Quando chegamos ao jatinho, o céu já começava a clarear, tingindo o horizonte com tons dourados. O comandante cumprimenta Carter calorosamente, como se fossem velhos conhecidos, e nós embarcamos sem cerimônias.Dou os primeiros passos para dentro da aeronave e, por um momento, fico sem palavras. Isso não tem nada a ver com os aviões que estou acostumada. Sempre me senti como uma sardinha enlatada em cada voo comercial que peguei, mas aqui… aqui é um outro mundo.Carpete impecável. Móveis de madeira maciça. Uma tela gigante. Cadeiras de couro que exalam luxo. Poltronas reclináveis. Um espaço de trabalho com duas cadeiras enormes.— Por gentileza, acomode-se, senhorita Martin.A voz de Carter me traz de volta à realidade. Ele faz um gesto para que eu me sente em uma das poltronas confortáveis. No instante em que sua mão roça levemente minhas costas, uma onda quente percorre minha pele, causando um arrepio involuntário.Ele se senta à minha frente, já abrindo o notebook com movimentos me
Eu o observo.Seus olhos correm rapidamente pela tela, absorvendo informações com precisão. Em alguns momentos, ele franze a testa, coça o queixo, balança a cabeça levemente para os lados, como se estivesse processando algo que não o agrada. Pequenos gestos que, em qualquer outra pessoa, passariam despercebidos.Mas nele, tudo tem um peso diferente.O modo como seus dedos longos deslizam pelo teclado, a forma como ele ajeita a postura, como se carregasse o peso de decisões importantes o tempo todo. Há algo magnético em vê-lo trabalhar, uma presença que domina até os momentos de silêncio.[...]Eu devo ter cochilado por um tempo. Meu corpo relaxado denuncia isso, e uma voz masculina me puxa de volta à realidade.— Senhorita Martin, vamos aterrissar em breve.Pisco algumas vezes, tentando afastar a névoa do sono. Carter já está me olhando.— Dormiu bem? — Sua voz soa casual, mas seus olhos carregam um brilho sutil de diversão.Eu me endireito rapidamente.— Desculpe... Eu acabei cochila
Uma batida firme na porta me arranca dos meus pensamentos. Respiro fundo antes de me levantar, ajeitando rapidamente minha postura. Ao abrir, encontro o camareiro acompanhado de uma mulher elegante, na casa dos cinquenta, vestida com um refinamento que equilibra perfeitamente sofisticação e modernidade. Seu perfume sutil, mas marcante, chega até mim antes mesmo de sua voz. — Senhorita, eis o seu compromisso. Lanço um olhar breve para a jornalista e forço um sorriso cordial. — Ah, sim. Obrigada. Dou um passo para trás, sinalizando para que ela entre. O alívio percorre meu corpo ao perceber que não se trata de um economista sisudo, do tipo que analisaria a economia global enquanto mastiga algo cru e sem graça. Mas minha tranquilidade dura pouco. — Bom dia, sou Stella Young, da Famous People. Sorrio ao apertar sua mão, mas uma pontada de decepção se instala em mim. Uma revista de celebridades? — Encantada. Katerina Martin, assistente do senhor Carter, das Empresas Carter.
Já estou até imaginando um título em letras garrafais no New York Times de amanhã: "Jovem assistente misteriosamente cai de um jatinho após entrevista polêmica".Quem sabe? Se Carter ler essa matéria antes de voltarmos, talvez eu nem chegue inteira em casa.Bem… pelo menos seria uma morte original.Decido ligar para Lisa, minha sábia conselheira pessoal. Se alguém pode me dar uma luz nessa bagunça, é ela.— Alô?— Sou eu… — digo, soltando um suspiro pesado.— Eita, que voz é essa?! A entrevista foi ruim?— Ruim? Isso seria um elogio! Eu acho que caguei em níveis astronômicos. Uma super-mega-catástrofe.— Sério?— Sim… A jornalista não parava de me fazer perguntas pessoais. Ela queria fofocas, Lisa. Fofocas!— E o que você respondeu?— Tentei me manter no discurso corporativo, juro! Mas… acabei soltando algo sobre o apelido dele.O silêncio do outro lado da linha dura meio segundo antes de Lisa explodir em uma gargalhada estrondosa.— Não, espera… Você não fez isso?!— Fiz…— Ai, meu D
Ryan respira fundo, desviando o olhar para a janela, encarando o céu como se buscasse paciência nas estrelas. Sei exatamente o que virá a seguir."Você está demitida."Mas, quando ele finalmente fala, sua voz não é carregada de fúria, e sim de algo pior: decepção.— Eu não deveria ter confiado em você tão rapidamente...Dessa vez, a indignação ferve dentro de mim. Eu cansei de levar pancadas sem revidar.Levanto-me bruscamente e caminho até ele, reduzindo a distância entre nós.— Talvez você devesse ter me preparado antes de me jogar na fossa dos leões!Minha respiração está acelerada. Meus punhos cerrados. O coração batendo forte contra minhas costelas.Ele é muito mais alto que eu, mas eu não recuo.— Fiz o que pude com essa jornalista! — minha voz sai afiada, carregada de frustração. — E, já que estamos no capítulo das broncas, saiba que eu esperava algo completamente diferente! Não uma maldita revistinha de fofoca!Seus olhos se estreitam. O músculo em seu maxilar salta. Ele está
Meus olhos não conseguem desviar de seus lábios, eles estão tão perto, quase a me desafiar a ceder. Tão carnudos, tão tentadores, como se me chamassem para ser explorados, para serem o meu próprio ponto de fuga, onde tudo se desfaz, onde a realidade se dissolve. Eu me vejo, completamente absorvida por essa visão de desejo.— Estou suficientemente perto de você agora…? — A voz dele é mais rouca agora, uma intensidade a mais que faz a minha espinha gelar. Seus olhos, um desafio silencioso, brilham com um mistério que só aumenta a pressão em meu peito, como se ele soubesse exatamente o que estou sentindo e quisesse brincar com isso.Meu coração dispara, batendo tão forte que sinto o sangue correr quente pelas minhas veias. Eu estou à beira de perder o controle. Não tenho certeza de que poderei resistir, não com ele tão perto, com esse olhar desafiador e essa presença tão esmagadora. Minha razão tenta se manter firme, gritando para empurrá-lo, para sair dali e me afastar da tentação. Mas
— Ah não, estou sonhando! — As palavras saem quase em um suspiro, com uma incredulidade que me rasga por dentro. Ele está me fazendo sentir um mix de raiva e frustração de tal forma que não sei se quero rir ou gritar.Ele dá uma risadinha baixa, claramente satisfeito com o jogo que armou para mim, e se senta devagar, balançando a cabeça em um claro sinal de desaprovação, como se fosse natural ele brincar com minhas emoções, como se ele estivesse controlando tudo.— O que te diverte tanto? — Pergunto, a irritação se transbordando da minha voz.Seus olhos brilham, quase com uma malícia explícita, e ele me encara como se eu fosse uma peça em um jogo que ele controla com maestria. Ele apoia o cotovelo no braço da cadeira, relaxado, e passa os dedos pelo queixo, como se ponderasse a resposta.— Para começar, você acha que preciso comprar mulheres no leilão... E depois, que sou o tipo de homem que promove suas empregadas só para atacá-las quando quiser. Vamos ser um pouco mais sérios, senho
Por que eu me sinto assim? Por que essa atração por um homem que parece brincar comigo? Eu poderia me estapear por me sentir tão atraída por ele, sendo que há tantos outros homens por aí que cuidariam de mim como uma princesa. Homens que realmente seriam capazes de me dar a atenção que eu mereço... Mas, é claro, eles não seriam tão atraentes, tão enigmáticos quanto ele. Ele joga um jogo perigoso, mas o fato de estarmos jogando juntos, de estarmos nesse campo de tensão, de querer e resistir, é o que faz tudo isso tão excitante.Eu olho para a tela, as imagens se desfilando diante de mim, sem realmente prestar atenção. Economia nunca foi algo que me interessou. Meu olhar se volta para o céu, vasto e calmo, como um reflexo do turbilhão dentro de mim. Carter, ao meu lado, continua digitando no seu computador, e eu me pergunto até quando vou conseguir resistir ao magnetismo desse homem.A atmosfera na sala muda com a entrada da jovem. Seus saltos batem de maneira suave no carpete, abafados