Sammy — Dois meses depois.
Eu estava há mais de vinte minutos atrasada pra escola. Eu simplesmente não iria conseguir sair de casa com as duas espinhas enormes que haviam aparecido em ambas as bochechas. Eu sabia que espinhas iriam aparecer futuramente graças aos hormônios da gravidez, mas eu não sabia como iria me sentir. Meu rosto estava mais oleoso, com duas espinhas, eu estava sentindo minha barriga inchada e meus pés também. Minhas costas estavam doendo, os enjôos matinais estavam piores e as dores de cabeça também. Eu não era uma pessoa vaidosa, mas eu gostava sempre de estar me sentindo bem com minha aparência. E devo dizer, as malditas espinhas me tiraram esse bem estar.
Dois meses e alguns dias haviam se passado desde que me mudei para Chicago. Marcus e eu haviamos conversado pouco sobre nossa relação e mais sobre coisas de bebês. Tínhamos conseguido entrar em um clima mais amistoso. Ele não tocava em mim, obviamente, nem mesmo segurava minha mão. Claro que eu não esperava isso, mas caramba, teríamos um filho juntos. Deveríamos conseguir nos abraçar ao menos. Mas não, ele não ficava perto o suficiente. Na minha primeira ultrassom em Chicago, ele havia ido comigo. Eu estava nervosa e quando eu vi meu pequeno grão de feijão pelo aparelho, fiquei emocionada. Marcus não me consolou. Ele ficou lá ao meu lado, de braços cruzados enquanto olhava sem parar pro monitor. Ele estava tendo seu próprio momento, eu entendia. Era como se aquela imagem do bebê abrisse os olhos dele em um choque.
Ele estava indo mesmo ser pai. Teria alguém, pequenino, na vida dele que precisaria de seu amor, proteção e compromisso. Talvez isso fosse demais para ele e só estivesse envergonhado de me dizer. Mas eu não saberia dizer, já que não conversavamos tão bem. Em dois meses, saímos pra jantar três vezes e nas três vezes falamos sobre minha escola, sobre minha antiga vida em Manassas, sobre como eu e Branna nos tornamos melhores amigas e sobre nossas aventuras. Depois eu disse que não queria mais sair, estava me sentindo cansada demais. Então duas vezes por semana, ele ia jantar ou almoçar na minha casa. Já que teríamos um bebê e ele iria passar um tempo conosco, achei que seria uma boa começar a acostumar Benjamin com ele. Ficaria muito pesado para ele se acostumar com Marcus e um bebê ao mesmo tempo. Aquela era a solução mais lógica.
Marcus se propôs a cuidar do quarto do bebê, comprou o primeiro par de sapatinhos e o primeiro macacão. Brancos, já que não sabíamos o sexo do bebê. Eram as coisinhas mais fofas e pequenas do mundo. Minha barriga de três meses era pequena, mas estava ali. E eu não conseguia parar de tocar nela. Era algo que eu não tinha controle, eu só não conseguia parar de acariciar. E eu estava fazendo aquilo no momento, acariciando enquanto me olhava no espelho do banheiro. Sean entrou e se encostou na porta. Ele sorriu de leve.
— Meu sobrinho quer descansar, sabia?
Olhei pra ele pelo espelho e fiz biquinho.
— Tenho duas novas espinhas. — choraminguei e ele revirou os olhos.
— São quase inexistentes, Samantha.
— Não são.
— Eu tô indo pra oficina. Quer que eu diga algo ao Marcus?
Sean havia começado a trabalhar na oficina do Marcus há um mês. Marcus disse que estava precisando de braços novos e ele se ofereceu para ajudar. Duas semanas viraram um mês e Marcus pediu pra ele ficar permanente. Sean gostava de lidar com carros e essas coisas. Ele trabalhou na oficina do pai de um amigo em Manassas e aquilo era como uma terapia. Também começou a lutar na academia do Dylan e a frequentar a boate subterrânea do Evans.
— Não. — disse dando de ombros. O que eu poderia querer dizer a ele?, pensei comigo mesma.
— Tudo bem. — ele disse e puxou de leve uma mecha do meu cabelo. — Até mais tarde.
Lhe disse tchau e ele se foi. Saí do quarto depois e desci pra tomar o café da manhã. Papai havia conseguido comprar o espaço que ele queria, agora o lugar estava em obra e ele passava o dia lá para supervisionar. Com Sean trabalhando e lutando, ficava só Benjamin e eu em casa. Claro que eu estudava de manhã, então Benjamin ficava só na parte da manhã. Ele sabia das coisas, não se machucava nunca e nem fazia besteiras. Ele arrumava a casa toda, menos fazia comida. Da primeira vez que chegamos em casa e a vimos brilhando de limpa, ficamos tão orgulhosos dele. Não que pensássemos que ele fosse um inútil, mas só não achamos que ele fosse fazer. Demos intrusões claras para ele ficar em casa, sem sair e nem abrir a porta pra estranhos. Não mexer com fogo, nem quebrar nada. Ele fez isso, mas limpou a casa. Até o porão estava brilhando. Era a forma dele de nos dizer que era mais inteligente e capaz do que achávamos.
Benjamin estava na cozinha colocando seu café. Ele virou o rosto um pouco para me ver e depois voltou a derramar café na xícara.
— Bom dia, lindo.
— Bom dia, Samantha. — ele respondeu.
Nos sentamos na mesa e comemos em silêncio. Conversamos às vezes, mas ele não era muito de falar. Ele gostava do silêncio, da tranquilidade. Como sempre fazíamos quando terminamos de comer, ele lavou e eu sequei e guardei a louça.
— Vou fazer o almoço hoje. — lhe disse. — O que você quer fazer?
Benjamin pegou uma fruta e fechou a geladeira.
— Lavar roupa.
Concordei e ele foi pra área de serviço. Meu irmão era um homem e tanto. Lavava até roupa. Sorri e comecei a fazer o almoço. Terminei antes das nove e fui ver como ele estava se saindo. Benjamin estava sentado no chão esperando a máquina acabar de lavar para colocar na secadora e estender. Me sentei ao lado dele e ficamos em total silêncio. A campainha tocou e eu fui atender bufando. Estava difícil me levantar, não por causa da barriga, ainda era minúscula, mas por preguiça mesmo. Abri a porta e o entregador sorriu gentil.
— Bom dia. Samantha Preston? — perguntou me entregando uma prancheta.
— Eu mesma. — disse assinando e pegando a caixa que ele me deu.
— Tenha um bom dia. — disse e foi embora.
Entrei e fechei a porta com o pé. Me sentei no sofá e abri a caixa. Tinha um envelope quadrado branco e um pequeno buquê de rosas roxas. Abri o envelope e tirei de lá algumas fotos minhas. Em uma delas eu estava dormindo no meu quarto, outra eu estava indo pra escola, na cozinha e almoçando com meus irmãos e meu pai. Me levantei nervosa e olhei pela janela. Incrivelmente, do outro lado da rua estava o antigo cara. Desta vez ele estava de frente pra mim, sorrindo de lado de um jeito perverso e eu o reconheci. Taxista fodido! , pensei engolindo em seco e me afastando da janela. Abri o bilhete que tinha e senti vontade de vomitar.
___
Hey, boca inteligente. Soube que está grávida. Meus parabéns. Pena que não vai durar muito...Mande meus sinceros parabéns ao futuro papai e diga que ainda tem pessoas que se lembram do seu verdadeiro nome.Atenciosamente, seu amado espião.___Fui para a janela de novo e ele não estava mais lá. Me sentei enjoada no sofá e vi minhas mãos tremendo. Benjamin entrou na sala e se sentou na poltrona. Peguei as coisas apressada e levei pro quarto.
— Que droga! — eu disse me sentando na cama e respirando fundo algumas vezes.
Meu Deus, ele entrou aqui! Enquanto eu dormia, ele estava aqui... , fechei os olhos e respirei fundo. Acariciei minha barriga lentamente por sob a roupa. Olhei em volta sem saber o que fazer, nem o que pensar. O que ele ganharia fazendo aquilo? Marcus! Ele vai saber o que esse cara quer...
Peguei meu celular e mandei uma mensagem para Marcus dizendo que precisava dele. Ele respondeu dois minutos depois dizendo que estava vindo. Passei quase cinco minutos andando de um lado pro outro no quarto até que ouvi um barulho vindo do andar de baixo. Corri pra baixo e vi a porta aberta. Olhei em volta e não vi Benjamin.
— Benjamin! — gritei indo pra área de serviço e a encontrando vazia. — Benjamin!
Assim que voltei pra sala olhei de novo pra porta e ela estava fechada.
— Como assim? — perguntei confusa e algo lá em cima caiu.
Meu coração parou de bater. Tinha alguém na casa e Benjamin havia sumido. Eu estava só.
* * * * * *
Coloquei um pé no primeiro degrau e respirei fundo. Subi os degraus devagar temendo ir, mas sabendo que era preciso. Eu não iria ficar amendrontada na sala até Marcus chegar. O corredor parecia estranhamente escuro e assustador. As portas do quarto de Sean, Benjamin e papai estavam fechadas, mas a porta do bebê estava escancarada, assim como a minha. Fiquei na entrada do quarto do bebê e segurei a respiração quando vi um cara de costas pra mim olhando pela janela. Ele estava vestido de preto dos pés a cabeça e de capuz. Ele levantou a cabeça e ouvi uma risada vir dele.
— Marcus acha que pode mudar? — falou com a voz grossa. Senti meus pelos da nuca se arrepiarem. — Não pode. Ele é quem é. Nada pode mudar isso...
— Quem é você? — perguntei. — O que está fazendo aqui?
O estranho riu baixinho de novo e se virou pra mim tirando o capuz. Mordi o lábio quando o vi. Metade do rosto dele era queimado e seus olhos azuis pareciam gelo. Me afastei um pouco, mas continuei em sua linha de visão.
— Isso. — ele apontou para o próprio rosto deformado com uma faca que segurava na mão. — É o que os Black fazem. Isso, querida Samantha, é o que o seu adorado Marcus me fez.
Engoli em seco e neguei.
— Marcus não machucariam alguém dessa forma... — falei, mas minha voz foi sumindo com o olhar que ele me deu.
— Marcus foi criado pra matar, garota. Como Walter, Dylan, Nina, Jonathan, Jasmine, Damon. Todos os Black são tóxicos.
— Marcus não é um Black. — disse e me afastei mais.
— Tem certeza? — ele inclinou a cabeça pro lado um pouco e riu. — Está tão despreparada pra esse mundo quanto a garota Peters e é por isso que vocês vão morrer.
— Cala a boca.
— Você vai morrer, sabe de disso. — ele disse e abaixou a cabeça. — Todos morrem, garota.
Suspirei aliviada quando a porta lá em baixo foi aberta e a voz de Marcus me chamou. O homem perto da janela deu de ombros e riu.
— Diga a ele que nos vemos no inferno. — disse sorrindo ddiabolicame e antes que eu conseguisse dizer algo, ele cortou a própria garganta.
Sangue espirrou pelo chão como cachoeria, ele caiu de joelhos antes de cair completamente deitado no chão e eu arregalei os olhos. Fiquei sem acreditar e quando notei que o que eu vi era verdade não me segurei e gritei.
SammyMarcus estava ao celular falando com Cam. O cadáver daquele homem estava no quarto destinado ao meu filho e eu andava de um lado pro outro pela sala pensando em Benjamin. Meu pai estava no trabalho e Sean estava voltando pra casa. Marcus havia colocado Evil e alguns caras procurando por Benjamin, mas eu não conseguia controlar minha mente de pensar o pior. Eu não estava tão abalada por ter visto um homem se matar e sim pelo fato de não saber onde meu irmão estava. Eu podia lidar com a morte de um estranho, ainda mais um que não era bom, mas meu irmão? Não, isso não.— Samantha, sente um pouco, okay? Evil e os outros vão achar seu irmão. — Marcus disse ao desligar.— Você não entende. — eu disse andando com as mãos na cintura. — Ele não vai se sentir bem com estranho
SammyEram onze e meia da noite e estavam todos dormindo. Bem, não todos. Eu não conseguia mais dormir. Marcus estava lá em baixo, dormindo no sofá e eu estava inquieta na cama. Eu havia cochilado e sonhei que estavamos no apartamento dele fazendo amor. Acordei suada de novo e não consegui mais pregar o olho. Eu queria ir até lá, me deitar com ele e talvez fazer amor com ele de novo. Mas eu não sabia se ele iria ou não me rejeitar. Então aguentei firme e fiquei deitada.Branna e John haviam vindo me ver às quatro da tarde e conversamos muito sobre o que aconteceu. Contei a eles e a Marcus sobre o taxista, Branna e Marcus ficaram com raiva de mim por não ter contado, mas eu os dobrei fazendo biquinho.Comecei a sentir sede e saí da cama. Caminhei rapidamente pelo corredor,
SammyAquele sem sombra de dúvidas foi o melhor encontro que tive desde sempre. Foi leve, divertido, cheio de flerte e de sinceridade. Nada de capa, apenas duas pessoas tentando se conhecer. Finn era lindo, tanto por dentro quanto por fora. E passar um tempo longe de casa, de Marcus ou de qualquer pensamento relacionado à ele, me fez bem.Finn estacionou o carro na frente da minha casa falatava seis minutos pras onze da noite. Eu tirei o cinto e me virei pra ele.- Obrigada. Esse foi o melhor encontro. - disse sorrindo.Finn riu.- Eu espero repetir qualquer dia desses.- Quando você quiser.
SammyMeu segundo encontro com Finn foi ótimo. Ele me levou ao parque, depois para almoçar e depois pra casa. Ele foi um perfeito cavalheiro e eu amei cada segundo. Finn foi romântico, educado e engraçado. Me fez rir e eu gostei mais do que o primeiro. Ele era uma ótima pessoa e eu estava gostando dele, gostando de passar o tempo com ele. Mas tinha um problema que Branna fez questão de esfregar na minha cara; ele não era Marcus.Todo o tempo que passei com Finn não afugentou meu sentimento por Marcus. Fazia um mês que eu saía com ele direto e Marcus estava cada vez mais afastado de mim, o que só me fez pensar mais nele. Ele mandava mensagens para perguntar como eu estava, mas eram curtas. As visitas dele estavam cada vez mais raras e até Benjamin sentiu falta dele. Toda vez que eu o convidava pro jantar ele dizia que esta
Grandes garotas choram quando seus corações estão quebrados.- Big Girls Cry, Sia.___SammyEu não conseguia olhar pra ele.Eu estava de costas pra ele encarando o armário branco enquanto eu sentia e ouvia os cacos do meu coração cair.Fechei os olhos com força e mordi o lábio inferior.Essa droga não tá acontecendo,bem, mas estava. Sally estava grávida dele, assim como eu.Eu não sabia se tinha motivos para me sentir como estava me sentindo. Como uma esposa traída. Ele não era meu, sempre deixou isso claro. O que houve entre nós foi apenas sexo. Um sexo selvagem e delicioso que nos levou ao Oliver.Meu Ollie,pensar no meu filho só fazia a dor au
SammyEu queria muito não estar enjoada, mas eu não podia fazer muito contra isso. Oliver parecia que não queria me dar uma folga. Acariciei minha barriga depois de tomar meu segundo banho e me vesti. Eu havia prometido ao meu pai e ao Sean que iria encontrar com Marcus, mas eu não estava disposta.Hoje é dia de ficar na cama, pensei me deitando na cama e fechando os olhos enquanto ouvia a chuva cair do lado de fora. Chicago estava do jeitinho que eu gostava, chuvosa e silenciosa. Branna havia ligado mais cedo me convidando pra ir no cinema com ela, então eu já tinha planos pra noite. Pensei em mandar uma mensagem pro Marcus e convidá-lo a vir pro almoço, mas desisti no momento em que peguei o celular. Eu ainda estava hesitante.Dei de ombros não querendo pensar nisso e peguei meu novo notebook. Me escondi d
SammyEu não saí com Branna como havia prometido porque estava deprimida demais. Não contei a ela o que aconteceu, prometi contar depois. O dia foi pesado para todos nós. Depois do ocorrido, nós conversamos pouco. Benjamin e Sean passaram o resto do dia trancados, Papai foi ver como andava a obra e eu fiquei na sala olhando fixamente pra TV. Finn havia mandando dez mensagens e eu não via nenhuma, apesar de estar com o celular na mão o tempo todo. Eu não queria falar com ele. Nem com ninguém pra ser sincera. Eu queria... sorvete caseiro.Me levantei do sofá e peguei a tigela da geladeira. Me sentei no chão da cozinha, ao lado do fogão e comi o quanto consegui de sorvete. Meu celular vibrou ao meu lado e vi uma mensagem do Finn.Décima primeira... décima segunda... Ah, por favor não chegue na décima terceira... déc
SammyO dia foi irritante, por falta de palavra melhor. Finn passou quase o tempo todo me dando respostas curtas e mal me olhou no rosto. Ele estava afastado e eu deixei. Não ia ficar correndo atrás, mesmo que a culpa tenha sido minha. No caso foi do Marcus, mas...Eu estava do lado de fora do apartamento de Marcus, quase às oito da noite e eu encarava a porta com o cenho franzido. Bati na porta antes que perdesse a pouca coragem que encontrei dentro de um sorvete de chocolate delicioso. Um segundo e meio depois Marcus abriu a porta sorrindo. Okay, meu coração deve ter parado por um segundo porque quando voltou a bater, estava doendo um pouco. Marcus estava lindo todo de preto e com um sorriso acanhado no rosto.Ele fica muito, muito, muito, muito, muito, muitoooooo gato quando sorri desse jeito,falei