Capitulo 11

Sammy

Marcus estava ao celular falando com Cam. O cadáver daquele homem estava no quarto destinado ao meu filho e eu andava de um lado pro outro pela sala pensando em Benjamin. Meu pai estava no trabalho e Sean estava voltando pra casa. Marcus havia colocado Evil e alguns caras procurando por Benjamin, mas eu não conseguia controlar minha mente de pensar o pior. Eu não estava tão abalada por ter visto um homem se matar e sim pelo fato de não saber onde meu irmão estava. Eu podia lidar com a morte de um estranho, ainda mais um que não era bom, mas meu irmão? Não, isso não.

— Samantha, sente um pouco, okay? Evil e os outros vão achar seu irmão. — Marcus disse ao desligar.

— Você não entende. — eu disse andando com as mãos na cintura. — Ele não vai se sentir bem com estranhos. Eu deveria ter ido também.

— Samantha, você está grávida. Por favor, sente um pouco e se acalme.

— Como quer que eu me acalme? — gritei olhando pra ele. — Meu irmão está lá fora sabe se lá Deus com quem!

Marcus se aproximou de mim e me segurou pelos pulsos.

— Me desculpe. — sussurrou. — Isso tudo é culpa minha, desculpe. Mas por favor, se sente.

Fechei os olhos e concordei. Marcus me soltou devagar e eu me sentei no sofá.

— O que vai acontecer com... aquilo? — perguntei rude me referindo ao morto.

— Cameron vai cuidar dele pra mim.

— Filho da mãe!

— Eu ou Cameron? — Marcus me perguntou confuso e eu ri baixinho.

— Nenhum dos dois. — apontei pras escadas. — O morto.

Marcus riu baixinho também. Me lembrei do que o desgraçado 2, resolvi chamar ele assim já que Walter era o desgraçado 1, disse antes de Marcus entrar. “Todos os Black são tóxicos”.

— Marcus? — ele olhou para mim e guardou o celular. — Você é um Black? Porque aquele idiota disse que você era.

Marcus suspirou e olhou pro chão. Ele passou as mãos no cabelo e concordou voltando a me olhar.

— Eu sou.

Pisquei confusa e me sentei mais ereta no sofá.

— Mas seu sobrenome é Martin.

— Nome da minha mãe. Meu nome completo é Marcus Martin Black.

Pisquei ainda mais confusa. 

— Você e Walter eram... irmãos? — por favor, diga não!

— Não. — ele disse e se sentou ao meu lado.

Respirei fundo sentindo seu cheiro e quis chegar mais perto dele. Eu gostava de sentir ele, mas me forcei a ficar parada.

— Meu pai e o pai dele eram irmãos, o que nos torna primos. — Marcus me disse. — O nome daquele cara lá em cima é Josiah Lopez. Ele trabalhava como segurança no edifício onde eu e Walter crescemos.

— Você fez mesmo aquilo com ele, não fez?

Marcus desviou os olhos de mim quando disse.

— Sim. — ele suspirou pesadamente. — Eu vou contar, mas você tem que me prometer que sua visão sobre quem eu sou não vai mudar.

— A minha visão sobre você que consiste em ser um deus do sexo selvagem? — brinquei e ele me olhou com os olhos cerrados. — Relaxa, não vai mudar.

— Na família Black é tradição que aos dezesseis anos você faça algo ruim. — ele disse revirando os olhos. — Quando eu completei dezesseis, meu pai exigiu que eu escolhesse alguém e o matasse. E eu escolhi Josiah.

— Você não o matou. — falei mostrando o óbvio.

— Eu achei que tinha, mas eu estava tão nervoso. — Marcus passou as mãos pelo cabelo de novo e mordeu o lábio. — Eu bati nele até ele perder a consciência. Quando ele acordou, estava com a cara enfiada na churrasqueira. Eu o forcei a aguentar a dor que o fogo proporcionava e depois o tirei...

— Porquê? — perguntei não enojada ou amedrontada, mas curiosa.

— Josiah não era um bom homem e eu o escolhi por esse motivo. Não que eu seja melhor ou que fosse na época, mas eu meio que odiava ele. No complexo onde vivíamos tinha muitas pessoas que eram fiéis aos Black. Uma dessas pessoas era Maria, uma mulher boa e separada que tinha seis filhas de dezesseis à seis anos de idade. Ela era sozinha e ninguém a protegia. Josiah invadiu o apartamento dela uma noite, estuprou ela e as seis filhas. Eu me lembro de Clara, uma linda menina de seis anos. Ela era tão doce, Samantha e morreu por causa dos prazer de um maldito. Eu fiz ele confessar, eu precisava de um incentivo para fazer o que precisava ser feito.

— E ele confessou. — eu disse sussurrando e limpei meu rosto. Eu tinha chorado sem perceber.

— E ele confessou. — Marcus repetiu. — Eu fiquei tão fora de mim naquele dia. Eu ouvia os risos de Clara na minha cabeça, via Maria e as outras, nem notei o que estava fazendo até sentir o cheiro de pele queimada.

Engoli a náusea que me deu e respirei fundo. Eu não conseguia imaginar Marcus perdendo o controle, nem mesmo machucando alguém, mesmo um cara mau. Eu podia facilmente imaginar Dylan fazendo isso, por outro lado.

— É uma história e tanto.

— É sim. — ele concordou se encostando no sofá. — Sally é a segunda filha de Maria. Nós crescemos juntos e somos amigos. Algumas vezes, ela vem pra cidade e nós... nos divertimos juntos.

Limpei os restos de lágrimas que estavam no meu rosto e bufei com raiva. É claro que essa Sally tinha algo a ver.

— Bem, ela parece ser legal. — disse e me levantei.

A porta se abriu e eu pulei pra trás assustada, mas era só Cam. Ele entrou com mais dois caras atrás e fechou a porta.

— Hey, pequena. — beijou minha bochecha. — Você está bem? E o pequenino?

— Estamos bem. — garanti.

Cam era um amor de pessoa. Desde que me mudei ele e os outros têm sido pessoas maravilhosas comigo. Daphne e Catarina me faziam visitas junto de Branna e nós conversavamos muito. Cam não ficava atrás. Às vezes ele vinha junto de Marcus para jantar ou almoçar e ficava até tarde conversando.

Marcus apontou pra cima.

— Josiah está no quarto do bebê.

— Filho da puta. — Max, um cara bem legal e muito bonito, disse com raiva. — Esse cara é um fodido.

— Vamos lá, rapazes. Vamos limpar o quarto do nosso sobrinho. — Cam disse e eles subiram.

Marcus foi pra cozinha, pegou uma caixa de choco bolas do armário e leite líquido da geladeira. Pegou uma tigela média de vidro, despejou as choco bolas na tigela e depois o leite. Pegou um colher e se aproximou de mim. Ele me entregou e eu aceitei feliz. Estava mesmo com fome. Me sentei no sofá e comi em silêncio. Marcus se sentou no braço do sofá e ficou me vendo comer. Olhei pra ele depois da minha vigésima colher cheia e ele estava sorrindo de lado.

— O que foi? — perguntei depois de engolir.

— Você.

— O que tem eu? 

— Você parece uma criança.

— Bem, eu sou uma. — disse brincando e fazem biquinho.

— É, você é. — Marcus concordou sério e eu percebi que ele tinha voltado pra concha.

Revirei os olhos e ouvi um barulho vindo da escada. Sabia que era os meninos carregando o corpo, então não me virei pra olhar. Se eu fizesse iria vomitar de novo.

Marcus acompanhou eles até lá fora e me perguntei se eles teriam a cara de pau de carregar um cara morto pela rua até o porta malas do carro. Ouvi a resposta quando o porta malas foi fechado com força. Marcus entrou e trancou a porta.

— Como vou explicar pro meu pai isso? — perguntei colocando a tigela vazia na mesa se centro. — Como vou explicar que perdi meu irmão?

— Relaxa, Samantha. — ele disse. — Evil me mandou uma mensagem. Acharam Benjamin na praça depois da escola. Ele estava sentado em um banco sozinho e Evil está trazendo ele pra cá. E eu falo com seu pai.

Fechei os olhos e suspirei aliviada. Parecia que um ônibus tinha sido retirado dos meus ombros.

— Graças à Deus. Ele está bem? Evil disse se ele estava machucado?

— Ela disse que ele está bem. — Marcus disse e me olhou seriamente. — Eu vou lá pra cima ajeitar o quarto. Você fica aqui e espera eles chegarem.

Concordei e ele subiu. Me sentei no sofá e agradeci a Deus pela segurança de Benjamin. Eu nunca me perdoaria se algo acontecesse com ele. Repassei tudo o que Marcus havia dito, sobre ele e Walter serem primos e toda a loucura, e me senti péssima. Aos dezesseis anos eu estava brigando com minha mãe, com meu irmão e sendo a melhor amiga de Branna. Eu tinha problemas idiotas. Enquanto Marcus estava matando um homem porque era tradição na família dele. Como alguém conseguia treinar seu próprio filho para ser assassino? Eu não entendia e tinha raiva de quem o fazia.

* * *   * * *

Papai havia ficado tão furioso. Como Marcus havia dito, ele conversou com meu pai. Por mais de uma hora. Marcus havia limpado todo o quarto e o banheiro, não tinha uma pista de sangue no chão ou em qualquer outro lugar. Benjamin havia chegado bem em casa e nós conversam brevemente no quarto dele. Ele havia dito que uma mulher ruiva entrou e disse que eu estava na rua passando mal e que ele tinha que ir com ela, então ele foi. Mas eu não estava em lugar nenhum e a garota ficou conversando com ele na praça. Ele disse que ela perguntou sobre mim e Marcus, e mais nada. Deixei ele dormir em paz depois.

Eu queria pegar essa ruiva e arrastar a cara dela na parede muitas e muitas vezes. Ela não machucou ele, mas o levou pra longe e quase me matou de susto. Merecia sofrer um pouco. Meu pai havia brigado com Marcus, mas depois ficou tudo bem. Ele quis chamar a polícia e queria saber onde o corpo estava, mas Marcus explicou tudo pra ele. Meu pai havia sido criado religiosamente, ele não era a minha mãe, mas não gostava de coisas erradas. E eu não via problema nisso. Também não gostava muito. Eu só queria que ele aceitasse Marcus e toda a sua vida louca, que agora eram a minha também. Eu estava sentada na cama olhando pro livro que o professor de literatura me mandou quando Marcus entrou hesitante.

— Oi.

— Ei. — disse levanta a cabeça para olhá-lo. — Obrigada por ter limpado o quarto. Está muito cheiroso.

— De nada. — ele disse e se sentou na beira da cama. — Me desculpe, Samantha.

— Mar, está tudo bem. — eu lhe disse. — Benjamin e eu estamos bem. Todos estamos.

— Mas vai piorar. — ele disse me olhando com tristeza. — Eles não vão parar até que eu ou Dylan tenhamos assumido o lugar de Walter.

— Esquece eles, Mar. — pedi baixinho.

Eu não gostava de pensar que aquilo iria piorar. Eu sabia que se piorasse, ia cair pra cima de Branna também. Ia cair em cima de todos.

— Posso dormir aqui? — Marcus me perguntou e eu arregalei os olhos minimamente. — No sofá, pra manter vocês em segurança.

— Ah. — eu disse e concordei. — Claro, obrigada.

Marcus e eu ficamos em silêncio sem saber o que falar. Eu aproveitei que ele estava olhando pra outro lugar no quarto e fiquei obversando ele. Marcus era todo grande e tão sexy que me fazia tremer só de olhá-lo. Eu queria ficar em seus braços fortes pra sempre. Abaixei os olhos de volta pro livro quando ele me olhou.

— Samantha?

— Hum. — continuei com os olhos no livro.

— Você me odeia agora? — sua voz saiu tensa e ansiosa.

Pisquei confusa e o olhei.

— Claro que não. — falei indignada. — Eu nunca odiaria você, Marcus.

— Mas o que eu lhe disse...

— Não afetou em nada minha visão sobre você. — lhe garanti. — Eu não odeio você, Marcus.

Ele sorriu de lado e pude ver que ele estava mais aliviado ao saber. Ele acariciou meu pé e saiu do quarto. Suspirei e me deitei deixando o livro de lado. Eu estava com sono e cansada do dia, então coloquei os fones de ouvido e dormi escutando Adele.

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