Ele força um sorriso, tentando aliviar o clima.— Desculpe. Não queria jogar essa carga em você. Eu não deveria ter contado tudo isso…— Não… — murmuro, desviando o olhar para minha bebida. — É só que… — Suspiro, sentindo a garganta apertar. — Meus pais e meu irmãozinho morreram em um acidente de avião quando eu tinha 17 anos. Então… Eu sei como é.Jake me encara em silêncio, absorvendo minhas palavras.— É diferente, claro… Mas foi tão brutal. Tão repentino. — Minha voz sai em um fio. — É algo que me acompanha até hoje. — Respiro fundo e tomo um gole da bebida. — Não sei por que estou te contando isso, Jake… Eu nunca falo sobre isso. Nem para os meus amigos…Ele estende a mão devagar e pousa sobre a minha. O toque é firme, mas cheio de delicadeza.— Fico lisonjeado por ter confiado em mim.A suavidade desse gesto me desconcerta. Sempre tive dificuldade em falar sobre o passado, mas com Jake… É diferente. Como se compartilhássemos uma dor que não precisa de explicação.— Jake.— Sim?
Depois de alguns dias, meu contato com Carter foi surpreendentemente breve. Desde nossa última conversa, essa distância me inquieta mais do que estou disposta a admitir. Será que passei dos limites? Será que, dessa vez, ele simplesmente desistiu de mim?Nenhuma discussão intensa, nenhuma bronca desproporcional, nenhum momento em que ele me colocasse—mesmo que indiretamente—em perigo. E, ironicamente, eu sentia falta disso. Gosto da pimenta, do excesso, da eletricidade que ele traz para minha vida.Toda noite, me pegava esperando vê-lo em sua sala. Por quê? Nem eu sei explicar. Talvez porque, no fundo, eu já tivesse me acostumado ao caos que ele provoca em mim.No meio de uma pausa rápida para ler notícias, um novo e-mail surge na tela.E-mail de Ryan Carter:"Poderia preparar os documentos dos investidores coreanos para amanhã?Encontre um restaurante que os faça sentir-se em casa.RC."Hmm... Um restaurante que sirva pratos coreanos tradicionais. Bato a caneta contra o lábio inferior
Carter chegou à sua sala no fim da tarde. Nossa conversa sobre a sabotagem no Congo foi breve, sem rodeios—ele estava apressado. Nenhuma menção à nossa última troca de farpas, como se o embate tivesse se dissipado no ar, sem deixar vestígios.Mas algo muito mais intrigante pairava na minha mente.Quase 19h, e minha curiosidade latejava. Aquele encontro misterioso, sempre no mesmo horário, me provocava como um segredo ao alcance das mãos. Eu poderia simplesmente ignorar? Poderia. Mas onde estaria a graça nisso?Afinal, um pouco de investigação não faz mal a ninguém... Certo?Desligo meu computador, guardo meus pertences e deixo a sala com passos leves, discreta como uma sombra.No elevador, encaro meu reflexo por um instante. Ergo a gola do casaco, oculto parte do rosto e estreito os olhos. Um disfarce improvisado, mas eficaz para minha pequena missão.A adrenalina pulsa. Meu coração bate em expectativa.Do lado de fora, a cidade se agita, transbordando energia noturna. São 18h45, Cart
Esta manhã, Carter me chamou em sua sala.Provavelmente quer discutir a sabotagem de forma mais reservada. Mas enquanto caminho até lá, minha mente insiste em me torturar com imagens da noite passada. A cena dele servindo sopa aos necessitados continua presa nos meus pensamentos, me lembrando da culpa por tê-lo seguido.Respiro fundo antes de entrar.— Senhorita Martin, bom dia.— Bom dia, senhor.Sua voz firme e controlada contrasta com a tempestade dentro de mim. Ele não sabe que eu sei. Mas eu sei. Sei que, por trás do CEO implacável, existe um homem que ninguém conhece.— Tenho pouco tempo agora. Um jornalista quer fazer um artigo sobre as empresas, mas não estarei disponível.Sem sequer levantar os olhos para mim, Carter aperta um botão no interfone.— Samantha, ligue para o senhor Barns e remarque o compromisso desta noite.A secretária mal tem tempo de responder antes que ele solte o botão e volte sua atenção para mim.— Preciso que você cuide da entrevista. Posso contar com vo
Sacudo esses pensamentos indecentes para longe no momento em que chego à recepção. Lisa já está terminando de organizar suas coisas. Assim que me vê, tira os fones e acena animadamente.Bebidas garantidas, noite garantida.— E então, garota? Como foi a entrevista? — pergunta Lisa, empolgada.— Mandei muito bem! Profissionalíssima!O som do nosso brinde ecoa antes de ser abafado pelas nossas risadas.No bar, percebo um grupo de três caras olhando na nossa direção. Não que seja algo incomum, mas Lisa nota e revira os olhos.— Deixa pra lá... WA à vista.— WA...?— Workaholic. Daquele tipo que se joga numa noite de sexo casual só para aliviar o estresse e depois some sem deixar rastros.Solto uma risada e arqueio uma sobrancelha.— E nós? O que parecemos para eles?— Nada a ver...— Ah, não? Porque, sinceramente, nos encontramos à noite para beber depois do trabalho e comemorar a entrevista. Eu não vejo muita diferença...Lisa suspira dramaticamente, analisando o grupo de homens com um o
Desvio o olhar e noto um grupo de homens nos observando com um interesse que já beira a insistência. Inclino a cabeça na direção deles e murmuro:— Não sei o que deu nos caras ultimamente. Deve ter alguma coisa no ar...Lisa me lança um olhar curioso, arqueando a sobrancelha.— Você acredita que o Jake e o Mark me chamaram para sair e beber alguma coisa?.— Katerina, arrasando corações! — Ela solta uma gargalhada, balançando a cabeça em diversão.Reviro os olhos, encostando-me na cadeira.— Até parece!— Ah, claro... Como se você não soubesse do seu poder.— Eu e o Jake conversamos outro dia. Ele até que é legal... e também um cara bem bonito.Lisa inclina a cabeça, avaliando minhas palavras com um sorriso malicioso.— Então me diga, coração grande! Vai precisar decidir!Ajeito minha postura, pegando o copo à minha frente e girando o líquido com os dedos.— Eu não sou uma instituição de caridade, Lisa.Ela me encara de lado, mordendo a ponta da língua de forma sugestiva.Solto um riso
Eu pisquei e ele leu meus pensamentos? Ou pior... ele sentiu que eu estava pensando nele?Por um segundo, encaro a mensagem como se ela fosse uma armadilha. Porque, de certa forma, é.Eu sei que é.Fora daquele prédio, eu não tenho mais obrigação alguma com ele. Não sou mais sua assistente, sua funcionária, sua peça no jogo corporativo.Meus dedos pairam sobre o teclado. Minha mente grita não, mas algo dentro de mim—um instinto primitivo, insaciável—já tomou a decisão por mim."Posso chegar em dez minutos."Merda, Katerina. O que você está fazendo?O celular parece queimar em minha mão. Meu peito sobe e desce em um ritmo que não consigo controlar. Eu me odeio por essa adrenalina, por essa expectativa absurda.E então, ele responde.Ryan Carter: "Estou esperando."Simples. Direto. Implacável.Seguro o telefone com força, como se isso pudesse impedir a onda de arrepios que percorre minha pele.Eu sei que estou brincando com fogo.Mas, no fundo, sei que venho esperando para me queimar há
Seu sorrisinho de triunfo me irrita. Quero apagar essa expressão convencida de seu rosto. Quero colocá-lo em seu devido lugar.— Sempre essa mania de brincar com as pessoas, não é?O sorriso desaparece. Seus olhos brilham com um desafio silencioso. O ar entre nós muda.— Pensa que estou brincando?— De novo essa sua mania de responder perguntas com outras perguntas… — murmuro, cruzando os braços. — Você deveria variar as técnicas, senhor. Está começando a ficar previsível.A provocação sai mais leve do que eu gostaria, porque ele se move. Um, dois passos em minha direção. Meu corpo, como um reflexo involuntário, recua. Meu coração dispara.— Eu não brinco com você.— Oh… e então por que me chamar ao seu escritório? Para brincar de gato e rato?Ele solta um suspiro, quase como se estivesse cansado da minha resistência. E então, avança mais uma vez. Desta vez, não recuo.Seus olhos descem até meus lábios. Sua mão toca meu rosto com uma firmeza delicada. Minha respiração falha.— Do que