Capítulo 4
Quando Zelda acordou, já era meio-dia do dia seguinte.

O quarto estava vazio, Vicente já havia ido embora, e apenas os pedaços de tecido rasgados no chão confirmavam a realidade da noite anterior.

As lágrimas de Zelda começaram a cair enquanto olhava para os hematomas.

Ela não precisava de um espelho para saber que não havia uma parte de seu corpo que não estivesse machucada, era uma visão terrível.

A dor física era intensa, mas o que mais doía era o seu coração.

Vicente tinha sido como um lobo feroz na noite anterior, sem um pingo de misericórdia.

Só de lembrar, o corpo ainda tremia.

— Vicente, se você não me ama, por que não pode me deixar ir? — Ela murmurou para si mesma, a tristeza mal teve tempo de se dissipar quando o celular em sua mesinha de cabeceira começou a tocar.

Zelda levantou seu braço dolorido para atender.

Assim que conectou a ligação, ouviu a voz ansiosa de Lídia, a empregada da família Montenegro:

— Senhorita Zelda, aconteceu algo terrível, você precisa voltar para casa imediatamente!

...

No casarão dos Montenegro, Zelda mal entrou na sala de estar e já viu o médico da família descendo as escadas.

Ela correu até ele, segurando seu braço com preocupação:

— Doutor Estevão, como está meu pai?

O Dr. Estevão suspirou antes de responder:

— Senhorita Zelda, o senhor Filippo acabou de ter um ataque cardíaco. Acabei de examiná-lo e notei sinais leves de um derrame.

— Derrame?

Percebendo o pânico no rosto de Zelda, Dr. Estevão tentou acalmá-la com uma voz suave:

— Não se preocupe, é apenas o início e não é muito grave. Eu cuidarei dele, mas ele definitivamente não pode sofrer mais estresses.

Zelda compreendia o que estava em jogo e assentiu gravemente. Depois de se despedir do Dr. Estevão, ela correu para o quarto.

Ao lado da cama, Lídia estava cuidando atentamente.

Lídia era uma empregada que servia à família Montenegro há muito tempo, antes mesmo de Zelda nascer.

Assim como os outros empregados, Zelda também a tratava como uma mãe, já que tinha sido criada por ela.

Ao ver Zelda entrar, os olhos de Lídia brilharam:

— Senhorita Zelda, você voltou.

— Lídia, o que aconteceu, por que o meu pai desmaiou de repente?

Lídia balançou a cabeça,fracamente e então suspirou:

— A empresa investiu em um grande projeto que falhou consecutivamente, estamos à beira da falência. Seu pai acabou de receber uma ligação dizendo que vários investidores, que prometeram financiamento, estão se retirando. Ele não suportou o golpe...

Observando o pai, que parecia muito mais magro na cama, Zelda sentiu uma culpa imensa.

Durante todos esses anos, ela estava tão focada em Vicente que nem percebeu que sua própria empresa estava em uma situação tão crítica.

Mas ela não sabia nada sobre negócios e não tinha ideia de como poderia ajudar o seu pai.

Após Filippo acordar, Zelda disse, culpada:

— Pai, me desculpe...

Filippo segurou a mão da filha, acariciando-a levemente:

— Não tem nada a ver com você, a culpa é minha. O Grupo Montenegro foi fundado por mim e pela sua mãe, e eu não esperava isso...

Enquanto falava, Filippo tossiu violentamente. Zelda e Lídia ficaram assustadas e rapidamente tentaram acalmar ele. Depois de um momento, a respiração de Filippo se estabilizou e ele logo adormeceu.

Zelda suspirou aliviada, sentindo uma pontada de dor no estômago, e mordeu os lábios, tentando suportar a dor.

Lídia notou o suor fino na testa de Zelda e, pensando que ela estava cansada, pegou uma toalha para a enxugar.

— Por que você emagreceu bastante nesses últimos dias?

— Não é nada. — Zelda balançou a cabeça, olhando para o pai adormecido na cama. Ela estava decidida a salvar a empresa dos pais.

...

Zelda sabia que precisava encontrar rapidamente novos investidores para a empresa, mas, além de Vicente, não conseguia pensar em mais ninguém.

Será que realmente precisaria pedir a ajuda dele?

Mesmo que as chances fossem pequenas, ela estava disposta a tentar.

Além do desdém de Vicente por ela, as famílias Barros e Montenegro eram conhecidas há gerações e ele não poderia simplesmente ignorar a situação.

Decidida, Zelda dirigiu até o Grupo Barros.

No caminho, recebeu uma ligação de Ada, o que já esperava. Ada certamente procuraria por ela.

— Zelda, estou agora no Café Maria. Venha me encontrar. Agora!

Ouvindo a voz sempre arrogante e rude de Ada, Zelda sentiu repulsa, especialmente ao pensar em seu pai doente.

— Ada, se você ainda tem algum coração, deveria voltar para casa e ver nosso pai.

As palavras de Zelda provocaram a risada de Ada:

— O que a morte daquele velho tem a ver comigo?

— Ada. — Zelda franzia a testa conforme comprimia os lábios.

Ada não tinha mudado ao longo dos anos, ainda era tão fria e cruel quanto antes.

Dado a atitude dela, Zelda não queria perder mais tempo, mas, enquanto tentava desligar, a voz de Ada interrompeu:

— Zelda, você tem meia hora para chegar aqui, ou então, vou me matar na sua frente. Você acha que não tenho coragem?
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