mackenzie Ekaterina S
Desperto mais uma vez com o som da água pingando, um ritmo monótono que ecoa nas paredes frias e úmidas do porão. O cheiro de mofo invade minhas narinas e a escuridão me envolve como um manto pesado, quase palpável. Meus olhos, acostumados à luz, têm dificuldade em focar, mas logo percebo as sombras que se contorcem ao meu redor, revelando o espaço claustrofóbico em que estou presa.Minhas mãos continuam amarradas a um cano velho e enferrujado, a corda apertando meu pulso e fazendo minha pele arder. A sensação de impotência me gela por dentro. O chão, coberto por um material que prefiro não identificar, adere aos meus pés descalços e expostos. É um poço de desespero, uma sepultura à meia-luz, e não faço ideia de como cheguei aqui.Cada palavra que chega até mim me machuca mais profundamente. Como se pudessem sentir meu medo, uma risada alta fura o ar pesado. O que eles querem? O que farão comigo? Minha mente corre, buscando uma saída, um motivo para acreditar que posso escapar daquela