Desde que me entendo por gente, há tinta preta espalhada pelo meu corpo. Os anciãos dizem que estou destinada ao mais poderoso dos alfas, pois jamais viram marcas tão extensas quanto as minhas.
Quando uma fêmea nasce destinada a um alfa, ela carrega uma marca — quase como uma tatuagem. Quanto maior a marca, mais forte o lobo que a reivindicará. As minhas se espalham por toda parte, cobrindo minha pele como um mapa do destino. Apenas meu rosto ficou imaculado, mas o resto... cada centímetro carrega o sinal da minha sina.
Eles podem nos sentir assim que completamos vinte anos. Seguem nosso rastro, atravessam matas e montanhas para nos levar para sua alcateia. Hoje é minha vigésima volta ao sol. O dia em que encontrarei meu lobo.
O dia em que finalmente aprenderei a me transmutar.
O dia em que verei minha outra forma pela primeira vez.
Mal posso esperar pela lua. Sinto a impaciência pulsar em meu peito. Quero que ela suba depressa no céu, que banhe a terra com seu brilho prateado e traga meu alfa para mim.
Minha mãe me ajuda nos preparativos. Preparou banhos de ervas para purificar minha pele e tratou meus cabelos com óleo de flores. O cheiro doce preenche a cabana, uma mistura de lavanda e algo mais profundo, algo que sempre a acompanhou.
Estou pronta.
E, ao mesmo tempo, não estou.
Há um peso em meu peito, uma tristeza que cresce conforme percebo que nunca mais voltarei para esta aldeia. Meu pai partiu anos atrás, levado pelo vento do destino. Minha mãe nunca foi sua destinada, seus caminhos apenas se cruzaram por um instante. Ela não fala muito sobre ele.
Ela apenas diz que ele lhe deu o maior presente de sua vida.
Queria poder levá-la comigo. Nossa cabana fica afastada do resto da aldeia, e os outros evitam minha mãe. Ela sempre esteve sozinha. Sempre foi diferente. Nunca encontrou seu par. Mas ela acredita que a Deusa Lua tem planos maiores para nós duas.
E eu confio em tudo que vem da Deusa.
— Você está tão linda, meu amor — diz minha mãe, com lágrimas nos olhos.
Me volto para o espelho. O vestido branco ressalta as espirais negras que se desenham em minha pele. O contraste é forte, hipnotizante.
Dizem que as marcas queimam quando estamos perto de nossos destinados.
Queimam a ponto de se tornarem insuportáveis. Uma dor que não fere o corpo, mas tortura a alma.
— Precisamos ir. Falta pouco para te deixar na floresta.
As meninas das cidades celebram esse dia com festas grandiosas, dançam sob a lua e compartilham sua esperança com as irmãs de destino. Mas estamos muito longe para participar das comemorações. Aqui, apenas minha mãe fez um pequeno bolo para marcar o momento.
Antes de partirmos, ela me chama.
— Seu pai deixou algo para você.
Ela abre um pequeno baú e retira um punhal. O cabo é trabalhado em prata, e uma rosa negra está gravada no aço frio da lâmina. Minha respiração vacila quando pego a arma em minhas mãos. Ela é linda. Mortal.
— Quero que o leve com você — sua voz falha por um instante, mas ela engole a emoção e continua. — Para o caso de precisar se defender. Sei que você será capaz.
Levanto os olhos para ela. Por um instante, vejo medo em seu olhar.
— Obrigada, mãe. Por tudo.
Não há palavras suficientes para agradecê-la.
A lua me chama.
Atravesso a mata densa, sentindo a energia ao meu redor. Aqui é escuro, mas a luz prateada me guia. Mostra o caminho que devo seguir. Sem hesitar. Sem medo.
Minhas marcas...
Elas queimam.
Meu alfa está próximo.
O cheiro dela.Forte. Viciante.Está me deixando louco. Transtornado.Na forma humana, ainda consigo conter meus instintos. Agora? É impossível. Meu lobo ruge dentro de mim, exigindo que eu me aproxime, que tome o que é meu. Mas não posso. Preciso lembrar por que não podemos tê-la, por que devemos protegê-la até de nós mesmos. Mas de nada adianta. Minha fera já decidiu. Ela nos pertence. E vamos tomá-la.O aroma dela se espalha pela floresta densa e escura, infiltrando-se em cada fibra do meu ser. O ar da noite está carregado, pesado, e a lua cheia brilha entre as copas das árvores, testemunha silenciosa do que está prestes a acontecer. Meu corpo se tenciona.Rosno. Ciúmes. Ódio.Não sou o único alfa aqui. Não sou o único que sente esse perfume intoxicante. Outros o percebem. Outros o desejam. Mas ela é minha. Sempre foi. Sempre será.O instinto me guia. Meus pés se movem antes mesmo que eu perceba. Avanço sem hesitar, rompendo galhos e folhas secas pelo caminho, até encontrá-la.Ela
Acordo quando o pelo quente e macio onde estou deitada se transforma em algo firme. Um peitoral duro. Muito duro. Meu corpo se ajusta automaticamente ao calor dele, e, por um instante, quase me rendo novamente ao sono. Mas meus olhos, ainda pesados, piscam algumas vezes antes de se abrirem completamente.A claridade suave invade meus sentidos. O cheiro amadeirado do quarto me envolve, misturado ao aroma fresco da natureza que vem da janela aberta. Estou na aldeia dele. Minha aldeia agora. Uma nova casa. Um novo começo.Meu estômago ronca em protesto, e o som quebra o silêncio confortável ao nosso redor. Minha última refeição foi o bolo que minha mãe fez para minha despedida, e a fome já se torna impossível de ignorar. Alex percebe. Seus olhos verdes pousam em mim com intensidade, analisando cada pequeno movimento meu, e então ele se levanta sem pressa. Um momento depois, retorna com uma tigela cheia de frutas maduras.— Coma. — Sua voz é uma ordem, mas há algo mais nela. Um tom rouco,
Alex tem cuidado de mim desde que cheguei. Todas as noites, ele me aquece com seu corpo em forma de lobo, envolvendo-me em sua pelagem espessa e quente. Seu cheiro me cerca, e o calor dele penetra minha pele, me embalando no sono. No começo, era estranho. Mas agora, é um conforto silencioso, um lembrete constante de que ele está aqui, de que sou sua.Mas algo mudou nos últimos dias.Sinto que ele está mais distante. Não fisicamente. Ainda está ao meu lado, ainda me protege, mas há um espaço invisível entre nós. Algo na maneira como me olha… Como se lutasse contra si mesmo. Como se quisesse se aproximar e, ao mesmo tempo, estivesse determinado a se manter longe.Minhas marcas estão apenas mornas agora. Sua proximidade constante impede que queimem como antes, mas o inverno e o cio ainda não chegaram. E se, quando chegarem, ele continuar assim?A inquietação me acompanha enquanto caminho pela aldeia. Minha aldeia. Os membros da alcateia foram acolhedores, me aceitaram como se eu sempre t
Lord tem uma irmã da minha idade, Liz, e nos tornamos grandes amigas. Compartilhamos gostos parecidos, mas, ao contrário de mim, Liz não está destinada a um Alfa. Sua vocação é puramente tecnológica, e ela é brilhante nisso.Foi graças a ela que consegui minha mais nova peça de lingerie. Alex comprou inúmeras roupas para mim—mais do que eu poderia usar em uma vida inteira. Criou um closet repleto de vestidos, botas de couro, casacos de peles finas e tudo que uma mulher poderia sonhar. Mas, curiosamente, manteve-se neutro quando se tratava de roupas íntimas. Como se ignorar esse detalhe fosse suficiente para manter certa distância.A última noite foi a gota d’água. A necessidade dentro de mim se tornou insuportável. Minha pele formigava ao menor toque, minha respiração oscilava sempre que ele estava perto. Preciso que Alex me toque. Preciso sentir seu corpo contra o meu, sua pele quente na minha.Quero vê-lo perder o controle.Quero saber que ele me deseja tanto quanto eu o desejo.Des
Alex me segura forte, seus dedos cravados na minha pele com uma posse que me faz arrepiar. Minhas marcas estão quentes. Pegando fogo. Como se sentissem que, finalmente, vamos ter o que queremos.— Seu cheiro, minha fêmea, está por todo o nosso quarto… — Sua voz é um ronronar grave e quente no meu ouvido, e sinto o arrepio percorrer minha espinha. — Você tirou o dia para enlouquecer esse pobre alfa.O hálito dele é quente contra minha pele, e eu mal consigo respirar. Cada palavra pronunciada me faz estremecer, sentir o desejo pulsar entre minhas pernas.— Tirei o dia para nós dois conseguirmos o que queremos. — Minha voz sai baixa, mas carregada de desejo. — Eu quero tanto você.Minha mão desliza para o botão da sua calça, puxando o zíper com os dedos trêmulos. Sei que ele veio para casa em forma de lobo porque está sem camisa, o cheiro de floresta e terra ainda impregnado nele. Quando chego na beira da cueca, ansiosa para ver o que esconde por baixo do tecido, sou subitamente jogada n
Seu gosto é ainda melhor que seu cheiro.Eu deveria me controlar. Deveria manter distância. Precisava protegê-la da profecia.Mas sou egoísta demais. E, agora que a tenho assim, entregue sob meu corpo, minha última gota de racionalidade se esvai. Meu lobo está impaciente, insatisfeito, rosnando de frustração por ainda não termos concretizado o que somos.Minha fêmea ainda não entrou no cio, mas meu instinto já grita, se desespera com a simples ideia do que pode acontecer quando isso vier. O que isso significará para nós.A profecia…Meus olhos cravam nos dela quando os abre novamente, sua respiração ainda entrecortada pelo orgasmo que acabei de lhe dar. Mas um não é suficiente. Nunca será. Quero mais. Quero vê-la desmanchar quantas vezes forem necessárias até que não reste dúvida de quem ela pertence.— Alex… — ela geme, a voz rouca, embriagada de prazer.— Estou aqui. — murmuro contra sua pele, subindo com beijos lentos, chupadas preguiçosas que provocam e arrepiam.Ao alcançar seu s
Será que é possível morrer de prazer?Cada dia que passa, sinto que Alex está mais do que disposto a provar que sim.Desde o dia em que o coloquei contra a parede, se tornou rotina dormir e acordar envolta em seus braços, meu corpo em chamas, saciado e ao mesmo tempo ansiando por mais. O prazer que ele me dá é indescritível, viciante. Mas minhas marcas ainda queimam. Ainda não é o que elas querem.Elas estão satisfeitas, mas continuam pedindo mais. Mais. Mais.E eu também.A cada toque dele, a cada olhar, sinto que o desejo cresce como um incêndio incontrolável. Meu corpo o quer tanto que dói. Mas, por mais que Alex me dê tudo, ainda há algo que ele segura. Algo que impede a ligação completa.E hoje, mais do que nunca, tudo dentro de mim está em alerta.A lua cheia é hoje.O dia da minha primeira transformação.Acordei tensa.Alex percebeu isso antes mesmo de eu abrir os olhos. Desde cedo, tem estado ao meu lado, como se pressentisse que algo dentro de mim luta contra essa mudança.Se
Alex corre comigo para a floresta, seu corpo ágil e imponente se movendo com uma facilidade absurda. Ele não parece cansado, nem sequer ofegante. Eu, por outro lado, sinto meu peito subir e descer em um ritmo frenético, não só pelo esforço, mas pelo que está prestes a acontecer.— Estamos quase lá, meu amor — sua voz é um sussurro rouco, carregado de carinho e expectativa.Minhas marcas estão estranhamente frias desta vez, como se estivessem esperando o calor da minha loba. Meu corpo treme, como se estivesse sendo puxado por uma força maior do que eu.Meu animal quer ser libertado.Quando finalmente alcançamos a clareira, minha respiração falha por um segundo.O lugar é lindo.A lua cheia brilha imponente no céu, sem nada que obstrua sua visão, como se estivesse ali apenas para me abençoar. As árvores ao redor criam um círculo natural de proteção, e, no centro, Alex preparou algo especial para mim.Luzes amareladas estão espalhadas ao redor da clareira, piscando suavemente e criando u