Abri meus olhos quando ouvi mais um grito agonizante de dor vindo de algum lugar aqui perto. Forcei meus olhos a se abrirem, me libertando de mais um sono perturbado.
Minha cabeça dói, enviando fagulhas pontiagudas em toda minha mente, como se fossem milhares de estilhaços de vidro que se espalharam em meu crânio.
Soltei o ar com força quando ouvi correntes sendo arrastadas através da porta do quarto escuro e frio em que estou trancada a dias.
Diariamente ouço gritos de dor, choros, lamúrios, correntes sendo arrastadas e pessoas se movimentando nesse lugar.
Estamos em um ambiente onde há pessoas sofrendo 24 horas por dia.
De onde estou, consigo ouvir passos apressados, como se alguém estivesse correndo e logo me agitei internamente, no resquício de esperança que alguém pudesse me salvar, como uma luz no fim do túnel, uma boa pessoa que poderia ter piedade de mim até que ouço um estrondo, e logo em seguida, disparos altos, e então gargalhadas quebram aquele silêncio devastador.
Muitas risadas masculinas explodem lá fora, deixando-me atordoada e sufocada com a escuridão e as risadas se misturando.
O que é isso?
Senti um cheiro metálico invadir o meu espaço e logo me desesperei.
Era sangue. Alguém estava sangrando aqui perto. O sangue fresco se aproximava lentamente e eu não consigo entender de onde vem pois está escuro demais.
Me encolhi sentindo o medo atravessar todo meu corpo trêmulo enquanto fechava meus olhos com força.
Não sei que irá acontecer a partir de agora. Não sei se serei a próxima e com desespero, sinto meu peito apertar.
Sera que irão me matar também?
Eles estão se divertindo com a morte de alguma pessoa lá fora?
Sacudi a cabeça quando senti uma forte náusea me tomar devido ao cheiro forte de sangue que atravessava pela fresta embaixo da porta. Encontrei a fonte do sangue. Daqui consigo ver o líquido espesso se derramar através da porta de uma forma lenta e assustadora e de repente sinto algo andando sobre mim e tenho certeza que é um dos roedores que compartilham do mesmo ambiente que eu.
Chutando o escuro, me encolhi em cima do pequeno e fino colchão em que estou e senti lágrimas descerem pelas minhas bochechas à medida que eu engolia a vontade de gritar por socorro.
Abraçando meu proprio corpo, sinto a dor das horas em más posições nesse colchão e a garantia de algumas horas de sono profundo pelo cansaço extremo e dessa vez, acho que não terei mais chances nem para reclamar da dor em minha lombar.
Tenho certeza.
Irão me matar igual a essa pessoa que esta sangrando nesse corredor.
Apertando minha garganta, fiquei em silêncio apenas sentindo a morte chegar lentamente até mim quando todos os sons que vinham lá de fora se silenciaram e de uma forma agonizante eu me apavorei.
Algo muito ruim está prestes a acontecer, pois em todo o tempo que fiquei aqui, nunca houve esse silêncio, e tremendo muito, me levantei do chão com muita dificuldade em manter meu próprio peso, mas fraca, acabei caindo de joelhos e comecei a me arrastar para frente, e sem forças para me afastar, senti o sangue que corria livre no chão me sujar por inteira. A porta do quarto fétido em que estou foi aberta abruptamente e através dela ninguém apareceu, e com um sorriso, senti o gostinho da liberdade me preencher.
Uma liberdade banhada a sangue mas que poderia ser a última chance em minha vida e por isso não me importei em atravessar essa poça de sangue e apressada, me arrastei em direção a luz através da porta.
Fui atraída pela luz como uma mariposa em direção a lâmpada.
Uma armadilha.
A mariposa não sabia, mas estava presa para sempre.
Engolindo em seco, estremeci por inteira quando um par de sapatos brilhantes pararam de frente para mim, e senti meu corpo inteiro se arrepiar diante da sensação assustadora que me tomou.
De relance, vejo um homem puxando pelos pés um corpo já sem vida que estava próximo da porta. O sangue jorrava do seu corpo e isso foi o suficiente para me arrepender por ter me arrastado até aqui.
Eu não deveria ver isso.
Num movimento lento, o homem que estava a minha frente se abaixou, depositando seus braços em cima dos seus joelhos de um jeito espaçoso, consegui apenas sentir um cheiro forte de perfume masculino que em outras circunstâncias iriam me causar tensão mas que agora só está arrancando o mais puro medo de mim, pois sinto cheiro de sangue fresco também.
Pisquei algumas vezes pedindo a Deus que me salvasse desse lugar enquanto fechava os olhos.
O homem ficou em silêncio por alguns segundos perto de mim, como se estivesse saboreando a sensação de angústia e medo que exalava de mim apenas ao se aproximar.
Naquele momento me senti fraca até mesmo para levantar o rosto e olhá-lo nos olhos, então fiquei parada aquele tempo todo para tentar adiar ao máximo o que ele veio fazer comigo, até que ele se moveu e agarrou meu rosto num gesto brusco e soltou um rosnado baixo.
Foi um som muito baixo, mas ainda assim consegui ouvir pois seus dedos longos me aproximaram demais do seu corpo.
— Você ainda quer fugir?
Fechei os olhos e engoli a vontade de gritar em desespero, sua voz era grossa e rude e me forcei a abrir meus olhos e erguer um pouco mais o meu rosto e foi quando consegui me sentir ainda mais amedrontada internamente, sabendo que eu nunca mais iria me esquecer do que irá acontecer hoje. O brilho que existia nos olhos daquele mascarado só confirmava o que eu já sabia.
Eu nunca mais seria a mesma.
Seus olhos eram penetrantes, firmes e questionadores. Não pareciam ser de alguém que poderia se arrepender de seus atos. Não parecia ser de alguém que poderia reconsiderar antes de matar uma pessoa.
Ele soltou meu queixo bruscamente, me deixando no chão literalmente, meu rosto ainda estava no chão quando desejei morrer naquele momento, sentia cada poro do meu corpo sujo e cheio de suor e sangue tremer internamente.
Desejando a morte tão fortemente quando desejei o bolo de chocolate da minha mãe a alguns dias e apesar de parecer um pensamento aleatório, o bolo foi desejado com muita força assim como estou desejando a minha morte agora pois sei que serei atormentada o resto da minha vida se esse homem não me matar.
Já pensei em fugir desse lugar inúmeras vezes mas nunca tive oportunidade, e mesmo não sabendo que dia é hoje, acredito que já tenha se passado 10 dias desde que fui trazida para esse quarto.
O homem mais uma vez se aproximou e disse num tom baixo. Era possível ver outros homens em formação a alguns metros dele. Todos estavam atentos a qualquer gesto dele e eu estava com meu corpo fraco demais para conseguir olhá-lo.
— Você danificou algo que era meu. Tem noção do que isso significa?
Sua cabeça pendeu para o lado conforme ele me analisava, num gesto certeiro, ele desceu a mão em direção ao meu pescoço mais uma vez e apertou seus dedos em volta da minha garganta, me fazendo levar meus dedos trêmulos aos seus. Pedindo através do meu desespero para que ele me soltasse. Para que me deixasse respirar.
Quando ele apertou ainda mais seus dedos em minha garganta, fechei os olhos com força, sentindo meu corpo adormecer pela fraqueza e desespero, e ele murmurou se aproximando de mim, trazendo seu cheiro em uma mistura de colônia cara com sangue em meio ao meu medo. Uma mistura de medo, apavoro e sedução.Meu Deus estou enlouquecendo. — Você pode tentar fugir quantas vezes quiser, então já adianto, será muito pior quando eu te pegar a cada nova tentativa.Arrancando um suspiro de dor do fundo da minha garganta, senti meu corpo se encolher pelo medo. Ele me empurrou para trás quando libertou meu pescoço dos seus dedos e se afastou.Em uma tentativa de defesa, eu apertei meus dedos em volta da garganta e respondi baixo. — Eu nem sei por que você está fazendo isso comigo. Como posso desistir de fugir? Não posso perder a minha vida …Ele soltou uma risada fria e grave, levou sua mão em direção a cabeça e sem eu esperar, tirou sua máscara e senti meu corpo se arrepiar com a visão que tive
Vincent BlakeA alguns dias estamos lidando com pequenos ataques em todo o território da Flórida e por isso fui obrigado a voltar para a mansão antes do previsto. Meu pai, o chefe da organização confiou a execução dos traidores para mim, o que não é nenhuma novidade e depois que contabilizaram os estragos dos armazéns queimados por uma bastarda, chegou a parte que eu mais gosto.Banhos de sangue.Eu sou um dos soldados mais letais do Ghost Mafia. Nossa modalidade consiste em negociações e vendas de produtos e drogas ilícitas, casas de prostituições e lutas clandestinas. Tudo isso gera uma fortuna mensal que é administrada pelo meu pai, August Blake, o Boss do Ghost.Nossa marca registrada é matar e não deixar rastros, por isso usamos máscaras, fica fácil nos infiltrar e depois capturar os culpados, e depois que estão em nossas mãos cada um morre de acordo com a penalização que merece. Nosso armazém onde fazemos as torturas e cremações está cheio depois de boas investigações. Trouxemo
Vincent Blake— Você me conhece desde quando eu tinha uns 14 anos?Perguntei, olhando-o nos olhos e assentindo ele deu um meio sorriso como se lembrasse disso e respondeu.— Sim, você já era um bom garoto na época.Sorri ao ouvir seu comentário pois lembro exatamente o dia em que o conheci e desviei a atenção do seu rosto e murmurei.— Quando eu era pequeno, eu tinha uma mãe, sabia?Cruzei minha perna esquerda acima do joelho direito e descansei minhas costas no encosto da cadeira e vi ele me analisando em silêncio e continuei. — A minha mãe era uma mulher linda, inteligente e muito carinhosa. Sempre me tratou muito bem. Era muito acolhedora e amável.Olhei para minhas mãos e murmurei enquanto senti meu peito se apertar ao lembrar dela. — Ela era tudo para mim.O homem franziu a testa ao ouvir o que eu dizia. — Um dia, meu pai descobriu suas traições, e a confrontou.Soltei um suspiro audível e prossegui enquanto recebi total atenção.— Aquele dia foi único na minha vida.Nesse mom
Depois que Liam, meu irmão mais novo disse que estávamos sendo atacados por causa da garota, não pensei duas vezes em trazê-la junto comigo. Assim que chegamos em um novo esconderijo subterrâneo, eu mesmo resolvi fazer a prisão e questionamentos. Logo que a coloquei em um quarto, prendi correntes em volta dos seus tornozelos e a observei apagada por um tempo. Ela nem se mexia, e a causa do seu desmaio deve ter sido pela fraqueza de dias sem comer, consequência do que fez, pois resolvi deixá-la de castigo pois agora ficará mais fácil de ela abrir a boca e responder todas as minhas perguntas já que está tão vulnerável.Posicionando minha máscara em meu rosto, coloquei minhas luvas novamente e fui em direção a porta e chamei os soldados que estavam em seus postos e os avisei sobre a punição caso eu fosse interrompido.Não quero ninguém me atrapalhando enquanto resolvo minhas questões com essa garota.Fechando a porta, tranquei tudo e voltei para onde eu havia a deixado, apagando todas a
Me aproximando da garota, eu a puxei pelos braços, e andamos em direção a mesa, e murmurei. — Por que será que eu não consigo acreditar em você?Eu a empurrei para cima da mesa, deixando-a curvada diante de mim e prendendo seu pequeno rosto entre minha mão e a madeira, murmurei num tom de voz baixo. — Será que você precisa ser lembrada que está correndo risco de ser destruída lentamente e dolorosamente aqui dentro?Eu me aproximei da garota que tremia deitada de bruços em cima da madeira polida, lágrimas banhavam suas bochechas quando ela disse. — Eu não estou mentindo.Eu me aproximei dela, inclinando um pouco meu corpo ao chegar perto dela e senti a porra de uma tensão fluir atraves da nossa aproximação e murmurei ignorando aquilo tudo. Aquele maldito calor estava ali também. — Eu vou destruir você, Florzinha.Nesse momento, me afastei da garota e apaguei as luzes, e no escuro, ela se encolheu e abraçou seu próprio corpo enquanto se levantou da mesa e na intenção de apenas aterr
Mavie NeumannEm desespero, envolvi minhas mãos no tecido da roupa da pessoa que estava ali me sacudindo a segundos atrás e sussurrei em meio aos soluços.— Por favor… O meu pai.Fechei meus olhos sentindo a névoa do sono e confusão ainda se dissolvendo conforme a realidade e desespero ainda estavam fazendo pagassem pelo meu cérebro. — Me diga que ele está bem, eu imploro.Me encolhi sentindo as lágrimas descerem pelas minhas bochechas livremente enquanto eu fechava com força meus olhos, para que quando eu os abrisse, pudesse enxergar sem vestígios de sono e confusão a expressão daquela pessoa, mas quando abri meus olhos, para meu espanto, quem estava ali comigo, era o Ghost. Seus olhos estavam brilhando enquanto me encarava como um falcão. Sua expressão estava impenetrável, exceto pelo brilho fixo de suas íris escuras.Seus lábios numa linha firme e fixa se separaram de repente, quando ele levou suas duas mãos e envolveu meus pulsos e disse. — Você teve um pesadelo, Florzinha?Naq
Mavie NeumannDa janela reforçada com barras de ferro, acompanho os dias passando lenta e dolorosamente. A cada dia que passa, vejo minha alegria e vontade de viver indo ralo abaixo. Não consigo dormir por causa dos pesadelos, e não consigo comer pelo medo de eles me doparem e assim causar algum dano físico. Pode ser paranóia, mas não consigo confiar. Soa tudo tão mal e errado, que prefiro me privar de comida e descansos longos, já que em meus sonhos só aparecem gritos, correntes e sangue.Sentada na poltrona, observo o céu noturno e totalmente úmido lá fora. Hoje choveu o dia inteiro, e assim como o dia estava péssimo, o meu humor estava igual. Me sinto cansada, fraca e dolorida, entretanto, prometi a mim mesma que iria lutar até minhas últimas forças, e não vou me entregar, pois sei que serei resgatada. Meu pai havia me garantido isso.De repente, me lembrei da nossa última conversa antes de ele me empurrar para aquele lugar solitário e secreto.“Nunca na minha vida vou poder pagar
Mavie NeumanA expressão dele mudou mais uma vez. Seus olhos fixaram nos meus enquanto me analisava e eu continuei. — Antes eu estava no meu quarto, lendo meus romances e assistindo meus filmes clichês quando de repente, meu pai me colocou em uma passagem secreta e disse que eu deveria fugir e que em breve eu seria resgatada.A cabeça do homem pendeu incrédula para o lado e ele perguntou com a testa franzida. — Você está falando sério?Eu apenas o encarei e confirmei com um gesto, quando ele de repente começou a rir e disse bem humorado. — Sério que você gosta de romance e assiste clichês?Ele soltou uma gargalhada que de repente me fez sentir vergonha por ter falado algo tão tolo e íntimo para um homem como ele e prossegui na defensiva. — Eu não sei fazer outra coisa.Enxugando as lágrimas dos olhos, ele diz. — Então quer dizer que você caiu de paraquedas na realidade? Ele mudou sua expressão rapidamente, enquanto me analisava fixamente, e se aproximando de mim, recuei alguns p